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Viza, viajando através da música

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viza

Viza é uma banda de gypsy punk que vale a pena conhecer (Foto: Divulgação)

Viza é uma banda de gypgy punk dos Estados Unidos que conheci em 2013, mas não somente gyspy punk, vai muito além disso. Tanto que daqui algum tempo penso em escrever sobre o trabalho desses caras. Talvez até para poder reavaliar com mais profundidade minhas impressões e também entender como eles analisam o próprio trabalho.

Tenho os cinco discos do Viza, além de alguns EPs, e digo com tranquilidade que é o tipo de música que nunca tiro do carro. Para quem gosta de subgêneros do rock não convencional, e que flertam com a música world ou multiculturalista, é uma boa banda para se conhecer.

Suas composições nos convidam a uma viagem por todos os continentes. Eles conseguem facilmente reunir num único álbum todas as emoções humanas sintetizadas em música. Só acho uma pena que gypsy punk seja um gênero pouco difundido no Brasil, onde a diversidade musical é predominante.

Written by David Arioch

February 4th, 2016 at 10:48 pm

Ajde Jano, um hino balcânico não oficial

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A beleza de uma composição folclórica que atravessa os séculos

Kultur Shock ajudou a divulgar a música folclórica sérvia fora do Bálcãs (Foto: Reprodução)

Kultur Shock, um aliado da música folclórica sérvia fora dos Bálcãs (Foto: Reprodução)

Uma das mais belas, tristes e famosas composições folclóricas do Sul da Sérvia e do Kosovo, Hayde Yano ganhou uma versão com um singular “que” de autoralidade em 2001, na versão da banda estadunidense Kultur Shock, uma das mais respeitadas do gênero gypsy punk.

O grupo, conhecido por valorizar o cancioneiro nômade, explorar suas habilidades técnicas multi-instrumentistas e influências multiétnicas, nunca se faz de rogado quando o que está em jogo é a espontaneidade não de apenas entreter, mas reacender os valores semeados e preservados pela música folclórica. É exatamente o que encontramos na versão que o Kultur Shock gravou de Hayde Yano.

Concebida com preciosismo, a canção segue a premissa do kolo tradicional, uma das danças coletivas e circulares mais difíceis do mundo – que exige uma contumaz flexão de joelhos, recaindo o peso sobre os calcanhares. É muito popular entre os povos eslavos, com destaque para sérvios, bósnios, herzegovinos, croatas, macedônios e montenegrinos. A versão dos estadunidenses para Ajde Jano é baseada em instrumentos que popularizaram o kolo, com predominante característica de gravador radiofônico, como frula, tamburica, šargija, zurla, gajde, tapan e gaita.

O que a distingue das versões menos ousadas é a roupagem moderna e eletrônica que lembra ocasionalmente o trabalho de aspiração mediterrânea do projeto israelense-estadunidense Balkan Beat Box, referência em gypsy punk e cultura roma. Outro ponto interessante de Hayde Yano é que durante a execução do kolo os punhos cerrados atrás das costas representavam no passado um desafio ao governo turco – como um protesto, o que rende ao ouvinte uma extra carga simbólica sobre a importância contextual da música com status de hino não oficial.

Kolo, uma dança popular entre os povos eslavos (Foto: Reprodução)

Kolo, uma dança popular entre os povos eslavos (Foto: Reprodução)

Hayde Yano recebeu dezenas de versões desde que foi gravada pela primeira vez em 1928 pelo desconhecido V. Georgevich. A história da canção remonta aos séculos anteriores, principalmente ao tempo e as consequências do duradouro domínio do Império Otomano. Ao longo dos anos, a letra foi modificada algumas vezes. No entanto, a ideia original fala sobre a necessidade de se preservar os velhos e bons hábitos.

Isso é representado pela recusa do homem em vender o cavalo e a casa, os únicos bens de um casal sérvio que passa por um grave momento de crise econômica e privação imposta pelos turcos. Além disso, a residência é o único local onde podiam dançar o kolo, honrando as próprias origens e a relação com a terra.

Antonín Dvořák, compositor erudito que estudou o folclore dos Bálcãs (Foto: Reprodução)

Antonín Dvořák, compositor erudito que estudou o folclore balcânico (Foto: Reprodução)

Mais tarde, a letra foi alterada e o personagem masculino sugere a Jana, sua mulher, que o melhor é vender a propriedade, já que teriam mais tempo para dançar o kolo, sem precisar se preocupar com o animal ou a residência. Assim, a letra ganhou um novo e distinto caráter conceitual e imaterial. O mais importante para o casal estava com eles o tempo todo – a sabedoria de se dançar o kolo, não apenas uma dança, mas um legado de identidade e valores que ninguém poderia destruir.

Antes de Hayde Yano ser gravada, o kolo entrou para a história como uma das mais importantes danças balcânicas; o que foi endossado em 1886 pela peça orquestral No. 7 (15) em C Maior (Kolo), pertencente a série Danças Eslavas, do compositor tcheco Antonín Dvořák, um gênio do romantismo que sincretizava tradição sinfônica e influências populares e folclóricas.

Enfim, Ajde Jano, kolo da igramo!   

A letra traduzida:

Hayde Yano

Vamos, Jana, vamos dançar o kolo!

Vamos, Jana, vamos, querida, vamos dançar o kolo!

Vamos, Jana, vamos, querida, vamos dançar o kolo!

 

Vamos, Jana, vamos vender o cavalo!

Vamos, Jana, vamos, querida, vamos vender o cavalo!

Vamos, Jana, vamos, querida, vamos vender o cavalo!

 

Vamos vender apenas para dançar!

Vamos vender, Jana querida, apenas para dançar!

Vamos, Jana, vamos vender a casa!

 

Vamos, Jana, vamos, querida, vamos vender a casa!

Vamos, Jana, vamos, querida, vamos vender a casa!

Vamos vender tudo apenas para dançar!

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