David Arioch – Jornalismo Cultural

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“Não teremos paz enquanto derramarmos sangue de animais”

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(Fotos: Getty)

No livro “Food for the Spirit: Vegetarianism and the World Religions”, de Steven Rosen, lançado em 1987, o escritor judeu e vegetariano Isaac Bashevis Singer afirmou que não teremos paz enquanto derramarmos sangue de animais.

“Foi necessário um pequeno passo baseado na matança de animais para que fossem construídas as câmaras de gás de Hitler e os campos de concentração [gulags] de Stalin. Todas essas ações foram praticadas em nome da [suposta] justiça social. Não haverá justiça enquanto o homem empunhar uma faca ou outra arma para destruir seres mais fracos que ele”, queixou-se.

Revolução industrial, Chicago e a matança de animais

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(Fotos: Reprodução)

Tenho estudado há algum tempo sobre a criação e a execução de animais criados para consumo durante a Primeira Revolução Industrial e após a Segunda Revolução Industrial. Isso me permite ter um entendimento melhor sobre como a violência contra os animais se intensificou no final do século 19 e início do século 20 com a ampliação da criação de espécies domesticadas em regime intensivo.

É interessante notar como Chicago teve um papel determinante nessa transformação mundial, tornando-se conhecida como o “berço da matança de porcos em regime industrial”. Foi nesse período que os suínos criados para consumo começaram a ser vistos enfaticamente, e de forma mais visceral, não mais como seres vivos, mas como pedaços ambulantes de bacon. O crescimento vertiginoso da industrialização, da maneira babélica como aconteceu, favoreceu muito a coisificação e a objetificação animal. Claro, não que não existisse antes – mas cresceu a níveis alarmantes.





Seu Santo contra a matança de animais

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Pintura: Ivanici Emília Gonçalves

No final dos anos 1940, meu avô conheceu uma fazenda de café em Paranavaí onde era proibida a matança de animais. Havia dezenas de casebres, e quem quisesse trabalhar e viver ali era obrigado a aceitar o fato de que não era permitido se alimentar de animais. Qualquer morte de animal era punida com expulsão. O dono da fazenda era conhecido como “Seu Santo”.

Ele andava mancando porque em 1944 levou uma mordida de onça na perna direita, perdendo parte de massa muscular e de massa óssea. No dia do acontecido, a onça saltou sobre uma árvore assim que ouviu o barulho de um Ford movido a gasogênio. Logo dois jovens desceram armados e se posicionaram para abatê-la.

Ciente de que ela seria morta, Seu Santo apenas gritou com os filhos: “Deixa ela. Tá no direito dela. Foi a gente que invadiu isso aqui.” O deitaram na carroceria do caminhão e partiram rumo ao Hospital do Estado. Esse lugarejo existiu por mais de 30 anos, até ser abandonado em decorrência das últimas grandes geadas. Hoje resta apenas quiçaça e uma história que parece recôndita sob a terra fragilizada.

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