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Guerra da Tchetchênia, irmãos Tsarnaev e o orgulho “americano”
Por que esses estadunidenses tão patriotas não se recusaram a enterrar gente como Jeffrey Dahmer?
Estudei a Guerra da Tchetchênia durante muito tempo. E isso me levou a me aprofundar no perfil e na formação cultural, social, política e religiosa dos tchetchenos. Ainda assim, não me considero um entendido do assunto. Longe disso. Sou apenas um entusiasta, no máximo um curioso. Tenho como referência um jornalista que talvez seja um dos maiores especialistas do mundo no assunto, Barry Renfrew, dos EUA, que por anos conviveu com os tchetchenos quando era correspondente da Associated Press.
Dito isso, afirmo aqui mais uma vez, assim como o fiz em 2013, que suspeito que os irmãos Tsarnaev não sejam os responsáveis pelo atentado da Maratona de Boston. Na minha opinião, parecem bodes expiatórios para ocultar uma realidade mais grotesca, com motivações sociopolíticas.
Acho que a situação é mais surreal ainda quando penso que a família de Tamerlan Tsarnaev teve dificuldades para enterrá-lo. Muitos cemitérios se recusaram a receber o corpo do jovem. Aí eu te pergunto. Por que esses estadunidenses tão patriotas não se recusaram a enterrar gente como Jeffrey Dahmer? Psicopata e canibal que matou 17 pessoas e comeu a maior parte delas à caçarola, mas foi responsabilizado pela morte de 15.
Onde estava a intransigência desses administradores de necrópoles quando Henry Lee Lucas, homem que assumiu a autoria de mais de 600 assassinatos em parceria com Ottis Toole, foi sepultado no cemitério Captain Joe Byrd em Hunstsville, no Texas? E ainda teve plateia pra isso. Claro, um sujeito que come pessoas, estupra, decapita, esquarteja dezenas, centenas, merece uma bela lápide nos EUA, desde que seja verdadeiramente “americano”. Agora se você for imigrante e acusado de um crime com provas inconsistentes e ditas “secretas” merece ter seu corpo jogado em alguma valeta.
Outro ponto que considero importante. Os EUA sempre tiveram bom relacionamento com os tchetchenos, quero dizer, pelo menos por muito tempo. A maior prova disso foram as sanções que o governo estadunidense impôs aos russos por causa de violações de direitos humanos desde a década de 1990. Ou seja, são aliados há muito tempo e inimigos dos russos. Mas infelizmente nada disso vai mudar o destino de Dzhokhar Tsarnaev, o rapaz de 21 anos que aguarda a pena de morte. No entanto, faço questão de ressaltar que nos EUA ele tem o apoio dos “Veteranos Pela Paz”, ou seja, um grande número de ex-combatentes que por tantos anos defenderam a “América”.
Logo abaixo volto a reproduzir a mesma linha de raciocínio que fiz questão de compartilhar em 2013, no dia seguinte ao atentado.
Tenho acompanhado de acordo com minhas possibilidades o suposto atentado da Maratona de Boston e com base em tudo que li até hoje, até mesmo por parte de estadunidenses e outros estrangeiros, ouso dizer que o brasileiro mediano consegue ser extremamente medíocre quando se trata da falta de análise crítica e profunda dos fatos. Que falta de bom senso e mínima capacidade reflexiva é essa que faz as pessoas acreditarem em qualquer informação divulgada pelos meios de comunicação mainstream de países de “Primeiro Mundo”?
Nem mesmo quem mora nessas nações costuma simplesmente absorver essas informações como se fosse apenas uma mera esponja, um receptáculo de pseudo-elucubrações. E ainda com conteúdo reproduzido copiosamente e com uma conivência surreal dos veículos de imprensa do Brasil que tratam os EUA como se fossem um país exemplar, o que não é. Claro, muitas vezes, a grana que os sustenta costuma vir de lá, principalmente de conglomerados comandados por magnatas sionistas. Curioso que os acusados do atentado em Boston são muçulmanos tchetchenos, não? Para citar um exemplo, o que será que Rupert Murdoch pensa a respeito do assunto?
Afinal, todo estadunidense sabe que recentemente ele tentou assumir o controle de toda a grande mídia dos EUA, o que só não foi possível por causa das limitações legais do oligopólio midiático. Claro, e não posso deixar de mencionar que esse mesmo líder das comunicações é um dos maiores incentivadores do Estado de Israel, inclusive financiando ações do governo que partem de Tel Aviv e Jerusalém.
Por que quando um meio de comunicação de um país pobre, subdesenvolvido ou que vive um sério conflito civil divulga algo sempre há brasileiros colocando em xeque o conteúdo, mesmo sem entender do que se trata? E ainda em um tom de superioridade que demonstra uma severa incapacidade de autorreflexão, para não dizer uma inclinação mais do que obtusa e falseada do pensamento “americanizado”.
Eu não diria que o brasileiro desinformado costuma ser apolítico, ele consegue ser pior que isso. Não se importa em aceitar tudo que lê sem questionar – e quando o faz prefere ser jactante e frívolo. Assuntos complexos envolvem sim abstração de raciocínio e exigem boa bagagem cultural. Criticidade e bom senso parte do princípio de que tudo que você lê deve ser avaliado cuidadosamente como um cardápio de restaurante. Ou seja, é imprescindível descartar aquilo que não faz bem ao nosso organismo.
Sinto vergonha ao ver tantos brasileiros reverenciando os EUA por terem encontrado os supostos acusados do atentado de Boston no dito tempo recorde. Há “leitores” dizendo que isso deveria servir de exemplo ao Brasil. E pior, vejo brasileiros divagando na superficialidade, admirando as fardas dos estadunidenses responsáveis pelo assassinato do jovem Tamerlan Tsarnaev (quando ainda era um suspeito, não um criminoso). Dizem que é algo que impõe mais postura e respeito. Vestimenta agora é uma alusão ao senso de justiça?
Se eu não for preguiçoso e quiser saber sobre o que realmente está acontecendo nos EUA, prefiro buscar informações e discutir sobre o assunto com pessoas que acompanham a mídia considerada independente, seja nacional ou internacional – formadores de opinião que não sejam de extrema direita nem esquerdistas radicais. E claro, sempre partindo da base de que em menor ou maior proporção os livros continuam sendo a melhor fonte de informação para entender esse tipo de situação.
Ainda considero Noam Chomsky uma importante referência para compreender as problemáticas mais extenuantes da Terra do Tio Sam – seja com relação a conflitos internos e relações internacionais. Outros nomes interessantes que posso citar por ora e do próprio EUA são Benedict Anderson, Bruce Bueno de Mesquita, Norman Finkelstein e Harold Lasswell.
Não sou Anti-EUA, muito pelo contrário, admiro muito a arte produzida por eles, mas simpatizo pouco com o sistema político daquele país e principalmente com os meios de comunicação “mais populares” que estão sempre inclinados sobre si mesmos – como se o mundo se projetasse ao redor da “América”.