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Mark Twain e sua relação com os gatos
“Trate-o como um cavalheiro, sem quaisquer outros termos. Quando você não fizer isso, ele vai se afastar”
O escritor estadunidense Mark Twain, conhecido por clássicos como “The Adventures of Tom Sawyer”, lançado em 1876, e “Adventures of Huckleberry Finn”, de 1885, costumava dizer que ao conhecer alguém que amava gatos, não era necessária nenhuma apresentação para que ele logo se tornasse seu amigo e camarada.
Sour Mash, a gata que mais o inspirou a escrever, despertando-lhe um novo senso de observação, era vista por Twain como um exemplo para a humanidade – carinhosa, leal, corajosa e empreendedora. “Além de nobre, tinha uma característica digna dos felinos e que nenhum homem possui – a independência. Ela não dava a mínima para a opinião dos outros. Não tinha medo de cobras nem de cães. Exterminava gafanhotos que invadiam as plantações e saltava sobre cães”, declarou em sua autobiografia.
Na obra “The Refuge of the Derelicts”, publicada no jornal Harper’s Weekly em 15 de julho de 1905, o escritor argumenta que a autonomia dos gatos vem da sua ausência de disciplina. “Eles não vivem para ajudar ninguém. São simplesmente assim. Mas não é algo que deva ser visto como insubordinação. Conceitos como certo e justo não existem para os felinos. É a única criatura no Céu ou na Terra que está acima de pedidos e ordens. Não foram feitos para obedecer e estão além até dos anjos. Reis e divindades são mais obedientes do que gatos”, escreveu.
Para Twain, um gato pode ser seu amigo, se assim você quiser, desde que haja igualdade de condições, independente se você é um monarca ou um sapateiro. “Trate-o como um cavalheiro, sem quaisquer outros termos. Quando você não fizer isso, ele vai se afastar”, declarou em “The Refuge of the Derelicts”.
No livro Mark Twain’s Notebook, publicação póstuma de 1935, inspirada em anotações de 1894, o escritor comenta que de todas as criaturas de Deus só o gato não pode ser feito escravo do chicote. “Ele é sempre mais inteligente do que as pessoas imaginam”, justificou.
Outras obras de Twain que endossam as qualidades dos felinos a partir de suas experiências são “The Mysterious Stranger” e “A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court”. “Se você abusar de um gato, mesmo que apenas uma vez, ele sempre vai manter uma digna reserva em relação a você. Será impossível reconquistar a confiança dele”, declarou no segundo volume de sua autobiografia, baseada em registros de 3 de setembro 1906 e publicada em 2013, mais de cem anos após sua morte.
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Bukowski, um velho safado apaixonado por gatos
“Eles farão você se sentir melhor. Eles sabem tudo sobre a vida, tal como ela é”
Nos últimos anos, vi diversas fotos do escritor estadunidense Charles Bukowski segurando gatos ou rodeado por eles enquanto trabalhava. No entanto, foi somente no início de 2016 que tive certeza do quanto o mais famoso dirty old man da história da literatura norte-americana era apaixonado por gatos.
A confirmação veio com o lançamento da obra póstuma On Cats, um livro de 128 páginas, publicado nos Estados Unidos pela Editora Ecco Press em dezembro de 2015, que reúne as mais profundas impressões poéticas e reflexões de Bukowski sobre gatos e o mundo dos felinos.
Uma perspectiva áspera e transversalmente bucólica e terna sobre a relação entre humanos e gatos é o que os leitores vão encontrar no livro. Para Charles Bukowski, nenhum outro animal é tão inescrutável quanto um gato com sua essência elementar e augusta. Forças únicas da natureza, emissários evasivos da beleza do amor, interpretava o último escritor maldito da literatura norte-americana.
É justo dizer que On Cats é uma viagem pela resistência e resiliência felina; uma obra que apresenta os gatos como combatentes, caçadores e sobreviventes divididos entre o temor e o respeito. Os felinos de Bukowski eram ferozes e exigentes, chegando a se esfregarem, ensandecidos, por suas páginas datilografadas. Não se importavam em acordá-lo roçando garras em seu rosto e isso era mais um alento do que um quezilento. Também eram afetuosos, maviosos e muitas vezes o ajudaram a reencontrar inspiração.
O jornalista e biógrafo britânico Howard Sounes, estudioso do trabalho do escritor estadunidense, revela que Charles Bukowski ficou mais emotivo na velhice. “Os gatos realmente foram os únicos que conseguiram torná-lo um homem sentimental. Quando ele conseguiu um bom dinheiro, começou a levar uma vida suburbana com sua esposa Linda Lee e um monte de gatos”, confidenciou.
Segundo Bukowski, gatos são inigualáveis porque respondem somente a si mesmos, seres sui generis que não se deixam levar. Cômico e enternecedor, pungente e isento de pieguices, o livro é um retrato iluminado sobre a perspectiva do homem que considerava seus gatos como seus grandes professores nos seus últimos anos. O que também justifica porque o escritor dizia tanto que na próxima vida não queria ser nada além de um gato.
“Eu poderia dormir por 20 horas, ficar sentado e lamber minha própria bunda, esperando para ser alimentado. A verdade é que é sempre bom ter um bando de gatos ao meu redor”, repetia Bukowski à exaustão até o dia 9 de março de 1994, quando faleceu aos 73 anos, deixando um legado de seis romances, mais de 50 coleções de poemas e muitos contos e crônicas.
“Quando estiver se sentindo mal, observe os gatos. Eles farão você se sentir melhor. Eles sabem tudo sobre a vida, tal como ela é. Eles apenas sabem, são salvadores. Quanto mais gatos você tem, mais você vive. Se você tiver uma centena de gatos, acredite, você vai viver dez vezes mais do que se tivesse dez. Algum dia as pessoas vão descobrir isso e teremos um mundo com pessoas criando milhares de gatos. Elas viverão para sempre e isso será ridículo”, escreveu, sem deixar de satirizar, uma de suas características mais proeminentes.
Saiba Mais
O livro “On Cats” pode ser comprado no site Amazon.com.
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