David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Governo Federal’ tag

Bolsonaro e seus ministérios

without comments

Para o Ministério da Economia, o economista Paulo Guedes, que não sabe como funciona a Lei Orçamentária Anual (LOA), que está sendo investigado por fraude milionária em fundos de pensão e que declarou que o Mercosul não é prioridade. Sim, afinal não precisamos nos importar muito com países vizinhos.

Para chefiar a Casa Civil, Onyx Lorenzoni que recebeu Caixa 2 da JBS em duas ocasiões, inclusive admitiu o primeiro, mas segue dizendo que é um “combatente contra a corrupção”.

No Ministério do Meio Ambiente, talvez a atriz Maitê Proença, que recebe pensão vitalícia do pai falecido e não se casou para não perder o benefício, além de trazer um histórico polêmico que inclui ofensas aos portugueses. Disse ainda que direitos humanos não é mais importante que comida na mesa. Mas comida na mesa não é uma questão de direitos humanos?

Para o Ministério da Família, que parece ser inclusive considerado mais importante do que o Ministério do Trabalho por Bolsonaro, o pastor Magno Malta, que na eleição de 2014 recebeu R$ 100 mil de Caixa 2 do presidente da cozinha Itatiaia, Victor Penna Costa. Malta também foi acusado de envolvimento na máfia das ambulâncias. Além disso, o pastor acusou falsamente um homem de praticar pedofilia. Graças a Magno Malta, o ex-cobrador de ônibus Luiz Alves de Lima passou nove meses no Centro de Detenção Provisória de Cariacica (CPDC), onde era espancado regularmente, teve dentes arrancados com alicate, sofreu choques, asfixia, ficou cego de um olho e perdeu parcialmente a visão do outro. Luiz Alves foi inocentado mais tarde, após a perícia concluir que ele não havia estuprado a própria filha, e que inclusive ela ainda era virgem.

Para o Ministério da Justiça, Sérgio Moro, um juiz que disse antes que nunca ocuparia um cargo político. E sim, embora a sua função não seja eletiva, cargos baseados em indicação ou comissão, mesmo quando considerados critérios técnicos, não deixam de ser cargos políticos. Afinal, a sua função está vinculada à indicação de um político eleito. Além disso, disse que perdoou o Caixa 2 de Lorenzoni e agora como ministro da justiça pode usar informações privilegiadas de processos e seguir influenciando o judiciário brasileiro, o que em países de Primeiro Mundo é inadmissível e se enquadra como “contaminação política”.

Para o Ministério da Ciência, Marcos Pontes, alguém que embora tenha se formado no ITA, dizem que com bom desempenho, nunca produziu ciência, e que está fora do meio acadêmico desde os anos 1990, e tem como ponto mais alto do currículo uma viagem para o espaço sob os termos de astronauta/turista. Hoje é um empreendedor que atua como um tipo de coach. Não é porque outros governos indicaram alguém que não produz ciência ou que não desenvolve nenhum trabalho muito relevante nesse aspecto que não devemos ser mais criteriosos.

Para o Ministério da Agricultura, Tereza Cristina, uma agropecuarista que é conhecida como a “Musa do Veneno”, e que quer mais relaxamento legal, menos interferência da Anvisa, do Ibama e do ICMBio e mais permissividade na liberação de agrotóxicos proibidos em outras partes do mundo. Não podemos ignorar também que ela mantém negócios com a JBS. Ou seja, aquela mesma empresa que Bolsonaro usou como exemplo a maior parte de sua campanha para criticar o PT.

Para o Gabinete de Segurança Nacional, o general Augusto Heleno, aquele que recebia salário mensal de R$ 59 mil, sendo que o teto no funcionalismo público brasileiro é o salário dos ministros do STF, que era de R$ 33,7 mil e agora vai para R$ 39 mil.

Para o Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um diplomata que acredita em teorias da conspiração e que tem uma posição política que se resume ao antipetismo. Além disso, defende o criacionismo e acredita que a globalização é uma “agenda marxista”.

 

Written by David Arioch

November 15th, 2018 at 10:27 pm

1945: Epidemia de leishmaniose ataca Paranavaí

without comments

Surto de úlcera de Bauru matou dezenas de moradores

Doubek: “Atendíamos até cinquenta pessoas por dia” (Foto: Revista Saúde Pública)

Em 1945, muitos não escaparam da epidemia de leishmaniose tegumentar americana (LTA), conhecida como úlcera de Bauru, que atacou Paranavaí, no Noroeste Paranaense. A doença vitimou dezenas de pessoas em um período de grande carência médica.

Naquele ano, os moradores de Paranavaí ocupavam não mais que 40 casas, todas feitas de tábuas, e a única coberta por telhas era a residência usada como sede administrativa. Paranavaí ainda era sertão, tanto que animais campestres como veados-campeiros eram vistos todos os dias, até mesmo em frente as portas das casas. “Aqui era um lugar lindo porque era tudo mata. Não existia nada, mas tinha muito mosquito”, comentou o pioneiro paulista Salatiel Loureiro em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

Em meio as belezas de um tempo em que o homem interagia diariamente com a natureza, surgiu na colônia um surto de leishmaniose tegumentar americana (LTA). Segundo o pioneiro Hugo Doubek, em entrevista à prefeitura há algumas décadas, a epidemia de úlcera de Bauru se alastrou muito rápido. Como não havia médicos e nem enfermeiros em Paranavaí, Doubek se viu obrigado a lidar com os enfermos. “Tive até que adquirir prática em aplicar injeções na veia. Felizmente, foi enviado um enfermeiro, Eurico Hummig, que exercia a função de guarda sanitário em Curitiba”, lembrou o pioneiro que foi administrador da colônia.

Na década de 1940, a leishmaniose foi classificada pelo Governo Federal como doença da margem de mata. A proximidade de Paranavaí das áreas florestais facilitou a disseminação da doença que tem como transmissor o mosquito-palha. “Que luta tivemos! Atendíamos até cinquenta pessoas por dia. Na época, o médico José Pedro Vicentini tinha pedido exoneração e foi substituído por Aguilar Arantes. Devo dizer que ele fez milagres”, frisou Hugo Doubek, acrescentando que o médico não descansou enquanto não encontrou o medicamento certo para curar os doentes.

A situação era tão alarmante que até mesmo o governador Manoel Ribas veio a Paranavaí buscar os enfermos para levá-los a Curitiba. Dentre os doentes estava o pioneiro paulista João da Silva Franco que se recusou a ir para a capital receber tratamento médico. “Me tratei aqui mesmo porque não podia deixar minha mulher e minha filha sozinhas. O problema é que quem não queria ir para Curitiba era expulso de Paranavaí. Ameaçaram fazer isso comigo”, relatou. Tal atitude refletiu o medo e a desinformação da população, pois LTA é uma doença infecciosa que não é contagiosa, de acordo com o Ministério da Saúde.

João Franco: “A gente lavava as feridas com água de peroba e de guaiçara” (Foto: Revista Saúde Pública)

Doença deformou moradores

Quando adoeceu, João Franco contou pelo menos 18 feridas grandes pelo corpo. Segundo o pioneiro, só não apareceram úlceras no rosto. “Tinha na barriga, nas costas, nas pernas e nos braços. Por muita fé em Deus, me sarei. Resisti por natureza forte”, explicou.

Nem todo mundo teve a sorte do pioneiro paulista. Mais de 90 portadores de leishmaniose, entre adultos e crianças, foram levados de caminhão para Curitiba. “Daqueles que foram pra lá, alguns voltaram vivos, mas outros morreram”, enfatizou João Franco.

Em pouco tempo, foram registradas dezenas de mortes em decorrência da úlcera de Bauru que não só causava lesões cutâneas como deformava o rosto, impedindo o enfermo de se alimentar ou desempenhar qualquer outra atividade. “Muitas pessoas, até crianças, ficaram com os narizes e orelhas deformados. O que a gente mais fazia era lavar as feridas com água de peroba e de guaiçara. A situação era difícil porque Paranavaí era uma ilha isolada na mata virgem”, disse Franco.

O pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, declarou que a assistência médica era precária. “O Estado tinha mania de mandar uns médicos incompetentes pra cá. Alguns vinham porque queriam pegar uma beira lá”, reclamou. João da Silva Franco faz coro às palavras de Araújo. “Vivemos no mato por mais de 20 anos. Era muito difícil porque não havia tratamento de espécie alguma”, desabafou.