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Ajde Jano, um hino balcânico não oficial
A beleza de uma composição folclórica que atravessa os séculos
Uma das mais belas, tristes e famosas composições folclóricas do Sul da Sérvia e do Kosovo, Hayde Yano ganhou uma versão com um singular “que” de autoralidade em 2001, na versão da banda estadunidense Kultur Shock, uma das mais respeitadas do gênero gypsy punk.
O grupo, conhecido por valorizar o cancioneiro nômade, explorar suas habilidades técnicas multi-instrumentistas e influências multiétnicas, nunca se faz de rogado quando o que está em jogo é a espontaneidade não de apenas entreter, mas reacender os valores semeados e preservados pela música folclórica. É exatamente o que encontramos na versão que o Kultur Shock gravou de Hayde Yano.
Concebida com preciosismo, a canção segue a premissa do kolo tradicional, uma das danças coletivas e circulares mais difíceis do mundo – que exige uma contumaz flexão de joelhos, recaindo o peso sobre os calcanhares. É muito popular entre os povos eslavos, com destaque para sérvios, bósnios, herzegovinos, croatas, macedônios e montenegrinos. A versão dos estadunidenses para Ajde Jano é baseada em instrumentos que popularizaram o kolo, com predominante característica de gravador radiofônico, como frula, tamburica, šargija, zurla, gajde, tapan e gaita.
O que a distingue das versões menos ousadas é a roupagem moderna e eletrônica que lembra ocasionalmente o trabalho de aspiração mediterrânea do projeto israelense-estadunidense Balkan Beat Box, referência em gypsy punk e cultura roma. Outro ponto interessante de Hayde Yano é que durante a execução do kolo os punhos cerrados atrás das costas representavam no passado um desafio ao governo turco – como um protesto, o que rende ao ouvinte uma extra carga simbólica sobre a importância contextual da música com status de hino não oficial.
Hayde Yano recebeu dezenas de versões desde que foi gravada pela primeira vez em 1928 pelo desconhecido V. Georgevich. A história da canção remonta aos séculos anteriores, principalmente ao tempo e as consequências do duradouro domínio do Império Otomano. Ao longo dos anos, a letra foi modificada algumas vezes. No entanto, a ideia original fala sobre a necessidade de se preservar os velhos e bons hábitos.
Isso é representado pela recusa do homem em vender o cavalo e a casa, os únicos bens de um casal sérvio que passa por um grave momento de crise econômica e privação imposta pelos turcos. Além disso, a residência é o único local onde podiam dançar o kolo, honrando as próprias origens e a relação com a terra.
Mais tarde, a letra foi alterada e o personagem masculino sugere a Jana, sua mulher, que o melhor é vender a propriedade, já que teriam mais tempo para dançar o kolo, sem precisar se preocupar com o animal ou a residência. Assim, a letra ganhou um novo e distinto caráter conceitual e imaterial. O mais importante para o casal estava com eles o tempo todo – a sabedoria de se dançar o kolo, não apenas uma dança, mas um legado de identidade e valores que ninguém poderia destruir.
Antes de Hayde Yano ser gravada, o kolo entrou para a história como uma das mais importantes danças balcânicas; o que foi endossado em 1886 pela peça orquestral No. 7 (15) em C Maior (Kolo), pertencente a série Danças Eslavas, do compositor tcheco Antonín Dvořák, um gênio do romantismo que sincretizava tradição sinfônica e influências populares e folclóricas.
Enfim, Ajde Jano, kolo da igramo!
A letra traduzida:
Hayde Yano
Vamos, Jana, vamos dançar o kolo!
Vamos, Jana, vamos, querida, vamos dançar o kolo!
Vamos, Jana, vamos, querida, vamos dançar o kolo!
Vamos, Jana, vamos vender o cavalo!
Vamos, Jana, vamos, querida, vamos vender o cavalo!
Vamos, Jana, vamos, querida, vamos vender o cavalo!
Vamos vender apenas para dançar!
Vamos vender, Jana querida, apenas para dançar!
Vamos, Jana, vamos vender a casa!
Vamos, Jana, vamos, querida, vamos vender a casa!
Vamos, Jana, vamos, querida, vamos vender a casa!
Vamos vender tudo apenas para dançar!
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