David Arioch – Jornalismo Cultural

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“A Sociedade Industrial e Seu Futuro”, de Ted Kaczynski

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Estou lendo pela primeira vez o livro Industrial Society and Its Future (A Sociedade Industrial e Seu Futuro), escrito pelo matemático e terrorista Ted Kaczynski, que ganhou fama internacional na década de 1990 como o “Unabomber”. Não simpatizo com as ações dele, já que suas bombas custaram a vida de pessoas, mas admito que o livro é intrigante e faz alguns apontamentos bem contundentes, que dialogam com a realidade atual, embora tenha sido lançado em 1995.

CEO de uma das maiores produtoras de carne do mundo acredita que a proteína vegetal é a proteína do futuro

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Tom Hayes

Hayes: “A proteína vegetal está se desenvolvendo, neste ponto, um pouco mais rápido do que a proteína animal” (Foto: Tyson Foods)

Tom Hayes, que em dezembro assumiu o cargo de CEO da Tyson Foods, uma das maiores produtoras de carne do mundo, disse em entrevista publicada pela Fox Business na semana passada que se dermos uma olhada nas estatísticas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o consumo de proteína está crescendo em todo o mundo, e continua crescendo. Não está no ápice apenas nos Estados Unidos, mas em todos os lugares; pessoas querem proteínas, independente de origem, segundo Hayes.

“Elas têm apetite para isso. A proteína vegetal está se desenvolvendo, neste ponto, um pouco mais rápido do que a proteína animal, então acho que a migração vai continuar nessa direção”, declarou Tom Hayes, que acredita que a proteína vegetal é a proteína do futuro.

A maior prova disso é o fato de que a Tyson Foods se tornou uma das acionistas minoritárias da Beyond Meat, uma fábrica sediada em Los Angeles que produz alternativas vegetarianas e sustentáveis à carne.  Além disso, destinou 150 milhões de dólares a um fundo de capital de risco voltado para start-ups que criam substitutos de carne.

Sobre a participação da Tyson Foods, a Beyond Meat informou que o único objetivo em comum é atender aos consumidores que estão em busca de mudanças. Segundo a empresa, citando como referência a Organização Mundial de Saúde (OMS) e as pesquisas de Goodland e Anhang, as carnes vegetais proporcionam benefícios para a saúde e para o meio ambiente.

“Essas questões positivas me motivam, fortemente. Mas eu também acredito que os animais valorizam tanto suas vidas quanto nós, e aqui temos obrigações não cumpridas. Seria um erro de minha parte desconsiderar isso quando entrei nessa nova relação”, declarou o CEO da Beyond Meat, Ethan Brown.

Referências

http://www.foxbusiness.com/features/2017/03/07/tyson-foods-ceo-future-food-might-be-meatless.html

http://beyondmeat.com/whats-new/view/why-i-am-welcoming-tyson-foods-as-an-investor-to-beyond-meat

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Written by David Arioch

March 13th, 2017 at 1:58 pm

Laranja Mecânica, o filho preterido de Anthony Burgess

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A obra perdeu o sentido quando uma editora americana suprimiu o último capítulo do livro

Burgess sempre acreditou que a energia humana é melhor gasta na criação do que na destruição (Foto: Marvin Lichtner/Time & Life Pictures/Getty Image)

Burgess sempre acreditou que a energia humana é melhor gasta na criação do que na destruição (Foto: Marvin Lichtner/Time & Life Pictures/Getty Image)

Embora o livro A Clockwork Orange (Laranja Mecânica), do escritor britânico Anthony Burgess, não figure entre os seus melhores romances, a obra distópica de 1962 foi responsável por torná-lo famoso no mundo todo, principalmente após o lançamento do controverso filme de Stanley Kubrick em 1971.

Se por um lado, alguns críticos qualificaram o livro como uma profecia do colapso social hipermoderno, outros foram além, defendendo que a obra em si já o incentivava. A verdade é que à época pouca gente entendeu o sincretismo de sadismo, cultura teddy boy e uma apocalíptica filosofia urbana e social reforçada por uma mixórdia do idioma russo e do jive talk, uma linguagem popular que surgiu entre músicos de jazz do Harlem, em Nova York.

Ainda assim, mesmo com tanta repercussão e sucesso a partir da década de 1970, Burgess fazia questão de dizer em cada entrevista que, de todos os seus livros, “Laranja Mecânica” era o que menos o agradava, e não por causa da estrutura, linguagem e conteúdo, mas sim porque o cinema e as editoras dos Estados Unidos o descaracterizaram.

A Clockwork Orange

Pessimismo de Stanley Kubrick fez o escritor britânico odiar a adaptação para o cinema (Foto: Reprodução)

A obra, segundo Burgess, perdeu o sentido a partir do momento em que uma editora americana suprimiu o último capítulo do livro, um fato que se repete até a atualidade em algumas edições, já que a primeira edição estadunidense foi uma das mais reproduzidas. Quando o escritor britânico teve a oportunidade de lançar uma nova versão restaurada em 1986, ele fez questão de escrever uma introdução explicando como o seu trabalho foi arruinado.

No original, o jovem Alex, protagonista cruel e vicioso, evolui no capítulo 21 porque Burgess sempre acreditou que a energia humana é melhor gasta na criação do que na destruição. Porém as editoras dos Estados Unidos foram na contramão. E com elas o pessimismo do cineasta Stanley Kubrick que fez o escritor britânico odiar a adaptação do seu livro, com um final que leva o cinismo às raias do surrealismo.

A partir da obra de Burgess, não é difícil entender a escolha do título Laranja Mecânica. Ele faz uma analogia do ser humano com uma laranja, um belo organismo recheado de suco e que pode ser espremido por Deus, pelo diabo ou até por si mesmo quando substitui os dois. Em síntese, um ser humano que rendido às próprias armadilhas do maniqueísmo se torna incapaz de entender a primazia do livre-arbítrio.

Burgess ficou tão chateado com a desvirtuação do livro que chegou a admitir que desde então só escrevia embriagado. O autor frequentemente encontrava pessoas comentando que o seu livro era uma ode à violência e à misantropia, quando na realidade a sua intenção era alertar sobre a nefasta mecanização da humanidade.

Saiba Mais

Pouco conhecido no Brasil, Earthly Powers (Poderes Terrenos), de 1980, é considerado o melhor livro de Anthony Burgess.

Referência

http://www.todayinliterature.com

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Godard e a Virgem Maria

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Je Vous Salue, Marie propõe discussão entre matéria e espiritualidade

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Marie convive com as tentações da modernidade e incertezas do futuro (Foto: Reprodução)

Em 1985, o cineasta francês Jean-Luc Godard lançou o polêmico filme Je Vous Salue, Marie que anos depois chegou ao Brasil com o título original, baseado na oração católica. A obra é uma interpretação contemporânea da história da Virgem Maria e se sustenta em diálogos e imagens que propõem uma discussão com requinte de ensaio entre matéria e espiritualidade.

Famoso pela audácia, desinteresse pela objetividade e despreocupação em agradar o público, Godard apresenta duas histórias paralelas em Je Vous Salue, Marie. Na primeira, Marie (Myriem Roussel) é uma esportista adolescente em crise existencial, convivendo com as tentações da modernidade e as incertezas sobre o futuro.

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Joseph se recusa a crer que é o pai do filho de Marie (Foto: Reprodução)

A jovem tem um relacionamento conturbado com o materialista Joseph (Thierry Rode), um cético e imaturo taxista que decide ter relações sexuais com outra mulher após as muitas recusas de Marie. Entre o casal subsiste um antagonismo sutil.

O anjo Gabriel (Philippe Lacoste), sem qualquer característica física ou psicológica de arcanjo, é a materialização do pragmatismo. Jean-Luc criou um personagem frágil e dotado de inúmeros defeitos que, em vez de voar, viaja de avião. Em pleno século 20, assume a missão de fazer Joseph crer que o filho de Marie, com quem jamais teve uma relação sexual, é dele.

Em contraponto a breve história de Maria, sustentada em fé inominável, é apresentada a realidade de um racionalista professor de ciências que refuta a religiosidade em favor da ufologia, gerando assim um embate envolvendo estética e dialética.