Archive for the ‘Idosos’ tag
Diante do semáforo
De manhã, diante do semáforo, ao meu lado havia um fusquinha bege bem conservado. Ao volante, um senhorzinho já bem idoso. Enquanto o sinal não esverdeava, ele levantou a pequena mão da esposa e a beijou delicadamente. Ela sorriu e ajeitou a gola da blusa dele. Quando o sinal ficou verde, o fusquinha seguiu o seu caminho, sem pressa, ignorando as ultrapassagens. Naquele momento, pensei: “Realmente, nós que fazemos a velocidade da vida; nos entorpecemos ou nos sublimamos com ela.”
A vida é muito curta para esconder sentimentos
A vida é muito curta para esconder sentimentos. Fiz um trabalho registrando memórias de idosos durante alguns anos. O propósito era outro, mas aproveitei para registrar algumas informações sobre a natureza humana.
Ao final da entrevista, eu sempre perguntava se eles se arrependiam de alguma coisa ou se gostariam de ter feito outras. Mesmo aqueles que não se conheciam convergiam para um mesmo desabafo: “Gostaria de ter demonstrado mais o que sentia, demonstrado mais meus sentimentos.”
Reprimir emoções e sentimentos adoece o ser humano, não tenho dúvida disso. Morre-se um pouco a cada dia quando se nega a si mesmo o direito a existir, porque sentir e exteriorizar é existir.
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No caixa rápido
Na fila do caixa rápido, um idoso estava na minha frente com sua esposa. Quando perguntei sua idade, ele me contou que tem 93 anos e sua senhora tem 92. De estatura baixa e silenciosos, os dois pareciam inexistir para toda aquela gente. Como a fila do caixa preferencial estava longe e também não era pequena, caminhei até o rapaz que encabeçava a fila do caixa rápido e pedi para ele deixar o casal passar. Todo mundo ficou me olhando, mas não notei nenhuma expressão de reprovação ou comentário negativo.
Logo o casal atravessou a fila carregando uma cestinha e uma bolsa ecológica. Depois que saíram do caixa, o senhor colocou a bolsa no chão, limpou as lentes dos óculos, ergueu o braço e sorriu, me cumprimentando mais uma vez. Lá fora, assisti ele abrindo a porta do carro para sua esposa. Ela entrou, ele perguntou se ela estava confortável, deu-lhe um beijo na fronte e fechou a porta. Então os dois partiram em um carro que atrás trazia um adesivo escrito “Abrace a vida mesmo quando ela não puder abraçá-lo”.
Os velhinhos e o “trenzinho”
Na semana passada, presenciei uma cena muito bonita. Passando pela Vila Operária, e indo em direção à Vila Alta, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, vi um monte de velhinhos do Asilo Lins de Vasconcelos sorrindo e gargalhando. Eles estavam se preparando para passear em um “trenzinho”. Fiquei imaginando que tipo de lembrança isso não proporcionou a cada um deles. Pareciam crianças, acenando para quem passasse pelas imediações. Parabéns para quem teve essa iniciativa.
Uma manhã de sábado na Vila Alta
Hoje de manhã, realizamos algumas atividades para crianças e idosos na Vila Alta, na periferia de Paranavaí. Foi uma experiência inesquecível. Tudo foi feito de forma voluntária, graças à parceria da professora Rose Freire e das alunas do 4º ano de Serviço Social da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), do Serviço Social do Comércio (Sesc), através da minha amigaTânia Mara Volpato, da atriz e professora de dança circular Gaty Rocha, da Farmácia Bipharma, do senhor Luiz Gonzaga e sua esposa (moradores do bairro que ajudaram na montagem de tudo e disponibilizaram o equipamento de som).
E claro, do artista plástico Tio Lu ( Luiz Carlos), que é sempre a primeira pessoa que procuramos quando queremos realizar algo na Vila Alta. Também contamos com a participação do meu irmão Guimarães Jvnior, meu amigo Vinicius Vieira, do fotógrafo Elizeu de Moraes e do professor Carlos Alberto João, que também assumiu uma bela responsabilidade com o bairro. Além disso, fizemos doações de muitos livros cedidos pela Paranavaí Cidade Poesia – Fundação Cultural, por meio da Biblioteca Municipal Júlia Wanderley.
A Rose Freire e as alunas da Unespar prepararam um monte de kits para distribuir aos idosos, além de panfletos sobre seus direitos. Também percorremos casas distribuindo kits para aqueles que não tinham condições de se deslocarem até a Rua B, onde o evento ocorreu. Foi uma manhã muito agradável e de muito aprendizado. Tivemos muita música, pula-pula, pernas de pau, apresentações de dança circular, oficinas de artesanato, cuidados estéticos e diversas brincadeiras que hoje são pouco conhecidas pelas novas gerações. O maior presente foi ver tanta gente empolgada em ajudar, assim como tanta gente animada em se divertir.
Idosos e a depressão
Nas últimas semanas tenho conversado com idosos com mais de 85 anos e que sofrem de depressão. Me contaram que agora começaram a se sentir mais próximos da morte. Alguns porque restam poucos de suas gerações.
“Com 80 anos, ainda me sentia um pouquinho jovem”, disse um deles sorrindo. E percebi que todos eles têm uma mesma opinião reproduzida com palavras distintas.
“O mais difícil hoje é ter uma mente jovem em um corpo fustigado. A mente quer o que o corpo já não permite. Ele cobra por nossas ações. É como uma derrota difícil de aceitar”, comentou um senhor de 86 anos.
Casal de idosos recebe uma grande ajuda na Vila Alta
Esse tipo de sensibilidade é cativante e faz todo e qualquer esforço valer a pena
Hoje passei algumas horas na Vila Alta, na periferia de Paranavaí, e visitei o Seu Juvenal e a Dona Neide, o casal que se tornou tema de uma matéria minha porque precisavam de ajuda para a substituição de um precário telhado. Devo dizer que o resultado tem sido muito melhor do que eu esperava.
Além de conseguirmos todas as telhas graças à doação do senhor Carlos Gomes, uma excelente pessoa que ainda se ofereceu para custear as despesas com mão de obra, recebemos contribuições muito boas em dinheiro da dona Sueli Takahashi, do Ministério do Trabalho, uma senhora extremamente atenciosa e carinhosa; e também do meu amigo Sobhi Abdallah, um grande parceiro de longa data – e sem dúvida uma das melhores pessoas que já conheci em Paranavaí.
Outra pessoa que ajudou muito e por quem tenho grande estima é o Gugu Ditzel, da Vida Farma, que foi até a casa do Seu Juvenal e da Dona Neide entregar medicamentos e deixar claro que eles nunca mais vão precisar comprar remédio. Gugu também levou cesta básica, pagou as faturas de energia elétrica e água do casal e se dispôs a continuar pagando.
Agora a meta é comprar o forro e tenho certeza que nos próximos dias essa parte também vai ser concluída. Outras pessoas têm me ligado para contribuir e acredito que boas novas cheguem até a semana que vem. Também destaco o interesse do meu amigo Felipe Figueira que sensibilizado tem acompanhado a situação do casal e já deixou claro que sua doação está garantida na aquisição do forro.
Sei que todos que ajudaram não fazem questão nenhuma de aparecer, mas acho importante e justo citá-los porque não é fácil encontrar pessoas dispostas a ajudar hoje em dia. Esse tipo de sensibilidade é cativante e faz todo e qualquer esforço valer a pena. Outro presente foi ver a expressão de felicidade no rosto do Seu Juvenal e da Dona Neide, pessoas humildes e batalhadoras que não merecem passar por tantas dificuldades numa fase da vida em que deveriam estar descansando confortavelmente.
Dona Neide me confidenciou que mal tem conseguido dormir. “Nunca esperava que um dia a gente fosse receber tanta ajuda assim de repente”, comentou emocionada. Só tenho a agradecer a todos esses ótimos seres humanos que conheço e aqueles que conheci através desse episódio. Se não fosse por essas pessoas, meu trabalho não valeria a pena, seria isento de valor, e talvez não existisse.
Conheça a história do casal
//davidarioch.com/2016/04/25/casal-de-idosos-precisa-de-ajuda-para-comprar-um-novo-telhado/
Idosos, os livros da cultura oral
Na minha infância e adolescência, uma das coisas que mais me agradava era a ideia de conhecer ou aprender algo sobre quem nasceu antes do século 20 ou em seu princípio. Me sinto privilegiado por ter conhecido pessoas que vieram ao mundo nas décadas de 1890, 1900 e 1910. Quando pequeno, nas visitas ao cemitério com a minha família, sempre me dispersava procurando os túmulos mais antigos e as pessoas que nasceram há mais tempo. Imaginava como eram, como viveram e o que fizeram ao longo da vida.
Estamos em 2016 e lamento que restam poucas pessoas que nasceram no século XIX. Em pouco tempo, não existirá mais nenhuma. Muito conhecimento se perde diariamente com a morte de tantos personagens. Sempre que fico sabendo do falecimento de alguém que teve uma vida considerada longa, me pergunto quantas experiências únicas essa pessoa deve ter vivido. O que será que ela viu no mundo que ninguém viu e ainda assim não teve a oportunidade de compartilhar? Será que seus filhos, netos e bisnetos ouviam suas histórias? Ou será que tanto conhecimento se desvaneceu junto com a carne?
Pelo menos pra mim, o mundo sempre parece mais raso com a morte de um ancião ou de uma anciã. Ninguém conta uma história melhor do que uma pessoa idosa. A visão que eles têm do mundo é única e inestimável. Quando o caixão de um idoso é lacrado, imagino sempre centenas de livros se fechando, livros que nunca mais serão lidos ou abertos.
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