Archive for the ‘Hollywood’ tag
A história da crueldade contra os animais em Hollywood
“Os seres humanos têm abusado de animais para entretenimento desde o início dos tempos”
A crítica de cinema e escritora britânica Anne Billson, autora do livro “Cats on Film”, ou “Gatos no Cinema”, publicou hoje no jornal britânico The Guardian um artigo intitulado “Chicken decapitation and battered cats: Hollywood’s history of animal cruelty”, em que ela convida o leitor a refletir sobre a história da crueldade contra os animais no cinema, e especialmente em Hollywood. Exatamente por não ser vegana nem vegetariana, mas repudiar o tratamento dispensado aos animais no cinema, ela diz que “está ciente de que os animais morrem todos os dias para nos alimentarmos e para usarmos sapatos de couro. Por outro lado, prefere não assistir as cenas de crueldade contra os animais, e se isso faz dela uma hipócrita, que assim seja”.
Anne, que é contra a violência contra os animais no cinema, reconhece que a sétima arte é um meio controverso em essência, e que cinéfilos como ela frequentemente se veem em um dilema – que é a veemente contrariedade à censura. Porém, quando a suposta liberdade é usada como pretexto para explorar e impingir sofrimento aos animais, não há como ser favorável, já que essa permissividade garante inclusive a manutenção da objetificação, da subordinação forçada e da desvalorização da vida animal, mesmo quando animais são incluídos como personagens que servem a um retrato cru da realidade. Afinal, a tecnologia já permite que animais não sejam usados para benefício humano no cinema.
Ela começa o artigo citando o seu desinteresse em relação ao lançamento do filme “The House That Jack Built”, do polêmico cineasta dinamarquês Lars Von Trier:
Se não estou ansiosa para ver A Casa que Jack Construiu, quando finalmente chega às telas do Reino Unido, não é por causa da violência contra mulheres e crianças que ajudou o filme a ganhar uma rodada inicial de críticas de repúdio. Não, o que realmente me enche de terror é a perspectiva de ver um patinho com a perna arrancada com um alicate.
Mesmo depois que a Peta [organização Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais] deu uma bronca para confirmar que Von Trier realmente não torturou um patinho (o efeito foi alcançado ‘usando a magia dos filmes e partes de silicone’), a ideia me deixa enojada. (Independente disso, o filme fez convidados correrem saída afora durante a sua estreia internacional em Cannes no início do mês). Meio século assistindo filmes de terror pode ter me acostumado à violência misógina na tela (o que não quer dizer que eu goste), mas não me ajudou a lidar com os maus-tratos contra os animais.
Se Von Trier realmente tivesse torturado aquele patinho, ele estaria seguindo uma longa e desonrosa tradição de autores tratando animais pior do que tratam as atrizes. Andrei Tarkovsky mostrou um cavalo levando um tiro no pescoço e sendo empurrado escada abaixo em Andrei Rublev (1966). Jean-Luc Godard filmou um porco tendo a sua garganta cortada em Fim de Semana (1967). Galinhas foram decapitadas em Pat Garrett e Billy The Kid (1973) de Sam Peckinpah. 1900 (1976), de Bernardo Bertolucci, contém cenas de sapos sendo torturados e um gato aterrorizado sendo amarrado para que Donald Sutherland possa esmagá-lo até a morte com a cabeça. O diretor corta o ato (graças aos céus), e gosto de pensar que Sutherland realmente não matou o gato, embora os italianos tenham uma peculiaridade a esse respeito. O escritor Curzio Malaparte, em um ensaio de 1943 sobre Mussolini, descreve um tradicional entretenimento de férias na Toscana, onde homens da classe trabalhadora, com as mãos amarradas às costas, matam gatos até a morte com suas cabeças raspadas.
Francis Ford Coppola incorporou imagens de um búfalo-asiático, que é golpeado com facões até a morte em Apocalypse Now (1979). Sátántangó (1994), de Béla Tarr, mostra um gato sendo maltratado. Tarr insistiu que o gato não foi ferido, mas claramente ele não estava preocupado em mostrar que ele estava sendo girado por suas patas dianteiras. Entre as cenas do thriller de vingança Oldboy (2003), de Park Chan-Wook, o ator Choi Min-Sik, um “budista devoto”, foi flagrado se desculpando com os polvos vivos que estava comendo – o que te faz pensar na morsa de Lewis Carroll, chorando diante das ostras que ele estava devorando.
O Ato de 1937 para Filmes Cinematográficos (Com Animais), estabelecido pelo Parlamento Britânico, “proíbe a exibição ou o fornecimento de um filme [no Reino Unido] se animais forem cruelmente maltratados com a finalidade de produzi-lo.” O Conselho Britânico de Censores de Cinema, ainda corta as cenas reais de abusos contra animais, embora seja mais tolerante do que no caso dos filmes de terror. Sátántangó e Oldboy passaram sem cortes, mas os novos lançamentos em Blu-Ray de A Montanha dos Canibais (1978), de Sergio Martino e Cannibal Ferox (1981), de Umberto Lenzi, passaram por cortes de dois minutos, entre outras cenas que mostram o desmembramento de uma tartaruga, uma iguana sendo partida e criaturas peludas e fofas que são atacadas e comidas por cobras enormes.
Mas então ambos os filmes conquistaram notoriedade, tendo sido classificados como “filmes nojentos”. Os extras em ambos os relançamentos incluem entrevistas nas quais os respectivos diretores falam sobre a crueldade contra os animais. Martino diz: “De certa forma, foi uma cena construída porque colocamos o macaco e a píton juntos, mas não planejamos o final disso…então é realmente desagradável assistir.”
É bastante perturbador ver um cervo sendo engolido por uma cobra em um dos especiais de David Attenborough sobre a natureza, mas o próprio Attenborough traçou a linha do reality show em que os competidores matam crocodilos, porcos e perus “apenas para ter uma imagem”.
Os seres humanos têm abusado de animais para entretenimento desde o início dos tempos, e os cineastas não se mostraram com mais princípios do que aqueles que participam do chapeamento de texugos ou das touradas. O outrora admirável pioneiro de dublês Akima Canutt inventou um dispositivo chamado “The Running W”, que derrubava cavalos a galope, muitas vezes machucando-os ou os matando no processo. Pelo menos 25 cavalos foram mortos ou tiveram que ser sacrificados durante as filmagens de A Carga da Brigada Ligeira (1936), enfurecendo Errol Flynn, o astro do filme, que atacou o seu diretor Michael Curtiz. Tal foi o clamor público quando um cavalo quebrou a sua espinha depois de cair de um penhasco de 70 pés durante a filmagem de Jesse James (1939), que a American Humane (equivalente a RSPCA) foi finalmente encarregada de supervisionar o tratamento dado aos animais nos sets de Hollywood.
Mesmo assim, parece que o selo de aprovação da AH não é garantia de que “nenhum animal acabe machucado”. Enquanto pesquisava para o meu livro Cats on Film, descobri que pelo menos 20 gatos morreram durante a produção de Koneko Monogatari (1986), um filme japonês sobre um gatinho ruivo e branco e seu companheiro pug, intitulado “As Aventuras de Milo e Otis”, com narração de Dudley Moore. A AH deu um sinal positivo, e os rumores nunca foram checados, mas é óbvio que quando você assiste ao filme é perceptível que os animais estão em constante perigo. O BBFC [British Board of Film Classification] cortou 16 segundos do filme e deu a ele um certificado U, mas a cena de um gato “caindo” de um penhasco e desesperadamente tentando sair do mar em segurança é o suficiente para me fazer nunca mais querer vê-lo novamente.
Anne Billson continua: “Aqui estou eu sendo hipócrita de novo, porque enquanto me refiro à crueldade com gatinhos ou patinhos, posso tolerar os não amigáveis escorpiões e formigas sendo incendiados em A Quadrilha Selvagem (1969), ou os horríveis répteis cortados em pedaços em Cannibal Ferox. Mas viva o CGI, que agora torna qualquer tipo de tortura animal redundante. ‘Hoje, eu filmo essas cenas de uma maneira diferente’, admite Lenzi em sua entrevista sobre o lançamento de Cannibal Ferox. ‘Eu provavelmente vou refazê-lo agora com mais ajuda do departamento de efeitos especiais.’”
Referência
Quando eu comprava cigarro para os meus pais
Suspeitei que o inventor do cigarro tivesse errado a escolha dos ingredientes e criado algo indesejado
Na infância, eu comprava cigarro para os meus pais. Sim, eu e todos os meus amigos e colegas que nasceram nos anos 1980 e tinham pais fumantes. Minha mãe abandonou o vício na minha adolescência, mas meu pai, um tabagista inveterado, faleceu em decorrência de um câncer de pulmão. Começou a fumar muito cedo, quando astros de Hollywood ajudaram a transformar o cigarro em um obtuso símbolo de charme, rebeldia e sensualidade.
Nunca perguntei porque ele fumava, só que um dia, ainda criança, comentei com minha mãe que “só o trem a vapor tinha motivo para soltar fumaça, já que o movimento dele dependia da queima do carvão”. Desde pequeno, eu não via graça na ideia de colocar algo na boca simplesmente para soltar fumaça. Eu associava aquela imagem com a da fumaça preta que saía dos escapamentos dos caminhões velhos que víamos nas ruas. Óxido de carbono, óxido sulfúrico, óxido de nitrogênio e hidrocarboneto aromático, fiquei sabendo mais tarde.
“Quem sabe as pessoas que fumam sejam como os escapamentos dos caminhões, a diferença é que soltam menos fumaça porque são menores. E talvez ela seja menos suja porque sai diretamente da boca”, escrevi num caderno quando tinha sete ou oito anos. Nunca coloquei um cigarro na boca. Também não me gabo disso. Não! Minto! Coloquei sim, aquele de chocolate lançado pela pan e que trazia uma criança negra sorrindo na caixinha. Não vou negar. Fingi fumar com o cigarrinho de chocolate entre os lábios. Afinal, a ideia de fumar, por pior que fosse, preservava seu ardil romanesco nas brincadeiras.
Aos dez anos, suspeitei que o inventor do cigarro tivesse errado a escolha dos ingredientes e criado algo indesejado. Quem sabe a ideia inicial fosse fazer com que saísse algo de bom da boca das pessoas em vez de uma fumaça ruça e malcheirosa. E a ironia já subsistia no fato de que a fumaça por si só era suspeita na sua nebulosidade, como um mandrião velando suas verdadeiras intenções.
Comecei a comprar cigarros com sete anos, quando morávamos na Rua Pernambuco. Eu e meu irmão Douglas caminhávamos 100 metros para buscar um ou dois maços de Free em um bar na Avenida Distrito Federal. Por causa da fumaça, entrar lá era como subir num palco instantes antes de um show. A diferença era que o gelo seco não escurecia como a fumaça do cigarro. Nem fedia como aqueles corpos macerados pelo vício em álcool e tabaco.
Alguns sujeitos tossiam como se estivessem prestes a vomitar ou expelir pedaços de tecido do organismo. Aquela era a realidade dos dependentes mais figadais, e me vi diante dela nos primeiros anos de vida. Eu gostava do lugar, de testemunhar a salada social composta por pessoas das mais diferentes faixas etárias – onde pobres e ricos, vagabundos e trabalhadores se misturavam sem formalidades.
Ações, expressões e reações de alegria, tristeza, inconformismo, cólera, sabedoria, ignorância, tudo poderia ser encontrado no bar da Dona Maria, mãe do meu amigo Fabiano. Porém, nenhum sentimento parecia mais destacável do que um híbrido de ilusão e decepção. Naquele lugar, homens de poucas palavras chegavam sorrindo e partiam chorando assim que as aparências descortinavam as essências.
Junto ao balcão, Dona Maria mantinha um taco de beisebol, apelidado de “Juízo”, para conter os desordeiros. Repreendia bêbados, dava conselhos e às vezes alimentava os mais miseráveis. Era visceral a forma como seu semblante mudava de um segundo a outro caso alguém fizesse algo de errado. Chapas (carregadores de mercadorias), vendedores ambulantes e artistas de rua passavam por lá com frequência. Um dia ganhei um quadrinho de madeira com a minha imagem entalhada por Maneta, um escultor que viajava por todo o Brasil de carona.
Enquanto alguns sentavam diante das mesas laterais, outros preferiam o balcão, sentindo o aroma das conservas, ouvindo o som dos congeladores e da TV com caixa de madeira. Incomum era encontrar alguém no bar que não fumasse. Eu ziguezagueava pelo espaço, tentando evitar inalar a fumaça que se movia pelo ambiente como uma serpente tentando me engolir. Pior ainda era quando meu nariz entupia por causa da rinite alérgica.
Diante do balcão, eu sentava em um banquinho, balançava as pernas, pedia dois maços de cigarro e observava os doces das vitrines. Assim que Dona Maria me entregava as duas carteiras de Free, eu pagava, guardava os maços no bolso esquerdo da bermuda e o troco no bolso direito. Saía de lá desviando da fumaça e ouvindo gargalhadas e gritos de três ou quatro homens entretidos em uma partida de truco. “Ladrão! ladrão! Isso que tu é, seu porco malandro!”, berrou numa tarde um homenzarrão barbudo com voz tão grave que meus tímpanos latejaram. Me senti como se estivesse diante do próprio demônio.
Ele sentava sobre duas cadeiras em vez de uma, e sua mão chegava a ser maior do que a cabeça dos seus adversários. Assustado, assisti as cartas miúdas desaparecendo entre suas mãos. Era como se fossem miniaturas em papel. De repente, o sujeito olhou para mim e disse: “Que foi, garoto? Perdeu alguma coisa?” Sem abrir a boca, movimentei a cabeça negativamente e me afastei. Antes de pisar na calçada, vi ele tirando um Belmont do bolso da camisa, o acendendo e o tragando com tanta sofreguidão que em poucos segundos o cigarro foi reduzido às cinzas, restando apenas um filtro diminuto resvalando dentro de um cinzeiro de madeira.
Sua boca também era descomunal. Quando ele mirou o teto e expirou a fumaça, foi como se uma nuvem pesada demais para suportar a própria sustentação se formasse sobre sua cabeça, como uma névoa eivada e gulosa. Aquele era o Terebintina, fumante e bebedor profissional, diziam. Trabalhou para as maiores empresas de tabaco e destilados do Brasil na década de 1980. Não era difícil encontrar jovens e até pessoas mais velhas que sonhavam com essa vida. Beber, fumar e nada mais, sim, era o ideal de muita gente. Em casa, enquanto minha mãe sovava uma massa de pão na cozinha, comentei o que aconteceu no bar. Ela se divertiu com o meu relato embora não conhecesse o gigante mal-encarado.
Naquela época, cheguei a acreditar que o mundo era dos fumantes. Por onde eu andasse, falava-se em cigarro. Na TV, no rádio e nos outdoors perseverava a glamourização do fumo. No centro, na saída da escola, eu sempre via embalagens vazias e bitucas de cigarro próximas do meio-fio. Ofereciam até amostras grátis. E, claro, alguns tabagistas eram mais educados do que outros. Minha mãe, por exemplo, evitava fumar perto de mim e do meu irmão. Quando notava que eu o observava, meu pai copiosamente passava o cigarro da mão direita para a esquerda, tentando ocultar a fumaça por trás do livro, e declarava: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.”
Pela manhã, vez ou outra, eu assistia minha mãe trocando os lençóis queimados pelas brasas do cigarro. Talvez aqueles furos com bordas negras significassem mais do que imaginávamos. Afinal, eram disformes e incertos como pequenos tumores. “Ontem, disse para mim mesmo que era o último. Eu não quis imaginar que seria o fim, que eu não fumaria mais até a minha morte. Preferi pensar que se eu parasse agora, teria a possibilidade de fumar de vez em quando”, escreveu Henri-Pierre Jeudy em “O Último Cigarro”.
Contribuição
Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:
Quando William Faulkner trabalhou em Hollywood
O escritor só reapareceu depois de nove dias, confidenciando que vagou pelo Vale da Morte
Em 7 de maio de 1932, William Faulkner chegou a Hollywood para atuar como roteirista, um trabalho que entre idas e vindas durou 20 anos. Na época o escritor estadunidense estava com apenas 34 anos e já tinha publicado quatro de suas novelas baseadas no Condado de Yoknapatawpha, incluindo The Sound and the Fury (O Som e a Fúria) e As I Lay Dying (Enquanto Agonizo).
Embora ainda estivesse distante de se tornar popular, Faulkner foi considerado por seus pares como o mais talentoso dos jovens escritores dos Estados Unidos. Àquela altura, ele tinha vivido a maior parte de sua vida em Oxford, Mississippi, e recentemente havia se casado e comprado a velha mansão Rowan Oak, de inspiração neogrega e construída antes da Guerra de Secessão.
Faulkner não era um homem sociável, nem gostava de trabalhar em equipe. O que o fez aceitar o contrato de 500 dólares por semana oferecido pela MGM foi uma experiência que ele teve em uma loja de artigos esportivos, onde o balconista se recusou a receber um cheque dele no valor de três dólares.
Depois que o escritor alegou que sua assinatura ainda valeria mais do que isso, o dono da loja se aproximou e disse a toda a sua equipe para não permitir que o jovem Faulkner pagasse por nenhum artigo que o interessasse. De acordo com o biógrafo Joseph Blotner, os primeiros dias de Faulkner em Hollywood foram incríveis.
Em um sábado, ele se aproximou do seu chefe, Sam Marx, e o homem logo percebeu que o escritor cheirava a álcool e tinha um corte na cabeça. Então Faulkner explicou que ele foi atingido por um táxi quando estava trocando de trem em Nova Orleans. Apesar de tudo, justificou que se sentia bem e queria começar o seu trabalho corretamente.
“Nós vamos colocá-lo em uma foto com o Wallace Beery”, disse Marx. Confuso, Faulkner perguntou quem era o sujeito. “Eu tenho uma ideia de quem seja o Mickey Mouse”, comentou o escritor, recebendo a explicação de que os filmes do Mickey Mouse são feitos nos estúdios da Disney.
Em seguida, Sam Marx pediu que o seu office boy levasse Faulkner até a sala de projeção para ver Beery atuando como um pugilista em The Champ, de King Vidor, e no recente Flesh, de John Ford, em que Wallace interpreta um lutador alemão. Faulkner se recusou a assisti-los e preferiu bater um papo com o office boy.
Quando o escritor perguntou se o garoto tinha um cachorro, ele respondeu que não. Faulkner estranhou e enfatizou que todo garoto deveria ter um cão. “Você deveria se envergonhar por não ter um cão, assim como todos aqueles que não têm um”, insistiu. Sem muita demora, Faulkner saiu da sala de projeção justificando que sabia o final da história.
Quando Marx foi informado que o escritor já tinha saído do estúdio, ele iniciou uma busca sem sucesso. William Faulkner só reapareceu depois de nove dias, confidenciando que vagou pelo Vale da Morte. “Mas agora já estou pronto para o trabalho”, garantiu.
A atuação de Faulkner como roteirista incluiu também adaptações de To Have and Have Not (Uma Aventura na Martinica), de Ernest Hemingway, e The Big Sleep (À Beira do Abismo), de Raymond Chandler. Muitos aspectos de sua vida em Hollywood foram incorporados ao filme Barton Fink, dos Irmãos Coen, lançado em 1991.
No outono, o escritor retornou para sua casa em Oxford, Mississippi, onde corrigiu as provas tipográficas do seu novo romance gótico sulista – Light in August (Luz em Agosto) enquanto comia melancia e assistia a chuva caindo ao redor da varanda. Com o dinheiro que ganhou da MGM, fez importantes reparos na mansão Rowan Oak.
Referências
http://www.todayinliterature.com/
Blotner, Joseph. Faulkner: A Biography. New York: Random House, 1974.
Blotner, Joseph. Faulkner: A Biography. New York: Random House, 1984.
Contribuição
Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:
A superação de Stevie Zee
O fisiculturista com paralisia cerebral que se tornou um exemplo
O estadunidense Stevie Zee estava completamente perdido em 1992. Reprovado na faculdade comunitária e incapaz de encontrar trabalho, o rapaz que sofre de paralisia cerebral (PC) decidiu fazer algo para evitar a depressão e a autopiedade.
Em dezembro do mesmo ano, Stevie foi até um ginásio de musculação em Portland, Oregon, sua cidade natal, onde conheceu o fitness trainer e fisiculturista heavyweight David Hughes. “Ele apareceu para uma sessão de treinamento e logo me disse que queria se tornar um bodybuilder. Me surpreendi com a decisão e me empenhei em ajudá-lo”, conta Hughes que instruiu o rapaz no treinamento com pesos e o ensinou muito sobre nutrição esportiva.
Stevie queria competir no bodybuilding, seguindo o mesmo caminho de David. Porém as limitações impostas pela paralisia cerebral fizeram com que o sonho parecesse distante e utópico. Em função da doença, os músculos de Zee costumavam ser encurtados, rígidos e enfraquecidos, o que tornava tudo mais difícil. Com frequência, o controle dos músculos era interrompido por movimentos espontâneos e indesejados, além dos problemas de equilíbrio, instabilidade em movimentar pés, mãos e até falar. Em síntese, Stevie sofre de paralisia cerebral mista, o tipo mais severo.
“Eu tinha dificuldade em aceitar a doença, mas agora eu sei que eu a tenho para inspirar outros a se tornarem pessoas melhores, a tirarem o máximo proveito da vida, independente de tudo”, afirma Zee. Segundo David Hughes, Stevie é mais motivado que a maioria das pessoas. Apesar das dificuldades, mora sozinho, cozinha, dirige e faz as próprias compras.
A primeira recompensa do atleta veio em junho de 2003, quando surgiu um novo tratamento para paralisia cerebral. Zee passou por um procedimento em que foi instalado um mecanismo especial na parede abdominal, minimizando os extremos espamos musculares que o fizeram sofrer por tantos anos. Em 2006, o fisiculturista recebeu um prêmio da revista MuscleMag no Los Angeles Championships, onde foi aplaudido de pé por centenas de pessoas, entre celebridades do bodybuilding.
“Ele teve a coragem de deixar Portland e se mudar para Hollywood. Tudo isso, para realizar seus sonhos. É como se ele fosse um personagem de uma história em quadrinhos”, comenta o lendário ex-fisiculturista Rich Gaspari, que desde 2008 patrocina Stevie Zee. Para entender a história de superação do atleta é preciso ter em mente que para quem sofre de paralisia cerebral é complicado até mesmo caminhar e realizar pequenas tarefas diárias. “Imagine então fazer musculação? Há milhares de limitações que o dizem para não ir por esse caminho. Isso mostra o quanto ele é um vencedor”, diz David Hughes.
O que também chama atenção sobre Stevie Zee é a sua capacidade em seguir dietas restritivas, outro ponto considerado impossível para quem sofre de PC. Ao longo de 20 anos, o atleta não apenas ganhou em condicionamento e qualidade de vida, minimizando os problemas com a doença, como se tornou referência de novos estudos sobre a medicina da encefalopatia crônica não progressiva nos Estados Unidos. “Devo tudo isso a David Hughes que foi quem me transformou em uma pessoa totalmente diferente”, declara Stevie emocionado. Vale lembrar que o fisiculturista é tema do documentário Hang On To Your Dreams, lançado em 2008.
Contribuição
Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:
Saboteur e o antinazismo de Hitchcock
Um filme-propaganda lançado pelo mestre do suspense em 1942
O thriller Saboteur (Sabotador) é um filme do mestre do suspense Alfred Hitchcock. Ele soube muito bem aproveitar a Segunda Guerra Mundial para criar uma obra que ressalta a antipatia aos nazistas e a exaltação aos norte-americanos. Lançada em 1942, a película é a reação do cineasta inglês de 42 anos que, como não podia ir para o campo de batalha por diversos fatores, decidiu usar o cinema como ferramenta de combate.
A obra conta a história do operário Barry Kane (Robert Cummings) que testemunha o bombardeamento da fábrica de aviões onde trabalha. Na explosão, o melhor amigo do protagonista morre e Barry é injustamente acusado pelo crime. Na tentativa de provar a inocência, Kane inicia uma busca pelo verdadeiro criminoso. Durante a jornada, conhece a bela e desconfiada Pat (Priscilla Lane) que ameaça denunciá-lo, mas depois muda de ideia.
O filme tem um forte caráter de propaganda, além de uma abordagem, por vezes, maniqueísta. Como é ambientado nos Estados Unidos de 1942 aproveita por explorar a rejeição aos nazistas e exalta tendenciosamente as qualidades dos norte-americanos. Há uma supervalorização ficcional que se alinha ao idealismo e se distancia do realismo. Um grande exemplo é a exagerada solidariedade recebida por Barry enquanto viaja pelo país.
Em Nova York, a cena mais eletrizante acontece no topo da Estátua da Liberdade, quando o operário confronta o sabotador. É sempre destacável a maneira como o cineasta manipula luzes e sombras para despertar dúvida, apreensão e expectativa, além de outras emoções e pensamentos.
Com preciosismo e rigor técnico, Alfred Hitchcock conseguiu transmitir o ideal estadunidense da época; o triunfo hollywoodiano como prelúdio do fim da guerra. Embora não menos importante, a obra é uma das produções mais subestimadas do cineasta, até pelo caráter propagandístico que tornou o filme muito popular nos Estados Unidos e Inglaterra, mas nem tanto em outros países.
Peter Lorre, do expressionismo alemão para Hollywood
Ator fez parcerias com Fritz Lang, John Huston e Alfred Hitchcock
Peter Lorre, um dos atores mais expressivos, enigmáticos e intrigantes de todos os tempos. Se consagrou por participar de obras geniais como “M – Eine Stadt Sucht Einen Mörde”, do genial Fritz Lang, que no Brasil ganhou o nome de “O Vampiro de Düsseldorf”, de 1931, um clássico do expressionismo alemão em que o cinema flerta magistralmente com o teatro; o emblemático The Maltese Falcon (O Falcão Maltês), de 1941, do mestre do cinema noir, John Huston; e The Man Who Knew Too Much (O homem que Sabia Demais), de 1934, uma obra inesquecível do rei do suspense, Alfred Hitchcock.
São filmes de alguns dos gêneros mais representativos do cinema mundial e que estreitaram a relação do cinema europeu com o cinema norte-americano. Apenas analisando superficialmente o perfil de Lorre e essas quatro obras, é possível interpretar que Hollywood deve muito ao cinema-arte, mas o cinema-arte quase nada deve a Hollywood, já que as referências mais profundas da cultura cinematográfica foram semeadas bem longe de Los Angeles.
Peter Lorre, como imigrante europeu, é um exemplo de como o pós-guerra foi vantajoso para os EUA até mesmo na profusão da sétima arte, já que muitos cineastas e atores de outras nacionalidades foram obrigados a partir para a “América” não para viver o “american way of life”, mas para sobreviver com dignidade e fazendo o que melhor sabiam fazer: CINEMA. Há quem conteste tal benefício dos estadunidenses com a Segunda Guerra Mundial?