David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Jardim Ibirapuera’ tag

Ruas de Paranavaí foram criadas para beneficiar o setor agrícola

without comments

Planejamento urbano foi ofuscado pelo escoamento das produções

Zé do Bar: “Lembro de uma que ia até a fazenda do agricultor Domingos de Almeida. Só abriram ela por causa do café."

João Mariano: “Era desejo de alguns latifundiários que a cidade preservasse suas características de colônia” (Acervo: Fundação Cultural)

Como Paranavaí, no Noroeste do Paraná, foi fundada sob a égide da agricultura, as principais ruas e avenidas foram traçadas visando o escoamento das produções e não o desenvolvimento urbano. Prova de tal fato é que mesmo com o passar dos anos as vias foram asfaltadas, mas não redimensionadas para atender a demanda surgida com o progresso. Exemplos são as ruas e avenidas estreitas do centro da cidade.

As vias de alguns dos bairros mais tradicionais de Paranavaí, como o Jardim Ibirapuera, Jardim Iguaçu, Jardim Ouro Branco e região do Colégio Estadual de Paranavaí (CEP), também foram abertas para facilitar o transporte de café, arroz e outras culturas. “Paranavaí se ligava ao Porto São José, pra onde toda a produção era escoada até outros Estados [como Mato Grosso e São Paulo]”, revelou o agrimensor e pioneiro paranaense Ulisses Faria Bandeira em entrevista ao jornalista Saul Bogoni.

Vias estreitas do centro de Paranavaí refletem a falta de planejamento durante a colonização (Foto: Toshikazu Takahashi)

Ruas estreitas do centro de Paranavaí refletem a falta de planejamento durante a colonização (Foto: Toshikazu Takahashi)

Segundo o pioneiro mineiro José Alves de Oliveira, conhecido como Zé do Bar, todas as estradas eram criadas para beneficiar o setor agrícola. “Lembro de uma que ia até a fazenda do agricultor Domingos de Almeida. Abriram ela por causa do café”, garantiu Zé do Bar em depoimento concedido ao escritor Paulo Marcelo Soares Silva no livro “História de Paranavaí”, lançado em 1988. Apesar da cidade ter vivido às voltas com a agricultura naquele tempo, o ápice do setor foi relativamente curto e logo a pecuária conquistou grande espaço.

O pioneiro curitibano e advogado Aldo Silva, em entrevista ao jornalista Saul Bogoni, deixou claro que em Paranavaí muitas fortunas foram feitas sob a ilegalidade. “Teve gente que se deu bem porque fazia muitos requerimentos de terras no próprio nome e também em nome de terceiros. Não respeitava o limite de 200 alqueires por família, determinado por lei”, reclamou. O grande número de posses se refletiu em maior influência política.

Assim é justo dizer que o planejamento urbano foi prejudicado porque priorizaram os interesses individuais de algumas famílias abastadas que controlavam a economia local. “Não tenho dúvida alguma quanto a isso. Era desejo de alguns latifundiários que a cidade preservasse suas características de colônia”, comentou o pioneiro cearense João Mariano.

Contribuição

Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:





A “Enchente de Arroz”

without comments

Paranavaí ganhou destaque na produção de cereais em 1955

Arroz irrigado garantiu boa visibilidade à região de Paranavaí (Foto: Reprodução)

Em 1955, Paranavaí chamou a atenção de todo o Paraná ao alcançar um recorde na produção de cereais. A época ficou conhecida como “Enchente de Arroz”, quando cada produtor colheu de seis a pouco mais de oito mil sacas do produto.

Até a metade da década de 1950, muitos migrantes que se mudaram para Paranavaí não acreditavam no progresso da cidade. “Eu achava que isso aqui era de pouco futuro, que não ia dar em nada. Pensava que nem chegaria a ser como Pirajuí [cidade do interior paulista com menos de 25 mil habitantes]”, disse o pioneiro paulista João da Silva Franco em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

A afirmação teve respaldo numa dura realidade vivida no início da década de 1950, quando milhões de pés de café foram dizimados pelas geadas. “Em 1955, eu estava acabado. Perdi os 80 mil pés que restaram”, lamentou o pioneiro paulista Salatiel Loureiro em entrevista à prefeitura há algumas décadas.

Enquanto os produtores que investiram tudo na cafeicultura lamentavam as grandes perdas, aqueles que antes deixaram a monocultura cafeeira para investir em cereais alcançaram o auge no mesmo ano. O período conhecido como “Enchente de Arroz” proporcionou riqueza para muitos produtores rurais de Paranavaí. “Os fazendeiros colhiam pelo menos seis mil sacas de arroz, principalmente na região que hoje pertence a Amaporã, antiga Jurema”, relatou João Franco.

O agricultor Lázaro Vieira que tinha uma propriedade que atualmente se situa em Nova Aliança do Ivaí foi um dos que mais chamou atenção em todo o Paraná depois de colher pouco mais de oito mil sacas. “Foi uma fartura imensa”, sintetizou. A “Enchente de Arroz” trouxe benefícios a Paranavaí e região, mas não foi algo que se estendeu a toda população. “Quem se deu bem foram os migrantes paulistas que já tinham experiência no plantio de arroz”, comentou o pioneiro gaúcho Severino Colombelli em entrevista à prefeitura.

Com a fortuna também cresceram as desigualdades. Enquanto alguns enriqueciam, uma legião começava a viver às margens da sociedade. Muitos migrantes que trabalhavam nas colheitas nem sempre recebiam o salário combinado previamente. Na lavoura, se ganhava cerca de 20 mil cruzeiros por mês, uma quantia insuficiente para manter a família. “O jeito era levar todo mundo pra roça, até as crianças”, ressaltou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que muitas vezes viu trabalhadores serem expulsos do campo sem receber pelos serviços prestados.