David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Um autêntico pioneiro do jornalismo regional

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Há mais de 50 anos, Euclides Bogoni registra a história do Noroeste do Paraná

Bogoni é jornalista há mais de 50 anos

Bogoni: “Comecei no jornalismo de modo empírico, por idealismo, sem nenhuma formação específica” (Foto: Diário do Noroeste)

O jornalismo entrou na vida de Euclides Bogoni há mais de 50 anos. Desde então, o jornalista assumiu a missão de registrar a história da região de Paranavaí, o Noroeste do Paraná. Motivado por um idealismo surgido na época dos heróis do sertão, Bogoni foi um poeta que se transformou em jornalista quando arte literária e relato noticioso faziam parte de um mesmo panorama cultural e informativo.

O catarinense começou a escrever na juventude. Se dedicava a produzir poemas para publicar em livros. De Alto Paraná, onde seu pai tinha uma empresa, decidiu se mudar para Paranavaí. Aqui abriu um escritório. Assim como outro Euclides (da Cunha), aproveitou o conhecimento literário para narrar com caráter épico a trajetória dos heróis do sertão.

Em 1954, Bogoni foi convidado a ser redator-chefe da Folha de Paranavaí, cargo que assumiu com a missão de escrever poemas e artigos em que sugeria construções de obras públicas. Segundo o jornalista, a estrutura do jornal era precária. Não havia oficinas e a impressão era feita em outras cidades. “Como eu tinha um escritório, às vezes datilografava as matérias lá mesmo. Comecei no jornalismo de modo empírico, por idealismo, sem nenhuma formação específica”, afirma Euclides Bogoni em tom reflexivo.

No ano seguinte, houve uma paralisação tão grande em função das geadas que o jornal para o qual Euclides Bogoni trabalhava faliu. Outros veículos de imprensa que existiam em Paranavaí e região tiveram o mesmo destino. Então o jornalista decidiu fundar o Diário do Noroeste, um dos jornais mais antigos do Paraná, até hoje sob direção de Bogoni.

No início, o veículo era composto por dois funcionários e a edição possuía apenas quatro páginas, raramente chegando a seis.  “Não se separava matéria por editorias. Os assuntos não eram divididos nas páginas. A única diferença de destaque era o tratamento com a manchete”, lembra.

Atualmente o padrão mínimo do jornal regional é de 16 páginas, chegando a 28 graças ao advento da impressora rotativa. “Algo bem diferente da época em que sofríamos com a impressora manual. Além disso, só tínhamos acesso as informações de outras cidades e estados por meio do teletipo e de sinais via rádio”, frisa.

Euclides Bogoni foi um poeta que se tornou jornalista

Idealista, fundou o Diário do Noroeste em 1955 (Foto: Diário do Noroeste)

Com quase 55 anos de carreira profissional, Euclides Bogoni, mesmo não tendo cursado jornalismo, defende a obrigatoriedade do diploma. Segundo o jornalista, a formação acadêmica possibilita maior agregação de cultura e impõe ao profissional o respeito à ética. “Muitos que não fizeram faculdade têm facilidade em exercer a profissão, mas a situação é muito melhor quando a pessoa tem o diploma”, pondera. Se não fosse jornalista, provavelmente Euclides Bogoni seria advogado ou professor. “Na minha família, todos os meus irmãos lecionam”, justifica sorrindo.

O jornalista lembra que ingressou no meio impresso por causa da aptidão literária. Só parou de escrever poemas quando se restringiu ao relato noticioso. “Com o tempo, a inspiração desapareceu. Jornalismo é uma área que requer dedicação e promove um grande desgaste intelectual”, assegura.

“Jornal regional não sobrevive sem o poder público”

O jornalista Euclides Bogoni, proprietário do jornal Diário do Noroeste, admite que nenhum meio de comunicação regional sobrevive sem a participação financeira do poder público. “Os jornais publicam 80% de informações que não são pagas, então é justo recebermos para divulgar informações oficiais da prefeitura, por exemplo”, avalia.

O gerenciamento da comunidade se respalda nas ações da prefeitura, câmara municipal e poder judiciário, segundo o jornalista. São três poderes que precisam criar uma ponte de comunicação com a população. “O jornal é o mecanismo usado para o cidadão se informar sobre o que está acontecendo nesse meio”, explica.

Bogoni se queixa que durante as eleições o Diário do Noroeste é falsamente acusado de favorecer determinados candidatos. “Pode acontecer de algum candidato ser noticiado mais vezes em função de ter melhores condições culturais e políticas. Porém, nunca deixamos de dar espaço a ninguém. Na realidade, acolhemos quem nos procura”, assinala.

“Não existe jornal que não receba pressão”

Sobre a importância da ética, o jornalista Euclides Bogoni enfatiza que é de suma importância para a boa condução do jornalismo. “Sempre precisamos ter compromisso com a verdade. Entretanto, sabemos que a concorrência faz com que jornalistas de caráter duvidoso ajam em desacordo a tudo isso. Se entregar ao sensacionalismo sempre promove erros graves”, comenta. Se um veículo publica uma informação errada, o único jeito de amenizar a situação é usar o mesmo espaço para fazer a correção.

O jornalista vê com bons olhos a liberdade de imprensa na atualidade se comparada ao período da ditadura militar, mas faz uma ressalva. “A censura sempre vai existir, mesmo em menor proporção. Não existe jornal que não receba pressão”, sentencia. Euclides Bogoni lembra também que no final da década de 1950 grande parcela da população de Paranavaí era inculta. Isso também dificultava o trabalho dos veículos de comunicação, principalmente porque poucos entendiam o propósito de um jornal.

Para o jornalista que trabalhou por muito tempo recebendo dados via sinal de rádio, a internet é determinante em ajudar os jornais regionais na coleta de informações de âmbito estadual, nacional e internacional. “É uma aliada principalmente quando a notícia é de grande importância, como alguma manifestação governamental. Tudo está mais fácil porque a internet trouxe rapidez e instantaneidade”, garante.

Frases do jornalista Euclides Bogoni

“O jornalismo é uma profissão muito bonita em que o jornalista tem que se dedicar em tempo integral. Isto gera um desgaste intelectual muito grande. Mas, acima de tudo, é uma profissão que satisfaz e contribui para o desenvolvimento social.”

“Quando usávamos impressora plana, a impressão começava às 18h e terminava lá pelas 2h. Hoje a nossa impressora rotativa roda de duas a duas horas e meia por dia. O trabalho é bem rápido.”