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Quando heróis são confundidos com vilões
O Preço da Paz aborda a controversa Revolução Federalista
Lançado em 2003, O Preço da Paz é um filme brasileiro do cineasta Paulo Morelli que tem o Paraná como cenário e aborda a controversa Revolução Federalista, em que heróis são confundidos com vilões e vice-versa.
Falar da Revolução Federalista é como falar do Sul do Brasil, do Paraná, um importante episódio da história mantido por muito tempo no obscurantismo. É justo dizer que O Preço da Paz tem um caráter revisionista e explora principalmente as características pessoais dos idealistas que se alinhavam a Maragatos e Pica-Paus. Na obra, Morelli expõe as contradições de vários personagens da revolução. Mostra que um herói pode se tornar vilão e vice-versa, dependendo do contexto.
O cineasta não transforma a obra em um instrumento de convencimento, mas sim de questionamento. O filme também não tem a intenção de ser melodramático ou transmitir uma visão romântica sobre os Maragatos. Na obra, o que mais chama atenção é a figura de Ildefonso Pereira Correia (Herson Capri), o famoso Barão de Serro Azul, homem-símbolo que representa um ponto de ruptura entre o idealismo e o realismo.
Com uma consciência pré-paranista, Ildefonso Correia é um dos poucos na história que se recusa a tomar partido de Maragatos e Pica-Paus. Em contraponto ao idealismo do barão está a pragmática e cética Maria José Correia (Giulia Gam), a Baronesa de Serro Azul, um ponto de equilíbrio e extensão da consciência de Ildefonso.
O filme traz no elenco outros famosos como Lima Duarte, José de Abreu, Camila Pitanga, Danton Mello e Alexandre Nero. Em 2003, o filme que foi produzido no Paraná ganhou os prêmios de melhor montagem, melhor direção de arte e prêmio do júri popular no Festival de Gramado. Paulo Morelli é autor dos longas-metragens Viva Voz e Cidade dos Homens, de 2004 e 2007.
A velha jardineira deixou saudades
Catita e Pavão foram os principais meios de transporte em Paranavaí nos anos 1940 e 1950
O antigo ônibus jardineira da Viação Garcia deixou muitas saudades para os pioneiros de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. São lembranças que começam em 1939, quando a empresa de transporte londrinense começou a investir na Fazenda Brasileira, atual Paranavaí.
Até 1938, todos os pioneiros que se aventuravam na Brasileira chegavam ao povoado de jipe, caminhão, carroça, cavalo ou a pé. A escassez de estradas, e também o fato da colônia se situar em uma área isolada, fazia com que somente os corajosos viessem para cá.
O pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles contou em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás que o povoado estava distante do resto do Paraná. “A gente tinha que viajar até Presidente Prudente [interior de São Paulo], daí lá pegava um trem até Ourinhos e depois a cavalo ou a pé ia pra Tibagi [no Centro Oriental Paranaense]. Dava toda essa volta pra chegar em outras cidades do Paraná”, contou.
Foi assim até 1936, quando o Capitão Telmo Ribeiro reabriu a Estrada Boiadeira ligando Paranavaí ao resto do Paraná. Três anos depois, a iniciativa despertou o interesse do empresário Celso Garcia Cid que viu grande viabilidade comercial no povoado. Em 16 de dezembro de 1939, o empreendedor que atuava no ramo de transportes há cinco anos inaugurou a linha Londrina-Fazenda Brasileira. Naquele dia, Celso Garcia conduziu a jardineira “Catita”, adaptação de um caminhão Ford TT de 1933, até o seu destino.
Segundo o ex-prefeito Ulisses Faria Bandeira, em entrevista à prefeitura há algumas décadas, a viagem teve início às 17h30. “Chegamos aqui por volta das 14h do dia seguinte”, afirmou. Além de Faria Bandeira, entre os passageiros da primeira viagem da Viação Garcia a Paranavaí, estavam o prefeito de Londrina, João Lopes, e o fazendeiro Humberto Alves de Almeida.
Os viajantes logo apelidaram a estrada Londrina-Fazenda Brasileira como “Túnel Verde” por causa da mata densa e virgem que predominava na região Noroeste do Paraná. De acordo com pioneiros, o cenário era tão bonito que chegava a ser inacreditável. Durante o percurso era comum muitos mosquitos e borboletas invadirem a jardineira nas imediações da Capelinha, atual Nova Esperança.
Os insetos circulavam livremente no interior do veículo. “Isso acontecia porque os ônibus eram abertos como bondes”, relatou o pioneiro Oscar Gerônimo Leite. Por um bom tempo, o Governo do Paraná bancou as despesas da Viação Garcia, pois a demanda era pequena e a realização de duas viagens por mês não cobria o investimento.
O “Pavão” da Brasileira
Durante a Segunda Guerra Mundial, o ônibus que mais fez a linha Londrina-Paranavaí era conhecido como “Pavão”. O ônibus movido a gasogênio era econômico, ideal para o período de guerra que ficou marcado pelo racionamento de combustível. Na década de 1940, o veículo chegava a Paranavaí em 16 horas.
Por vários anos, a Viação Garcia transportou passageiros que não tinham condições de comprar passagem. Cada um pagava conforme podia, até mesmo com galinhas. Quando chovia durante a viagem, o motorista encostava o ônibus e amarrava correntes nos pneus para evitar que atolasse. “Lembro que uma vez a gente levou oito dias de Londrina até aqui. Cheguei com os peitos doendo de ajudar a empurrar um carro velho da Garcia pelo picadão”, revelou o pioneiro José Francisco Siqueira, conhecido como Zé Peão.
O pioneiro paulista Paulo Tereziano de Barros disse que nunca se esqueceu das viagens com o “Pavão”. “A gente tinha que atravessar um barro preto lá perto de Mandaguari e depois o areião de Maringá pra cá”, assinalou. Muitos pioneiros chegaram a Paranavaí com a jardineira. Alguns exemplos são o catarinense Carlos Faber, o gaúcho Severino Colombelli e os mineiros Enéias Tirapeli e José Antonio Gonçalves.
Naquele tempo em que as viagens duravam de 17 a 18 horas, o “Pavão” nunca deixou de cumprir a linha, nem quando havia só dois ou três passageiros. Com o passar dos anos, a demanda aumentou e a Garcia quadruplicou o número de viagens. “Em vez de duas por mês, ampliou para duas por semana”, enfatizou a pioneira fluminense Palmira Gonçalves Egger.
Com as jardineiras não chegavam apenas pessoas, mas também informações, conforme palavras da pioneira Inês Colombelli. “Sempre às 11h e às 14h, mulheres e crianças corriam até os ônibus para saber das notícias”, explicou. Era o único jeito da população se informar sobre o que acontecia no Paraná, no país e no mundo.
Frases dos pioneiros sobre a época das jardineiras
Joao da Silva Franco
“A jardineira era velha, não era estofada, e se entrasse de um lado saía do outro.”
Cincinato Cassiano Silva
“O ônibus era todo aberto e só com as bancadas pregadas, e duro que nem pau.”
Salatiel Loureiro
“O fundador da primeira empresa de ônibus da Brasileira foi o Manezinho. Esse coitado acabou em nada e os ônibus dele não aguentavam nem fazer daqui até o Porto São José.”
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