David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Frangos’ tag

Um caminhão tombado, frangos na estrada

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Morrer ou viver? Ou morrer ou morrer? Distante do matadouro, não da violência humana (Foto: Reprodução)

Um caminhão tombado, frangos na estrada. Ninguém via vida, apenas comida. “Ninguém morreu?” “Não, só bicho.” As aves saltaram sobre as caixas de plástico tentando atravessar a rodovia. Morrer ou viver? Ou morrer ou morrer? Distante do matadouro, não da violência humana. Coração? Mais de 300 batidas por minuto. Pedaços de carne em movimento – uma prospectiva prosaica.

Penas voando, pessoas comemorando. “Esse é meu! Esse é meu!” Um olhar invertido num mundo distorcido. Pés amarrados com fios, mais penas no chão. Cinco frangos no mesmo porta-malas, se contorcendo. Risadas. Nenhuma luz, apenas escuridão e o som dos pneus em atrito com o chão. A chegada é celebrada – degolada.

 





Reflexões de um minuto – Imagine passar a sua vida confinado como um animal criado para consumo

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Governo dos Estados Unidos permite que carne orgânica seja produzida a partir de animais confinados em gaiolas

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Aves criadas para consumo estão entre os animais mais prejudicados pela ausência de políticas de bem-estar animal (Foto: Jo-Anne McArthur)

Esta semana, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos revogou as Práticas Orgânicas de Pecuária e Avicultura, uma regra que regula os padrões de “bem-estar dos animais de criação” cuja carne pode ser vendida como orgânica. A regra foi criada no Governo Obama depois de muita pressão de organizações ligadas ao bem-estar animal, visando implementar “melhores padrões de vida” para esses animais. Essas práticas exigiam que frangos e galinhas não fossem confinados em gaiolas e que também tivessem acesso ao ambiente exterior às áreas de confinamento.

O Departamento de Agricultura atrasou a votação sobre a implementação das Práticas Orgânicas de Pecuária e Avicultura três vezes e finalmente as derrubou, mesmo depois de receber 47 mil comentários em apoio à proteção aos “animais de criação”.

De acordo com Lindsay Wolf, vice-presidente de investigações da Mercy For Animals, os funcionários do governo responsáveis pela regulamentação do setor agrícola se curvaram para proteger os lucros corporativos do agronegócio em detrimento dos animais, da segurança alimentar e dos direitos dos trabalhadores.

“Como resultado, milhões de animais de criação estão sendo privados do benefício de leis e regulamentos modestos projetados para proteger seu bem-estar e promover o interesse público”, justificou Lindsay. Com essa decisão, a chamada carne orgânica comercializada nos Estados Unidos pode ser inclusive proveniente de lugares não muito diferentes das chamadas fazendas industriais.

Referência

VegNews

 

 





 

O confinamento de animais e o surgimento de doenças

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São doenças que só existem porque há um mercado consumidor de produtos de origem animal

Botulismo, enterotoxemia, dermatomicose, laminite, intoxicação por ureia, timpanismo, cisticercose, dermatite, pododermatite, clostridiose, acidose (aumento do ácido lático no rûmen), pneumonia, poliencefalomalácia, peste suína, doença de Aujesky, rinite atrófica, brucelose, doença de Glässer, doença do edema, enteropatia proliferativa, doença de Newcastle, salmonela, laringotraqueíte infecciosa, coriza infecciosa, bronquite infecciosa e gripe aviária, entre outras doenças respiratórias e metabólicas/digestivas.

Você sabe o que essas doenças têm em comum? Surgiram e aumentaram na modernidade, quando começamos a confinar animais para atender a alta demanda do consumo de carne, ovos e laticínios. Ou seja, são doenças que só existem porque há um mercado consumidor de produtos de origem animal que obriga os animais a viverem em situação de vulnerabilidade e alta exposição ao surgimento de doenças.

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Frangos sob chuva

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Frangos em caixas com pouco espaço para movimentarem-se (Foto: Reprodução)

Encontrei na rodovia uma carreta transportando frangos na chuva. Centenas dentro de caixas amarelas de plástico, com penas parcialmente molhadas e pouco espaço para movimentarem-se. Tive a impressão de ver uma porção de olhos entre as fendas. Não sei se faziam silêncio ou barulho, porque o tamanho da caixa não permitiu tal distinção. E lá dentro, vidas que logo mais cessarão.

 

 





Imagine passar a sua vida toda confinado

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Chegando, quem sabe, a perder a noção do que existe fora das grades que afunilam seu mundo (Foto: Reprodução)

Imagine passar a sua vida toda confinado, chegando, quem sabe, a perder a noção do que existe fora das grades que afunilam seu mundo; sem poder sentir o aroma de nada que não seja sua ração e suas próprias fezes. Aos poucos, você se torna incapaz de distinguir importantes elementos da realidade. Talvez, dependendo do nível de estresse e do tipo de ambiente, você comece a comer as suas próprias fezes confundidas com ração.

O som de seus companheiros que não voltam mais. Eles resistem quando são agarrados, mas logo são imobilizados – mesmo que isso custe penas voando e asas dilacerando. Há um tipo de esperança que persiste, mas não em todos. Os mais sensíveis enlouquecem mais rápido em meio à agitação; começam a se estranhar e tentam se bicar porque já não sabem quem são.

Aves que não se veem mais como semelhantes e pouco agem como aves, sintoma de uma degradação tradicional que usurpa do mais frágil o direito ao que seria de fato uma vida normal. Dentro de um caminhão, o colocam dentro de uma caixa minúscula. Sem espaço para movimentar naturalmente as asas, se encolhe num canto e assiste, entre grades de plástico, carros ultrapassando, caminhões encostando, pessoas falando.

Quantas vidas existem lá fora, mas nenhuma delas é como a sua. Te penduram, te atordoam e te sangram por três minutos. Sua existência se esvai com o vermelho que escorre pelo chão. Seu sangue, símbolo-mor da sua vitalidade sem unção, é tratado como imundície. Alguém deve limpar. Não existe velório. Só escaldagem, depenagem e evisceração; e mutilação, gotejamento e resfriamento. Mais tarde, te embalam e te enviam para um açougue. Alguém há sempre de comer. Quanto vale sua morte? R$ 4,50 o quilo, mais ou menos.

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