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Goethe seria “crucificado” no mundo de hoje
No mundo de hoje, creio que Goethe seria “crucificado” por publicar um romance como “Os Sofrimentos do Jovem Werther”. Diriam, com mais paroxismo do que no século 18, que ele romantizou o suicídio às raias da apologia e, assim como no passado, também seria responsabilizado pela morte de jovens, principalmente – mas creio que numa proporção bem maior. Quem sabe, fosse até perseguido.
Na minha opinião, o que Goethe romantizou acima de tudo foi a impossibilidade do amor (tendo como referência inclusive uma experiência pessoal) e transformou isso em uma obra que penso que talvez até tenha salvado a sua vida, já que ele morreu na obra, mas sobreviveu fora dela. Goethe a escreveu em poucos dias – num prazo tão curto que deixa claro como o escritor estava imerso nesse universo romanesco e conflituoso.
Há autores que escrevem sobre o suicídio até mesmo como uma forma de manifestação da incomunicabilidade, tentativa de compreensão de algo que parece maior do que si mesmo, escapismo, libertação e redenção – mas não desejam cometê-lo. Pode parecer sombrio para muita gente, porém, isso também é uma forma de autoconhecimento. Tenho uma crônica em que falo sobre o suicídio, e eu não estava nem triste quando a escrevi.
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Um autor é responsável somente pelo que produz
Na minha opinião, um autor sempre vai ser responsável pelo que ele produz, não pelo que os outros entendem, por mais subjetiva que seja sua obra. Acho importante ter isso sempre em mente.
Quando escrevo um texto e alguém tenta dar um sentido a ele com o qual eu não concordo, por exemplo, a responsabilidade não é minha. Não tenho controle sobre a concepção de ninguém. Realmente, depois de pronta uma obra ganha vida, mas isso não significa que o autor seja responsável pelas releituras ou ingerências dos outros.
Claro que pode ocorrer um mea culpa, mas muitas vezes ocorre porque provavelmente o autor está fora dos limites do zeitgeist, não quer conflitos ou fez algo de forma não intencional ou possivelmente até subconsciente.
Quando Goethe publicou “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, houve uma onda de suicídios na Alemanha. Ele nunca desejou que ninguém se suicidasse. E dizer que ele era responsável porque sua obra levou o romantismo alemão às raias do extremismo é de um sensacionalismo mais do que obtuso.
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Sensíveis e racionais
Há pessoas que estranham quando alguém demonstra ser tão sensível quanto racional. Temos uma forte tendência à polarização. Tratando-se de personalidade, facilmente dividimos uns aos outros entre sensíveis e racionais. Ou seja, se é sensível, não é racional, e se é racional, não é sensível.
Demonstre tanta deferência pelo romantismo quanto pelo racionalismo e verás pessoas o julgando como volátil, confuso ou até mesmo tolo. Goethe escreveu “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, um dos maiores símbolos do romantismo alemão, e mais tarde publicou “A Teoria das Cores”, em que fez oposição a Newton.
De fato, Goethe era romântico, mas outras de suas obras mostram que ele não pode simplesmente ser definido como tal. Ele era mais do que isso, assim como muitos seres humanos resumidos ao zeitgeist, ou seja, ao espírito de uma época, ou a uma linha de pensamento que diz apenas parcialmente quem realmente são ou eram.
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Goethe e a busca pelo conhecimento
Para o escritor, o universo se expandia através das ciências e das artes
No dia 22 de março de 1832, Johann Wolfgang von Goethe, um dos mais célebres nomes da literatura alemã, estava em sua casa em Weimar, na Turíngia, segurando a mão de sua nora Otília. Na data, ele falou dos passeios que daria nos meses seguintes e se recordou de uma moça de sua juventude. Também balbuciou o nome de seu grande amigo, o igualmente famoso poeta Friedrich von Schiller, falecido em 9 de maio de 1805.
Ansiando para que as persianas se abrissem para o sol da manhã, o autor de Fausto pediu a um empregado: “Mais Luz!” E então seu dedo tracejou uma palavra no ar e ele mudou de posição em sua cadeira, caindo no sono e sucumbindo em um momento que ninguém imaginava que ele morreria.
Quarenta anos antes, Goethe acompanhou uma batalha entre o Exército Revolucionário Francês e as Forças Prussianas de Intervenção. Ele viu no conflito bélico uma oportunidade para conduzir uma pesquisa sobre uma inédita teoria de luz e cor, que mais tarde se transformaria no livro Teoria das Cores, publicado em 1810, e que inspirou os artistas pré-rafaelistas.
O escritor britânico Christopher Middleton escreveu em sua introdução à poesia de Goethe que durante a Batalha de Valmy o alemão foi visto divagando, estudando os efeitos das ondas de choque na visão, levando em conta a luz sobre a poeira. Os resultados desse trabalho contribuíram em vários ramos da ciência – anatomia, biologia, botânica e geologia.
Goethe também teve um importante papel no governo alemão como administrador de artes. Todas essas atividades alimentaram sua paixão pela busca de sinais que pudessem levá-lo a um plano maior na história. Goethe se empenhou ainda em fazer com que a língua alemã fosse vista como uma “textura viva”, o que justifica porque ele é considerado na Alemanha não apenas um grande poeta, mas também um símbolo nacional.
Se dedicando a temas cósmicos ao longo de toda a carreira, o escritor concluiu a última etapa de seus trabalhos autobiográficos nos últimos meses de vida, quando finalizou a segunda parte da obra-prima Fausto. “Agora posso olhar a minha vida como o mais puro presente”, declarou Goethe prevendo o próprio fim.
O drama poético em que o protagonista faz um pacto com o diabo em troca de sabedoria e conhecimento para entender a vida exigiu 60 anos do alemão. A história autobiográfica reflete o próprio anseio de Goethe na busca por luz em um universo que se expande por meio das ciências e das artes.
Ao contrário da obra inglesa The Tragical History of Doctor Faustus, de Christopher Marlowe, em que Fausto é condenado ao inferno, na obra romântica de Goethe o protagonista que vendeu sua alma a Mefistófeles tem direito à redenção.
Fragmento de Fausto II
Ay, neste pensamento eu prometo minha fé inabalável
Aqui a sabedoria diz sua palavra final e verdadeira
Ninguém tem a liberdade ou a vida que merece
A menos que a conquiste diariamente e como se fosse a primeira vez
Fausto morre e Mefistófeles aparece para reclamar seu prêmio. Todo o espaço é preenchido com anjos, e ouve-se um coro durante o enterro, de acordo com a última cena do último ato da obra-prima.
Rode mais uma vez as chamas do amor
A pura luz se revela
Aqueles que foram deplorados pela vida
A verdade ainda curará
Resgatados, não mais serão escravos de maus cuidados
Em breve e de tudo por tudo
A felicidade será deles
Saiba Mais
Johann Wolfgang von Goethe nasceu em 28 de agosto de 1749 e faleceu em 22 de março de 1832.
Suas maiores obras são “Fausto”, Os Sofrimentos do Jovem Werther, “Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister”, “As Afinidades Eletivas”, “Prometeus” e “Teoria das Cores”.
Referências
http://www.todayinliterature.com/
Lewes, George Henry. The Life of Goethe (1855). Adamant Media; 2000.
Williams, John. The Life of Goethe. A Critical Biography. Wiley-Blackwell; 2001.
Middleton, Christopher. Goethe, Volume 1: Selected Poems. Princeton University Press; 1994.
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