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Marcus Dotta: “Ainda sentimos o descrédito por sermos brasileiros”

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Destaque nacional, baterista fala sobre a carreira e a experiência de tocar com o vocalista Warrel Dane

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“Para alguns, o fato de você ser do mesmo país ou não tocar no Angra ou Sepultura, não te torna digno de estar no palco” Foto: Renan Facciolo)

Em 2014, a produtora TC7, de São Paulo, convidou o vocalista estadunidense Warrel Dane, famoso por integrar conceituadas bandas de heavy metal como Sanctuary e Nevermore, para realizar alguns shows com músicos brasileiros. A iniciativa deu tão certo que a banda que acompanha o vocalista, formada por Marcus Dotta, Thiago Oliveira, Johnny Morais e Fábio Carito, continua excursionando com Dane dentro e fora do Brasil. E o mais interessante de tudo é que essa formação se provou a mais sólida da carreira do vocalista nos últimos anos.

Marcus Dotta, o último músico a ingressar na banda, conquistou a vaga de baterista após enviar um vídeo tocando Born, do álbum This Godless Endleavor, de 2005. Dotta, um baterista que se identifica essencialmente com rock e heavy metal, começou a tocar em 2000 e teve como principal inspiração o baterista alemão Uli Kusch que fez história na banda de power metal Helloween entre os anos de 1994 e 2000.

“Na minha opinião, ele gravou os melhores e mais técnicos discos da banda. De tanto ouvi-lo tocar, sei cada nota que ele executa. Também não tenho como fugir dos clássicos como Scott Travis [Racer X, Judas Priest e Thin Lizzy] e Gene Hoglan [Dark Angel, Death e Devin Townsend]. Aqui no Brasil, com certeza tive como maior influência o Aquiles Priester, com quem já trabalhei como roadie por um tempo. Somos muito amigos”, declara.

Sobre a experiência de trabalhar com um dos grandes vocalistas da história do heavy metal, Marcus Dotta lembra que em 2006 sua banda abriu um show do Nevermore em Curitiba. Como ele já era muito fã dos caras, fez questão de assistir tudo do backstage. “Hoje, toco as mesmas músicas que assisti ao vivo e com um dos principais membros da banda. Às vezes, parece surreal”, avalia.

Em março tive a oportunidade de assistir ao show da turnê Warrel Dane Brazilian Tour 2016 em Florianópolis, Santa Catarina, e posso dizer que a sintonia e a qualidade dos músicos justificou a casa cheia. Entre berros empolgados e refrãos perfeitamente cantados pelo público, um dos destaques daquela noite foi o baterista Marcus Dotta, com quem conversei sobre a sua carreira, experiência de tocar com Warrel Dane, turnê europeia, fatos inusitados, repertório e recepção do público, entre outros assuntos. Confira:

Marcus, sei que você já integrou e integra muitas bandas e projetos como Thram, This Grace Found, Seventh Seal, Hevilan, Skin Culture, Addicted To Pain, Hatematter e Tiago Della Vega, além de atuar como sideman. Quais desses trabalhos você considera mais enriquecedores para a sua formação profissional? Tem algum projeto que você qualifica como o seu preferido?

Todos eles contribuíram de alguma forma com a minha carreira. Basicamente, existem diferenças muito grandes em como você deve lidar com um trabalho próprio autoral e com um trabalho em que é contratado como sideman. No seu disco ou show, você pode agir de uma forma, no disco ou show de quem te contratou, você deve respeitar regras. São experiências que qualquer um que vive de música deve ter porque enriquece muito a nossa visão profissional. Em relação ao projeto preferido, atualmente é uma banda nova chamada Soulhost. Já estamos começando a lançar material. É uma mistura de estilos que se encaixam – eletrônico, metal e pop, um som diferente que nunca toquei antes. Tenho dois projetos autorais com músicas e clipes para serem lançados este ano – Soulhost e O.S.P.

Dotta: "Hoje, toco as mesmas músicas que assisti ao vivo e com um dos principais membros do Nevermore" (Foto: Renan Facciolo)

Dotta: “Hoje, toco as mesmas músicas que assisti ao vivo e com um dos principais membros do Nevermore” (Foto: Renan Facciolo)

Você chegou a ter algum receio ou apreensão ao tocar com o Warrel Dane? Foi um desafio na sua carreira?

Eu não diria receio, até porque nos preparamos muito antes do primeiro ensaio. Afinal, ele já tinha tocado com alguns dos melhores músicos do mundo dentro do estilo. Mas já no primeiro ensaio descobrimos que ele é uma pessoa muito simples e fácil de trabalhar, então o desafio maior foi executar bem as músicas para agradar aos fãs. E algumas dessas músicas não são nada fáceis.

A formação atual com o Warrel Dane é composta pelo próprio, você, Thiago Oliveira, Johnny Morais e Fábio Carito. Você já tinha trabalhado com todos esses músicos?

Eu tinha gravado algumas músicas para um projeto chamado Addicted to Pain com o Fábio. Porém, só tinha ensaiado e feito shows com o Warrel Dane mesmo.

Da turnê de 2014, An Evening with Warrel Dane, você destaca quais momentos como os mais inesquecíveis? Como foi a receptividade do público? Surgiu alguma situação desconfortável ou inesperada?

Acontece de tudo em turnê, desde imprevistos técnicos, como estourar corda ou pele e termos que nos virar para continuar tocando até o roadie trocar, até momentos de nudez repentina do Johnny [Morais] em situações inapropriadas [risos]. E, claro, o Warrel nos obrigando a ver pérolas da internet como a Vomit Pool Party.

Na Grécia, um jamaicano tentou te dar um golpe? Como foi essa história?

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“Tenho dois projetos autorais com músicas e clipes para serem lançados esse ano – Soulhost e O.S.P” (Foto: Evandro Camellini)

Como você soube disso? [risos] Lá eles sacam quem é turista e colocam uma pulseira artesanal de “presente” em você, sem obviamente pedir. Também tentam arrancar alguns euros se fazendo de vítima enquanto outro vem e “bate” sua carteira sem você perceber. Não dei dinheiro nenhum e ele retirou do meu pulso o “presente” que me deu [risos].

Como tem sido a turnê Warrel Dane Brazilian Tour 2016?

Nos apresentamos em algumas cidades de São Paulo e também em lugares que nunca tocamos, como Florianópolis e Brasília. Este ano não temos como prever por quantas cidades ainda vamos passar porque o Warrel está sempre voltando para os Estados Unidos para dar continuidade à produção do novo disco dele. Então os shows ocorrem nos intervalos de produção. Em setembro, devemos voltar para a Europa e fazer uma turnê bem longa por lá, tentando cobrir o maior número possível de países. Ano que vem talvez tenhamos alguns shows nos EUA. Nesse período, acredito que o Warrel também fará alguns shows com o Sanctuary. Eles também pretendem gravar um novo disco.

Vocês foram muito bem recebidos na Europa no ano passado. No Brasil a receptividade também tem sido a mesma?

Realmente fizemos muitos amigos e conquistamos fãs em todo o lugar, mas ainda sentimos o descrédito por sermos brasileiros. Para alguns, o fato de você ser do mesmo país ou não tocar no Angra ou Sepultura, não te torna digno de estar no palco com alguém como o Warrel, independente se você faz um bom trabalho. Infelizmente isso é cultural.

O repertório tem passado por mudanças significativas de um show para outro?

Se já tocamos em uma cidade antes, sempre mudamos o repertório quando voltamos. O tema do show também costuma mudar. No ano passado, tocamos o álbum Dead Heart In a Dead World na íntegra. Já em 2016, misturamos o Dead Heart com o Dreaming Neon Black.

Show em Floripa, um dos melhores da turnê de 2016 (Foto: Carla Galdeano Candiotti)

Show em Floripa, um dos melhores da turnê de 2016 (Foto: Carla Galdeano Candiotti)

Como é a convivência com o Warrel Dane?

Muito boa, conversamos sobre absolutamente tudo. Hoje, vemos ele mais como um amigo bem próximo mesmo, mas às vezes ainda temos um brainstorm ao lembrarmos o que ele representa.

Existe alguma possibilidade de vocês gravarem novo material em estúdio com o Warrel Dane?

Sim, já estamos produzindo seu novo disco solo. Queremos terminar as composições ainda este ano. Não dá para adiantar muito agora, mas o que podemos dizer é que ele vai se chamar Shadow Work.

Atualmente você se sente mais seguro quando sobe no palco? Já chegou a ficar ansioso ou nervoso?

Nunca tive problema com nervosismo para subir no palco, até porque é a melhor parte do trabalho. Como tenho o instrumento mais complexo de transportar e montar, sempre fico nervoso com a logística que envolve tudo [risos].

O que vocês acharam da experiência de tocar em Floripa?

Florianópolis foi de longe um dos nossos melhores públicos! Unanimidade entre todos da banda. Fizemos muitos amigos. O show foi animal! A cidade realmente faz jus à fama de ser muito bonita.

Uma curiosidade, por que o Warrel Dane tem tomado chá durante os shows?

Chá e uma dose de Jack Daniels são itens obrigatórios para ele no camarim. Não me pergunte o motivo [risos]. Na verdade, em relação ao Jack Daniels, dá para entender, porque temos um ritual de virar uma dose generosa de whisky antes de subir no palco, como sinal de boa sorte. Coisa do patrão também [risos].

Marcus, você tem algum episódio cômico para relatar dessas turnês?

Temos boas histórias de groupies stalkers [risos], mas essas quem quiser saber tem que perguntar pessoalmente para a gente nos nossos próximos shows.

Quem quiser comprar a nova camiseta da banda Warrel Dane, basta acessar: http://warreldane.net/item/dead-heart-in-dead-world-15th-anniversary-tour/

A importância do avião nos anos 1950

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Precariedade das vias popularizou o avião em Paranavaí

Viagens terrestres eram muito desgastantes nos anos 1950 (Foto: Reprodução)

No início dos anos 1950, o avião se transformou em um dos principais meios de transporte de Paranavaí, no Noroeste Paranaense, por causa da precariedade das vias. À época, toda semana, muitos voos partiam do antigo Aeroporto Edu Chaves, atual Colégio Estadual de Paranavaí (CEP), para os mais diversos destinos.

Hoje não há registros que informem com exatidão quantos voos eram realizados por semana em Paranavaí nos anos 1950. No entanto, estima-se que as viagens aéreas ocorriam diariamente no antigo Aeroporto Edu Chaves. “Por volta de 1953, isso já acontecia bastante. Não era assim o ano todo, mas tinha época que os aviões partiam de Paranavaí todos os dias. Era gente indo pra Londrina, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, pra todo lugar”, afirmou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que os aviões eram modestos, monomotores e até bimotores, mas cumpriam muito bem o trajeto.

Por causa da precariedade das estradas que faziam o carro balançar durante todo o trajeto, levando passageiros a sentirem-se mal,  muitos optavam por viajar de avião. “Naquele tempo, o avião era muito popular, então uma viagem não era nada cara, era relativamente barata”, disse Mariano.

O padre alemão Henrique Wunderlich escreveu em uma carta à revista alemã Karmelstimmen, de Bamberg, no Estado da Baviera, publicada em 20 de maio de 1953, que se surpreendeu com a facilidade em encontrar campos de aviação na região de Paranavaí. “Normalmente o aeroporto se resumia a uma pista para pouso e outra para decolagem e tinha pouco mais de um quilômetro de comprimento”, relatou, acrescentando que onde ainda não havia um campo de aviação, logo trataram de construir.

Henrique Wunderlich teve a ideia de criar um avião

Os aeroportos se resumiam a grandes campos com gramados ou apenas barro, sempre ladeados por terrenos ondulados. Segundo Wunderlich, muita gente dependia dos aviões, inclusive os padres da Paróquia São Sebastião. “O avião era uma necessidade primária para quem precisava viajar muito”, comentou João Mariano.

Na carta à revista alemã, Frei Henrique frisou que as viagens de carro eram muito desgastantes e os longos caminhos a serem percorridos em estradas ruins eram por vezes desanimadores. “Além disso, o vento e os violentos aguaceiros já tinham dado início ao processo de erosão do solo”, revelou. Por esses motivos, e como a Paróquia São Sebastião não tinha dinheiro para investir sequer na compra de um monomotor, o padre teve a ideia de criar um avião.

Wunderlich, que também era paraquedista e piloto, frequentou a Escola de Aviação Alemã durante a Segunda Guerra Mundial e trouxe a Paranavaí um projeto de um avião. “Também quis realizar este sonho para entusiasmar o povo da cidade”, admitiu o padre que pretendia dispor o veículo à população. Infelizmente, por causa de outros compromissos, Henrique Wunderlich não teve tempo de criar o avião porque precisou retornar à Alemanha em 1957.

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