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Um crime sem solução

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Mulher foi assassinada na propriedade onde construíram a Escola Elza Caselli

Cenário de um crime nos anos 1950 (Foto: David Arioch)

Nos anos 1950, muitos migrantes chegavam a Paranavaí, no Noroeste do Paraná, sem qualquer documento de identificação. Então quando acontecia algum homicídio era muito difícil reconhecer a vítima ou criar uma lista de suspeitos. Dependendo da situação, o caso sequer era solucionado. Exemplo foi o assassinato de uma mulher na propriedade onde foi construída a Escola Municipal Professora Elza Grassiotto Caselli.

Certo dia, uma criança que deixou o Ceará e se mudou para Paranavaí com a família estava guiando o gado pelas imediações de uma área erma e silvestre. Ao sentir um mau cheiro que vinha do matagal logo em frente, o garoto, mesmo curioso, não teve coragem de adentrar a mata. Quando chegou em casa contou ao irmão mais velho e pediu que fossem juntos até lá para descobrir a causa de tanto odor.

Segundo pioneiros, à época, o lugar ainda estava coberta por mata virgem, o que justificou o medo do garoto em entrar no local sozinho. Depois de caminharem dezenas de metros, os dois irmãos viram um cadáver já em estado avançado de decomposição. O corpo estava irreconhecível e só foi possível saber que era uma mulher por causa das roupas.

Não havia nenhum documento de identificação junto ao cadáver, somente inúmeras garrafinhas de fortificante Biotônico Fontoura. Hipoteticamente, a mulher era uma jovem migrante de origem humilde que veio a Paranavaí em busca de melhores condições de vida. O corpo foi encontrado poucos dias depois do crime. Suspeita-se que a moça sofreu assédio, não cedeu e acabou assassinada.

À época, o local era coberto por mata virgem (Foto: David Arioch)

Infelizmente, a mulher foi tratada como indigente e logo a polícia desistiu das investigações. O caso jamais foi solucionado. A partir desse assassinato, a população local se uniu e tomou a iniciativa de exigir que todos os moradores de Paranavaí portassem documentos, o que era raro numa época em que muita gente negociava apenas com a garantia da palavra.

Entretanto, quem não concordasse em tirar os documentos não poderia fixar residência na cidade. Anos depois, com o desenvolvimento de Paranavaí, o matagal que um dia serviu como palco de um crime contra uma jovem migrante foi derrubado, dando espaço a Escola Municipal Professora Elza Grassiotto Caselli, no Jardim Farroupilha, nas imediações da “Rodoviária Nova”.

Saiba Mais

O garoto que encontrou o corpo da jovem assassinada é irmão do pioneiro Joaquim Ferreira.