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Dirk Verbeuren: “Sou vegetariano porque não gosto da forma como os animais são tratados”
“Eu não poderia continuar fazendo parte disso. Cada criatura viva tem o direito de ser tratada eticamente”
O belga Dirk Verbeuren, que foi baterista da banda sueca de death metal melódico Soilwork, com quem gravou cinco álbuns e um EP entre os anos de 2005 e 2015, ingressou na banda Megadeth em 2016, a convite do vocalista e guitarrista Dave Mustaine. Embora seja bem conhecido no cenário do heavy metal, muita gente não sabe que Verbeuren é vegetariano, defende os direitos animais e tem uma banda em que aborda o tema.
Em entrevista a Tarja Virmakari, do Metal Shock Finland, o baterista contou que decidiu fundar o projeto de grindcore Bent Sea em 2011 como um veículo de divulgação de suas ideias sociopolíticas, incluindo os direitos animais. Sua iniciativa foi influenciada por bandas que o marcaram na adolescência, como Napalm Death, D.R.I. e Extreme Noise Terror.
“Sou vegetariano porque não gosto da forma como a carne é produzida, e como a maioria dos animais são tratados neste planeta. É uma causa em que acredito e é disso que falo na música ‘Dead Meat’ [que faz parte do EP Nostalgia, de 2011]. Todo mundo pode comer o que bem entender, mas talvez eu possa inspirar algumas pessoas a pensarem sobre algumas dessas questões”, justificou. O EP é baseado em críticas contundentes, principalmente no que diz respeito ao comprometimento do meio ambiente.
Logo no início, o Bent Sea contou com a participação do vocalista belga Sven de Caluwe, da banda Aborted, e do multi-instrumentista canadense Devin Townsend. Depois o lendário baixista britânico Shane Embury, do Napalm Death, também ingressou no projeto de grindcore. Colaborador da organização Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais (Peta), Verbeuren gravou com o Bent Sea os splits “Double Penetration”, com o Torture Division em 2013; “Animalist”, com o Usurpress em 2014; e “Ascend”, com o To Dust em 2014.
Em entrevista publicada em 6 de março de 2013, Dirk Verbeuren afirmou a Dane Prokofiev, da New Noise Magazine, que os oceanos estão mais ameaçados do que nunca pela poluição e pela pesca excessiva, e lamentou que aqueles que estão no poder não estão tomando as medidas necessárias para preservar o equilíbrio dos oceanos. Ingenuamente, o músico acreditava que havia regulamentações e leis para proteger o mar aberto.
Por isso, ele sugere que as pessoas assistam ao filme “Shark Water”, do canadense Rob Stewart, lançado em 2006. A obra mostra o quão visceralmente diferente e deprimente é a realidade dos oceanos e de espécies marinhas como os tubarões – afetados diretamente pela ganância humana. “O oceano é um lugar onde as pessoas pegam tudo que querem sem assumir qualquer responsabilidade. É muito fácil fechar os olhos para algo que não faz parte de nossas vidas diárias. Mas todos podemos dar pequenos passos para fazer uma enorme diferença. Por exemplo, boicotando as empresas envolvidas nisso”, recomenda.
Fatos como esse tiveram tanto impacto na consciência de Verbeuren e dos outros integrantes da banda sueca Soilwork que em 2013 eles lançaram o álbum “The Living Infinite”, que aborda a importância da vida marinha. “Ele ecoa a vastidão e a riqueza da nossa principal fonte de inspiração – o oceano”, declarou a Alexandra Furnea, do Maximum Rock em entrevista publicada em 4 de março de 2013. O músico belga admite que se sente na obrigação de conscientizar as pessoas sobre a importância de se proteger os oceanos, um mundo subaquático ainda pouco conhecido pela humanidade.
“Felizmente as pessoas estão percebendo que se o frágil equilíbrio dos ecossistemas subaquáticos for destruído, a vida humana na Terra se tornará impossível”, disse ao Maximum Rock. Em entrevista a Susan do Metal Storm em 7 de abril de 2013, Dirk Verbeuren, que vive em Los Angeles, nos Estados Unidos, confidenciou que para ele é muito fácil encontrar comida vegetariana hoje em dia.
“Em Los Angeles há toneladas de comida vegetariana. Amo comida tailandesa, coisas com arroz, talharim e muitos vegetais. Amo o sabor tailandês com coco. Também aprendi a apreciar a comida mexicana vivendo na Califórnia”, revelou.
Em um vídeo lançado pela Peta em 8 de agosto de 2013, Verbeuren aparece sorrindo e empolgado ao falar do seu estilo de vida vegetariano. “Eu provavelmente tinha quatro ou cinco anos, e acidentalmente matei uma mosca e comecei a chorar. Fiquei muito triste por tê-la matado, então acredito que sempre tive compaixão pelos animais. Não acho que qualquer animal deva ser tratado da forma como eles são tratados pela indústria. Então eu não poderia continuar fazendo parte disso. Cada criatura viva tem o direito de ser tratada eticamente”, argumentou.
Referências
http://newnoisemagazine.com/interview-w-soilwork-by-dane-prokofiev/
http://www.metalstorm.net/pub/interview.php?interview_id=672
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Como o lendário baixista do Black Sabbath se tornou vegano
Geezer Butler: “Eu costumava comer carne quando era criança, mas eu não sabia qual era a origem”
Um dos músicos mais influentes da história do heavy metal, o baixista inglês Geezer Butler, principal letrista do Black Sabbath, cresceu rodeado de animais. Com três irmãos e duas irmãs, ele se recordou que a casa vivia repleta de gatos, cães, ratos, galinhas, sapos e tartarugas.
“E eles sempre tiveram grande importância na minha vida. Meu cachorro, Scamp, era meu melhor amigo quando eu estava crescendo, e ele era tão meu irmão quanto meus irmãos humanos. Um dia, alguém jogou ácido nele, e ele quase morreu, mas meus pais gastaram as economias de uma vida para pagar por seu tratamento”, disse em entrevista ao Devils Gate Media em março de 2016.
Butler se surpreendeu em saber que as pessoas poderiam ser tão cruéis, e desde então assumiu um compromisso em defender os animais. Ativista e vegano, ele tem usado a sua influência para inspirar jovens de todas as partes do mundo.
“Eu costumava comer carne quando era criança, mas eu não sabia qual era a origem. E um dia, cortei um pedaço de carne e saiu sangue, então perguntei a minha mãe de onde vem a carne, e ela disse: ‘Dos animais’, e foi isso”, relatou.
Geezer Butler também teve uma infância difícil. Havia sete crianças na família e seu pai costumava receber apenas 30 dólares por semana para alimentar todos. “De qualquer modo, já não havia muita carne. Então eu realmente não senti falta. Conforme fui amadurecendo e começamos a pegar a estrada, tão logo você dissesse que era vegetariano, as pessoas, por alguma razão, achavam que você comia peixe. E eu dizia: ‘Como peixe pode ser um vegetal?’ Eu já tinha decidido fazer apenas coisas veganas, nada relacionado com qualquer tipo de animal. Me tornei vegano a partir daí”, informou a Bryan Reesman, do Attention Deficit Delirium.
Em entrevista concedida ao portal Team Rock em outubro de 2016, o lendário baixista admitiu que é um bom cozinheiro vegano. “E também faço uma boa xícara de chá”, emendou. Em outra entrevista concedida ao Peta2, ele disse que gosta de levar amigos para jantar em sua casa e servi-los com carne falsa. “Só depois digo a eles que aquela deliciosa refeição que eles comeram era vegana”, enfatiza.
Geezer e sua esposa Gloria estão há muitos anos envolvidos em batalhas contra criações de animais com finalidades comerciais, levando em conta que esses locais têm contribuído para ampliar a superpopulação de cães e gatos. “Há tantos cães e gatos e todos os tipos de animais que precisam de casas. Você sabe, não há razão para sair por aí e comprar um animal de um pet shop quando você pode simplesmente buscar um deles em um abrigo local”, lamentou Butler.
Saiba Mais
Geezer Butler nasceu em 17 de julho de 1949 em Aston, Birmingham, na Inglaterra.
Gravou 14 álbuns com o Black Sabbath entre os anos de 1970 e 2013; três discos solo; três discos com Ozzy Osbourne; e três discos com o Heaven & Hell.
Referências
http://www.blabbermouth.net/news/black-sabbaths-geezer-butler-ive-grown-up-with-animals-in-the-house/
Geezer Butler Discusses Veganism, Religion, Politics, Surveillance, and Life Lessons
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Marcus Dotta: “Ainda sentimos o descrédito por sermos brasileiros”
Destaque nacional, baterista fala sobre a carreira e a experiência de tocar com o vocalista Warrel Dane
Em 2014, a produtora TC7, de São Paulo, convidou o vocalista estadunidense Warrel Dane, famoso por integrar conceituadas bandas de heavy metal como Sanctuary e Nevermore, para realizar alguns shows com músicos brasileiros. A iniciativa deu tão certo que a banda que acompanha o vocalista, formada por Marcus Dotta, Thiago Oliveira, Johnny Morais e Fábio Carito, continua excursionando com Dane dentro e fora do Brasil. E o mais interessante de tudo é que essa formação se provou a mais sólida da carreira do vocalista nos últimos anos.
Marcus Dotta, o último músico a ingressar na banda, conquistou a vaga de baterista após enviar um vídeo tocando Born, do álbum This Godless Endleavor, de 2005. Dotta, um baterista que se identifica essencialmente com rock e heavy metal, começou a tocar em 2000 e teve como principal inspiração o baterista alemão Uli Kusch que fez história na banda de power metal Helloween entre os anos de 1994 e 2000.
“Na minha opinião, ele gravou os melhores e mais técnicos discos da banda. De tanto ouvi-lo tocar, sei cada nota que ele executa. Também não tenho como fugir dos clássicos como Scott Travis [Racer X, Judas Priest e Thin Lizzy] e Gene Hoglan [Dark Angel, Death e Devin Townsend]. Aqui no Brasil, com certeza tive como maior influência o Aquiles Priester, com quem já trabalhei como roadie por um tempo. Somos muito amigos”, declara.
Sobre a experiência de trabalhar com um dos grandes vocalistas da história do heavy metal, Marcus Dotta lembra que em 2006 sua banda abriu um show do Nevermore em Curitiba. Como ele já era muito fã dos caras, fez questão de assistir tudo do backstage. “Hoje, toco as mesmas músicas que assisti ao vivo e com um dos principais membros da banda. Às vezes, parece surreal”, avalia.
Em março tive a oportunidade de assistir ao show da turnê Warrel Dane Brazilian Tour 2016 em Florianópolis, Santa Catarina, e posso dizer que a sintonia e a qualidade dos músicos justificou a casa cheia. Entre berros empolgados e refrãos perfeitamente cantados pelo público, um dos destaques daquela noite foi o baterista Marcus Dotta, com quem conversei sobre a sua carreira, experiência de tocar com Warrel Dane, turnê europeia, fatos inusitados, repertório e recepção do público, entre outros assuntos. Confira:
Marcus, sei que você já integrou e integra muitas bandas e projetos como Thram, This Grace Found, Seventh Seal, Hevilan, Skin Culture, Addicted To Pain, Hatematter e Tiago Della Vega, além de atuar como sideman. Quais desses trabalhos você considera mais enriquecedores para a sua formação profissional? Tem algum projeto que você qualifica como o seu preferido?
Todos eles contribuíram de alguma forma com a minha carreira. Basicamente, existem diferenças muito grandes em como você deve lidar com um trabalho próprio autoral e com um trabalho em que é contratado como sideman. No seu disco ou show, você pode agir de uma forma, no disco ou show de quem te contratou, você deve respeitar regras. São experiências que qualquer um que vive de música deve ter porque enriquece muito a nossa visão profissional. Em relação ao projeto preferido, atualmente é uma banda nova chamada Soulhost. Já estamos começando a lançar material. É uma mistura de estilos que se encaixam – eletrônico, metal e pop, um som diferente que nunca toquei antes. Tenho dois projetos autorais com músicas e clipes para serem lançados este ano – Soulhost e O.S.P.
Você chegou a ter algum receio ou apreensão ao tocar com o Warrel Dane? Foi um desafio na sua carreira?
Eu não diria receio, até porque nos preparamos muito antes do primeiro ensaio. Afinal, ele já tinha tocado com alguns dos melhores músicos do mundo dentro do estilo. Mas já no primeiro ensaio descobrimos que ele é uma pessoa muito simples e fácil de trabalhar, então o desafio maior foi executar bem as músicas para agradar aos fãs. E algumas dessas músicas não são nada fáceis.
A formação atual com o Warrel Dane é composta pelo próprio, você, Thiago Oliveira, Johnny Morais e Fábio Carito. Você já tinha trabalhado com todos esses músicos?
Eu tinha gravado algumas músicas para um projeto chamado Addicted to Pain com o Fábio. Porém, só tinha ensaiado e feito shows com o Warrel Dane mesmo.
Da turnê de 2014, An Evening with Warrel Dane, você destaca quais momentos como os mais inesquecíveis? Como foi a receptividade do público? Surgiu alguma situação desconfortável ou inesperada?
Acontece de tudo em turnê, desde imprevistos técnicos, como estourar corda ou pele e termos que nos virar para continuar tocando até o roadie trocar, até momentos de nudez repentina do Johnny [Morais] em situações inapropriadas [risos]. E, claro, o Warrel nos obrigando a ver pérolas da internet como a Vomit Pool Party.
Na Grécia, um jamaicano tentou te dar um golpe? Como foi essa história?
Como você soube disso? [risos] Lá eles sacam quem é turista e colocam uma pulseira artesanal de “presente” em você, sem obviamente pedir. Também tentam arrancar alguns euros se fazendo de vítima enquanto outro vem e “bate” sua carteira sem você perceber. Não dei dinheiro nenhum e ele retirou do meu pulso o “presente” que me deu [risos].
Como tem sido a turnê Warrel Dane Brazilian Tour 2016?
Nos apresentamos em algumas cidades de São Paulo e também em lugares que nunca tocamos, como Florianópolis e Brasília. Este ano não temos como prever por quantas cidades ainda vamos passar porque o Warrel está sempre voltando para os Estados Unidos para dar continuidade à produção do novo disco dele. Então os shows ocorrem nos intervalos de produção. Em setembro, devemos voltar para a Europa e fazer uma turnê bem longa por lá, tentando cobrir o maior número possível de países. Ano que vem talvez tenhamos alguns shows nos EUA. Nesse período, acredito que o Warrel também fará alguns shows com o Sanctuary. Eles também pretendem gravar um novo disco.
Vocês foram muito bem recebidos na Europa no ano passado. No Brasil a receptividade também tem sido a mesma?
Realmente fizemos muitos amigos e conquistamos fãs em todo o lugar, mas ainda sentimos o descrédito por sermos brasileiros. Para alguns, o fato de você ser do mesmo país ou não tocar no Angra ou Sepultura, não te torna digno de estar no palco com alguém como o Warrel, independente se você faz um bom trabalho. Infelizmente isso é cultural.
O repertório tem passado por mudanças significativas de um show para outro?
Se já tocamos em uma cidade antes, sempre mudamos o repertório quando voltamos. O tema do show também costuma mudar. No ano passado, tocamos o álbum Dead Heart In a Dead World na íntegra. Já em 2016, misturamos o Dead Heart com o Dreaming Neon Black.
Como é a convivência com o Warrel Dane?
Muito boa, conversamos sobre absolutamente tudo. Hoje, vemos ele mais como um amigo bem próximo mesmo, mas às vezes ainda temos um brainstorm ao lembrarmos o que ele representa.
Existe alguma possibilidade de vocês gravarem novo material em estúdio com o Warrel Dane?
Sim, já estamos produzindo seu novo disco solo. Queremos terminar as composições ainda este ano. Não dá para adiantar muito agora, mas o que podemos dizer é que ele vai se chamar Shadow Work.
Atualmente você se sente mais seguro quando sobe no palco? Já chegou a ficar ansioso ou nervoso?
Nunca tive problema com nervosismo para subir no palco, até porque é a melhor parte do trabalho. Como tenho o instrumento mais complexo de transportar e montar, sempre fico nervoso com a logística que envolve tudo [risos].
O que vocês acharam da experiência de tocar em Floripa?
Florianópolis foi de longe um dos nossos melhores públicos! Unanimidade entre todos da banda. Fizemos muitos amigos. O show foi animal! A cidade realmente faz jus à fama de ser muito bonita.
Uma curiosidade, por que o Warrel Dane tem tomado chá durante os shows?
Chá e uma dose de Jack Daniels são itens obrigatórios para ele no camarim. Não me pergunte o motivo [risos]. Na verdade, em relação ao Jack Daniels, dá para entender, porque temos um ritual de virar uma dose generosa de whisky antes de subir no palco, como sinal de boa sorte. Coisa do patrão também [risos].
Marcus, você tem algum episódio cômico para relatar dessas turnês?
Temos boas histórias de groupies stalkers [risos], mas essas quem quiser saber tem que perguntar pessoalmente para a gente nos nossos próximos shows.
Quem quiser comprar a nova camiseta da banda Warrel Dane, basta acessar: http://warreldane.net/item/dead-heart-in-dead-world-15th-anniversary-tour/
Quando me decepcionei com Arnaldo Jabor
Quando adolescente, e ainda mais ingênuo por sinal, eu gostava de assistir aos comentários sazonais do Arnaldo Jabor na TV. Até que um dia, em dezembro de 2004, percebi como um formador de opinião pode ser capaz de destilar tanto preconceito e arrogância ao falar de um assunto que desconhece completamente. Desde então nunca mais vi ou ouvi tal crítico comentando sobre coisa alguma.
É surpreendente reconhecer como até mesmo aqueles que são apontados por muitos como grandes críticos e articulistas derrapam num erro tão primário que é o de se sentir tão superior que se considera apto a falar com desdém sobre qualquer coisa, mesmo que não tenha se informado ou estudado sobre o tema. Basicamente não há como deixar de encarar isso como uma das armadilhas do ego.
Crítica no seu conceito original precisa estar sempre atrelada a argumentos. Ela precisa impreterivelmente de sustentação. Se isso não existe, não é uma crítica. E foi exatamente o que vi no último dia em que assisti ao Arnaldo Jabor na TV, há mais de 11 anos. Achismo, opinião inconsistente e a estoica e nociva personificação da pessoalidade.
Quatro mulheres e uma banda
Roqueiras da Red Velvet planejam lançar primeiro EP este ano
Formada por Débora Louize, Luana Maran, Priscila Louzano e Luana Santana, a banda Red Velvet surgiu em Paranavaí no final de 2014. Desde o início a intenção já era fundar uma banda feminina de rock. “Eu e uma amiga começamos a tocar e tivemos essa ideia. Mas ela se mudou daqui e decidi procurar outras meninas em escolas de música e cidades próximas”, conta Luana Maran.
Embora a história das mulheres no rock seja antiga, e tenha como exemplo nomes como Janis Joplin, Joan Baez, Joan Jett, Lita Ford, Rita Lee, Debbie Harry, Chrissie Hynde e muitas outras, ainda tem gente que se surpreende ao ver uma banda formada por garotas. “Há pessoas que encaram como novidade algo que não é. Em relação a ser uma banda de mulheres, nos sentimos indiferentes a isso, mas infelizmente há pessoas que ainda nos veem de forma estranha. Tem quem acredite que uma banda de mulheres é ‘menos capaz”, lamenta Luana.
A Red Velvet tem conquistado boa popularidade no Noroeste do Paraná, com shows marcantes em Paranavaí, Altônia, Umuarama e Maringá. Nós tocamos bastante covers. Não seguimos exatamente um estilo. A gente toca o que gosta, levando em conta que temos formações bem diferentes”, comenta a guitarrista. Entre as principais influências da banda estão Guns N’ Roses, Led Zeppelin, AC/DC, Deep Purple, Rival Sons e Janis Joplin.
Desde o ano passado a Red Velvet tem se apresentado em várias regiões do Paraná, o que tem ajudado a alavancar ainda mais o trabalho da banda que se me vê mais próxima de gravar o primeiro EP. “Já temos algumas músicas autorais prontas. Queremos lançar nosso disco ainda este ano e temos certeza que o resultado vai ser animal. Vivemos um bom momento, com convites para tocar até fora do Paraná”, comemora Luana.
Até hoje a receptividade foi muito positiva em todas as cidades por onde a banda passou levando um repertório que vai do rock clássico ao heavy metal. “Tratam a gente super bem. É gratificante ver o carinho que recebemos desde o momento em que subimos no palco até a hora de ir embora”, enfatiza a guitarrista. Quem quiser contribuir com a Red Velvet ou contratar a banda para shows pode ligar para (44) 9716-9390.
Formação
Débora Louize – Vocal
Luana Maran – Guitarra
Priscila Louzano – Contrabaixo
Luana Santana – Bateria
Acompanhe
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Twitter: @RedVelvet_Rock
Vanusa X Black Sabbath
Está circulando uma matéria na internet sobre as semelhanças entre a famosa “Sabbath Bloody Sabbath”, da banda britânica de heavy metal Black Sabbath, que faz parte do álbum homônimo, lançado em dezembro de 1973, e a pouco conhecida “What To Do”, da cantora Vanusa, que lançou o seu disco meses antes do Black Sabbath. Independente da controvérsia que estão criando sem o aval da cantora, que disse não ter interesse algum em processar o Black Sabbath porque considera isso apenas uma coincidência musical, só tenho uma coisa a destacar: “Que música boa!”
Porianna, nascimento e morte de um jovem neonazista
Não o reconhecia. Defendia crimes contra migrantes, imigrantes e falava em limpeza étnica
Conheci Piero pessoalmente quando tínhamos 17 anos. Ele era um adolescente comum. Estatura mediana, magro, cabelos e olhos castanhos e uma exímia vontade de existir e ser notado para além dos cravos e das espinhas que o exasperavam. No final dos anos 1990, nos tornamos amigos por meio da música. Eu já gostava muito de heavy metal e ele também. Então começamos a fazer trade em Maringá, onde ele visitava familiares. Eu saía de Paranavaí e ele de São Paulo. Nos encontrávamos na Musical Box, na Avenida Brasil, onde trocávamos CDs e cópias de fitas de shows em VHS.
Piero era mais tímido do que eu. Falava pouco e não saía sozinho, pelo menos a maior parte do tempo. Me parecia sempre inseguro com seu olhar enviesado e vacilante que fortuitamente mirava o chão ou a parede mais distante. “Depois de mais de dois anos trocando ideias, é legal te conhecer, velho!”, eu disse apertando sua mão tão escanzelada que me dava a impressão de que eu estava segurando pés de galinha. Ele deu um sorriso fragilizado e acenou com a cabeça, em concordância, retomando uma postura que se esforçava para velar uma precoce hiperlordose.
Meu primeiro contato com Piero foi pela internet, em um canal de fãs de heavy metal da velha rede social Brasnet, acessada pelo programa mIRC, muito usado pela geração anos 1980. Tínhamos um grupo de dezenas de pessoas e passávamos pelo menos duas horas por dia tentando expandir nosso canal, fazendo brincadeiras e trocando informações sobre música. Era divertido. Eu era um dos operadores do canal, assim como Piero. Na internet ele se soltava mais. Se sentia mais livre e seguro para manifestar suas opiniões, anseios e inclinações. Nessas horas suas mãos não suavam ou tremulavam porque não havia contato físico. Pessoalmente, Piero só perdia a inibição em shows, quando o álcool e a música em volume extremamente alto o livravam das amarras da excessiva ponderação.
Ficava sorridente, falava com estranhos, perdia o medo de se aproximar de garotas e até trocava números de telefone. Sóbrio, continuava vivendo em um mundo que distante da realidade eletrônica parecia-lhe visceralmente acinzentado e taciturno. Mais tarde, descobri que Piero sofria de ansiedade e depressão. Nem mesmo seu pai sabia disso. A verdade é que se sentia feio, deslocado, magro demais e desprezado pelo mundo. Seu único orgulho eram os cabelos longos que movimentava com a destreza de um chicote amendoado nos shows que assistia motivado pela mais bucólica das empolgações. Sorria como criança vendo um pônei pela primeira vez.
A última vez que o encontrei pessoalmente foi em 2001, num festival de bandas de heavy metal no Tribo’s Bar, em Maringá. Ele tinha bebido bastante e estranhei quando percebi que sumiu em meio à multidão. Eram três horas da manhã e Piero estava lá fora, sentado sobre o meio-fio enquanto a aragem repentina fazia seus cabelos velarem seu rosto como uma máscara. Ele ajeitou os fios e vi seus olhos vermelhos e úmidos – vestígios de choro.
“Meu pai me expulsou de casa e agora estou sem rumo. E pra piorar, ele ainda fez eu perder meu emprego. Foi bêbado lá na loja de discos onde eu trabalhava e bateu no meu chefe, falando que ele estava usando a música pra me ensinar a venerar o diabo. Foi punk, mano! Minha sorte é que arrumei um quarto na casa da minha tia em Santo André”, desabafou.
A mãe de Piero faleceu em decorrência de câncer de mama quando ele tinha 13 anos. A convivência com o pai era muito conturbada. Ele não passava um dia sem ouvir críticas e ofensas à sua aparência e estilo de vida. Sempre que o pai bebia demais era obrigado a suportar as consequências. Muitas vezes teve de pular a janela e dormir em banco de praça para não ser espancado no próprio quarto. A hiperlordose de Piero também era resultado de chutes e socos desferidos pelo pai.
Quando se mudou para Santo André, Piero abandonou o nosso canal na Brasnet. O procurei por semanas até encontrá-lo em um canal secreto chamado Porianna. Consegui ingressar no grupo com um novo pseudônimo, me passando por outra pessoa. A liberação levou alguns dias. No grupo, Piero usava o nome de Globocnik, em homenagem ao austríaco Odilo Globocnik, general da SchutzStaffel (SS), a tropa de proteção do Partido Nazista.
Porianna era um grupo neonazista criado em 1999 e que contava com dezenas de participantes, talvez muito mais, principalmente das regiões Sul e Sudeste do Brasil. Alguns defendiam o racialismo pacífico enquanto outros pregavam o ódio contra raças não brancas, defendendo inclusive ações pontuais de violência que eram cuidadosamente articuladas. Muitas eram tão bem mascaradas que a polícia acreditava que eram casos isolados.
Acompanhando o grupo pelo canal da Brasnet, notei o embrutecimento e a transformação de Piero. Não o reconhecia. Defendia crimes contra migrantes e imigrantes. Falava em limpeza étnica e na aquisição coletiva de uma fazenda onde fundariam a sociedade Porianna, um novo país dentro do Brasil, onde pessoas armadas impediriam a entrada de pessoas não brancas.
“Estamos em todas as camadas da sociedade. Temos os boneheads na parte mais baixa da pirâmide, agindo junto ao proletariado, e juízes, advogados, médicos, engenheiros e jornalistas, todos bem preparados para influenciar a opinião pública. Não há como isso dar errado. Pode ser que não tão logo, mas um dia chegaremos lá”, declarou um homem, fundador do grupo que usava o pseudônimo de Plínio Salgado, em homenagem ao criador do movimento integralista ultranacionalista.
À época, registrei o discurso de uma mulher de 29 anos que se dizia juíza e era conhecida no Porianna como Vera Wohlauf por causa da sua simpatia pela esposa do oficial da SS Julius Wohlauf. O casal ficou famoso após passar a lua de mel assistindo e participando do massacre de judeus no gueto polonês de Miedzyrzec-Podlaski em 1942.
“A democracia não funciona, só que devemos fingir que sim. O que precisamos é encontrar, forjar ou criar um ponto de ruptura que faça a população, até mesmo inferiores como pretos, amarelos, pardos e outros mestiços, acreditar que o melhor caminho é uma política austera e ao mesmo tempo flexivelmente reacionária. As pessoas precisam achar que existe liberdade demais e que isso está associado à libertinagem. Façamos de conta que a nossa política há de ser maleável e quando ascendermos ao poder colocaremos em prática o nosso segundo plano que é a instauração de um governo verdadeiramente estoico, de extrema direita, mas muito superior ao molde hitlerista e franquista. Pinochet também descambou para o fracasso. O segredo é fingir que todos estão incluídos em nossas propostas. Nossa propaganda deve ser voltar para isso, uma ilusão factível”, dissertou Vera.
Aproximadamente um mês depois de ingressar no canal, conversei com Piero. Ele parecia mais seguro de si. No entanto, eu não tinha a mínima ideia de como isso poderia ser bom, levando em conta que ele se tornou uma pessoa completamente diferente. Estava morando sozinho e me contou que era bem pago para produzir, distribuir e despachar o material de divulgação do Porianna.
“A nossa sociedade foi construída sob os preceitos da cultura branca, totalmente ocidentalizada, então por que devemos absorver uma cultura que não corrobora esses valores? O resto é irrelevante, meu amigo, não tem o mesmo peso, a mesma significância. E quem não aceita isso merece ser expulso do Brasil, nem que seja à base de chutes e socos. Ter a pele clara também não diz nada. O que vale é a sua origem, sua identidade racial. Se você tem sangue não branco, você não é branco, mesmo que sua pele seja a mais clara do mundo. Cor de pele não prova que você seja caucasiano. Os traços também dizem mais do que a cor da pele”, defendeu Piero numa noite de conversa privada.
Ele já não ouvia mais heavy metal, somente bandas nacionais e internacionais de hatecore e rock against communism (RAC), grupos que pregavam racialismo, racismo, xenofobia, separatismo, violência e intransigência política e social. “Pela primeira vez eu tenho família, cara! Sou amado de verdade. Sou Porianna até a morte!”, comentou em outra ocasião. Um dia, não resisti e falei a ele quem eu era de verdade.
O questionei sobre o seu sumiço e o novo rumo de sua vida. Deixei claro que era difícil crer que alguém pudesse mudar tanto e se tornar algo completamente avesso a tudo em que ele acreditava. “Você desprezava violência e preconceito, cara. Tudo aquilo que seu pai era te dava repulsa. O que houve nesse entrementes?”, disparei. Piero demorou a responder e fiquei em silêncio aventando o que me esperava. Talvez me denunciasse e neonazistas viessem atrás de mim. Quem sabe a poucos quilômetros de distância houvesse algum simpatizante do Porianna disposto a atear fogo em minha casa quando soubesse que eu não era um deles.
Mas isso não aconteceu, embora a probabilidade não pudesse ser desconsiderada. Isto porque na chamada mais baixa hierarquia, o grupo contava com pessoas sem perspectivas de futuro. Eram capazes de matar ou morrer por um propósito, mesmo que ruim. Confundiam a ficção com a realidade, crentes de que talvez fossem heróis, que a morte não era o fim e que talvez renascessem como um tipo mais contemporâneo de highlander.
“Você é um merda, David! Sempre com esse papo de tolerância e não percebe que a própria vida é uma guerra. Estamos aqui para mostrar que uns merecem mandar e outros nasceram para obedecer. Nem todo mundo deve ter direito à vida, e muito menos o direito de tomar decisões que exigem reflexão. O mundo deve ser comandado pelos fortes, pelos puros de sangue, que conhecem a sua própria história. Não quero um mundo que prega a mistura de raças, a extinção dos povos caucasianos. Brancos não devem ser influenciados por outras raças”, registrou sem velar a irritação.
Depois daquele dia, desapareci do canal e soube que eles migraram para a rede internacional Undernet, onde criaram um vínculo com neonazistas portugueses. Em 2004, Jonas, um amigo em comum com Piero, dos tempos de shows em Maringá, me informou que ele foi assassinado dentro de casa, em Santo André. Além de mim, havia outro jovem infiltrado no grupo e ele estava lá para preparar uma retaliação pela surra que um grupo de simpatizantes do Porianna deu em seu irmão, um sharp (skinhead contra o preconceito racial), perto da Praça da Sé, em São Paulo, o deixando paraplégico.
Piero, que desconhecia o episódio, ouviu alguém batendo palmas em frente à sua casa numa manhã ensolarada de verão. Assim que se aproximou do portão segurando um copo de café, um homem disparou um tiro certeiro contra seu peito. O copo se espatifou no chão e Piero caiu agonizando, ainda com vida. Porém não resistiu às coturnadas que recebeu na cabeça, causando afundamento craniano e morte cerebral. Sobre a estante na sala de Piero havia uma foto em que aparecia eu, ele e Jonas em frente ao Tribo’s Bar em 2001. Naquela madrugada, Piero imobilizou um ladrão, impedindo que um sharp que também estava no Tribo’s fosse assassinado a facadas por um ladrão no Terminal Rodoviário Urbano de Maringá.
Living Colour e o culto da personalidade
Contexto – Estados Unidos da América em 1988. Quatro jovens com boa formação cultural e influências que iam do funk ao hard rock, passando pelo punk e chegando ao heavy metal, lançam o disco Vivid, até hoje aclamado como um dos melhores discos lançados nos anos 1980.
Um dos destaques do álbum é a música “Cult of Personality” que se baseia na propaganda da exaltação de virtudes com facetas políticas, religiosas e comportamentais. Mick Jagger, dos Rolling Stones descobriu a banda à época, tornando-se um dos maiores fãs dos caras, inclusive foi um dos responsáveis por alavancar o sucesso do Living Colour.
Outros clássicos do álbum são “Middle Man”, “Funny Vibe”, “Glamour Boys” e “Open Letter (to a Landlord)”. Até hoje, Vivid figura em listas do mundo todo de álbuns que marcaram a história do rock. Em 2013, o Living Colour veio ao Brasil se apresentar no Rock In Rio com a sua formação mais clássica. Quem é fã da banda, se surpreendeu com as performances eletrizantes de Vernon Reid, Corey Glover, William Calhoun e Doug Wimbish que se juntou ao Living Colour em 1992, substituindo Muzz Skillings.
Como o heavy metal me levou para o jornalismo
O que me levou para o jornalismo foi o heavy metal, sim, a vertente mais pesada do rock
Às vezes, alguém me pergunta como me interessei por jornalismo e de que forma me tornei jornalista. Me recordo que com 15 anos eu já tinha esse interesse bem definido. Não escolhi essa profissão por acaso ou por falta de opções. Na realidade, acho até curioso quando alguém me questiona sobre isso porque minha história é pouco ou nada usual.
O que me levou para o jornalismo foi o heavy metal, sim, a vertente mais pesada do rock, e um estilo ainda hoje amado por muitos e odiado por tantos outros. Na minha adolescência, eu escrevia para zines, revistas feitas por fãs que entrevistavam bandas, escreviam artigos, resenhas e matérias curtas sobre o gênero. Já tínhamos publicações online, além de impressas.
No final da década de 1990 e início de 2000 era uma alternativa empolgante, uma oportunidade para produzirmos conteúdo sobre bandas que nunca ou raramente veríamos nas revistas brasileiras mais tradicionais de rock. E foi nessa época que fundamos e lançamos através de redes nacionais e internacionais de IRC um zine chamado Marcha Fúnebre, inspirado no conceito da composição de Frédéric Chopin.
Tínhamos uma equipe bem consistente e unida, formada por pessoas de Norte a Sul do Brasil. Embora o projeto tenha alcançado alguns milhares de pessoas, a nossa projeção era maior. No entanto, por causa de outros compromissos, só conseguimos manter o zine ativo por dois anos. Ainda assim foi um período de grande aprendizado porque tínhamos a responsabilidade de produzir material toda semana. A melhor parte de tudo era o intercâmbio cultural.
E foi assim que tive o privilégio de entrevistar, mesmo que de forma amadora, jornalisticamente falando, bandas de mais de 15 países da América do Sul, América do Norte, Oceania e Europa – dos mais distintos subgêneros do heavy metal. Alguns grupos estavam na estrada desde o final dos anos 1980. O respeito que recebi durante aqueles anos fez crescer muito mais a minha admiração por fãs e músicos do gênero.
Fiz parte de uma geração de jovens que seguia de fato o ideal do “faça você mesmo”. Sabíamos que não era necessário ser famoso ou trabalhar em uma revista de grande circulação para estar em contato com bandas que marcaram nossas vidas. Também era divertido viajar para entrevistar os músicos antes ou depois dos shows, ou então filmar a apresentação para depois fazer uma permuta de materiais. Além disso, valorizávamos ao máximo as bandas brasileiras, de nossos estados e cidades.
Com a penetração ainda modesta da internet no Brasil, esse era o tipo de motivação que fazia a diferença em nossas vidas. Em alguns casos, quando a entrevista não podia ser feita pessoalmente, também recorríamos às correspondências, se necessário. Assim as fotos não raramente chegavam impressas dentro de um envelope.
Não havia retorno financeiro. Não ganhávamos dinheiro por esse trabalho, mas a sensação de satisfação, o reconhecimento e a alegria em contribuir de alguma forma fazia tudo valer a pena, até mesmo as nossas despesas que às vezes não eram poucas. Éramos motivados pela forma mais clássica de idealismo.
Me recordo que quando eu estava no segundo ano do curso de jornalismo muitos zines já tinham desaparecido pelos mais diferentes motivos, e o nosso Marcha Fúnebre também acabou sucumbindo diante das adversidades. Então continuei escrevendo como colaborador ocasional de publicações de camaradas que modestamente deram continuidade a esse trabalho no Brasil, Estados Unidos, Suécia e Alemanha.
Expressado o expresso, só me resta declarar que quem me conhece como jornalista não me conheceria se não fosse pelo heavy metal. Na realidade, digo ainda hoje que tudo que faço tem muito a ver com minhas escolhas nos tempos de adolescência – e o heavy metal foi uma das mais importantes delas.
Com ele, aprendi mais sobre solidariedade, abri os olhos para notar a importância dos marginalizados e reconhecer a existência de um submundo. Também sofríamos preconceito em figura explícita e velada, mas acredito que perseveramos diante de centenas de situações que nos empurravam para as mais variegadas formas de uniformização e conformismo.
De fato, abandonei o visual daqueles tempos há anos, o que considero uma mudança natural, já que a transformação é inerente ao ser humano. Contudo, os verdadeiros predicados que o heavy metal me proporcionou hei de carregar por toda a vida, num lugar onde a observação perfunctória nada vê.
A partida de Lemmy Kilmister
É uma pena que o Lemmy Kilmister tenha falecido hoje, aos 70 anos, em decorrência de um câncer no cérebro recém-descoberto. Fiquei realmente chateado. O cara marcou demais a minha adolescência e início da fase adulta. Lembro quando conheci Motörhead em uma locadora de CDs perto da casa da minha tia na década de 1990. À época, eu tinha 14 anos e me surpreendi ao ver três caras na capa com os rostos ocultos no deserto, usando um traje que misturava estilos – uma fusão de cowboy e motoqueiro.
Aquilo parecia badass e gostei tanto que insisti para que o dono da locadora me vendesse aquele CD intitulado Ace of Spades. Depois de tanta perturbação, ele concordou. Saí todo feliz daquela locadora, desesperado para colocar aquele CD prateado num CD player. Conforme a bolachinha girava, eu tentava memorizar os nomes das músicas – começando com Ace of Spades e terminando com a versão ao vivo de Motörhead. Fiquei tão hipnotizado pelo álbum que até no aniversário da minha prima convenci a minha tia a deixar eu e meus amigos ouvi-lo um pouco durante a comemoração.
Foi divertido, inesquecível e histórico, ainda mais levando em conta que tudo isso aconteceu quando ainda não existia mp3 (tínhamos apenas Midi e Wave, mas faltavam bons compressores). Meus amigos ficaram tão animados que pediram que eu tirasse cópias para eles em fita K7. Basicamente esta é a minha história com uma das maiores lendas do rock e do heavy metal.