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Musculação, uma forma de terapia
Recentemente fui ao ortopedista levar o resultado do meu exame de ressonância magnética. E o resultado, para a minha alegria, foi que posso continuar praticando musculação, já que minha hérnia de disco não piorou. Ou seja, não me impede de me exercitar. Perto de completar dez anos de musculação, foi como um presente. Muitas pessoas abandonam a musculação quando descobrem uma hérnia de disco.
Eu fiz o contrário, comecei a treinar justamente quando recebi o diagnóstico de um ortopedista que há mais de dez anos me disse que eu não poderia praticar musculação. Sim, contrariei suas recomendações porque eu não via sentido nisso, já que a musculação promove justamente o fortalecimento muscular. Sua sugestão me pareceu contraditória demais.
Apesar de saber que ainda hoje, e infelizmente, muitas pessoas qualificam a musculação como uma atividade meramente narcisista, superficial ou fútil, isso não condiz com a realidade. E eu sou a prova disso. Musculação, além dos benefícios que todo mundo conhece, foi a melhor forma de terapia que encontrei até hoje. Passo a maior parte do dia lendo e escrevendo, e isso gera um grande desgaste mental.
Então a musculação entrou na minha vida como uma atividade divertida e prazerosa que me ajuda a relaxar. Sem dúvida, ao longo dos anos tive os mais diferentes objetivos na academia, mas desde sempre o mais importante para mim é a sensação de bem-estar ao levantar pesos. Hoje, mais do que nunca, posso dizer que o resto é apenas consequência.
O que eu não sabia sobre hérnia de disco
Me animei com a possibilidade de me ver curado, sem precisar mais me preocupar tanto com a lombar
Tenho hérnia de disco desde os 20 anos. Apesar disso, levo uma vida normal, inclusive faço muitos exercícios que exigem bastante da coluna lombar. Porém, como qualquer outra pessoa que tem uma rotina intensa de treinamento com pesos, ocasionalmente acontece de eu cometer um pequeno deslize e sentir as consequências no dia seguinte.
Uma vez, em 2014, comentei com um amigo sobre o meu infortúnio, explicando que em situações como essa preciso ir com calma até me recuperar completamente. Solidário, ele sugeriu que eu procurasse um especialista conhecido como Torino Massagista, um sujeito com excelentes referências que viveu alguns anos em Nanquim, na China, onde estudou técnicas milenares para tratamento de hérnia de disco, artrose e escoliose, entre outros problemas de coluna.
Gostei da sugestão e me animei com a possibilidade de me ver curado, sem precisar mais me preocupar tanto com a lombar em caso de mau jeito durante os exercícios. Liguei para o massagista numa manhã de quarta-feira e agendei uma sessão para as 16h de sexta. Às 15h40, acionei o interfone da referida clínica situada em um bairro residencial de Paranavaí.
Fui recebido por um rapaz sorridente, e com expressão dúbia, que mais gesticulava do que falava, me lembrando um mímico. “Seja bem-vindo, senhorino”, disse ele atrás de um balcão, segurando um livro de autoajuda. Lá dentro, encontrei dois homens de meia-idade sentados em poltronas individuais bem confortáveis. Havia uma terceira poltrona vaga, então me acomodei e comecei a observar o ambiente enquanto não chegava a minha vez de ser atendido.
O local era extraordinariamente limpo e exalava olência maviosa que não fui capaz de identificar; uma suposta e agradável combinação de ervas. O piso claro de granito arabesco cintilava, atraindo meus olhos e me permitindo ver no chão o meu próprio reflexo. Em uma mesa de centro, também de granito, havia muitas revistas de saúde, principalmente sobre terapias alternativas. O mais curioso é que não eram velhas como a maioria que encontramos em consultórios.
Durante a minha distração, ouvi alguns sons estranhos com brevidade de um ou dois segundos, embora baixos e indistinguíveis, vindo de duas direções diferentes da clínica. Alguém parecia estar com muita dor. Talvez o tratamento fosse além das minhas expectativas, minimizando um pouco a minha volúvel condição.
De repente, ouvi passos vindo do corredor à direita. Um homem de estatura mediana, beirando os 40 anos, caminhou com satisfação, exibindo dentes curtos numa boca larga. Se aproximou da recepção à minha esquerda e antes que dissesse alguma coisa, o recepcionista questionou se ele iria querer ser recebido no mesmo dia e horário na semana seguinte. “Pode apostar que sim!”, respondeu, mantendo a voz relativamente baixa e me observando com desconfiança.
Assim que o homem saiu da clínica, um camarada que conheço há mais de dez anos, inclusive participei de um jantar em sua casa, onde fui muito bem recebido por sua mulher e filhos, deixou uma sala no corredor à direita. Quando me viu, a expressão serena e o sorriso lacônico foram substituídos por uma fisionomia sisuda – digo até que notei um olhar sobressaltado. Não entendi a reação e me mantive em silêncio. Para minha surpresa, ele passou ao meu lado, me ignorou, abriu a porta e foi embora.
Aguardando a vez, um senhor barbudo me cumprimentou e perguntou se já estive ali. Respondi que não e ele comentou que frequentava a clínica há dois anos. “Meu jovem, este lugar mudou minha vida. Hoje sou outro homem, bem mais realizado em todos os sentidos”, garantiu, acrescentando que sempre teve o apoio da esposa.
O sujeito seguia elogiando a clínica no instante que o recepcionista atendeu o telefone e me chamou, sem dizer meu nome. “O senhor vai ser atendido agora. Vamos lá?” Me levantei e segui o rapaz. Assim que ele abriu a porta, pediu que eu tirasse as roupas, ficando somente de cueca, e me deitasse em uma mesa de massagem tão confortável que lembrava uma cama da melhor qualidade.
Enquanto eu me despia, observei que havia grande instrumentária no local, até mesmo penduradas nas paredes claras com inscrições praticamente pictóricas, e eu não tinha a mínima ideia para que servia. Me parecia pouco usual, mas concluí que talvez fossem ferramentas trazidas de lugares longínquos da Ásia. Até aquele momento, interpretei tudo que vi de diferente na sala como resultado de um atendimento diferenciado.
Um minuto depois que deitei, o recomendado Torino Massagista se aproximou de mim, se apresentou e questionou se o motivo daquela sessão era uma hérnia de disco. Após a minha confirmação, ajeitou o jaleco e falou pra eu ficar de bruços. Apesar de considerar a posição desconfortável, não quis parecer descortês ou estulto, e acabei acatando ao pedido.
Do outro lado da sala, ele ligou um pequeno aparelho de som que tocava uma música transfigurada e malemolente, um tipo curioso de pop letárgico estrangeiro. Na sequência, reparei que a fluorescência do ambiente caiu consideravelmente. Havia também um aroma exótico e frutado no ar. Não sei como, mas o local já não estava tão claro. “Feche os olhos e sinta a energia fluindo. Deixe tudo acontecer”, recomendou.
Em silêncio, senti um corpo estranho, algo úmido, quente e sulcado encostando no meu braço direito. Quando abri os olhos, o tal do massagista estava rebolando, usando uma cueca preta de couro sintético e zíper, por onde sobressaía o próprio falo rijo e apoiado em uma das mãos. “Você é louco, cara! Que isso? O que tem de errado contigo?”, perguntei. Surpreso e igualmente constrangido, o sujeito argumentou que aquela não era uma clínica de verdade.
Sem querer mais explicações, saltei da mesa, limpei meu braço com uma toalha de papel, vesti minhas roupas em segundos e atravessei o corredor a passos céleres. Na sala de espera, o homem com quem conversei antes declarou com um sorriso indecoroso, seguido por uma piscadela: “Não falei que o serviço é de primeira?” Não respondi. Simplesmente abri a porta e ganhei as ruas, ciente de que hérnia de disco também é um código para outra coisa que eu nunca quis saber exatamente o que é.
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