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A simplicidade como motivação existencial
A Cor do Paraíso inspira emoção sem decair para o melodrama
Em 1999, o cineasta iraniano Majid Majidi lançou o filme Rang-e Khodã que chegou ao Brasil com o título A Cor do Paraíso. A obra, que inspira emoção sem decair para o melodrama, conta a história de um garoto cego que encontra nas pequenas coisas do cotidiano uma razão para viver.
Mohammad (Mohsen Ramezani) contempla as belezas do mundo e se sensibiliza com aquilo que passa despercebido pela maioria. Um exemplo é a sua reação diante da queda de um passarinho. O cineasta Majid Majidi explora o belo por meio de uma esplêndida fotografia. Em muitos momentos a câmera simboliza os sentidos e a idealização existencial de Mohammad. E mais, vai além da beleza física do cenário natural ao amplificar os sons da natureza e transportar o espectador para uma afiguração particular de paraíso.
No mesmo contexto está Hashem (Hossein Mahjoub), um pai tornado infeliz e melancólico que desde a morte da mulher encara o ato de cuidar do filho como uma penitência. A figura paterna, presa a um universo lúgubre e estático – o que é muito bem representado nas tomadas com a câmera parada, é fria e individualista; uma crua metáfora da hipocrisia em uma sociedade arbitrária. Exemplo é a decisão do personagem em se casar com uma jovem mulher e entregar o filho a um carpinteiro cego de quem o garoto deve tornar-se ajudante. Mohammad e o pai vivem realidades distintas que aos poucos se afunilam, tornando-se ainda mais conflitantes.
A princípio, Hashem se limita a assistir a alegria do filho em admirar a natureza. Mais tarde, a satisfação de Mohammad em contemplar o que não vê faz o pai sentir-se perturbado. Na história, uma das cenas mais tocantes, embora com certo caráter teológico, surge quando em um monólogo o pai questiona porque merecera um filho cego. Mais tarde, Mohammad se pergunta por qual razão fora castigado pela cegueira. As duas questões existenciais revelam certa sintonia quando pai e filho estão distantes.