David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Produtores de queijo premiado se tornam veganos e trocam o leite de cabra pelo leite de oleaginosas

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“Estávamos ampliando o problema. Não queríamos ser parte do problema, mas sim da solução”

“Agora ao não criar animais com essa finalidade [de produzir leite e queijo], podemos salvar os animais da crueldade em vez de agravá-la trazendo mais animais para o mundo” (Acervo: The Sanctuary at Soledad Goats)

Ao longo de 20 anos, Carol e Julian Pearce produziram um queijo de leite de cabra premiado nos Estados Unidos. Ainda assim, decidiram se tornar veganos e começar uma nova vida, que incluiu a fundação de um santuário e uma nova produção de queijos. Mas dessa vez baseado em oleaginosas, não em leite de cabra.

Carol e Julian se conheceram enquanto cuidavam de bezerros doentes. Quando viviam na Inglaterra, Carol era conhecida por invadir fazendas e “sequestrar” animais que seriam enviados para o matadouro.

Mais tarde, nos Estados Unidos, os Pearce investiram em uma fazenda de caprinos no Sul da Califórnia, onde a política era “nunca matar”. No entanto, com o tempo, começaram a repensar a própria história, o trabalho e a vida. Foi quando perceberam uma contradição em suas ações.

Enquanto resgatavam animais que seriam enviados para os matadouros, eles investiam na procriação de outros para a produção de leite e queijo. “Por ser uma fazenda leiteira, estávamos ampliando o problema. Não queríamos ser parte do problema, mas sim da solução”, explica o casal.

Em 2015, a decisão natural foi o veganismo, que os Pearce qualificam como um imperativo moral, de honrar e respeitar os animais rejeitando todas as formas de exploração. O leite de cabra então foi substituído pelo leite de oleaginosas – nozes, castanhas, amêndoas, etc.

“Estamos replicando a qualidade do queijo que conseguimos produzir com o leite de cabra – textura suave, ingredientes frescos, e feito artesanalmente com cuidado, consistência e paixão. Até agora nossas amostras foram muito bem recebidas, com muitas pessoas nos dizendo que continuarão comprando os nossos produtos em versão vegetal. Isso é muito encorajador para nós”, garantem.

Além de cuidar das cabras do seu antigo rebanho leiteiro, o casal resgata cabras, vacas, bois, cavalos, porcos, frangos, galinhas, patos, cães e gatos maltratados, abandonados e negligenciados. Parte desses animais seria enviada para o matadouro, outros passariam por eutanásia. “Agora ao não criar animais com essa finalidade [de produzir leite e queijo], podemos salvar os animais da crueldade em vez de agravá-la trazendo mais animais para o mundo”, justificam.

Hoje, o The Sanctuary, situado em Soledad, no sul da Califórnia, é uma entidade sem fins lucrativos, e a produção de queijo vegano ajuda a custear as despesas com os animais, assim como a contribuição de seus apoiadores. O santuário é aberto à visitação e quem quiser pode comprar diretamente no site alguns produtos veganos como chocolates, velas, sabonetes, canecas, brincos e hidratantes.

Referência

The Sanctuary at Soledad Goats – Where every animal has a home

 





 

A gloriosa e trágica história da vaca Heroína

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Nem sempre as vacas aceitam o seu suposto destino após uma vida de exploração como vaca leiteira

Heroína, a vaca que fugiu em busca da liberdade no sul da Polônia

Nem sempre as vacas aceitam o seu suposto destino após uma vida de exploração como vaca leiteira. Exemplos não faltam. Um dos mais recentes foi registrado no sul da Polônia, quando uma vaca, transportada em um caminhão até um matadouro, conseguiu fugir, derrubando uma cerca e nadando até uma das ilhas do Lago Nyskie, que faz parte do Rio Nysa Kłodzka. As suas companheiras não tiveram a mesma coragem.

De acordo com o site polonês Wiadowmosci, o senhor Lukasz, o pecuarista que enviou a vaca para o matadouro, lucraria o equivalente a pouco mais de R$ 5,6 mil com a sua morte: “Eu a vi debaixo d’água, mergulhando”, disse. Pensando no dinheiro, o pecuarista procurou um veterinário local para atirar na vaca com um tranquilizante e levá-la de volta. Além do animal escapar mais uma vez, o veterinário não pôde fazer nada porque estava sem munição a gás.

O pecuarista então desistiu de capturá-la e deixou comida na ilha. Dias depois, quando os bombeiros usaram um barco para atravessar o Nyskie, a vaca que ficaria conhecida como Heroína, nadou mais de 50 metros até uma península vizinha. Um político local, Pawel Kukiz, se ofereceu para salvá-la da morte. Em sua página no Facebook, ele declarou que “ela fugiu heroicamente, e que não era a primeira vez que uma vaca fugia em busca da liberdade.”

Kukiz logo encontrou um santuário para recebê-la. No dia em que a vaca seria enviada para o novo lar, um veterinário e quatro equipes de resgate navegaram até a ilha. O medo de Heroína em retornar ao matadouro era tão grande que ela desapareceu em meio à densa vegetação.

Foram necessárias algumas horas e três dardos tranquilizantes para contê-la. No entanto, o estresse vivido por Heroína ao longo de quatro semanas, e o medo do contato humano, fez com que ela falecesse após o resgate, em decorrência de um ataque cardíaco.

Talvez a história de Heroína sirva de lição para entendermos que a vontade de viver não é uma prerrogativa estritamente humana, e o quanto é traumatizante para um animal ser explorado exaustivamente e mais tarde enviado para um matadouro, onde sua vida vale o preço de sua carne.

 





 

Mike Lanigan, o pecuarista canadense que transformou a própria fazenda em um santuário

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“Quando chegar à minha velhice, quero que seja com uma consciência limpa e agradável”

“Pensei em como eu era hipócrita em dar tanto amor e no final agir de forma tão diferente desse amor” (Acervo: Farmhouse Garden Animal Home)

Em 2016, o pecuarista canadense Mike Lanigan, de Uxbridge, Ontário, estava ajudando um bezerro prematuro a mamar pela primeira vez quando se questionou sobre a sua fonte de renda, que se baseava em criar animais para mais tarde enviá-los ao matadouro: “Eu estava fazendo isso com tanto amor, e conversando com ele, limpando a sua face e tentando fazê-lo mamar em sua mãe.”

Lanigan ponderou sobre a contradição de dar a um animal todo esse cuidado simplesmente para depois enviá-lo ao abate. “Nunca gostei dessa parte, mas como fazendeiro você pode simplesmente desligá-la. Então pensei em como eu era hipócrita em dar tanto amor e no final agir de forma tão diferente desse amor”, diz Lanigan em um vídeo publicado por sua funcionária, Edith Barabash, na página do santuário Farmhouse Garden Animal Home.

Da terceira geração de uma família de criadores de gado, Mike Lanigan era uma criança quando se mudou nos anos 1950 para a fazenda onde vive até hoje. Mais tarde, foi para a faculdade e depois retornou. Mas somente a experiência de amamentar um bezerro prematuro fez com que mudasse o rumo de sua vida em 2016.

Com um choque de consciência, Lanigan decidiu que não exploraria nem mataria mais nenhum animal. Na realidade, fez mais do que isso. Transformou a tradicional fazenda de gado em um santuário para bovinos, aves, equinos e animais de outras espécies – um lugar onde podem viver até os seus últimos dias em paz. Porém, Lanigan sabia que seguir por esse caminho não seria fácil, porque uma das partes mais difíceis é conseguir recursos para alimentar todos os animais.

Além disso, passou a ser visto com outros olhos pelos vizinhos e se tornou alvo da piadas. Os fazendeiros da região pararam de acenar e de cumprimentá-lo quando passavam por sua propriedade. Ele não reagiu mal à reação. Apenas entendeu que os fazendeiros se sentiam ameaçados por sua atitude inimaginável. “Há um forte ativismo animal acontecendo. E não percebi todas essas nuances quando decidi fundar um santuário”, enfatiza. Até mesmo seus filhos ficaram com raiva no primeiro mês, porque estavam planejando assumir a fazenda de gado nos próximos anos. Com o tempo, entenderam e respeitaram a sua decisão.

Lanigan passou a ser visto como um sobrevivente em seu meio, porque vários de seus vizinhos, que também eram fazendeiros independentes e investiam no gado de corte e no gado leiteiro, não resistiram às pressões do mercado e acabaram vendendo suas fazendas para corporações e grandes produtores de gado. Apesar das dificuldades, Mike Lanigan está feliz com a sua decisão. Para angariar recursos para sustentar todos os moradores da fazenda, ele decidiu investir na produção de vegetais orgânicos e de xarope de bordo.

Em 2017 a fazenda foi transformada na Farmhouse Garden Animal Home, um abrigo para animais sem fins lucrativos que é mantido com os recursos da produção de vegetais orgânicos e por meio de doações. “Quando chegar à minha velhice, quero que seja com uma consciência limpa e agradável”, revela Mike Lanigan.

Referências

Farmhouse Garden – Animal Home. Our Story (2017).

Vegan Food and Living. Canadian cattle rancher turns his farm into sanctuary (16 de setembro de 2016).

CBC Radio. Meet the cattle rancher who stopped killing his cows ‒ to the annoyance of his neighbours (26 de novembro de 2017).

 





Chris Mills, um homem do campo que se tornou vegano depois de testemunhar o sofrimento dos porcos a caminho do matadouro

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“Olhei aqueles pobres animais nos olhos e sabia que estavam sendo enviados para a morte”

O choque de realidade fez Chris Mills se tornar vegano (Acervo: Chris Mills)

Um homem do campo, Chris Mills trabalhou por 20 anos em fazendas de produção de leite em Ontário, no Canadá. Além de viver a realidade comum de quem ignora o sofrimento vivido pelos animais criados para consumo, ele também era um ávido caçador. No entanto, Chris se apaixonou por uma vegetariana, com quem acabou se casando quando começou a trabalhar na construção de rodovias.

As conversas com sua esposa o levaram a ver os animais com outros olhos. Porém, não o suficiente para que ele abdicasse do consumo de animais. A transformação veio com um choque de realidade e um olhar atento que o fizeram perceber que a carne que ele consumia era, de fato, proveniente de criaturas com emoções e sensações muito semelhantes às nossas.

Um dia, Chris estava dirigindo uma máquina quando o tráfego na rodovia foi interrompido. Ao seu lado, havia um caminhão transportando porcos para um matadouro em Quebec. “Esse foi o dia em que fiz a conexão. Olhei aqueles pobres animais nos olhos e sabia que estavam sendo enviados para a morte. A temperatura estava em 36 graus abaixo de zero e eles estavam congelando. Suas peles estavam vermelhas e você podia ver gelo em algumas de suas faces. Meu coração sangrou. Me senti tão mal que disse a mim mesmo que daria um basta nisso, que eu nunca mais causaria mal a qualquer outra criatura novamente! Jamais olhei para trás”, garante.

Chris Mills não teve dificuldade em se tornar vegano e abandonar todos os alimentos de origem animal. O que facilitou a sua transição foi o prazer em cozinhar e mostrar às pessoas que “a comida vegana é deliciosa e bonita”. Hoje, não apenas Chris e a esposa são veganos, mas também a filha do casal – veganos a favor da vida, segundo ele. Em 2015, Chris e a esposa Kim transformaram a própria casa em um pequeno santuário – The Grass Is Greener, que é focado especialmente no resgate de coelhos que são enviados para a indústria da carne.

Referência

Capps, Ashley. Former Meat and Dairy Farmers Who Became Vegan Activists. Free From Harm.

 





Casal de criadores de gado transforma fazenda em um santuário de animais no Texas

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As mães chorando por uma semana, e a ausência de suas almas no pasto, me assombravam”

“Chorei tantas vezes que ele [Tommy] tentou esconder o fato de estar fazendo isso, mas eu sempre soube por causa do lamento das vacas quando perdem seus bebês e não conseguem encontrá-los” (Foto: Rowdy Girl Sanctuary)

Em 2009, Renée King-Sonnen se mudou para uma propriedade rural em Angleton, no Texas, com o marido Tommy Sonnen, da quarta geração de uma família de criadores de gado. Fascinada pelos animais, Renée começou a passar muito tempo com eles, desenvolvendo empatia e analisando suas personalidades e individualidades. Logo ela percebeu que rapidamente as vacas criam laços profundos com os bezerros – o que a fez associar com a relação de uma mãe com o seu filho humano.

Por outro lado, para além desse cenário de amor animal que inspira reflexão, Renée conheceu outra faceta da realidade ao testemunhar como os bezerros eram separados das vacas, enviados para leilões e encaminhados para os matadouros. A certeza de que nesse meio o laço familiar é rompido precocemente, e as vidas dos animais são tão curtas em decorrência da exploração, a chocou.

“A experiência de vê-los partir, as mães chorando por uma semana, e a ausência de suas almas no pasto, me assombravam. Chorei tantas vezes que ele [Tommy] tentou esconder o fato de estar fazendo isso, mas eu sempre soube por causa do lamento das vacas quando perdem seus bebês e não conseguem encontrá-los”, enfatizou.

Deprimida, em outubro de 2014, Renée falou para o marido que não queria mais contribuir com a morte de animais vulneráveis, que a cada dia a ensinavam uma nova lição. O amor dos animais pela liberdade, por exemplo, ela descobriu na figura de Houdini, um bezerro que sempre que tinha alguma oportunidade tentava fugir da propriedade. Renée King então passou a considerar insuficiente poupar apenas alguns animais da morte.

Buscando uma mudança mais substancial, ela conheceu o veganismo e decidiu correr atrás de um sonho – transformar a fazenda em um santuário de animais. Renée fez contato com pessoas do movimento vegano que foram determinantes nesse processo de transformação de uma fazenda de gado em um santuário. O marido concordou, e não apenas os bovinos foram poupados, mas também os porcos, frangos, galinhas e outros animais que viviam no local.

Hoje o casal vegano que administra o Rowdy Girl Sanctuary, no mesmo local de onde os bovinos partiam rumo à morte, recebe visitas e abriga um número cada vez mais crescente de animais livrados da morte precoce nos matadouros. Segundo René King-Sonnen, um sonho, de fato, concretizado.

Referências

Capps, Ashley. Former Meat and Dairy Farmers Who Became Vegan Activists (4 de novembro de 2014).

Rowdy Girl Sanctury. Renee King-Sonnen – Founder (7 de abril de 2016)

                                                                      





Você é um daqueles verdinhos?

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Acervo: Turkey Runner

Na fila do mercado, eu, uma camiseta verde do Type O Negative e uma boina. Uma senhorinha se aproximou e se posicionou atrás de mim aguardando a vez. Expliquei que ela não precisava ficar na fila porque pela idade ela tem preferência no caixa especial.

— Não, filho, eu gosto de ficar aqui. Tenho saúde e não tenho pressa.

— Que bom — respondi com o meu típico sorriso tímido.

— Filho, olhei pra você e pra sua cesta, diferente o que vi, admito. Você é um daqueles verdinhos?

— Como?

— Um daqueles verdinhos.

— Me desculpe, mas não sei, senhora. O que é um verdinho?

— Que não come carne, leite, ovo…

— É por aí. Acho que vou um pouquinho além inclusive.

— Olhe só, que honra! Um verdinho de verdade!

— É, acho que sim — comentei, entregue a um sorriso encalistrado.

— Olho esses carrinhos e cestas, só consigo pensar em uma coisa. Você sabia que antigamente não existia toda essa comilança de carne? Muita gente do meu tempo, criada em sítio, chegava a ficar até um ano sem comer carne. E vivia bem, realmente bem, com muita energia, lavourando.

— Isso é bom.

— Papai e mamãe deixaram a Polônia durante a guerra e eles viram tanto sangue e morte naquele lugar que quando chegaram ao Brasil falaram que iriam criar os filhos longe de qualquer tipo de morte. Dito e feito. Tenho 78 anos e não como carne desde os cinco anos quando chegamos aqui em 1944.

— Que história interessante. Se a senhora quiser me contar um dia em detalhes, posso transformar em alguma coisa.

— Quem sabe — ela respondeu sorrindo.

— Seria muito legal — comentei.

— Olhe, o conteúdo da minha cestinha é parecido com o da sua. Estamos apenas em um espectro diferente de gerações, pelo menos nesta vida — disse sem desvanecer o sorriso.

— Não duvido — comentei sorrindo.

— É, sempre enxergo um verdinho de longe.

— Por causa da minha camiseta? — questionei com um sorriso enviesado.

— Não — respondeu rindo.

— Hum…

— Meu pai dizia que os nossos melhores hábitos são sempre translúcidos diante dos nossos olhos e dos olhos dos outros quando existe boa vontade. Claro, desde que nós e os outros queiramos enxergar — explicou a senhora antes da despedida.

 





Bob Comis, o relato de um ex-criador de porcos que abandonou a sua principal fonte de renda por respeito aos animais

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Comis: “Depois de cuidar de um grupo de porcos, nunca vou embora nem dirijo o trator sem sorrir ou, muitas vezes, rir em voz alta” (Foto: Reprodução)

São cinco horas da manhã, e temos quinze graus lá fora, e uma tempestade de neve que pode lançar até 16 polegadas sobre nós está a apenas algumas milhas de distância. Lá fora, nesta terra invernal, estão 250 porcos espalhados pelo campo e pelos celeiros da fazenda, aninhados calorosamente em grandes camadas de palha, dormindo profundamente como grandes pilhas suínas, compartilhando o calor do corpo e o conforto social do contato físico. Eles são porcos felizes. Eles são, talvez, tão felizes quanto a felicidade.

Afinal, tudo que eles poderiam querer ou desejar está bem à mão, ou casco, neste caso. Comida, abrigo, água, ar fresco, espaço para vagar, correr, brincar, se aquecer e se enterrar. Eles não desejam mais nada, mesmo no inverno. Ao percorrerem seus campos e celeiros, enfiando seus narizes na neve e ressurgindo do solo gelado, eles mantêm um fluxo constante de sons e grunhidos silenciosos que expressam contentamento, se comunicando com outros porcos no mesmo local onde estão. Os grunhidos silenciosos são partilhados pelos porcos o dia todo. São tão suaves quanto o som das cigarras nas noites de verão.

Alguns dos porcos, aqueles que estão no celeiro, onde é mais quente, e a palha é mais volumosa, pesam apenas 40 libras [18 quilos]. Outros pesam 150 libras [68 quilos]. Os maiores têm em torno de 300 libras [136 quilos]. Os porcos grandes são tão imunes ao frio que quando o dia está com 20 graus e ensolarado, eles mergulham suas cabeças no tanque de água apenas por diversão, tentando lambê-la enquanto desce pelos seus narizes. Suas várias expressões de contentamento, de felicidade, são contagiosas. Depois de cuidar de um grupo de porcos, nunca vou embora nem dirijo o trator sem sorrir ou, muitas vezes, rir em voz alta.

Dez desses maiores porcos vão morrer amanhã, não na minha mão, mas sob o meu pedido. Esta tarde, enquanto eles dormem, os prenderei no celeiro com uma série de painéis. Então retornarei com o trailer de reboque de gado e criarei uma espécie de rampa para arrebanhar os porcos e levá-los para o trailer. Eu levarei aqueles dez porcos, aqueles dez porcos felizes, para o matadouro, onde vou descarregá-los em uma área de confinamento pré-abate. Por causa da tempestade que está chegando, não posso deixá-los lá amanhã, o que eu preferiria. Em vez disso, esses porcos felizes terão que passar a última noite de suas vidas infelizes em uma estranha e malcheirosa prisão de concreto antes de serem reunidos um por um em um pequeno espaço onde serão mortos rapidamente.

Amanhã, antes das nove horas, no momento em que eu remover a neve para que eu possa alimentar e hidratar os porcos felizes, os dez porcos que deixei no matadouro estarão mortos. Eles terão sido baleados na cabeça com uma pistola pneumática que os deixará inconscientes. Então uma faca excepcionalmente afiada terá sido mergulhada em seus corações palpitantes, de forma a fazer toda a sua vida se esvair com o sangue que percorre suas veias e artérias, criando uma densa e dispersa camada vermelha carmesim no chão de concreto cinzento do matadouro.

Vinte minutos depois, eles estarão sem vida, divididos em duas metades e pendurados por cada perna traseira em longos ganchos brilhantes de aço inoxidável, e presos a um trilho por uma roldana, de modo que os porcos possam ser empurrados para dentro do frigorífico; para que seus corpos, suas carcaças ainda quentes das vidas que foram tiradas, estejam em temperatura abaixo de 40 graus para que possamos comer suas carnes, como determinado pelo USDA [Departamento de Agricultura dos Estados Unidos]. Seus olhos, seus olhos muito humanos que ao longo da vida olham para você com óbvia inteligência, estarão tão imóveis e vitrificados quanto o mármore.

Na atual conjuntura discursiva, os porcos felizes são a alternativa ideal para os porcos miseráveis e abusados que são criados nas fazendas industriais. Os porcos felizes se tornam carnes felizes, e a carne feliz é boa. Devemos nos sentir bem comendo carne feliz. Porcos felizes, sério? Sou assombrado pelos fantasmas de quase dois mil porcos.

(Há um mês, tive minha última crise consciência, em uma década de crises de consciência mais ou menos intensas. Tendo abandonado o último vestígio do que parecia ser a justificativa legítima, baseada na felicidade e na rápida morte indolor, me tornei vegetariano. Agora estou no começo do processo complicado de dar um fim à minha vida como criador de porcos.)

Bob Comis é um ex-criador de porcos que em 2014 abandonou a criação de animais para consumo. Suas histórias sobre as suas experiências que revelam a realidade da exploração animal sob a ótica de quem fez parte desse meio por muito tempo, e como ele percebeu que os animais são mais do que produtos ou meios para um fim, já chamaram a atenção de alguns dos mais importantes veículos de comunicação dos Estados Unidos.

Referência

Comis, Bob. Happy pigs make happy meat. The Dodo (fevereiro de 2014).





 

O Velho Barbanço, os animais e os gaiatos

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Foto: iStock

Uma vez por semana alguns pequenos gaiatos invadiam a propriedade do Velho Barbanço e davam estilingadas no porco, no boi, na vaca, na cabra, na ovelha, em dois cordeiros e uma galinha que circulavam livremente. A visão do velho não era atilada, mas a sua audição sim. Crentes de que jamais aquele homem de idade avançada os surpreenderia, os petizes aproveitavam – gargalhavam, penduravam sobre a mangueira e até mesmo estercavam perto do comedouro dos animais.

Remansado, o Velho Barbanço apenas aguardou, na sua característica odara. As horas não diziam nada, porque os tarecos nunca invadiam o local no mesmo horário. Então o velho descobriu uma forma de surpreendê-los. Instalou um fio sob a terra que começava na porteira e percorria a mangueira frontal. Se alguém se aproximasse, um sino era acionado na sala, e quem estava fora nada ouvia.

Um dia, os moleques pularam mangueira adentro e observaram o entorno, asseverando-se de que não havia ninguém por perto. Com a confirmação, prepararam as primeiras estilingadas.

— Estilingue poderia ser uma coisa boa se não a usassem para o mal — disse uma voz roufenha sobre eles.

Espaventados, os quatro gaiatos observaram o Velho Barbanço sentado sobre um dos galhos mais massudos de uma sibipiruna acima deles. Não imaginaram que um dia seriam flagrados. Apesar da idade avançada, o velho saltou da árvore e seus pés tocaram o chão com a lenidade de uma lebre.

— Por que vocês incomodam esses pobres animais? Por que feri-los? Por que tirar-lhes a paz, que é uma das poucas coisas que buscam em suas vidas? Eles vivem bem menos do que nós, e não merecem tal maldade. Agora venham.

Os tarecos hesitaram, se entreolharam, mas seguiram o velho. Barbanço mostrou os curativos que fez em cada um dos animais feridos. Um deles ainda gemia expectando convalescença.

— Eles sangram e sentem dor como eu e você. Imagine se fosse cada um de vocês no lugar deles. Agradaria?

— Não… — responderam encalistrados.

— Podem não parecer tão inteligentes ou sábios pra vocês, mas eles são sim. Sabe por que sei disso? Porque eles buscam mais a paz do que nós. Sabem o que um animal desses faz quando ninguém o machuca? Ele é condescendente, leniente. Entendem o que isso significa? Que ele não conhece o mal como nós conhecemos, não é inerente à sua natureza. Até quando fazem algo de errado, não o fazem por pura maldade, mas por alguma motivação quase sempre alheia à nossa compreensão.

— Hum…mas o senhor come eles, né? — questionou o gaiato menor.

— Na realidade, não, filho.

— Como não?

— Que sentido teria eu livrá-los da dor que vocês causam a eles e entregá-los ao açougueiro? Isso seria muito pior do que o que vocês fizeram. Não se abraça mirando carcaça.

— Ah! Isso é estranho. Nunca conheci quem não comesse carne — comentou outro.

— Pois então está conhecendo agora.

— Isso é diferente.

— É uma reação comum.

— Humm…

— Acredito que quando ferimos alguém, e não nos importamos, estamos mandando uma mensagem de que nem todas as vidas são importantes, e que podemos chegar ao extremo de escolher quem merece viver e quem merece morrer.

— Mas não é isso que já fazemos hoje? — questionou um petiz.

— Sim, e isso te agrada?

— Agora não.

 





 

Susana Romatz: “Não é difícil ficar sem carne ou laticínios. Difícil é ver as pessoas presas a uma mentalidade em desacordo com seus valores morais básicos”

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Susana: ” Demorei para fazer a conexão com o leite que acompanhava o meu cereal matinal” (Foto: Acervo Pessoal)

Susana Romatz conta que estava trabalhando em um PetSmart uma rede de petshop, quando conheceu Pinkie, uma pequena cadelinha preta com manchas brancas e olhos azuis. “Me apaixonei por ela e a adotei. Mas, infelizmente, os seus rins não se formaram corretamente e à medida em que ela crescia seus rins começaram a falhar. Ela viveu por apenas dois anos, mas naqueles dois anos aprendi o que era amar um cão. Fiquei devastada quando ela morreu”, explica.

O relato poderia ser apenas uma experiência comum de alguém amargando a perda de um animal doméstico. Porém, no caso de Susana, a experiência fez com que ela não conseguisse mais se alimentar de animais, embora não definitivamente. “Eu não conseguia ver a diferença entre a minha amada cachorra e os animais em meu prato. Comecei a assistir vídeos sobre bem-estar animal e doei dinheiro para grupos de ativismo animalista. Tentei ser vegana, mas não consegui por uma infinidade de razões, principalmente força de vontade e educação”, admite.

Quando se mudou para o Estado do Oregon em 2002, ela ouviu pela primeira vez alguém falando em animais “criados de forma humanitária”, em referência à carne e aos laticínios com “certificado humanitário”; e aquilo chamou a sua atenção, já que em Saginaw, Michigan, sua cidade natal, nunca ouviu tal termo, simplesmente porque as pessoas não pensavam em carne como partes de animais, mas apenas como algo para comer. “Tendo sido enganada pelo fascínio da carne abatida humanamente, vejo a grande ironia dessa estratégia de rotulagem. Os profissionais de marketing precisam trabalhar mais para dessensibilizar as pessoas que estão mais conscientes da verdade. Consumidores que têm alguma compreensão da injustiça de se matar animais, mas optam por pagar por isso, precisam trabalhar mais para rejeitarem a realidade de suas próprias escolhas”, diz.

Susana acredita que o asteísmo disso tudo é que as pessoas que optam por gastar dinheiro extra comprando produtos de origem animal que resultam do “abate com compaixão” são mais cúmplices da violência e da morte prematura de animais do que aqueles que nunca pensaram que seus hambúrgueres um dia foram indivíduos que desejavam viver: “No Oregon, comecei a comprar a mentira de que se pode matar um animal com humanidade para atender a preferência do paladar […] Claro, a voz mais suave da compaixão muitas vezes é difícil de ser ouvida.” Ela percebeu o próprio contrassenso vindo de alguém que não queria   machucar qualquer ser vivo, nem mesmo pequenos insetos que se afogavam em poças.

Antes de se tornar vegana, Susana Romatz aceitou um emprego em uma fazenda de “cabras felizes” e na mesma época comeu o seu primeiro hambúrguer preparado com carne de um animal supostamente abatido de forma humanitária. Foi mais além. Passou a comprar peitos e bifes orgânicos de frango. Para aliviar a consciência, pagou bem mais caro em pedaços de bacon com “certificado humanitário”:

“É incrível o que você consegue bloquear quando coloca força nisso. Eu, que dez anos antes tinha me reduzido às lágrimas, observando vídeos secretos de como os animais de criação eram tratados – privados, violentados, esfaqueados, degolados, eletrocutados – agora estava trabalhando em uma fazenda de produtos lácteos onde recém-nascidos eram tirados de suas mães logo após o nascimento, e seus gritos de aflição eram ignorados.”

Para não ter um grande conflito de consciência, Susana se esforçou para evitar pensar a respeito. Mas às vezes uma compreensão lancinante do que estavam fazendo era inevitável. Enquanto trabalhava, ela acreditava que os animais tinham seus chifres removidos para a sua própria segurança, e que o processo era indolor. Até que uma vez testemunhou como isso realmente era feito. “Os cabritos foram capturados e seus chifres queimados com ferro quente enquanto eles gritavam e chutavam tentando escapar. Depois de libertados, ficavam tão abalados que tropeçavam e saíam balançando a cabeça violentamente, confusos e com muita dor”, narra. Alguns deles nunca mais permitiram que qualquer pessoa se aproximasse sem que demonstrassem um terrível pavor.

Um dia, quando chegou ao trabalho, ela percebeu que uma das cabras de quem ela mais gostava tinha sido morta porque estava com um abscesso e uma mastite. Alegaram que o abscesso era possivelmente contagioso e que ela não estava produzindo uma boa quantidade de leite: “Tentei não pensar sobre o fato de que ela era uma cabra engraçada e brincalhona que me fazia rir o tempo todo.”

Em outra ocasião, Susana encontrou uma cabra grávida deitada e com os olhos fechados. Logo suspeitou que havia algo de errado. A cabra estava morta. Abriram-na com uma lâmina de barbear e tiraram três cabritos pálidos. “Eu podia sentir seu coração batendo tão rápido sobre a minha mão. Todos eles morreram. A mulher [proprietária da fazenda] começou a chorar balançando a cabeça e lamentou: “Oh, minha melhor provedora. Meu belo prêmio.” No entanto, não foi esse episódio que levou Susana definitivamente para o veganismo. Mais tarde, ela resgatou um chihuahua e a sua namorada disse que não poderia mais continuar se alimentando de animais. Então as duas fizeram a transição para o veganismo.

Susana Romatz era viciada em queijo. Para se ter uma ideia, ela consumia mais de dois quilos de cheddar por semana. “Experimentei alguns queijos veganos e eles eram realmente bons, mas decidi fazer o meu próprio, encontrar uma receita diferente usando ingredientes mais acessíveis. Estar no Oregon foi uma benção por causa das incríveis avelãs que crescem em todos os quintais e cantos. Os queijos ficaram tão deliciosos que decidimos criar um negócio. Como amamos a palavra latina para avelãs, Avellana, assim nasceu a Avellana Creamery”, revela em referência à sua pequena fábrica de queijos veganos baseados em avelãs orgânicas e cultivadas localmente.

Depois que se tornou vegana, Susana passou a refletir com mais clareza inclusive sobre os sinais que recebeu na infância, indicando que havia algo de errado em explorar animais. Com 10 ou 11 anos, ela testemunhou quando sua tia comprou uma máquina brilhante para a ordenha mecânica das vacas:

“Eles colocaram os tubos e a ligaram. Ela [a vaca] era bastante serena, mas me lembro de uma sensação de tristeza em sua situação. Parecia-me errado forçá-la a entregar o seu próprio leite. Embora não tenha ficado visivelmente ferida, isso me marcou profundamente. Demorei para fazer a conexão com o leite que acompanhava o meu cereal matinal. […] Em nossa cultura, temos o hábito de afastar-nos de coisas que nos trazem dor. Estou aprendendo que se afastar não ajuda em nada. Encarar de frente o que nos aflige nos dá a oportunidade de transformar o que é prejudicial em algo bonito. Não é difícil ficar sem carne ou laticínios. Difícil é ver as pessoas presas a uma mentalidade em que suas decisões diárias estão fundamentalmente e violentamente em desacordo com seus valores morais básicos. Nós podemos e devemos fazer o melhor.”

Referência

Romatz, Susana. My journey from “humane” dairy farmer to vegan cheese maker. Humane Facts (março de 2017).





 

Harold Brown, o pecuarista que se tornou um defensor dos direitos animais

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Brown: “Até que questionemos esse relacionamento que existe há cerca de 10 mil anos, teremos dificuldade em ver os animais com novos olho” (Acervo: Farm Kind)

Filho de pecuaristas, Harold Brown cresceu em uma fazenda repleta de animais – bois, vacas, porcos e cabras. Começou a acreditar desde cedo que os animais existiam simplesmente para servirem aos seres humanos. “Cresci imerso em uma doutrinação de como os animais estão classificados no ciclo da vida. Também fui um caçador”, relata. Além da sua família, o que ajudava a reforçar a ideia de que Brown estava no “caminho certo” ao tomar parte na exploração animal era a sua própria comunidade, a igreja e a TV.

“Cada intervalo [na TV] tem pelo menos um comercial vendendo produtos com carne, laticínios ou ovos, e eles são inventivos. Quando via isso, eu pensava que estava fazendo uma coisa boa”, afirma. Aos 18 anos, Brown teve um ataque cardíaco, e na época não entendeu o que aconteceu. Ele estava assistindo a um filme e tomando meio galão de sorvete, até que o lado esquerdo do seu pescoço começou a doer. A dor se estendeu para a mandíbula, ombros e se espalhou pelo braço esquerdo. “Eu estava no chão e não conseguia respirar. Parecia uma eternidade, mas durou apenas alguns minutos. Eu não conhecia os sintomas de um ataque cardíaco”, enfatiza.

Mais tarde, seu pai teve dois ataques cardíacos, um acidente vascular cerebral (AVC) que o privou da fala e um aneurisma que quase o matou. Então o médico informou que levando em conta o histórico familiar, Brown, assim como o pai, tinha uma predisposição a desenvolver graves problemas cardíacos. “Disse que se eu não mudasse o meu estilo de vida, teria que usar um marca-passo aos 35 anos. Falou que eu deveria cortar o sorvete, que era um vício para mim, e a carne vermelha. Não sugeriu ser vegetariano. Além disso, eu não saberia o que isso significava. Nunca ouvi falar disso até então”, revela.

Em casa, Harold conversou sobre a sugestão do médico com a esposa e os dois decidiram fazer uma transição para uma alimentação livre de alimentos baseados em calorias vazias e livre de carne vermelha. Em pouco tempo, ingressaram no Clube Vegetariano de Cleveland e se tornaram realmente vegetarianos. À época, Brown conheceu o trabalho dos médicos Caldwell Esselstyn e Michael Greger, defensores da alimentação livre de ingredientes de origem animal.

Alguns anos depois, Harold considerou insuficiente ser vegetariano, inclusive essa etapa de sua história foi registrada no documentário “Peaceable Kingdom – The Journey Home” ou “Reino Pacífico – A Jornada Rumo ao Lar”, lançado por Jenny Stein em 2009. Segundo Harold Brown, mesmo convivendo com animais desde muito cedo, ele não tinha percebido como desenvolveu um mecanismo que o impedia de ver os animais como sujeitos de uma vida.

“Eu tinha uma imagem imediata na minha cabeça de uma luz sobre o meu coração que eu poderia ligar ou desligar dependendo com quem eu estava lidando. Também percebi que a sugestão para esse mecanismo de desconsideração era a frase: ‘Não me importo’”, frisa. No seu entendimento, o ato de negar-se a se importar com os animais permitiu que ele vivesse desconectado emocionalmente, psicologicamente e espiritualmente em relação a eles.

Harold Brown chegou a um ponto em que não considerava mais correto continuar imerso nessa crença de desconsideração. “O que aprendi então foi que ao escolher não dizer que não me importo, então não haveria alternativa a não ser dizer: ‘Eu me importo’. Chamarei isso de cuidado condicional, mas pode ser melhor entendido como compaixão incondicional, que mudou profundamente a minha vida. Tive que trabalhar duro para aprender a praticar a honestidade emocional; algo que nossa cultura não ensina às pessoas, e particularmente aos homens”, avalia.

Um grande problema na perspectiva de Harold, e que dificulta o entendimento de que o respeito à vida animal deve estar muito além de “tratar bem” para explorá-los e matá-los, é que a honestidade emocional é substanciada como contraintuitiva para os homens em nossa cultura, sendo vista inclusive como sinal de fraqueza: “Mas no coração do meu coração eu sabia que era onde eu precisava estar. Se eu quisesse fazer qualquer tipo de diferença em prol de um mundo melhor, eu teria que viver essa verdade.”

Brown admite que não se tornou vegano apenas pela própria força de vontade. Ele teve muito apoio da esposa e de amigos da comunidade vegetariana de Cleveland: “Se eles não me proporcionassem um espaço seguro para explorar os traumas da minha vida, provavelmente eu não teria aprendido a entender verdades muito importantes. Uma dessas verdades é a ahimsa, a não violência.” O ex-pecuarista crê que não há ação sem reação no que diz respeito ao tratamento que dispensamos aos animais. Se os exploramos e os matamos em algum ponto isso também há de gerar consequências para nós.

Para Harold Brown, a forma como vivemos nossas vidas, e as coisas que fazemos ou não fazemos, têm tudo a ver com a realidade que criamos. Ele se recorda que na infância observou que os animais criados para consumo buscavam conforto, prazer, boa comida, abrigo e senso de comunidade. “Mas não permiti que essas observações atingissem a cultura dominante em que vivi. Quando me permiti incluir esses animais no meu universo moral, ficou claro que as observações mais simples que fazemos sobre os animais que chamamos de ‘animais de estimação’ não são diferentes das que poderíamos fazer sobre os ‘animais de fazenda’”, confidencia.

Brown, que antes de se tornar vegano trilhava os passos do pai, ou seja, já atuava na criação de animais para consumo, defende que os animais devem ser respeitados como seres sencientes que são. “Isso significa que eles estão na Terra por suas próprias razões, não pelas nossas. Eles têm seus próprios interesses, assim como os humanos, e devem ser respeitados. Por enquanto, são vistos como propriedade legal dos seres humanos, e essa dinâmica os coloca em grande desvantagem; particularmente em um sistema capitalista de livre mercado, onde os animais são comercializados nitidamente como commodities, unidades econômicas. Até que questionemos esse relacionamento que existe há cerca de 10 mil anos, teremos dificuldade em ver os animais com novos olhos”, acredita. Desde que se tornou vegano, Brown ministra palestras contando a sua própria história e motivando mais pessoas a seguirem o mesmo caminho contra a exploração de animais.

Saiba Mais

Harold Brown vive em Cleveland, em Ohio, nos Estados Unidos.

Referência

FarmKind.org