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Hoje é aniversário do Tio Lu
Hoje é aniversário do Tio Lu, da Oficina do Tio Lu. Fui até a Vila Alta dar um abraço nele e conversar um pouco. Ele está muito feliz de chegar aos 87 anos com pique para trabalhar e para ajudar a garotada do bairro. Tio Lu, que foi tema do meu documentário “Oficina do Tio Lú“, usa a arte como meio de afastar crianças e adolescentes das ruas, das drogas e do crime.
Um exemplo do nível da nossa política atual
Fui ontem na Vila Alta, bairro da periferia de Paranavaí, conversar com um amigo, o artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima. Na ocasião, ele e outros moradores me relataram que nas últimas duas semanas apareceram vários candidatos a vereador, que até então nunca foram ao bairro, alegando serem os responsáveis pelo asfalto que existe naquele lugar desde o ano passado.
Na realidade, toda a malha viária da Vila Alta foi feita através de uma reivindicação dos próprios moradores, e com recursos do PAC. Ou seja, tais candidatos são basicamente mentirosos e picaretas querendo levar vantagem sobre os mais humildes.
Vão a bairros pobres para tentar enganar os moradores. Depois me perguntam porque é desanimador votar hoje em dia. É esse tipo de gente que mais briga para ocupar um cargo eletivo na atualidade.
As transformações da Vila Alta
Era um abandono total e você pode não concordar, mas acredito que o nosso trabalho tem parte nisso
Fiquei feliz e emocionado hoje quando visitei o artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima, o Tio Lú, idealizador da Oficina do Tio Lú, na periferia de Paranavaí. Durante um tranquilo bate-papo, ele me relatou que a Vila Alta não é mais o mesmo bairro de três anos atrás.
“Aqui antigamente você via briga direto nas ruas, nem que fosse bate-boca e confusão por bobagem. Assassinatos ou outros tipos graves de crimes não acontecem no bairro tem muito tempo. São raros. Nem sei te dizer quando foi a última vez. E notei que até moradores agressivos estão mais tranquilos, mais civilizados, mais tolerantes. Sempre fico sabendo de novos casos de criminosos que abandonaram a vida errada. Até as crianças estão mais conscientes de certo e errado, de suas obrigações. Parece que muita gente do bairro hoje se sente mais humana, menos insignificante. É como um renascimento. Aqui era um abandono total e você pode não concordar, mas acredito que o nosso trabalho tem parte nisso. Foi só depois que você começou a frequentar o bairro, ajudando, dedicando tempo, fazendo documentários e reportagens sobre a oficina e a vida dos moradores da Vila Alta, que surgiram melhorias, que a atenção se voltou um pouco para este lugar, melhorando até a autoestima da população. Você fez a Vila Alta existir para quem nem sabia que existia periferia em Paranavaí. Claro, não somos perfeitos, a oficina tem suas falhas, mas acredito que ela também tem feito a diferença no bairro, principalmente na vida dos mais jovens. E vejo os pais e avós também reconhecendo isso, o que é muito importante. Estou perto de completar 86 anos e às vezes tenho a impressão de que estou chegando no fim da linha, mas quero persistir e ver novas mudanças. Com a sua ajuda, quero continuar sonhando mais pelos outros do que por mim. Não tenho mais ambições pessoais na vida, a não ser ajudar essa molecada.”
A Oficina do Tio Lú é um dos trabalhos mais belos que conheci e tive o privilégio de acompanhar de perto. Durante a conversa, não pude deixar de dizer como é admirável ver alguém se doar tanto aos 85 anos, ainda mais levando em conta que nessa etapa da vida o ser humano tem grande facilidade em sofrer com crises existenciais. Também acho justo dizer que não consigo enxergar meu trabalho como tão importante, mas é muito gratificante ouvir algo assim do Tio Lú, de quem me tornei amigo no início de 2009.
O dia em que Tio Lú escapou da morte
O artista plástico Tio Lú, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, me contou hoje uma história que acho interessante compartilhar. Durante o relato, me recordei de “A Narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket”, de Edgar Allan Poe, que anos depois deixou de ser apenas ficção para se tornar realidade, fazendo muitos de seus leitores refletirem sobre a quimera que envolve questões de probabilidade e impossibilidade.
Há cinco anos, Tio Lú estava pedalando pela Rua Pernambuco, perto do antigo depósito dos Correios, quando lhe chamou a atenção o fato de um homem passar diante dele vestindo roupas iguais e com as mesmas cores – sandálias amendoadas de couro, camisa azul e calça jeans escura. Assim como Tio Lú, o sujeito também era alto, negro e tinha cabeça raspada, além de composição corporal muito semelhante.
Por descuido, o homem quase esbarrou nele e seguiu guiando a bicicleta, também da mesma cor, com pressa, logo desaparecendo no horizonte. Intrigado, mas despreocupado, o artista plástico continuou pedalando, até que de repente ouviu um tiro que passou raspando à direita de sua camisa. O outro balaço coincidiu com o momento em que Tio Lú jogou a bicicleta sobre a calçada, se lançando sobre o pavimento de mosaico português e assim se livrando da morte.
Assustado, olhou para trás e viu um rapaz correndo e empunhando um revólver calibre 38. “O que é isso? Você tá louco?”, questionou Tio Lú, lívido e com o corpo trêmulo. O homem o observou rapidamente, o ignorou e prosseguiu acelerado. Desorientado, o artista plástico só conseguiu se levantar cinco minutos após o choque. No dia seguinte, ficou sabendo que ele foi confundido com o homem mais tarde assassinado na Rua Pernambuco, em Paranavaí.
Tio Lú e o reencontro com um ex-aluno
“O verdadeiro malandro sou eu que estou nesta vida com 85 anos e nunca fui preso, nunca usei drogas, nunca fumei. Tu acha que é malandragem estar na cadeia, sem liberdade pra fazer nada?”
Palavras do artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima, conhecido como Tio Lú, morador da Vila Alta, na periferia de Paranavaí, no reencontro com um ex-aluno de 18 anos que deixou a cadeia recentemente. O artista é bem conhecido pelo trabalho de recuperação de jovens em situação de vulnerabilidade social. Em mais de dez anos, já afastou muitos do mundo das drogas e do crime.
Visitando Billy
Hoje, no final da tarde, fui até a casa do artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima, na Vila Alta, na periferia de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, visitar o Billy, cachorro do ex-morador de rua Jessé Piedade que está fazendo tratamento contra o alcoolismo na Casa da Misericórdia, de Apucarana, no Norte do Paraná. Quando cheguei lá, Billy fez a maior bagunça – começou a rodopiar e a saltar. Assim que se acalmou, aproveitei para registrar o momento. Billy, que hoje está sob a guarda do Tio Lú, tem uma história de vida muito bonita.
Quando filhote, foi abandonado na sarjeta do Terminal Rodoviário de Paranavaí num dia de chuva. E para piorar, um dos guardas do local o deixou cego de um olho ao usar uma arma de eletrochoque para expulsá-lo de lá. Jessé, revoltado, partiu pra cima do guarda e o impediu de machucá-lo mais ainda. Desde então, se passou dois anos, e hoje Billy é esse animal alegre e saudável que vocês podem ver na foto.
A sina de Nenê, um ex-peão de boiadeiro
Enquanto gesticula, coça a cabeça e sorri de forma acanhada, ele informa que é dia de música
Na Rua B da Vila Alta, enquanto eu converso com o artista plástico Tio Lú em frente a um terreno baldio, um homem se aproxima. Não entendo quase nada do que ele diz e suspeito que o sujeito esteja embriagado. Ele carrega um relógio muito bonito, que já não funciona mais. Tio Lú pede que eu aguarde um minuto, entra dentro de sua casa e traz um rádio pequeno. Nenê sorri efusivamente e pega o radinho com uma das mãos. Exibindo os poucos dentes que lhe restam na boca, parece uma criança quando ganha um doce.
Ele segura minha mão e diz algumas frases – entendo não mais do que meia dúzia de palavras e o observo se afastando. Então pergunto ao Tio Lú se ele pode chamar o Nenê novamente para responder uma ou duas perguntas. Em menos de 30 segundos, Nenê retorna e me diz com muita dificuldade que já foi peão de boiadeiro.
Conta que não sente falta dos tempos de boiadeiro, apenas da saúde. Anos atrás, antes de prometer a si mesmo que jamais montaria em um animal novamente, caiu de cima de um touro e bateu a cabeça com força no chão de terra, ficando em coma por vários dias. Quem o conhecia como boiadeiro, decidiu se afastar, julgando que o rapaz nada mais tinha a oferecer. A queda o deixou com graves sequelas, dificultando sua fala, dando a impressão de que está sempre embriagado.
Enquanto gesticula algumas vezes, coça a cabeça e sorri de forma acanhada, ele informa que hoje é dia de música. “Vô rum-a píi-a po radímm”, explica com dificuldade. Dias atrás, Nenê estava caminhando perto da estrada de terra da Farinheira Cassava quando alguns jovens começaram a importuná-lo. Como ele não gosta de briga, tentou se afastar, mas o jogaram no meio de uma roda, o empurraram e o estapearam até que as agressões se intensificaram.
Sem ter como fugir, Nenê derrubou quatro rapazes, distribuindo apenas quatro socos. “Ele é quieto, mas extremamente forte”, declara Tio Lú que toda semana separa algum objeto para entregar a Nenê que gosta de caminhar ladeado pelo Bosque Municipal, tratando cada presente como um motivo a mais para viver no seu universo de inocência e redescoberta tardia.
A arte sulista de Luiz Carlos Prates
Um mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso
O artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima é mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso, matérias-primas usadas para criar obras que resgatam elementos da cultura sulina.
Luiz Carlos nasceu em 1º de junho de 1930 em Alegrete, no Rio Grande do Sul, cidade natal do grande poeta Mário Quintana. O dom para as artes, descoberto na infância, foi incentivado pela avó africana que era pintora e desenhista. Na juventude, Prates de Lima decidiu investir na carreira de artista plástico e ingressou no Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Depois de formado, lecionou na Fundação Gaúcha do Trabalho. “Eu ensinava artesanato com chifres, ossos, madeira e couro”, afirma Luiz Carlos que trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos. O artista que produz arte com as mais diversas matérias-primas é especialista não apenas na criação de esculturas, mas também de pinturas e desenhos. “Gosto de tudo relacionado à arte, e hoje quero passar isso para os outros porque já estou em idade avançada”, pondera.
Luiz Carlos conheceu Paranavaí há muito tempo, contudo só voltou a cidade em 1997, quando decidiu fixar residência. “Gostei muito daqui, e nesse período percebi que o pessoal gosta muito de obras em chifre e madeira. Também encomendam peças feitas com ossos, nem que seja por curiosidade”, revela, acrescentando que até hoje nunca precisou criar nenhuma obra que não gostasse.
O que mais chama atenção é que as peças feitas por Luiz Carlos Prates remetem à cultura sulista. Os exemplos estão no pequeno atelier improvisado no quintal. Lá, carretas dividem o espaço com chaleiras, cuias e ervas; tudo feito em madeira. A atmosfera rural do ambiente também parece contribuir para a plasticidade das obras. Quase tudo lembra outros tempos, até o esmero do artista ao entalhar e lixar uma peça menor que um dedo. São lembranças tornadas materiais e palpáveis do passado de Luiz Carlos.
Artista já produziu até 70 peças por semana
O carinho do artista ao segurar cada obra dá uma ideia do valor que a arte agrega a sua vida. Após mais de 60 anos de profissão, Luiz Carlos Prates de Lima ainda é exigente consigo mesmo. Realiza trabalhos sob encomenda, porém entrega uma peça apenas quando tem certeza que deu tudo de si.
“Há obras que levam até dois meses, mesmo trabalhando o dia todo. Exemplo é um quadro aplicado que fiz”, explica. Já outras peças são feitas em pouco tempo. O artista conta que dependendo do pedido chega a produzir até 70 obras por semana. “Além do Paraná, já enviei peças para o Japão, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e outros estados. Acho que para o Brasil todo”, garante em tom de orgulho.
Para o artista de fala calma e pausada, a matéria-prima mais fácil de manipular é a madeira, já o chifre é considerado o mais difícil. “O entalhe todo do chifre é feito só com lixa. É bem artesanal e tem que ter paciência”, justifica. Uma das obras mais produzidas pelo artista plástico é a carreta que leva cerca de uma semana para ficar pronta. Até hoje, Prates de Lima criou pelo menos 120. Uma curiosidade sobre as obras do artista é a influência indireta do naturalismo. Luiz Carlos evita dar brilho às peças, não as idealizando para não distanciá-las da realidade. “Gosto do verniz fosco, um trabalho encerado de madeira, sem brilho”, comenta.
Curiosidade
Quando morava no Rio Grande do Sul, antes de tornar-se evangélico, o artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima construía carros alegóricos, fantasias de carnaval e até escrevia enredos para escolas de samba.
Contato
Interessados em conhecer o trabalho do artista plástico podem ligar para (44) 9865-1391.