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Ergástulo
Eu e alguns amigos, que formamos o coletivo de audiovisual Cinesia, produzimos recentemente um curta-metragem intitulado “Ergástulo”. Convido vocês a assistirem e compartilharem suas impressões.
A história da crueldade contra os animais em Hollywood
“Os seres humanos têm abusado de animais para entretenimento desde o início dos tempos”
A crítica de cinema e escritora britânica Anne Billson, autora do livro “Cats on Film”, ou “Gatos no Cinema”, publicou hoje no jornal britânico The Guardian um artigo intitulado “Chicken decapitation and battered cats: Hollywood’s history of animal cruelty”, em que ela convida o leitor a refletir sobre a história da crueldade contra os animais no cinema, e especialmente em Hollywood. Exatamente por não ser vegana nem vegetariana, mas repudiar o tratamento dispensado aos animais no cinema, ela diz que “está ciente de que os animais morrem todos os dias para nos alimentarmos e para usarmos sapatos de couro. Por outro lado, prefere não assistir as cenas de crueldade contra os animais, e se isso faz dela uma hipócrita, que assim seja”.
Anne, que é contra a violência contra os animais no cinema, reconhece que a sétima arte é um meio controverso em essência, e que cinéfilos como ela frequentemente se veem em um dilema – que é a veemente contrariedade à censura. Porém, quando a suposta liberdade é usada como pretexto para explorar e impingir sofrimento aos animais, não há como ser favorável, já que essa permissividade garante inclusive a manutenção da objetificação, da subordinação forçada e da desvalorização da vida animal, mesmo quando animais são incluídos como personagens que servem a um retrato cru da realidade. Afinal, a tecnologia já permite que animais não sejam usados para benefício humano no cinema.
Ela começa o artigo citando o seu desinteresse em relação ao lançamento do filme “The House That Jack Built”, do polêmico cineasta dinamarquês Lars Von Trier:
Se não estou ansiosa para ver A Casa que Jack Construiu, quando finalmente chega às telas do Reino Unido, não é por causa da violência contra mulheres e crianças que ajudou o filme a ganhar uma rodada inicial de críticas de repúdio. Não, o que realmente me enche de terror é a perspectiva de ver um patinho com a perna arrancada com um alicate.
Mesmo depois que a Peta [organização Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais] deu uma bronca para confirmar que Von Trier realmente não torturou um patinho (o efeito foi alcançado ‘usando a magia dos filmes e partes de silicone’), a ideia me deixa enojada. (Independente disso, o filme fez convidados correrem saída afora durante a sua estreia internacional em Cannes no início do mês). Meio século assistindo filmes de terror pode ter me acostumado à violência misógina na tela (o que não quer dizer que eu goste), mas não me ajudou a lidar com os maus-tratos contra os animais.
Se Von Trier realmente tivesse torturado aquele patinho, ele estaria seguindo uma longa e desonrosa tradição de autores tratando animais pior do que tratam as atrizes. Andrei Tarkovsky mostrou um cavalo levando um tiro no pescoço e sendo empurrado escada abaixo em Andrei Rublev (1966). Jean-Luc Godard filmou um porco tendo a sua garganta cortada em Fim de Semana (1967). Galinhas foram decapitadas em Pat Garrett e Billy The Kid (1973) de Sam Peckinpah. 1900 (1976), de Bernardo Bertolucci, contém cenas de sapos sendo torturados e um gato aterrorizado sendo amarrado para que Donald Sutherland possa esmagá-lo até a morte com a cabeça. O diretor corta o ato (graças aos céus), e gosto de pensar que Sutherland realmente não matou o gato, embora os italianos tenham uma peculiaridade a esse respeito. O escritor Curzio Malaparte, em um ensaio de 1943 sobre Mussolini, descreve um tradicional entretenimento de férias na Toscana, onde homens da classe trabalhadora, com as mãos amarradas às costas, matam gatos até a morte com suas cabeças raspadas.
Francis Ford Coppola incorporou imagens de um búfalo-asiático, que é golpeado com facões até a morte em Apocalypse Now (1979). Sátántangó (1994), de Béla Tarr, mostra um gato sendo maltratado. Tarr insistiu que o gato não foi ferido, mas claramente ele não estava preocupado em mostrar que ele estava sendo girado por suas patas dianteiras. Entre as cenas do thriller de vingança Oldboy (2003), de Park Chan-Wook, o ator Choi Min-Sik, um “budista devoto”, foi flagrado se desculpando com os polvos vivos que estava comendo – o que te faz pensar na morsa de Lewis Carroll, chorando diante das ostras que ele estava devorando.
O Ato de 1937 para Filmes Cinematográficos (Com Animais), estabelecido pelo Parlamento Britânico, “proíbe a exibição ou o fornecimento de um filme [no Reino Unido] se animais forem cruelmente maltratados com a finalidade de produzi-lo.” O Conselho Britânico de Censores de Cinema, ainda corta as cenas reais de abusos contra animais, embora seja mais tolerante do que no caso dos filmes de terror. Sátántangó e Oldboy passaram sem cortes, mas os novos lançamentos em Blu-Ray de A Montanha dos Canibais (1978), de Sergio Martino e Cannibal Ferox (1981), de Umberto Lenzi, passaram por cortes de dois minutos, entre outras cenas que mostram o desmembramento de uma tartaruga, uma iguana sendo partida e criaturas peludas e fofas que são atacadas e comidas por cobras enormes.
Mas então ambos os filmes conquistaram notoriedade, tendo sido classificados como “filmes nojentos”. Os extras em ambos os relançamentos incluem entrevistas nas quais os respectivos diretores falam sobre a crueldade contra os animais. Martino diz: “De certa forma, foi uma cena construída porque colocamos o macaco e a píton juntos, mas não planejamos o final disso…então é realmente desagradável assistir.”
É bastante perturbador ver um cervo sendo engolido por uma cobra em um dos especiais de David Attenborough sobre a natureza, mas o próprio Attenborough traçou a linha do reality show em que os competidores matam crocodilos, porcos e perus “apenas para ter uma imagem”.
Os seres humanos têm abusado de animais para entretenimento desde o início dos tempos, e os cineastas não se mostraram com mais princípios do que aqueles que participam do chapeamento de texugos ou das touradas. O outrora admirável pioneiro de dublês Akima Canutt inventou um dispositivo chamado “The Running W”, que derrubava cavalos a galope, muitas vezes machucando-os ou os matando no processo. Pelo menos 25 cavalos foram mortos ou tiveram que ser sacrificados durante as filmagens de A Carga da Brigada Ligeira (1936), enfurecendo Errol Flynn, o astro do filme, que atacou o seu diretor Michael Curtiz. Tal foi o clamor público quando um cavalo quebrou a sua espinha depois de cair de um penhasco de 70 pés durante a filmagem de Jesse James (1939), que a American Humane (equivalente a RSPCA) foi finalmente encarregada de supervisionar o tratamento dado aos animais nos sets de Hollywood.
Mesmo assim, parece que o selo de aprovação da AH não é garantia de que “nenhum animal acabe machucado”. Enquanto pesquisava para o meu livro Cats on Film, descobri que pelo menos 20 gatos morreram durante a produção de Koneko Monogatari (1986), um filme japonês sobre um gatinho ruivo e branco e seu companheiro pug, intitulado “As Aventuras de Milo e Otis”, com narração de Dudley Moore. A AH deu um sinal positivo, e os rumores nunca foram checados, mas é óbvio que quando você assiste ao filme é perceptível que os animais estão em constante perigo. O BBFC [British Board of Film Classification] cortou 16 segundos do filme e deu a ele um certificado U, mas a cena de um gato “caindo” de um penhasco e desesperadamente tentando sair do mar em segurança é o suficiente para me fazer nunca mais querer vê-lo novamente.
Anne Billson continua: “Aqui estou eu sendo hipócrita de novo, porque enquanto me refiro à crueldade com gatinhos ou patinhos, posso tolerar os não amigáveis escorpiões e formigas sendo incendiados em A Quadrilha Selvagem (1969), ou os horríveis répteis cortados em pedaços em Cannibal Ferox. Mas viva o CGI, que agora torna qualquer tipo de tortura animal redundante. ‘Hoje, eu filmo essas cenas de uma maneira diferente’, admite Lenzi em sua entrevista sobre o lançamento de Cannibal Ferox. ‘Eu provavelmente vou refazê-lo agora com mais ajuda do departamento de efeitos especiais.’”
Referência
Canadá vai sediar o primeiro festival internacional de cinema vegano
Estão abertas as inscrições do Ottawa International Vegan Film Festival, que vai ocorrer no Mayfair Theatre, em Ottawa, no Canadá, no dia 14 de outubro. Realizado anualmente, o festival, que segue os moldes dos festivais mais tradicionais, vai ser o primeiro do gênero no mundo. Então se você tem pelo menos um filme de curta-metragem com temática vegana e legendas em inglês não perca a oportunidade de participar e motivar mais pessoas a respeitarem os animais independente de espécie.
De acordo com o organizador Shawn Stratton, sem dúvida, o objetivo é usar o festival para inspirar mais pessoas a adotarem o estilo de vida vegano, e também a motivar aqueles que já estão trilhando esse caminho. Além, claro, de inspirar mais cineastas e veganos a abordaram por meio de obras audiovisuais questões que envolvem a exploração e o respeito aos animais. “Estamos dando a eles uma oportunidade de exibir seus filmes para mais pessoas”, explica Stratton.
Os filmes de curta e longa-metragem podem ser inscritos nas categorias “defesa dos animais”, “estilo de vida’, “saúde e nutrição” e “proteção ambiental”. Os melhores filmes de cada categoria serão premiados. Também haverá premiação por voto popular. Segundo o coordenador do Ottawa Vegan Film Festival, seria muito bom se os participantes enviassem filmes com histórias autênticas que oferecem um senso de esperança em relação ao futuro dos animais. Parte do lucro do festival vai ser destinado a instituições de caridade. Todo o processo é feito online e as inscrições se encerram no dia 31 de julho. Para mais informações, acesse o site do Ottawa International Vegan Film Festival.
Robin Williams e a geração anos 1980
Sobre cinema norte-americano, não posso falar por outras gerações, mas pelo menos a minha – dos anos 1980, consumiu muito do que foi produzido com a participação do ator estadunidense Robin Williams. Antes dele falecer em 11 de agosto de 2014, aos 63 anos, eu estava acompanhando o seu trabalho como o publicitário Simon Roberts na série de TV The Crazy Ones, da CBS, que estreou em 2013. Não tenho dúvida alguma de que o seu nome no cast ajudou a alavancar a popularidade da sitcom antes do lançamento.
Robin Williams se juntou aos grandes nomes do cinema estadunidense depois do filme Good Morning, Vietnam (Bom dia, Vietnã), de Barry Levinson, lançado em 1987. Como eu era pequeno, só fui saber quem era Adrian Cronauer, um de seus grandes papéis, na minha adolescência, embora eu já tivesse um vinil com a música tema do filme. A princípio, conheci o trabalho desse ator singular através de obras como Dead Poets Society (A Sociedade dos Poetas Mortos), The Fisher King (O Pescador de Ilusões), Hook, Mrs. Doubtfire (Uma Babá Quase Perfeita), Toys (A Revolta dos Brinquedos), Jumanji e Patch Adams, não exatamente nesta ordem.
Na infância, tive a oportunidade de assistir Hook no cinema à moda antiga, com direito a lanterninha e mais de mil poltronas. Claro, depois vieram muitos outros filmes de Williams. Sem favoritismos, destaco como os meus preferidos todos aqueles em que ele manifestou mais do que o seu potencial cênico – a sua própria humanidade e sensibilidade. Ficam as boas lembranças.
A diversidade cultural do cinema
2ª Mostra de Cinema de Paranavaí exibirá filmes de todas as regiões do Brasil e de Moçambique
Na sexta-feira, 7, e no sábado, 8, às 20h30, a Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade será cenário da 2ª Mostra de Cinema de Paranavaí (MIC) em que serão exibidos 16 filmes de curta, média e longa-metragem dos mais diversos gêneros. O evento que recebeu obras de todas as regiões do Brasil e de Moçambique é uma iniciativa da Fundação Cultural. A entrada será gratuita.
Para a primeira noite da 2ª MIC está programada a exibição dos filmes “Sonho de Valsa”, de Beto Besant, de Santo André, São Paulo; Loading 66%, de Henrique Duarte, de São Carlos, São Paulo; “Caça-Palavras”, de Pedro Flores da Cunha, de São Paulo, capital; “As Aventuras de Seu Euclides Chegança”, de Marcelo Roque Belarmino, de Aracaju, Sergipe; “Maria Ninguém”, de Valério Fonseca, do Rio de Janeiro, capital; “Foi Uma Vez”, de Renan Lima e Bruno Martins, de São Paulo, capital; “Burguesia”, de Rodrigo Parra, do Rio de Janeiro, capital; “Incelença da Perseguida”, de Silvio Gurjão, de Fortaleza, Ceará; e “Eu Não Faço a Diferença?”, de Henrique Moura, de Paranavaí.
Já no sábado, serão exibidos “A Maldição de Berenice”, de Valério Fonseca, do Rio de Janeiro, capital; “Hr. Kleidmann”, de Marcos Fausto, de São Paulo, capital; “No Oco da Serra Negra”, de Angelo Bueno, Ernesto Teodósio, Pedro Kambiwá e Otto Mendes, de Recife, Pernambuco; “Aos Pés”, de Zeca Brito, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul; “Bucaneiro”, de Juliana Milheiro, do Rio de Janeiro, capital; “Do Morro”, de Mykaela Plotkin e Rafael Montenegro, de Recife, Pernambuco; e Chikwembo, de Julio Silva, de Maputo, Moçambique.
Para o presidente da Fundação Cultural de Paranavaí, Paulo Cesar de Oliveira, o cinema brasileiro e africano está muito bem representado na 2ª Mostra de Cinema de Paranavaí pela diversidade de gêneros e também de temas que abordam desde assuntos mais simples e bucólicos até os mais controversos e subjetivos. “Escolhemos filmes que façam com que as pessoas deixem a Casa da Cultura discutindo, repensando o que assistiram”, enfatiza o diretor cultural Amauri Martineli, acrescentando que a 2ª MIC é voltada ao público com faixa etária acima de 14 anos.
Filmes poderão ser enviados a 2ª MIC até o dia 5 de setembro
Nos dias 7 e 8 de outubro será realizada a 2ª Mostra Internacional de Cinema de Paranavaí (MIC) na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade. Para participar, basta inscrever algum filme de curta, média ou longa-metragem até o dia 5 de setembro, a contar da data de postagem. O objetivo da Fundação Cultural é incentivar a produção audiovisual e também dar visibilidade aos cineastas brasileiros e estrangeiros, amadores e profissionais.
Cada participante pode enviar quantidade ilimitada de trabalhos, no entanto, vale lembrar que ao se inscrever para a 2ª MIC automaticamente é repassado a Fundação Cultural o direito de exibição dos filmes, sejam para fins promocionais da mostra ou divulgação de conteúdo em eventos culturais e educativos. Também será oferecido ao público um ambiente propício a troca de informações.
Nenhum dos trabalhos enviados será devolvido, pois farão parte da videoteca da Fundação Cultural. A inscrição é totalmente gratuita, no entanto, o custeio do envio das obras é de responsabilidade dos realizadores. Os participantes precisam enviar duas cópias de cada trabalho em DVD e no formato DVD acompanhado de encarte que deve conter imagens da obra e sinopse.
Por se tratar de uma mostra não haverá prêmios em dinheiro. Porém, os dez melhores filmes de cada categoria, eleitos por uma comissão julgadora formada por profissionais ligados a comunicação social e ao cinema, receberão certificados de participação. Os trabalhos que não respeitarem o prazo de envio não serão exibidos. Informações sobre a programação e o funcionamento do festival serão publicadas em breve no site da Fundação Cultural de Paranavaí: http://www.novacultura.com.br. Para mais informações, basta ligar para (44) 3902-1128.
O regulamento e a ficha de inscrição podem ser baixados no seguinte endereço:
http://www.mediafire.com/?jm91wgadsf5gpeb
Paranavaí terá mostra de filmes de curta-metragem
De 23 a 24 de julho será realizada no Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa, a 1ª Mostra de Curtas de Paranavaí que dá visibilidade ao trabalho de artistas audiovisuais brasileiros e estrangeiros, amadores ou profissionais. A inscrição é gratuita e deve ser feita até o dia 15 de junho.
A Mostra de Curtas de Paranavaí foi criada para incentivar a difusão de filmes de curta-metragem que não são exibidos e nem distribuídos em circuito comercial. Além do estímulo a produção audiovisual, o evento vai oferecer ao público um ambiente propício a troca de informações sobre a produção de filmes. A mostra será aberta a pessoas de qualquer parte do mundo, e para participar basta apenas ter produzido algum filme de curta-metragem, independente de origem ou nacionalidade, desde que a obra esteja legendada em português.
Cada participante poderá inscrever quantidade ilimitada de curtas, porém os filmes precisam se enquadrar nas categorias ficção, documentário, animação ou experimental. Os trabalhos devem ter no máximo 20 minutos de duração, os que ultrapassarem esse limite não serão exibidos. Após a Mostra, os filmes irão para a videoteca da Fundação Cultural e serão eventualmente veiculados em eventos culturais e educativos.
Todas as obras devem ser enviadas por conta dos realizadores, isentando a FC de qualquer despesa. A data-limite é 15 de junho. Os filmes que não respeitarem o prazo de envio não serão exibidos. Também vale ressaltar que os participantes devem enviar duas cópias de cada trabalho em DVD e no formato DVD. O evento será aberto a toda comunidade e terá entrada gratuita.
Mais informações
A ficha de inscrição e o regulamento estão disponíveis no seguinte link: http://www.novacultura.com.br/v08/Doc/RegMostraCurtas2010.doc
Os trabalhos devem ser enviados para a Fundação Cultural de Paranavaí, na Rua Guaporé, 2080 – Caixa Postal 511 – CEP 87705-120.
Aluga-se ideologia cinematográfica
Ex-bancário mantém em Paranavaí uma videolocadora com grande acervo de filmes alternativos
Em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, a videolocadora de José de Arimateia Tavares se destaca, mesmo com a ascensão dos filmes online e de plataformas como Netflix. José de Arimateia não se limita a oferecer ao público somente filmes comerciais. Vai muito além, disponibilizando cultura e educação em DVD e Blu-ray. Em um passeio pelos expositores, geometricamente alinhados, é fácil encontrar as mais importantes correntes artísticas do cinema mundial.
Enamorado pelo cinema alternativo ou cult desde a juventude, na década de 1990 o ex-bancário conhecido como Teia decidiu abrir uma videolocadora idealizada muitos anos antes. Sua missão extracomercial e até pessoal era reunir um acervo com títulos que tanto vislumbrou assistir.
“Tentei comprar esses filmes apenas para apreciação pessoal, mas as produtoras não negociavam com quem não fosse do ramo. Então esse foi o estímulo final para que eu abrisse a locadora”, justifica José de Arimateia.
A partir de 1996, com o novo empreendimento, Teia parou de viajar até Curitiba e Londrina para alimentar o amor pela sétima arte. “Fiz isso durante 12 anos. Ia até a capital nos finais de semana e assistia pelo menos sete filmes”, conta.
O empresário se emociona ao se recordar da década de 1970, quando o cinema político do cineasta russo Sergei Eisenstein parecia tão distante da realidade de quem vivia no interior do Paraná. “Pensei que nunca assistiria ‘A Greve’, ‘Outubro’ e ‘Encouraçado Potemkin’”, frisa, referindo-se ao cinema revolucionário que contribuiu para os rumos do socialismo na Rússia.
Dentre os preferidos, José de Arimateia cita também o cinema surrealista e neorrealista do italiano Federico Fellini e os franceses Jean Renoir, expoente do realismo poético, e o controverso Jean-Luc Godard, ícone da Nouvelle Vague. Segundo o empresário, o contato com filmes tão paradoxais, convergentes e divergentes proporciona uma grande coerência de apreciação. “Automaticamente, você começa a selecionar coisas diferentes”, enfatiza.
E o que não falta na videolocadora é variedade. São mais de 700 títulos de filmes que compõem um cosmopolitismo cinematográfico atraente aos olhos de quem busca não apenas entretenimento, mas uma significativa contribuição para a formação humana.
Cinema novo, surrealista, expressionista alemão, revolucionário soviético, nouvelle vague são algumas das correntes artísticas que fazem da locadora um subjetivo reduto de estudantes universitários, artistas e intelectuais.
Dos clássicos que não atendem diretamente aos anseios da indústria cultural, Teia adianta que os mais procurados são sempre os filmes de Stanley Kubrick, Steve McQueen, Quentin Tarantino e Alfred Hitchcock.
“O ano de produção assusta quem não gosta de arte”
Para quem está acostumado apenas com lançamentos e filmes comerciais, a área cult da locadora de José de Arimateia Tavares pode até despertar atenção em um primeiro momento, mas a curiosidade não ultrapassa os limites da sinopse no estojo do DVD ou Blu-ray. “O ano de produção normalmente assusta quem não gosta de arte”, diz Teia.
Os mais relegados ao ostracismo são os filmes do cinema expressionista alemão e revolucionário soviético. O Gabinete do Dr. Caligari, por exemplo, do realizador alemão Robert Wiene, foi lançado em 1920.
“É algo que não está no âmbito das informações que muitas pessoas têm. Por isso, o cliente apenas olha, mas sem maior profundidade”, pondera José de Arimateia. O empresário atribui a surpresa dos clientes ao fato de que a locadora é a única em Paranavaí que não oferece apenas filmes comerciais.
No entanto, há clientes que valorizam o acervo da videolocadora, normalmente são jovens com pouco mais de 20 anos. “Eles procuram idealizadores como Federico Fellini e Stanley Kubrick. Isso tem relação com a formação cultural adquirida nas universidades”, avalia o empresário.
“Qualquer filme não comercial é interessante”
Como o ser humano vive sob a égide de um plano cartesiano de informações, é impossível que uma pessoa esteja atenta a todos os gêneros cinematográficos, sejam artísticos ou não. O empresário José de Arimateia Tavares admite esse fato, mas ressalta que qualquer filme de gênero não comercial já se torna interessante apenas em existir.
“Não interessa quem seja o idealizador ou qual é a proposta dele com o filme, a verdade é que ali teremos alguma novidade, algo jamais oferecido por um filme convencional”, justifica.
Para Teia, é regozijante ter uma locadora, principalmente pela oportunidade de conhecer a fundo o trabalho de cineastas brasileiros que tardiamente são valorizados. “O Fernando Meirelles é um grande cineasta e o primeiro filme dele que adquiri foi ‘Domésticas’. É uma pena que a maioria só conheça o seu trabalho em ‘Cidade de Deus’”, destaca.
O empresário também reconhece qualidade nos títulos do Cinema Novo que tem Glauber Rocha como um de seus grandes representantes. “Não tenho tanta simpatia por essa corrente cinematográfica, mas alguns filmes realmente são clássicos e de extrema qualidade”, comenta.
O interesse de Teia por filmes não comerciais não significa que ele desmereça os demais. “Não sou preconceituoso com relação a filmes. Por pior que seja o filme, assisto de ponta a ponta para reconhecer alguma qualidade”, assegura.
Alguns realizadores do cinema não convencional que podem ser encontrados na locadora do Teia
Federico Fellini, Ingmar Bergman, Stanley Kubrick, Sergei Eisenstein, Glauber Rocha, Jean-Luc Godard, Jean Renoir, Fritz Lang, Robert Wiene, Luis Buñuel, Ed Wood, Michelangelo Antonioni, Ettore Scola, Friedrich Wilhelm Murnau, Akira Kurosawa, etc.