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Um outro olhar sobre o “Leitão à Pururuca” servido no Natal
Encontrei uma foto que me chamou a atenção, acompanhada de uma receita. Estava com a seguinte legenda: “Leitão à Pururuca – o delicioso sabor mineiro na sua ceia.” É um dos pratos indicados para o Natal. Trata-se de um pequeno animal que não raramente é morto aos 21 dias. Claro, pode ir além. Afinal, ele vive até o momento em que chega ao auge do que podemos chamar de palatável.
Temperado com óleo, cebola, alho, salsa, limão, pimenta dedo-de-moça, sal e azeite, o leitão, morto precocemente, é assado e servido com a pele torrada, parcialmente derretida em alguns pontos. Com uma boa e bela combinação de ingredientes, muitas pessoas não verão um animal, mas apenas um grande pedaço de carne.
Não importa se o que está diante delas ainda têm olhos, focinho, pernas, boca ou até mesmo unhas. Podemos chamar isso de dissimulação estética. Claro, cheiro e apresentação têm um grande poder de sugestão sobre o paladar. Para romantizar um pouco, podemos colocá-lo sobre uma caminha cuidadosamente enfeitada, que pode ser uma porção de farofa, alguns belos tomatinhos e um raminho de alecrim. Pronto! Agora é só dizer às crianças que aquela criatura morta e caprichosamente adornada não era um animal de verdade.
Observem as fotos do chamado “Leitão à Pururuca” e perceberão que sempre, ou quase sempre, o leitão está com os pés retorcidos. Não é difícil reconhecer que não se trata de uma criatura que morreu tranquilamente. Imagino que muitos se alimentarão de um animal assim no Natal. Infelizmente, não há como contestar. Entre uma garfada e outra, gestos e ações de empatia, celebrarão à vida com morte. Do leitão, não tenho dúvida que não sobrará nada. Na realidade, pode até sobrar. Talvez os ossos sejam lançados ao lixo, ou entregue aos cães que, diferentes de nós, comerão sem saber do que se trata.