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Os 76 anos de “Casablanca”

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Humphrey Bogart (1899-1957) e Ingrid Bergman (1915-1982), estrelas de “Casablanca”, de 1942 (Foto: Popperfoto/Getty Images)

Lançado em dezembro de 1942, “Casablanca” vai ser sempre lembrado como um clássico que aborda a impossibilidade do amor. O filme do cineasta tcheco Michael Curtiz conta a história do exilado estadunidense Rick Blaine (Humphrey Bogart) que mora em Casablanca, no Marrocos, onde administra uma casa noturna e ajuda refugiados estrangeiros no início dos anos 1940.

O protagonista vive um dilema quando reencontra acidentalmente a antiga paixão Ilsa (Ingrid Bergman) que tenta fugir para os Estados Unidos com o marido Victor Laszlo (Paul Henreid), um antinazista tcheco. A obra aproveitou com certo caráter propagandístico, e bastante favorável aos EUA, o sentimento de contrariedade ao Nacional Socialismo de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.

Embora hoje seja cultuado em todo o mundo, a verdade é que quando Casablanca começou a ser produzido não havia tantas expectativas em torno do sucesso da película. Nem mesmo o elenco, principalmente a atriz Ingrid Bergman – que não acreditava tanto no filme – imaginava que a obra figuraria até hoje entre as dez das mais importantes listas de melhores trabalhos cinematográficos da história. “Casablanca” surgiu a partir de um roteiro de teatro intitulado “Everybody Comes To Rick’s” dos teatrólogos Murray Burnett e Joan Alison, que o escreveram após uma viagem internacional.

Sem dinheiro e investidores para produzirem o espetáculo, optaram por vendê-lo por vinte mil dólares, à época, um valor bem elevado para uma história nunca encenada. Mas a fórmula do filme deu certo e o investimento de pouco mais de um milhão de dólares garantiu quase quatro milhões em faturamento. Casablanca ainda arrecadou muito mais nas décadas subsequentes, a partir de lançamentos especiais e merchandising.

A essência antinazista da obra também teve repercussão muito positiva da crítica que naquele tempo já era favorável em explorar até a exaustão a figura do “herói americano”, sujeito aparentemente falho, mas capaz de abdicar do amor em prol da liberdade e felicidade coletiva. Reflexo dessa grande aceitação são os três prêmios que o filme conquistou no Oscar nas categorias melhor roteiro, filme e diretor. Na minha opinião, uma interpretação esfíngica, sempre digna de destaque, é a do inconfundível eslovaco Peter Lorre que vive Ugarte, um estrangeiro e amigo de Rick que vende cartas de trânsito para refugiados.

Written by David Arioch

March 5th, 2019 at 1:15 am

Os mais de 70 anos de Casablanca

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Amor, antinazismo e exploração da figura do “herói americano” no Marrocos

Obra se tornou clássica ao abordar a impossibilidade do amor (Foto: Reprodução)

Obra se tornou clássica ao abordar a impossibilidade do amor (Foto: Reprodução)

Lançado em 1942, Casablanca vai ser sempre lembrado como um clássico estadunidense que aborda a impossibilidade do amor. O filme do cineasta tcheco Michael Curtiz conta a história do exilado estadunidense Rick Blaine (Humphrey Bogart) que mora em Casablanca, no Marrocos, onde administra uma casa noturna e ajuda refugiados estrangeiros no início dos anos 1940.

O protagonista vive um dilema quando reencontra acidentalmente a antiga paixão Ilsa (Ingrid Bergman) que tenta fugir para os Estados Unidos com o marido Victor Laszlo (Paul Henreid), um antinazista tcheco. A obra aproveitou com certo caráter propagandístico, e bastante favorável aos EUA, o sentimento de contrariedade ao Nacional Socialismo durante a Segunda Guerra Mundial.

Embora secundário, Peter Lorre se destaca pela interpretação sempre enigmática (Foto: Reprodução)

Embora secundário, Peter Lorre se destaca pela interpretação sempre enigmática (Foto: Reprodução)

Embora hoje seja cultuado em todo o mundo, a verdade é que quando Casablanca começou a ser produzido não havia tantas expectativas em torno do sucesso da película. Nem mesmo o elenco, principalmente a atriz Ingrid Bergman – que não acreditava tanto no filme – imaginava que a obra figuraria até hoje entre as dez das mais importantes listas de melhores trabalhos cinematográficos da história. Casablanca surgiu a partir de um roteiro de teatro intitulado Everybody Comes To Rick’s dos teatrólogos Murray Burnett e Joan Alison que o escreveram após uma viagem internacional.

Sem dinheiro e investidores para produzirem o espetáculo, optaram por vendê-lo por vinte mil dólares, à época, um valor bem elevado para uma história nunca encenada. Mas a fórmula do filme deu certo e o investimento de pouco mais de um milhão de dólares garantiu quase quatro milhões em faturamento. Casablanca ainda arrecadou muito mais nas décadas subsequentes, a partir de lançamentos especiais e merchandising.

A essência antinazista da obra também teve repercussão muito positiva da crítica que naquele tempo já era favorável em explorar até a exaustão a figura do “herói americano”, sujeito aparentemente falho, mas capaz de abdicar do amor em prol da liberdade e felicidade coletiva. Reflexo dessa grande aceitação são os três Oscars que o filme conquistou nas categorias melhor roteiro, filme e diretor. Na minha opinião, uma interpretação esfíngica, sempre digna de destaque, é a do inconfundível eslovaco Peter Lorre que vive Ugarte, um estrangeiro e amigo de Rick que vende cartas de trânsito para refugiados.

Movidos pela ganância

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O Falcão Maltês, o primeiro filme do gênero noir

Humphrey Bogart interpreta um detetive cínico e ganancioso (Foto: Reprodução)

Humphrey Bogart interpreta um detetive cínico e ganancioso (Foto: Reprodução)

Lançado em 1941, The Maltese Falcon (O Falcão Maltês), do cineasta estadunidense John Huston, é o precursor dos filmes do gênero noir. A obra apresenta personagens imorais e traiçoeiros envolvidos em uma trama que tem como elemento central a procura de uma estátua de ouro coberta por pedras preciosas.

Com estética influenciada pelo cinema expressionista alemão – principalmente no uso de iluminação que privilegia as sombras do ambiente e ressalta a expressividade hermética dos atores, levando o espectador a divagar pelo submundo, o Falcão Maltês entrou para a história do cinema como o primeiro filme noir.

Sem personagens idealizados ou mergulhados em pureza surreal, a obra apresenta um universo realista pautado em defeitos como insegurança, cinismo, hipocrisia, ganância e falsidade. Em O Falcão Maltês, o solitário detetive Sam Spade (Humphrey Bogart) é o maior exemplo da desconstrução de um herói, um protagonista cínico e ganancioso que quando bem pago não mede esforços para concretizar qualquer objetivo.

Trama gira em torno da procura do Falcão Maltês (Foto: Reprodução)

Trama gira em torno da procura do Falcão Maltês (Foto: Reprodução)

Na obra, o detetive e seu parceiro Miles Archer (Jerome Cowan) conhecem Brigid O’Shaughnessy (Mary Astor), uma femme fatale que usa mais a sensualidade e a beleza do que o dinheiro para persuadir homens a ajudarem-na. Brigid contrata a dupla para descobrir o paradeiro da irmã que foi vista pela última vez com um homem chamado Thursby. Logo no início da investigação, Archer é assassinado.

Pouco tempo depois, o espectador descobre que Sam Spade tinha um caso com a mulher de Miles. Envolvido na trama criada por Brigid – que na realidade queria saber a localização de Thursby, um dos envolvidos no roubo do Falcão Maltês, a estátua de ouro coberta de jóias, o detetive decide ir até o fim movido pela ambição e desejo de fazer justiça pela morte do amigo. Os dois elementos confirmam a dualidade e a hipocrisia sempre presente no personagem. Spade mistura honra e dinheiro como se um fosse intrínseco ao outro.

Também é destacável o enaltecimento da figura masculina a partir da personalidade do detetive. Quando Spade conhece os criminosos Joel Cairo (Peter Lorre), Wilmer Cook (Elisha Cook Jr.) e Kasper Gutman (Sydney Greenstreet) – que demonstram certo desvio de sexualidade, ele se sente mais confiante em seu desígnio. O investigador machista crê que a exacerbação da masculinidade lhe garante vantagens sobre os “vilões”. O Falcão Maltês é um filme sobre personagens desiludidos que evitam emoções e estão acostumados a apelar para a farsa.