David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Grego’ tag

Pitágoras, o primeiro filósofo grego a reprovar o consumo de carne e a matança de animais

without comments

“Enquanto come as articulações de um cordeiro, você festeja com seus bons amigos e vizinhos”

Pitágoras: “Enquanto o ser humano for implacável com as criaturas vivas, ele nunca conhecerá a saúde e a paz” (Pintura: Peter Paul Rubens)

Dos filósofos da Grécia Antiga, Pitágoras é sempre apontado como o primeiro a questionar e a criticar o consumo de carne e a matança de animais. A ele é atribuída a célebre frase: “Enquanto o ser humano for implacável com as criaturas vivas, ele nunca conhecerá a saúde e a paz. Enquanto os homens continuarem massacrando animais, eles também permanecerão matando uns aos outros. Na verdade, quem semeia assassinato e dor não pode colher alegria e amor.” Tal frase foi registrada pelo poeta romano Ovídio, reproduzindo o discurso do filósofo grego.

Embora Pitágoras tenha se aproximado do que seria definido mais tarde como um tipo de vegetarianismo místico, há registros e histórias que revelam que ele realmente se preocupava com os animais não humanos, não apenas com a mácula e com a violência que o consumo de animais poderia causar e estimular. Para o pensador, a abstenção do consumo de animais poderia permitir que o ser humano alcançasse um grau mais elevado de consciência.

Ademais, independente de sua motivação em relação à defesa do não consumo de carne, o filósofo grego que nasceu em Samos séculos antes do surgimento do cristianismo é uma prova do quão é equivocada a crença de que a rejeição ou a crítica ao consumo de animais é uma premissa contemporânea. Esse seu posicionamento, em menor ou maior proporção, influenciou diretamente filósofos e pensadores como Plutarco, Sócrates, Platão, Teofrasto, Empedócles, Ovídio, Séneca e Apolônio de Tiana, entre outros.

Pitágoras chegou a associar o ato de comer carne com uma forma de canibalismo, e naturalmente o ato de matar animais para consumo como assassinato. Para entender essa sua posição basta partirmos da perspectiva de que nós seres humanos também somos animais, portanto, temos um vínculo de parentesco com os animais. Mas ainda assim nos alimentamos de animais.

Ele acreditava que tanto os animais humanos quanto os não humanos têm alma. A sua crença na transmigração de almas, ou seja, na ideia de que seres humanos podem renascer como animais não humanos e vice-versa endossava a sua posição, embora com um viés místico que mais tarde seria rejeitado pelo vegetarianismo ético. Porém, nem por isso, Pitágoras deixou de influenciar o vegetarianismo ético e até mesmo o veganismo como conhecemos hoje, já que à sua maneira, e considerando o contexto da época, ele também questionava a objetificação animal.

“As proibições de Pitágoras contra a matança e o consumo de animais não eram baseadas em superstições, totemismos ou tabu”, afirma a pesquisadora Mary Ann Violin no artigo “Pythagoras – The First Animal Rights Philosopher”, que integra o volume 6 do jornal de filosofia “Between the species”, publicado em 1990. Pitágoras defendia que não é menos bárbaro derramar o sangue de um animal do que o de um ser humano.

O filósofo grego expressou horror pela ideia de colocarmos cadáveres de outros animais dentro de nós. Ele considerava errado nos alimentarmos da “triste carne de animais assassinados”. Como registrado na obra “Metamorfoses” de Ovídio, Pitágoras disse algo como: “Enquanto come as articulações de um cordeiro, você festeja com seus bons amigos e vizinhos.” Pitágoras dizia que os açougueiros eram insensíveis às súplicas de um cordeiro ou bezerro, apesar do fato de seus gritos serem semelhantes aos gritos de um bebê.

Também foi Ovídio quem retratou Pitágoras como um filósofo que suplicava aos seres humanos para demonstrarem compaixão pelo sofrimento de todos os seres sencientes. Além das menções a ele na obra “Metamorfoses”, outro exemplo é uma história narrada pelo filósofo neoplatônico Jâmblico e mais tarde publicada no livro “Life of Pythagoras”, traduzido por Thomas Taylor e lançado em 1818 pela J.M. Watkins, da Inglaterra.

Jâmblico conta que quando Pitágoras estava viajando ao longo da praia de Síbaris para Crotona, ele conheceu alguns pescadores cuja rede ainda estava no mar. Naquele dia, Pitágoras previu o número de peixes que eles pegariam. Intrigados, os pescadores concordaram em fazer qualquer coisa se ele estivesse certo. Quando a rede foi trazida à terra, e os peixes contados, Pitágoras acertou o número exato de peixes e pediu que fossem devolvidos à água. Assim foi feito. Curiosamente, nenhum dos peixes morreu durante a contagem. Pitágoras deu aos homens o dinheiro que eles ganhariam com os peixes e seguiu a sua jornada para Crotona.

Pitágoras era um pensador à frente do seu tempo, tanto que entre seus alunos e seguidores haviam mulheres, ex-escravizados e bárbaros. De acordo com o biógrafo Diógenes Laércio, Pitágoras libertou um jovem chamado Zalmoxis e fez dele seu amigo. Sua escola de filosofia fundada em Crotona se destacava pela organização e pelas regras relativas à conduta prática e moral.

Segundo Mary Ann Violin, Pitágoras se negou a fazer distinção da carne e do sangue de animais humanos e não humanos. O filósofo costumava contar aos seus alunos e seguidores sobre uma era de ouro em que os lábios das pessoas não estavam “contaminados com sangue”. Enfatizava que era um tempo sem violência, em que todos viviam em paz. E foi exatamente pela repulsa à violência contra seres humanos e não humanos que quando Pitágoras e seus seguidores se reuniam em sacrifício aos deuses, eles apenas queimavam incensos e ofereciam mudas de carvalho a Zeus, louro a Apolo, rosa a Afrodite e videira a Dionísio. “Muitos contos milagrosos foram contados sobre Pitágoras e seu relacionamento com os animais”, escreveu Mary Ann no artigo “Pythagoras – The First Animal Rights Philosopher”.

Para o pesquisador Nathan Morgan, autor de “The Hidden History of Greco-Roman Vegetarianism”, publicado em 2010 pela Encyclopaedia Britannica, Pitágoras foi o primeiro filósofo do ocidente a deixar um legado vegetariano. “Ele sentiu que o consumo de carne era insalubre e fazia com que os humanos guerreassem uns com os outros. Por estas razões, ele se absteve da carne e encorajou os outros a fazerem o mesmo”, declarou Morgan.

Na biografia “Life of Pythagoras”, Jâmblico pontua que Pitágoras exortou os políticos de seu tempo a absterem-se do consumo de carne. Pois, se eles estavam dispostos a agirem com justiça em seu mais alto grau, era indiscutivelmente importante incumbi-los a não ferirem nenhum dos “animais inferiores”. Conforme palavras de Pitágoras registradas pelo filósofo neoplatônico, como eles poderiam persuadir os outros a agirem com justiça, se eles próprios provavam que se entregavam a uma avidez insaciável que consiste em devorar esses animais que nos são aliados? Pois, por meio da comunhão da vida estão, por assim dizer, unidos a nós por uma aliança fraterna.

Já a Stanford Encyclopedia of Philosophy, destaca que Pitágoras defendeu o vegetarianismo com base na sua crença na metempsicose, ou seja, na crença de que um mesmo espírito, após a morte do antigo corpo habitado, retorna à existência material, podendo reencarnar como ser humano ou não humano. Logo todos os animais devem ser respeitados. Também cita que Eudoxus de Cnido registrou que além de Pitágoras se abster de alimentos de origem animal, ele evitava proximidade com açougueiros e caçadores. A Stanford Encyclopedia of Philosophy informa ainda que, consoante Porfírio, Pitágoras sugeriu que devemos evitar consumir qualquer animal como se fôssemos consumir seres humanos.

A ética pitagórica que reprovava o consumo de animais teve um importante papel enquanto moral filosófica entre os anos de 490 a 430 a.C. O objetivo de Pitágoras, conforme registros de seus biógrafos e seguidores, era estimular a consciência do respeito à vida independente de espécie. O filósofo grego reconhecia as diferenças entre animais humanos e não humanos em relação ao raciocínio e à consciência. Por outro lado, via similitude principalmente em relação à senciência. O fato dos animais não verbalizarem suas necessidades, não deveria ser motivo para fazer deles um alvo fácil para a humanidade, na perspectiva pitagórica.

Incisivo em seu posicionamento, Pitágoras reprovava o sacrifício de animais e proibia que seus alunos ou seguidores tomassem parte nessa prática que considerava espúria. Acredita-se que o filósofo grego tenha decidido se abster do consumo de animais aos 19, 20 anos, passando a priorizar especialmente o consumo de ervas. Contudo, há divergências sobre como eram de fato os seus hábitos alimentares.

Segundo a obra “Life of Pythagoras”, de Jâmblico, Pitágoras passou a defender invariavelmente a abstinência do consumo de animais, justificando ser uma rejeição determinante para alcançar até mesmo a paz. Argumentava que aqueles que consideravam errada e desnecessária a morte de animais não humanos eram os mesmos que reprovavam a morte de pessoas e o surgimento das guerras. Pitágoras qualificava a guerra como um grande matadouro, e se tal matadouro banalizava a vida humana, mais ainda desvalorizava a vida não humana.

De acordo com Jâmblico, o filósofo grego de Samos relatou que só aquele que reconhece a comunidade de elementos que envolve os seres humanos e os animais é capaz de estabelecer em maior grau uma comunhão com aqueles que compartilham uma alma afim e racional. Advertiu também que a justiça é introduzida pela associação com outras pessoas, enquanto a injustiça é resultado da insociabilidade e negligência humana no que diz respeito a muitas coisas, inclusive o desinteresse ao que não nos parece conveniente.

Embora a história de Pitágoras esteja às voltas com inúmeras controvérsias, até pelo fato de sua vida e obra terem sido narradas e registradas por seus alunos e seguidores, é inegável que chama a atenção reconhecer que há 2,5 mil anos um filósofo fez oposição ao consumo de animais. No entanto, não é difícil encontrar pessoas questionando sobre o motivo pelo qual essa parte da vida de Pitágoras foi tão negligenciada pela história. Afinal, ele é mais conhecido como matemático, e basicamente pela associação de seu nome ao Teorema de Pitágoras.

Sobre isso, uma observação que talvez seja necessária é a de que Aristóteles fez franca oposição ao seu discurso contra a matança de animais. E como Aristóteles enquanto filósofo obteve muito mais êxito no Ocidente, inclusive endossando uma consciência antropocêntrica que reconhecia os animais apenas como seres disponíveis ao uso humano, a filosofia de Pitágoras acabou obscurecida e relegada a um universo menor. Já Aristóteles, que rejeitou a racionalidade animal não humana, ajudou a formar parte da base da atitude cristã ocidental, defendendo assim que criaturas sencientes não humanas poderiam sim ser privadas de justiça e da própria existência, já que isso beneficiaria uma espécie superior, ou seja, a espécie humana.

Saiba Mais

Entre os vegetarianos, Pitágoras foi um nome de grande relevância até o século 19, tanto que até então os protovegetarianos e vegetarianos eram chamados de pitagóricos.

Pitágoras nasceu em Samos em 570 a.C e faleceu em Crotona ou Metaponto em 495 a.C.

Referências

Violin, Mary Ann. Pythagoras – The First Animal Rights Philosopher. Between the Species. Páginas 122-125 (1990).

Iamblichus. Thomas Taylor. The Life of Pythagoras. J.M. Watkins. London (1818).

Morgan, Nathan. The Hidden History of Greco-Roman Vegetarianism. Encyclopaedia Britannica (2010).

Ovid. Metamorphoses. Oxford World’s Classics. Oxford University Press (2009).

Wynne-Tyson, Jon. The Extended Circle: A Dictionary of Humane Thought. Penguin Group (1990).

Pythagoras. Stanford Encyclopedia of Philosophy (2005-2014).





 

Empédocles, um pré-socrático contra o derramamento de sangue dos animais

without comments

Em “Retórica”, Aristóteles escreveu que Empédocles era contra a matança de qualquer criatura 

O pai da retórica defendia que é preciso seguir o princípio do amor (Arte: Thomas Stanley)

Sempre que se fala nos filósofos da Grécia Antiga, e na forma como eles influenciaram o vegetarianismo, surgem controvérsias. Alguns alegam que vários filósofos gregos apontados como vegetarianos somente se abstiveram da carne. Outros dizem que a defesa de uma dieta livre de ingredientes de origem animal normalmente tinha como motivação uma crença espiritual, principalmente a transmigração de almas; assim os julgando como antropocentristas.

Porém, mesmo que isso seja verdade, ainda é possível citar filósofos gregos que, de algum modo, contribuíram para a discussão sobre o vegetarianismo e os direitos animais, mesmo que sob viés polêmico. Ainda que, a princípio, suas ideias tenham sido pautadas a partir das consequências das ações humanas, e o que isso significaria propriamente à humanidade, o filósofo pré-socrático grego Empédocles (490-430 a.C), o pai da retórica, defendia que é preciso seguir o princípio do amor em relação a todas as espécies; portanto, abster-se de violência e derramamento de sangue, o que já figurava como uma defesa da compaixão e do direito dos animais à vida, de acordo com o livro “Animal Suffering: Philosophy and Culture”, da finlandesa Elisa Aaltola.

Rod Preece, autor do livro “Sins of the Flesh: A History of Ethical Vegetarian Thought”, segue pela mesma linha de raciocínio, e diz que, dos pitagóricos, Empédocles foi o que mais dispensou atenção à sensibilidade animal, mesmo que julgado, como ainda pode acontecer hoje, como um filósofo com uma percepção mística dos animais. “Ele era considerado um tipo de xamã em sua prática, e às vezes um extremista em suas visões. Mas podemos ver no mínimo um elemento de ética animal em suas expressões. Naturalmente, suas razões refletem seu ascetismo primário”, declara Preece.

Avesso às religiões tradicionais, Empédocles demonstrava uma forma singular de espiritualidade, até por influência de Pitágoras. O filósofo que tinha como motivação a busca pela verdade e pela virtude, abominava o sacrifício de animais. “Empédocles, como outros vegetarianos órficos-pitagóricos, lembra a Era de Ouro, em que o assassinato, a ira e a discórdia não reinavam, e em que o abate de animais, como particularmente um sacrifício aos deuses, era visto como uma ‘impureza’”, escreveram Kerry S. Walters e Lisa Portmess em “Religious Vegetarianism: From Hesiod to the Dalai Lama”.

Idealista, Empédocles dizia que não era tarde demais para os seres humanos deixarem a caverna em que se aprisionaram e, como Perséfone, conquistarem a oportunidade de experimentar o renascimento espiritual. Porém, a condição maior para essa mudança seria a recusa em continuar derramando sangue. E isso, naturalmente, e em parte, significaria um retorno à dieta vegetariana pacífica da perdida Era de Ouro.

O derramamento de sangue é o pecado de uma poluição que afasta os seres humanos da divindade (Arte: Wellcome Library, Londres)

Na observação feita por Walters e Portmess fica claro que, na defesa de Empédocles, ele apelava à espiritualidade humana e as consequências do consumo para quem via os animais como comida; talvez, não apenas por realmente acreditar nisso, mas também por entender que o ser humano não seria tocado simplesmente pela compaixão pelos animais.

“O derramamento de sangue, afirma ele, é o pecado de uma poluição que afasta os seres humanos da divindade e traz a retribuição do renascimento contínuo. A alma do assassino é forçada a uma cansada e desabrigada ronda de transmigrações. […] e o abate de animais é o que garante a continuidade da violência“, cita o livro “Religious Vegetarianism: From Hesiod to the Dalai Lama”, em referência a fragmentos de um manuscrito do poema “Purificações”, do filósofo grego.

Para Empédocles, se recusando a consumir animais, o ser humano evitaria ter sua alma aprisionada no corpo de um animal; alegando que os corpos dos animais que comemos se tornam, nas próximas vidas, moradas de almas punidas. Apesar dessa perspectiva considerada limitante no contexto do vegetarianismo, o filósofo grego também sugeria que todas as criaturas têm direito à justiça, segundo Gordon Lindsay Campbell no livro “The Oxford Handbook of Animals in Classical Thought and Life”.

Mesmo que citasse deuses e a transmigração de almas em sua defesa da abstenção de carne, e por isso muitos vejam uma relação próxima de Empédocles com o vegetarianismo de viés religioso, o professor Christian Wildberg, da Universidade de Princeton, que tem uma extensa pesquisa desenvolvida na área de filosofia antiga, argumenta que o vegetarianismo de Empédocles foi uma poderosa ferramenta de ataque à religião grega tradicional, condenando massivamente a realização de sacrifícios de animais.

Sendo assim, e também levando em conta que de toda a sua produção restaram apenas dois trabalhos parciais – os poemas “Purificações” e “Na Natureza”, não é possível dizer com certeza qual era a sua maior motivação no que diz respeito ao vegetarianismo; talvez estivessem além do que foi legado à humanidade.

Parafraseando John Rundis em “The Vegetarianism of Empedocles in Its Historical Context”, Stephen T. Newmyer, professor da Universidade Duquesne e pesquisador da questão animalista, argumenta que o vegetarianismo de Empédocles pode ser visto como uma declaração política que se opôs à identificação aristocrática do sacrifício animal. Isto porque o consumo de carne à época já era associado à barbárie e à glutonaria, já que os cidadãos de maior poder aquisitivo sempre “reivindicavam primeiro a maior porção de carne”.

Tal observação pode ser corroborada pelo estilo de vida idealista do filósofo grego. Embora não haja tantas informações sobre sua vida, sabe-se que o pai de Empédocles, Meto, foi um dos responsáveis pela derrubada do tirano Agrigento, que comandou Acragas, na região da Sicília, até por volta de 470 a.C.. Empédocles, deu continuidade à tradição familiar, sendo crucial na deposição de outros oligarcas. Dizem que, mais tarde, quando ofereceram-lhe o comando da cidade, ele recusou.

A questão de parentesco entre seres humanos e animais teve grande peso sobre a consciência do filósofo grego (Arte: Reprodução)

“Empédocles acreditava amplamente em princípios igualitários, era considerado um vegetariano e respeitava os direitos animais, acreditando que todos os seres vivos têm espíritos. Era um forte defensor da democracia. […] Desprezava abertamente a glorificação dos indivíduos e era conhecido por condenar o materialismo consumista e a gula dos cidadãos de Acragas”, escreveu Vincenzo Mormino em 2007 na revista “Best of Sicily”. Há estudiosos que afirmam que filosoficamente as ideias de Empedócles influenciaram o naturalista britânico Charles Darwin a escrever a teoria da seleção natural.

Em “Retórica”, Aristóteles escreveu que Empédocles era totalmente contra a matança de qualquer criatura, alegando que era injustificado e injusto os seres humanos matá-los. A questão de parentesco entre seres humanos e animais teve grande peso sobre a consciência do filósofo grego, segundo o livro “The Animal and the Human in Ancient and Modern Thought: The ‘Man Alone of Animals’ Concept”, de Stephen T. Newmyer. “Empédocles só falou em termos de uma lei universal [nomimon], a lei contra matar animais. É Aristóteles quem escreve a lei de Empédocles como [sendo] natural”, comenta Richard Sorabi em “Animal Minds and Human Morals: The Origin of the Western Debate”. 

Saiba Mais

Empédocles é o nome mais importante da escola plurarista, que reconhecia a não existência de um princípio único que explique todo o universo. Ele estudou com Pitágoras e foi um dos primeiros cientistas a sugerir que a luz viaja a uma velocidade constante. Embora Empédocles viveu muitos antes de Arquimedes, os dois tinham muito em comum.

“Purificações” e “Na Natureza”, suas duas únicas obras remanescentes, tinham 5 mil linhas, mas restaram apenas 500; e acredita-se que na realidade “Purificações” seja uma introdução ao poema “Na Natureza”.

Ele afirmava que tudo que compõe a natureza é formado por  terra, ar, água e fogo, misturados ou não.

Referências

 Campbell, Gordon Lindsay. The Oxford Handbook of Animals in Classical Thought and Life. Oxford University Press (2014).

Cleary, John J. Gurtler, Proceedings of the Boston Area Colloquium in Ancient Philosophy, Volume 7. University Press of America (1992).

Preece, Rod. Sins of the Flesh: A history of Ethical Vegetarian Thought. Página 92. UBC Press (2009).

Walters, S. Kerry. Portmess, Lisa. Religious Vegetarianism: From Hesiod to the Dalai Lama. State University of New York Press (2001).

Aaltola, Elisa. Animal Suffering: Philosophy and Culture. Página 68 (2012).

Newmyer, Stephen. The Animal and the Human in Ancient and Modern Thought: The ‘Man Alone of Animals’ Concept. Routledge (2016).

Newmyer, Stephen. Animals, Rights and Reason in Plutarch and Modern Ethics. Routledge; 1 edition (2005).

http://www.bestofsicily.com/mag/art242.htm

http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0258%3Abook%3D8%3Achapter%3D2

Contribuição

Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:





Written by David Arioch

March 30th, 2017 at 11:44 pm

Um criminoso à moda antiga

without comments

Flávio Frederico conta a história do paranaense que comandou a Boca do Lixo

daniel-oliveira-teve-que-usar-lentes-grosas-protese-no-queixo-e-afatador-para-ficar-com-orelhas-de-abano-1348693213537_615x470

Daniel de Oliveira em uma de suas melhores atuações (Foto: Reprodução)

Lançado em 2010, o filme Boca do Lixo, do cineasta Flávio Frederico, autor dos documentários Caparaó e Serra, de 2007 e 2003, conta a história do paranaense Hiroito de Moraes Joanides, o maior criminoso da Boca do Lixo. O filme segue uma ordem cronológica de eventos. Tem início na infância de Hiroito, mostrando de que forma o garoto desenvolveu um vínculo com a Boca do Lixo, no bairro da Luz, em São Paulo.

No início da juventude, o herdeiro dos Joanides já demonstrava desinteresse por uma vida normal. Preferia viver em prostíbulos, bebendo e tentando impor a ordem ao seu modo. Hiroito nunca aceitou a monogamia, e amava tanto as mulheres quanto os livros, a quem dedicava boa parte do dia.

exvid_boca_screenshots

Hiroito vivia como um rei de perspectiva limitada (Fotos: Reprodução)

Tinha facilidade em conquistar parcerias, mas também em desfazê-las; tudo por causa da personalidade volátil que se agravou com o tempo. O rei da Boca do Lixo, como ficou conhecido, chegou a assassinar o melhor amigo quando soube que o rapaz lhe furtou uma parte dos ganhos com a prostituição e comércio de entorpecentes.

Hiroito vivia como um rei, mas de perspectiva limitada. Acreditava que por ter um delegado de polícia como cúmplice jamais seria imputado por qualquer crime. Um grande engano. A megalomania fez com que chamasse muita atenção em todo o país, inclusive tendo de retornar por um curto período para o Paraná.

Mais tarde, de volta a São Paulo, o jovem Joanides se recusa a crer na transformação da Boca do Lixo, e com apenas dois parceiros tenta retomar o comando do lugar. Além da belíssima fotografia, que parece remeter ao cinema noir, e da ação da trama, referenciada pelo gangster movie, o filme chama atenção pelo realismo e fidedignidade à obra homônima, escrita pelo próprio Hiroito.

Outro destaque é o elenco formado por Milhem Cortez, Hermila Guedes, Leandra Leal e Daniel de Oliveira que mergulha na personalidade do culto mafioso. Quem assina a inconfundível trilha sonora da obra é o produtor musical e compositor Eduardo Bid que também compôs para filmes como O Primeiro Dia, de Walter Salles Jr; Chega de Saudade e As Melhores Coisas do Mundo, de Lais Bodanzky; e Estamos Juntos, de Toni Venturi.

Curiosidade

No filme, Daniel de Oliveira teve de usar um afastador para simular orelhas de abano, além de prótese no queixo e lentes grossas que ressaltam não apenas os olhos, mas também a intrincada expressividade do personagem.