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Maiores fornecedores de proteína animal não estão reduzindo as emissões de gases do efeito estufa
“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público”
Um novo indicador de sustentabilidade global divulgado esta semana revelou que os maiores fornecedores de carnes e laticínios não estão conseguindo gerenciar efetivamente as contribuições às mudanças climáticas, colocando em risco as metas da missão do Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissões de gases do efeito estufa. O indicador é resultado de um levantamento intitulado “The Coller FAIRR Protein Producer Index”, feito pela Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR), sediada em Londres.
O indicador, que serve como referência para investidores, avaliou as 60 maiores empresas fornecedoras de proteínas de origem animal – incluindo McDonald’s, KFC, Nestlé, Danone e Walmart. A conclusão foi que 60% dessas empresas foram classificadas como de alto risco se tratando de gerenciamento de sustentabilidade em todas as categorias – incluindo emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e perda de biodiversidade, uso de água, bem-estar animal, desperdício, poluição, compromisso com a produção sustentável de proteínas vegetais e segurança dos trabalhadores. Tudo isso é apontado como bastante problemático para o meio ambiente.
Tratando-se especificamente de emissões de gases do efeito estufa, o percentual é ainda mais preocupante – 72%. Apenas uma das empresas que compõem o indicador conseguiu atingir pontuações consideráveis na redução de emissões. “Está claro que as indústrias de carne e laticínios permaneceram fora do escrutínio público em relação ao seu significativo impacto climático. Para que isso mude, essas empresas devem ser responsabilizadas pelas emissões e devem ter uma estratégia confiável e verificável de redução de emissões”, disse ao The Guardian a diretora do Instituto Europeu de Agricultura e Política Comercial, Shefali Sharma.
No total, segundo o indicador, 87,5% das empresas de carne bovina e laticínios não têm divulgado dados sobre as suas emissões e gerenciamento de GEE, o que é apontado como um risco ao Acordo de Paris. O FAIRR destaca que a diversificação na produção de proteínas alternativas, ou seja, de origem não animal, é fundamental tanto para o gerenciamento dos riscos da cadeia de suprimentos com restrição de recursos quanto para aproveitar as oportunidades de crescimento do mercado. Ou seja, essas empresas precisam investir menos em alimentos de origem animal e mais em alimentos de origem vegetal.
“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público porque pagamos por sua poluição ambiental, custos de saúde pública que não são contabilizados em seu modelo de negócios. É aí que os governos precisam intervir”, enfatiza Sharma.
Referências
The Coller FAIRR Protein Producer Index. Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR)
Ibama vai multar em mais de R$ 105 milhões os fornecedores do McDonald’s, Burger King, Walmart, Unilever e Nestlé por destruírem áreas de preservação permanente
As áreas foram usadas para o plantio de soja destinado à pecuária, ou seja, à ração animal
O Ibama anunciou esta semana que vai multar em mais de R$ 105 milhões a Cargill e a Bunge, fornecedores de alimentos para animais criados para consumo, por destruírem áreas de preservação permanente, causando grande impacto no cerrado brasileiro. A ação do Ibama é consequência de uma investigação realizada pela organização ambiental Mighty Earth em 2017, expondo as práticas da Cargill e da Bunge, que fazem parte da cadeia de fornecimento de carnes e produtos lácteos de corporações como McDonald’s, Burger King, Walmart, Unilever, Nestlé, Tesco e Carrefour.
Para se ter uma ideia do impacto, foi comprovado que a Cargill e a Bunge, que atendem 61 grandes companhias, financiaram ativamente a destruição de áreas úmidas nativas, obrigando populações inteiras a se deslocarem para favorecer um desmatamento equivalente ao tamanho da Inglaterra – comprometendo a biodiversidade e a sobrevivência de animais como a onça-pintada, tamanduá-bandeira, lobo-guará e cervo-do-pantanal. As áreas foram usadas para o plantio de soja destinado à pecuária, ou seja, à ração animal.
Glenn Hurowitz, CEO da Mighty Earth, diz que, embora a responsabilidade esteja recaindo somente sobre a Cargill e a Bunge, é importante questionar também por que as grandes corporações e empresas continuam se beneficiando dessa prática criminosa. A Bunge se defendeu dizendo que achava que destruir essas áreas era uma prática legal. “O governo brasileiro claramente não concorda. Mas se a Bunge apenas adotasse o simples passo de proibir todo o desmatamento em sua cadeia de fornecimento, não estaria enfrentando esses riscos”, enfatiza Hurowitz.
Referência
Como as redes de fast food contribuíram para a expansão da exploração animal
McDia Feliz 2017 pela cura do câncer infantojuvenil é como a JBS criando uma megacampanha contra o desmatamento
McDia Feliz 2017 pela cura do câncer infantojuvenil é como a JBS criando uma megacampanha contra o desmatamento; a Coca-Cola comercializando refrigerante e prometendo reverter uma parcela dos lucros para o Instituto da Criança com Diabetes. Ou a Nestlé, a Kraft e a Hershey Company fazendo propaganda contra o trabalho escravo.
A história do ex-palhaço do McDonald’s que se tornou um vegetariano ético
“Meu desejo a todos aqueles que comem carne é que entendam que é possível ser saudável e feliz sem participar da matança de animais inocentes”
Geoffrey Giuliano nasceu em Rochester, Nova York, em 1953. Se graduou em artes cênicas pela Universidade de Nova York e depois concluiu o mestrado na mesma área. Com uma esposa e dois filhos, ele chegou a um ponto em sua vida em que o desemprego e um empréstimo estudantil o levaram a participar de todos os tipos de audições, inclusive de empresas do ramo alimentício que contratavam atores.
A única oportunidade em que viram o seu potencial foi em uma audição do Burger King, onde ele interpretou o Marvellous Magical Burger King, ícone da rede de fast food. “Foi a única oportunidade que apareceu. Minhas crenças eram minhas. ‘Se todo o resto do mundo quer matar uma vaca e comê-la, deixe que façam isso, desde que eu não participe.’ Era assim que eu justificava isso”, explicou Geoffrey Giuliano em entrevista publicada no “Hinduism Today” em março de 1991.
Giulliano já era vegetariano nos anos 1970, embora não por uma motivação verdadeiramente ética como comprova a frase acima. Depois de interpretar o famoso rei em vestes medievais que atraía principalmente crianças para as franquias do Burger King, o ator estadunidense foi contratado entre mais de 600 palhaços para representar Ronald McDonald, o personagem mais famoso da rede McDonald’s.
“Uma das primeiras coisas que me impressionou foi que o núcleo executivo do McDonald’s e a equipe da sua agência de publicidade [que sabiam exatamente como tudo era feito], nunca comiam a comida do McDonald’s. Eles tinham um chefe le cordon bleu, e era só chamá-lo que ele preparava qualquer coisa que eles quisessem”, disse.
Para interpretar o palhaço carismático, Geoffrey Giuliano recebia um salário anual de 50 mil dólares, além de chofer, limusine, um chefe de cozinha a seu dispor o dia todo, um escritório em uma cobertura e uma secretária. “Eu sentia que comer carne era prejudicial à saúde, desnecessário e muito, muito errado. Eu queria me redimir e deixar esse mundo, para sempre. E se eu pudesse ajudar alguém antes, essa seria a única razão para que eu continuasse nesse negócio de Ronald McDonald”, declarou ao “Hinduism Today”.
Giulliano ficou tão famoso como Ronald McDonald que as pessoas o paravam na rua para pedir autógrafo. Em uma carta aberta, ele explicou o motivo do seu desligamento da rede McDonald’s depois de dois anos. “Fui contra tudo em que acredito, vendendo para o gigante corporativista McDonald’s, interpretando Ronald McDonald para milhares de crianças inocentes que confiavam em mim. Também lamento dizer que interpretei o Marvellous Magical Burger King no Nordeste dos Estados Unidos, fazendo um show de mágica para crianças e promovendo as ‘glórias’ de comer carne para a corporação Burger King”, escreveu.
Em junho de 1990, Geoffrey Giuliano, o ex-Ronald McDonald, se juntou a 150 ativistas pelos direitos animais para falar sobre como a matança de animais visando a produção de alimentos não faz o menor sentido. Na ocasião, ele gritou frases como: “Carne é assassinato!” Em publicação do “The Sunday Sun”, de 1º julho de 1990, ele contou que é muito cruel comer animais.
Dez anos depois que deixou o seu trabalho como Ronald McDonald, o ator estava assistindo TV quando viu um anúncio antifumo estrelado por um dos intérpretes do Marlboro Man, que contraiu doença pulmonar por causa do tabagismo. Isso o inspirou a fazer algo a respeito do seu passado. Ele tomou a decisão de criar um show de mágica sem fins lucrativos, para conscientizar as crianças sobre o estilo de vida vegetariano, incentivando-as a respeitarem os animais e o meio ambiente.
“Quero me desculpar por ajudar a fazer lavagem cerebral nos jovens da América do Norte”, declarou. Como Ronald McDonald, Geoffrey Giuliano participou de comerciais e compareceu a muitos eventos do McDonald’s, inclusive inaugurações de franquias entre os anos de 1980 e 1982. O seu show mais conhecido era o “Ronald McDonald Safely Show”, voltado para crianças.
“Eu fazia shows, e todos os shows eram gratuitos, e havia crianças que nunca viram nenhum [tipo de] show em suas vidas. Eles corriam até mim, choravam e riam. As crianças eram maravilhosas. Isso foi o que me impediu [de continuar sendo o Ronald McDonald]”, justificou.
Em entrevista ao documentário “McLibel: Two Worlds Collide”, lançado em 1998 e dirigido por Franny Armstrong e Ken Loach, Giuliano revelou que a ideia era convencer as crianças de que os hambúrgueres não têm nada a ver com uma vaca morta, que eles crescem em um lugar feliz e você apenas os arranca com a ajuda de um cara roxo, do Hamburglar, e todos os outros personagens.
“Eles encobriram esse massacre de animais inocentes como em um conto de fadas. Uma vez fui à fábrica onde as galinhas são ‘preparadas’ para fazer o McNuggets. Elas entravam de um lado vivas e saíam mortas do outro lado. O cheiro era horrível. Havia algo escorregadio e nojento no chão, e você sabia que era um lugar de morte”, enfatizou.
Geoffrey Giuliano, que criou os quatro filhos como vegetarianos, se recordou em entrevista ao “Hinduism Today” que ele tinha muita facilidade para fazer as crianças sorrirem. Em suas visitas como Ronald McDonald ao Hospital de Crianças de Toronto, no Canadá, onde ele visitava pacientes em fase terminal, um dia uma enfermeira disse para ele não entrar em um dos quartos porque o garotinho que ele pretendia visitar estava em coma profundo.
“Bom, se ele está tão distante [em coma profundo], o que pode machucá-lo?”, questionou. Então caminhou até a criança, mexeu em seu nariz, fez um pequeno truque de mágica, sussurrou em seu ouvido e segurou sua mão. “Juro por Deus, ele saiu do coma e sorriu. Foi inacreditável!”, garantiu.
Longe dos holofotes, Giulliano se especializou na produção de biografias e se tornou um autor bem-sucedido. Publicou livros sobre a vida de Paul McCartney, George Harrison e Pete Townshend, além de um livro de entrevistas raras dos Beatles. Em publicação do “Hinduism Today” de março de 1991, ele se desculpou novamente com todos os vegetarianos, principalmente aqueles que, por causa do seu trabalho como Ronald McDonald, tiveram dificuldades em convencer seus filhos a seguirem uma dieta vegetariana.
“Meu desejo é que todos aqueles que comem carne entendam que é possível ser saudável e feliz sem participar da matança de animais inocentes”, destacou.
Referências
Armstrong, Franny. Loach, Ken. McLibel: One-Off Productions e Spanner Films. Two Worlds Collide (1998).
https://www.hinduismtoday.com/modules/smartsection/item.php?itemid=804
http://www.mcspotlight.org/people/interviews/guilliano_geoff.html
http://www.mcspotlight.org/people/witnesses/advertising/guiliano_geoff.html
http://www.thenazareneway.com/vegetarian/ronald_mcdonald_is_now_a_vegetar.htm
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Como o McDonald’s é apelão. Vi há pouco um novo comercial deles, fazendo parecer que os alimentos usados no McDoença Feliz são orgânicos. Gente colhendo tomates em uma cestinha, e daqueles mais visualmente atrativos do que os do pós-impressionismo de Cézanne. E acho que não preciso dizer que muitos compram essa ideia.
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Quantas vezes comi no McDonald’s na minha vida? Nenhuma. Consigo contar nos dedos das duas mãos quantas vezes entrei em algum estabelecimento das grandes redes de fast food. Claro que isso é algo pessoal, mas me recordo que quando eu era bem mais jovem sempre encontrava pessoas tentando fazer com que eu me sentisse alienado por isso.