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Uma grata surpresa
Fui homenageado ontem na Câmara Municipal pelo meu trabalho como jornalista, historiador e infoativista – “pelo engajamento na preservação da história e cultura paranaense e por sua luta pela causa animal”. Agradeço ao vereador Carlos Alberto João e ao Gustavo Poldo pela consideração e iniciativa. Na foto, também com os amigos Amauri Martineli e Sobhi Abdallah, e o presidente da Câmara, o vereador José Galvão.
Dia Nacional dos Direitos Animais homenageia os 100 bilhões de animais mortos nos matadouros ao longo de um ano
“Esses indivíduos, que têm uma alma, um caráter único e uma vontade de viver, são exatamente como nós”
No domingo, 3 de junho, 32 grandes cidades, incluindo Nova York, Paris, Frankfurt, Barcelona, Saigon, Manila, Hong Kong, Mumbai, Perth e Montreal, vão celebrar o Dia Nacional dos Direitos Animais, que homenageia principalmente os 100 bilhões de animais mortos nos matadouros ao longo de um ano, segundo a organização sem fins lucrativos Our Planet. Theirs Too.
O objetivo do Dia Nacional dos Direitos Animais, instituído em 2011, é refletir sobre a violência humana contra animais de outras espécies. O evento memorial traz em sua programação a leitura da Declaração dos Direitos Animais, discursos, poesia, música e apresentações audiovisuais. Além disso, convida as pessoas a adotarem um estilo de vida vegano, em oposição à exploração animal que se estende à alimentação, vestuário, cosméticos, produtos domésticos, medicamentos, mão de obra, esportes e entretenimento.
Segundo a organização Our Planet. Theirs Too, sediada em Los Angeles e responsável pela criação do Dia Nacional dos Direitos Animais, 100 bilhões de animais foram mortos nos matadouros do mundo todo ao longo de um ano. Somente nos Estados Unidos, 10 bilhões de animais terrestres e 20 bilhões de animais marinhos foram reduzidos a alimentos. Tivemos dez milhões de animais mortos em laboratórios, três milhões mortos para a extração de suas peles e 200 milhões assassinados por caçadores. São 80 milhões de animais mortos por dia.
“Esses indivíduos, que têm uma alma, um caráter único e uma vontade de viver, são exatamente como nós: eles vêm em todas as formas, cores e tamanhos. Alguns deles têm penas, alguns deles têm pelos, alguns deles têm patas e outros têm pernas minúsculas. Mas todos compartilham a mesma coisa que também temos em comum: eles têm o direito de viver. Com seus filhos e famílias. Felizes e livres. Neste dia, paramos tudo e nos lembramos deles“, justifica a Our Planet. Theirs Too.
Eu e Má (minha mãe)
Eu e Má (minha mãe), sempre tivemos um relacionamento muito próximo. Acredito que as minhas melhores qualidades vêm dela. Quando meu pai faleceu em 1997, e eu e meus irmãos éramos praticamente crianças (o Juninho então era um bebê – tinha um ano), ela assumiu a responsabilidade de criar os três filhos sozinha. Antes, ela já havia criado suas duas irmãs.
Acredito que se escrevo hoje em dia, também devo isso à minha mãe, porque ninguém me incentivou mais a escrever do que ela. Sempre achei meu trabalho razoável ou simplesmente aceitável, e ela, que lê tudo que escrevo, sempre fez questão de dizer que não, que não existe nada de ordinário no que faço, e que devo sempre seguir em frente independente do que os outros pensem ou digam.
Sobre homenagear políticos
Uma coisa que nunca entendi e nunca vou entender são as homenagens feitas a políticos. Na minha opinião, político não deveria receber homenagem alguma. Eles são eleitos para fazer o que realmente deveriam fazer, e não devem ser parabenizados por isso. Tantos monumentos, prédios, entre outras criações, transformando homens comuns em “deuses”. Acredito que tudo isso apenas reforça a ideia obtusa de que um político deve ser visto pela população como um ser intocável ou inalcançável. Penso que uma homenagem a um político é sempre um tipo perigoso de propaganda.
Aves Exiladas
Eles contavam histórias de um lugar mítico, chamado Paraná. Um mar de terras férteis
Maringá, Apucarana, Cornélio Procópio, Londrina, Cianorte, Campo Mourão, São José dos Pinhais: nomes que começaram a ser ouvidos na periferia de Poá, em meados dos anos 70, com a chegada de inúmeras famílias paranaenses. Eles contavam histórias de um lugar mítico, chamado Paraná. Um mar de terras férteis. Um mundo belo, onde cresciam as lendárias araucárias e se ouvia o canto da gralha azul.
Chegavam famílias inteiras. Pai, mãe, filhos e agregados. Procuravam os terrenos baratos da periferia. Construíam casas pequenas, nas quais acontecia o milagre do compartilhamento dos mínimos espaços e recursos. Êxodo rural era uma expressão que eu não compreendia. Quando, por acaso, eu a ouvia; logo imaginava o êxodo bíblico. Moisés à frente. O povo eleito atrás. Seguindo-o. Todos atravessando, estupefatos, o Mar Vermelho. Qual faraó teria expulsado tanta gente do Paraná? Quem seria o Moisés que os conduzira até ali?
Perguntas que ficaram sem resposta…
Início dos anos 80. Mais famílias chegando! Construção do conjunto habitacional Nova Poá. Meu pai e um vizinho, paranaense, trabalharam na construção desse novo bairro. Íamos eu e uma mocinha, a Eva, levar as marmitas para os nossos pais. A Eva me falava de Maringá, da torre da catedral em formato de cone e de outras singularidades. Ganhávamos, desses vizinhos, belos cartões-postais dessa terra intrigante.
E a década de 80 avançava trazendo mais gente do Sul. Que faraó teria o poder de exilar tanta gente? Quem seria o Moisés que guiaria esse povo? Adonai! Não havia nenhum Moisés! Só a dor de deixar a terra natal e chegar, quase sem recursos, a uma Canaã pauperizada!
Muitos migrantes, que chegaram crianças, já são avós. Criaram raízes no Alto Tietê. Perderam a verdura e o cheiro de novidade que trouxeram na chegada. Foram bem-vindos! Integraram-se! Trouxeram cultura e foram aculturados. Antropofagia cultural: paulistas e paranaenses.
O Alto Tietê acolheu e aninhou um número fora das estatísticas dessas aves exiladas, que chegaram cansadas, desiludidas e traziam no olhar a esperança de encontrar a Terra Prometida. Adonai!!! Por que da terra não mana mais leite e mel?
Crônica de autoria do escritor paulista Antonio Neto, radicado em Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo. O texto faz parte do seu livro de crônicas “Memorial do Alto Tietê, comercializado no site da livraria da Editora Penalux (editorapenalux.com.br/loja) por R$ 32.
Sobre a crônica, Antonio Neto explica:
“É um tributo aos migrantes paranaenses que se aninharam no Alto Tietê. A migração paranaense ficou esquecido por causa da maciça migração vinda de outros estados. Então eu quis resgatar essa história pouco contada.”
A velhinha mais colorida de Paranavaí
Gostava tanto de gente, encontros e desencontros da vida infrequente, que por anos morou em um hotel
Minha avó, Dona Clara, mãe de minha mãe, foi a pessoa mais colorida que conheci. Ela e meu avô já tinham se separado quando nasci. Então cada um começou a viver à sua maneira, de forma independente. Dos tempos de pequenez, ecoam na minha mente lembranças da época em que ela chegava em casa sorridente, ajeitando os cabelos lisos, curtos e claros como milho no verão. Sempre trazia algo na mão, chocolate, doce de abóbora, de banana, ou de feijão. Com uma voz bonançosa, não se irritava com facilidade. Me parecia alheia ao mundo e principalmente à modernidade.
Em casa, falava de sua rotina com um lampejo nos olhos dourados e um regalo recalcitrante que faria o mais autoconfiante sentir-se pouco significante. Relatava suas aventuras ao reencontrar ocasionalmente conhecidos e velhos amigos nas suas andanças que ultrapassavam mais de 10 quilômetros diários. Gostava tanto de gente, encontros e desencontros da vida infrequente, que por anos morou em um hotel no centro de Paranavaí. “Oi, vovóó!”, dizia sempre acenando com a mão esquerda. “Ooooi, Deeeivi!”, respondia ela na satisfação sonora de um riso seminal. Quando criança, achei que minha vó tinha nascido vó. Não tinha a mínima ideia de que um dia ela tivesse sido diferente. Afinal, o mundo reconhecido por mim no meu universo diminuto era aquele que conheci a partir do dia em que nasci.
No sofá, vovó me colocava em seu colo e cantava. Eu segurava suas bochechas rosadas, sutilmente flácidas e macias com as minhas mãos minúsculas e dizia sempre que acabava: “Vamos de novo, vovó!” Ela ria e eu sentia suas contrações abdominais chegando até as solas dos meus pés que vibravam e formigavam a ponto de causarem cócegas. Eu gargalhava junto, até avermelhar, eriçando os pés e tocando o queixo com os joelhos.
A cada intervalo, eu olhava seu rosto níveo e escarmentado com ternura, sem reconhecer rugas, sinais e queimaduras causadas por tanto tempo de exposição ao sol na época em que trabalhava nas roças de café de Paranavaí e Alto Paraná. Suas mãos tinham traços desconhecidos por mim, linhas paralelas que se cruzavam antes do fim. Estava sempre perfumada. Quando eu a abraçava, seu bálsamo me acompanhava. “Que cheiro é esse, David? Onde você tava?”, questionavam meus amigos assim que saíamos às ruas para jogar bola. “É cheiro de vó”, replicava.
Seus pés conheciam Paranavaí de norte a sul. Caminhante que era, chamava a atenção ao longe com alguma longa saia ou vestido colorido. Independente de frio ou calor, o que não podia faltar era o fulgor de uma boa cor. O seu apego à natureza, as flores, trazia no corpo com destreza. Quantas formas de estampas iriantes, combinando com os brincos rutilantes – o mais airoso dos penduricalhos de orelha, a faixa sarapintada na cabeça e uma bolsa grande com rajadas de centelha.
Era vaidosa, sem dúvida, mas de uma vaidade moderada e singela que ocasionalmente a motivava a mudar a cor dos cabelos. “É importante colorir pelo menos até vibrar diante da luz do sol”, dizia ela com um sorriso galhardo enquanto massageava o couro cabeludo com a ponta do dedo sulcado. “Lá vem a Dona Clara…parece que nunca cansa”, uma frase que se repetia dezenas de vezes por tantas ruas da cidade. Aposentada, sempre carregava sua bolsa onde armazenava o que comprava, o que vendia e o que doava. Quando eu a encontrava e oferecia carona, ela gentilmente recusava. Justificava que há uma fase na vida em que passa a ser importante sentir as pedrinhas do asfalto tocando a sola do sapato, ouvir os animais reclamando nos portões, as idas e vindas das pessoas dos rincões.
Não queria perder nada de um dia a dia rasteiro que a motivava. Estar a pé na rua bastava. Com tantas expressões impolutas e dissolutas de gente conhecida e desconhecida, ela se jubilava. “O mundo aqui fora é engraçado porque é feito de caretas”, brincava. A mixórdia de perfumes, a zaragata do tudo e do nada, quanta coisa frugal a cativava. Ainda a ouço abrindo o portão de casa, o som de sua rasteirinha conduzida por passos bailaricos de quem raleia o chão extraindo som cadenciado do piso. Suas inúmeras pulseiras nos braços brandiam com suavidade. “Chegou minha vó, a senhora dos ventos e da liberdade”, concluía. Pela sua natureza, perfil esotérico e exotérico, muitos achavam que a Dona Clara era cigana, uma autêntica romani importada da Romênia. Despreocupada, ela ria, se divertia, crente de que todos tinham o direito de acreditar em coisa qualquer, desde que aquilo não prejudicasse uma pessoa sequer.
Na cozinha, se aproximava da mesa, abria a bolsa e tirava de dentro algo que trouxe para a minha mãe, para mim e meus irmãos. Os olhos intumesciam na esperança de ver saltar alguma guloseima. E sempre acertava. Perdi as contas de quantas vezes ela levou e meu irmão Douglas numa mercearia sem fachada na Rua Piauí. Era um paraíso recluso para crianças. Íamos lá à noite, uma vez por mês, depois do horário comercial. Seu Luiz, homenzarrão de quase dois metros, abria a porta de acesso dos funcionários e percorríamos todos os corredores numa felicidade tangente e columbina. Havia doces artesanais que já não existem mais, embalados com desvelo num papel cinéreo, o mesmo que usavam para armazenar pão. Se sorríamos, ela sorria. Nos despedíamos do Seu Luiz, trazendo nas mãos e nos bolsos taliscas moderadas embora adocicadas de alegria. Assim que a porta se fechava, desvanecia o feixe de luz que tocava a soleira da mercearia.
Vovó não ignorava o aniversário de ninguém, jamais deixou de presentear alguém. Sabia a data de aniversário de todos os parentes e amigos. Não tinha apego material, tanto que esqueceu as muitas vezes que emprestou dinheiro e nunca recebeu. Narrava esses fatos da vida gargalhando e galhofando. Sequer franzia a testa ou arvorava as sobrancelhas. Mantinha o semblante quiescente, sentada com as pernas cruzadas, a postura perfilada e as mãos sobre o joelho direito em um banco de madeira na varanda de sua casa. “Quer suco? Também tem bolo de laranja, Deivi”, oferecia em tom melífluo nas visitas semanais que eu lhe fazia desde os primeiros anos de vida.
Independente, sempre preferiu morar sozinha. Ninguém conseguia convencê-la do contrário, mesmo após alguns episódios em que supostos amigos furtaram-lhe eletrodomésticos e a modesta aposentadoria. “Não tem problema. No mês que vem recebo e compro de novo”, replicou sem qualquer indício de exaltação. Se comprazia em viver rodeada de gente, principalmente excluídos sociais. Ainda criança, eu via minha vó como a rainha dos marginalizados.
Foi em sua casa que tive o primeiro contato com picaretas, vagamundos, usuários de drogas, viciados em jogatina, estelionatários, cafetões, mendigos, prostitutas, travestis e ex-detentos. Suas portas estavam abertas para todos os tipos. No entanto, quem não respeitasse suas regras não poderia retornar. Um dia, quando a visitei, me deparei com um homem de aproximadamente 30 anos sentado na varanda. Usava uma camisa branca tão surrada que só não expôs sua débil forma física por causa da sujeira e do sangue seco, além de uma calça social cinza esfarrapada.
Estava descalço e a sola do seu pé era tão espessa que parecia calçar alguma coisa. A barba se confundia com os cabelos desgrenhados, carpelados e grisalhos. “Oi, Deivi. Esse é o Gibé. Ele vai ficar aqui até arrumar um emprego ou um lugar pra ficar”, confidenciou depois de servir uma sopa de legumes ao indigente que só meneava a cabeça e sorria expondo alguns dentes vaporosos e amolecidos. O malfadado tinha apanhado na noite anterior quando dormia ao lado do pombal no Terminal Rodoviário Urbano.
A Dona Clara era um desses seres que Nietzsche definiria como espírito livre. Avessa à raiva e ao ódio, tinha mais o que fazer do que guardar rancor ou perder tempo com o que não enobrece a alma ou a vida. Aos 74 anos, adorava dançar. Não perdia um baile no Clube Idade Dourada e no Tênis Clube de Paranavaí, onde fazia amizade em poucos minutos de conversa. Girava pelos salões com um desprendimento transcendental, entregando-se à alegria sem ressalvas, porque a reconhecia na essência como fortuita e passageira.
Com minha vó e minha mãe, eu ia todos os anos ao Cemitério Municipal de Alto Paraná visitar os túmulos de minha bisavó e de meus dois tios-avôs. No dia 2 de novembro de 2008 estávamos perto do túmulo do tio João quando uma brisa solene massageou meu rosto. A Dona Clara se aproximou de mim e comentou: “Deivi, nunca deixe de vir aqui. Eles precisam da nossa lembrança, da nossa presença. Sempre que venho aqui sinto um afago, uma quietação no coração.”
Aquele dia ela chorou diante de cada túmulo, numa despedida não declarada. Em 20 de dezembro do mesmo ano minha avó faleceu em decorrência de um ataque cardíaco. Compareceu tanta gente ao velório que eu não conhecia nem 1/3 do total. Ainda assim reconheci prostitutas, ex-usuários de drogas e andarilhos, pessoas que minha avó ajudou. Quando saí da capela para ficar um pouco sozinho, observei os galhos de uma sibipiruna se movendo com placidez.
Por trás da copa, a lua começou a despontar. Um homem sorriu diante de mim e perguntou se eu o reconhecia. Respondi prontamente que não. Era o Gibé. Parecia bem saudável. Estava corado, bem vestido, com os olhos grandes como duas jabuticabas e tão perfumado que até quem passava na esquina sentia no ar um aroma oriental – amadeirado e apimentado. “Moro em Maringá. Tenho uma empresa de consultoria em commodities”, revelou.
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Lou Ferrigno, de vítima de bullying a campeão de fisiculturismo
Stand Tall, mais do que uma versão Pumping Iron do ítalo-americano
Embora muitos digam que o ex-fisiculturista e ator Lou Ferrigno foi ofuscado por muito tempo pelo também ator e ex-fisiculturista Arnold Schwarzenegger, a verdade é que o primeiro filme estrelado pela dupla, o documentário Pumping Iron, de 1977, de Robert Fiore e George Butler, serviu para alavancar ainda mais a carreira do ítalo-americano, mesmo que a película tenha se pautado mais na carreira e personalidade de Arnie.
Exemplos não faltam. Após o lançamento de Pumping Iron, Lou Ferrigno estrelou o filme The Incredible Hulk, seguido pela série homônima de sucesso que foi ao ar pela CBS até 1982. Depois, Ferrigno foi protagonista de The Incredible Hulk Returns, de 1988; The Trial of the Incredible Hulk, de 1989; e The Death of the Incredible Hulk, de 1990. Ainda trabalhando com a sétima arte, interpretou o mitológico Hércules em 1983 e 1984, além de Sinbad of the Seven Seas em 1989.
Dos anos 1990 para cá, o fisiculturista aposentado teve poucas participações no cinema e na TV. Os trabalhos mais populares incluem a voz do Hulk nos remakes mais recentes e muitas dublagens para os desenhos animados da Marvel. No Brasil, o filme Stand Tall, de 1996, do cineasta Mark Nalley, é desconhecido da maior parte do público aficionado por musculação e fisiculturismo.
Curiosamente, é o único que mostra quem é e quem foi o maior adversário de Arnold Schwarzenegger no antológico Mr. Olympia de 1975. Ainda assim, é preciso ressaltar que talvez por ser um docudrama com caráter de tributo ou homenagem, Stand Tall omite informações sobre o final da carreira de Ferrigno como bodybuilder, quando amargou em 1992 e 1993 as posições de 12º e 10º colocado.
O filme de Mark Nalley tem boa estrutura, em acordo com uma proposição humanista que visa despertar a identificação do público com um dos maiores ícones da era de ouro do bodybuilding. Na obra, Louis Jude Ferrigno é uma criança do Brooklyn, em Nova York, que aos três anos é diagnosticada com surdez causada por uma infecção. Restando apenas 15% da audição, o jovem Ferrigno cresce retraído. As cenas sobre a infância difícil do atleta são apresentadas em forma de vídeos caseiros registrados no final dos anos 1950.
Vítima constante de bullying, apenas anos mais tarde consegue ouvir e falar com clareza. São emocionantes as cenas de Lou contando como foi ridicularizado na infância por ser um garoto magricela surdo-mudo. Mas tudo começa a mudar aos 13 anos, quando descobre o fisiculturismo como forma de superar a timidez e a baixa autoestima. O amor pela modalidade é quase instantâneo, tanto que Ferrigno trabalhava como engraxate para comprar revistas de musculação.
Um dos momentos mais inesquecíveis de Stand Tall surge quando o ex-fisiculturista lembra dos episódios em que disse aos seus clientes que se tornaria um campeão mundial de bodybuilding. A narrativa vigorosa e a construção clara e objetiva do filme conquistam a atenção do espectador. Mesmo quem não gosta de musculação ou fisiculturismo começa a entender e respeitar a complexidade e o rigor da construção corporal, seja em nível competitivo ou não.
O filme que conta a história de superação do ítalo-americano também tem algumas semelhanças com Pumping Iron. No clássico de 1977 o adversário que o protagonista Arnold Schwarzenegger precisa superar é Lou. Já em Stand Tall, Ferrigno, com mais de 40 anos, tem de vencer o veterano Boyer Coe. A obra que levou um ano e meio para ser produzida tem bom material de pesquisa e apresenta entrevistas com familiares e amigos de Lou, além de Arnold, o maior ídolo do fisiculturismo.
Nalley quase desistiu de ter Schwarzenegger no filme por causa das dificuldades em convencê-lo a participar. Para o bem do cineasta, as regulares insistências garantiram um final feliz. Em troca da participação, Arnie pediu apenas uma caixa de charutos. “Sabíamos como seria determinante para o filme ter alguém famoso como o Arnold”, diz o cineasta Mark Nalley que precisou se desdobrar com um orçamento modesto de 200 mil dólares, considerado minúsculo para os padrões estadunidenses. Uma das poucas queixas sobre o filme diz respeito a iluminação. Há algumas cenas escuras que denunciam uma certa falta de cuidado e de recursos da produção.
Felizmente, nada disso é o suficiente para ofuscar o brilho do documentário sobre um dos atletas mais importantes da história do fisiculturismo. Se tratando de estatura física, Ferrigno, que tinha 1,96m e 130 quilos, ultrapassou os padrões do bodybuilding profissional e conquistou dois títulos de Mr. Universo em 1973 e 1974, além de uma terceira colocação no Mr. Olympia de 1975. Em síntese, Stand Tall é um filme feito para todos os seres humanos, amantes ou não de atividade física resistida. “Ele tinha tudo. Boas costas, bons ombros e sabia como posar”, comenta um admirador do atleta no filme.