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Animais que produzem medicamentos a partir de plantas podem despertar novas discussões sobre a senciência e a inteligência animal
A medicina não é exclusivamente uma invenção humana, e muitos outros animais são conhecidos por se automedicarem com plantas e minerais
Este mês, a Scientific American, uma das revistas científicas mais prestigiadas dos Estados Unidos, publicou um artigo intitulado “Orangutans use plant extracts to treat pain”. Ou seja, “Orangotangos usam extratos de planta para tratar a dor”. No artigo, o autor Doug Main, afirma que a medicina não é exclusivamente uma invenção humana, e que muitos outros animais; como insetos, aves e primatas não humanos, são especialmente conhecidos no meio científico por se automedicarem com plantas e minerais – principalmente para tratar infecções e outras enfermidades. O que por si só já é um indicativo claro não apenas dos níveis de consciência animal, mas também de inteligência.
Mas o que mais chama a atenção no artigo, que pode despertar novas discussões sobre a inteligência animal e a senciência, ou seja, a capacidade de sentir dor, é que a pesquisadora e ecologista comportamental Helen Morrogh-Bernard, que há décadas estuda o comportamento dos orangotangos na ilha de Bornéu, encontrou evidências de que orangotangos têm produzido medicamentos de forma inédita a partir de plantas.
Helen, que trabalha para a Borneo Nature Foundation, passou mais de 20 mil horas realizando observação formal do comportamento desses animais, e constatou que ocasionalmente eles mastigam especificamente uma planta que não faz parte de suas dietas. Os orangotangos a mastigam até formar uma espuma e então a esfregam na pele. As massagens com o medicamento natural duram até 45 minutos, e normalmente o extrato é usado nas pernas e nos braços. Os pesquisadores acreditam que esse é o primeiro exemplo conhecido de um animal não humano usando um analgésico tópico fabricado por ele mesmo.
A planta, que tem o nome de Dracaena cantleyi, é um arbusto de aparência incomum com folhas riscadas, e é muito eficaz no tratamento de dores. A química do analgésico dos orangotangos da ilha de Bornéu foi estudada na Academia Tcheca de Ciências, na Universidade Palacký (em Oromouc, na República Tcheca) e na Universidade Médica de Viena.
Os pesquisadores dessas instituições, parceiros da Borneo Nature Foundation, adicionaram extratos às células humanas que foram cultivadas em um prato e as estimularam artificialmente para produzir citocinas – uma resposta do sistema imunológico que causa inflamação e desconforto. Os cientistas envolvidos na pesquisa relataram à revista acadêmica Scientific Reports que o extrato vegetal da Dracaena cantleyi reduziu a produção de vários tipos de citocinas.
Segundo o biólogo Jacobus de Roode, da Universidade Emory, sediada em Atlanta, nos Estados Unidos, o resultado realmente sugere que os orangotangos usam a planta para reduzir a inflamação e tratar a dor. Descobertas como essa ajudam a identificar plantas e substâncias químicas que podem ser úteis na fabricação de medicamentos de uso humano.
De acordo com o artigo “Orangutans use plant extracts to treat pain”, publicado pela Scientific American, em criaturas como insetos, a capacidade de se automedicar é quase certamente inata; as lagartas do tipo urso lanoso infectadas com moscas parasitas procuram e comem substâncias vegetais que são tóxicas para as moscas. Mas animais mais complexos podem aprender tais truques após uma descoberta inicial por um membro de seu grupo.
“Por exemplo, um orangotango pode ter esfregado a planta em sua pele para tentar lidar com parasitas e percebeu que ela também causava um agradável efeito analgésico”, disse Michael Huffman, primatologista da Universidade de Kyoto, no Japão. Esse comportamento pode então ter sido passado para outros orangotangos.
Aparentemente, não há registros desse tipo de automedicação fora do centro-sul de Bornéu, o que significa que a descoberta tem grande valor científico. E claro, tudo isso ajuda a endossar o fato de que não temos razão para subestimar a senciência e a inteligência animal não humana quando, cada vez mais, eles nos dão mostras de que ainda temos muito a aprender, e principalmente em relação às suas lições e ao valor da vida não humana – incluindo sua capacidade de sentir dor.
106 mil pessoas morrem anualmente em decorrência dos efeitos colaterais dos remédios nos EUA
O The Journal of the American Medical Association publicou dados que indicam que aproximadamente 106 mil pessoas morrem anualmente nos Estados Unidos em decorrência do consumo de drogas farmacêuticas. São drogas que são prescritas por médicos, não são resultados de erros médicos. E esses efeitos colaterais são normalmente esperados, e essas pessoas tomam esses medicamentos exatamente como indicado. Não são casos de overdose ou engano.
Então, se 106 mil pessoas morrem em decorrência de esperados efeitos colaterais dessas drogas apenas nos Estados Unidos, e apenas em um ano, em 23 anos isso representaria uma quantidade enorme de pessoas mortas. Estamos falando de milhões [2.438 milhões] de pessoas mortas por causa de drogas farmacêuticas. E em 23 anos, alegadamente, apenas dez pessoas morreram em consequência do consumo de suplementos de vitaminas. Claramente, temos problemas muito mais sérios em relação à prescrição nutricional. Como Roger Williams disse uma vez, o inventor do ácido pantotênico, em caso de dúvida, use a nutrição primeiro, não remédios.
A indústria farmacêutica está nesse negócio não para fazer drogas farmacêuticas; está nesse negócio para fazer dinheiro. O que acho totalmente razoável, já que há grandes corporações internacionais, e elas têm um dever com seus acionistas; e isso é o que corporações fazem, elas fazem dinheiro. Vivemos em uma sociedade capitalista e não acho que isso seja ruim. Acho que o capitalismo tem grandes vantagens, e acho que é preciso ponderar sobre os dois lados. O problema é a forma como a indústria farmacêutica é regulada. Por um lado, acredito que temos bons reguladores, mas por outro lado péssimos reguladores.
A indústria farmacêutica paga aos reguladores que deveriam inspecionar as drogas, paga os pesquisadores acadêmicos que deveriam realizar pesquisas com essas drogas, e frequentemente remunera os profissionais que vão realizar testes com essas drogas. Eles também colocam publicidade nos jornais de medicina, e muitos dos jornais de medicina recebem dinheiro da indústria farmacêutica.
Se checarmos a literatura médica dos últimos 65, 75 anos, há milhares de provas de que grandes quantidades de bons nutrientes curam doenças. Você não tem como ter acesso a muitos desses artigos, porque eles dizem que a United States Library of Medicine se recusa a indexá-los. Isso não é interessante? Então isso significa que há jornais lá fora que estão em uma espécie de lista negra por dizerem a verdade.
Tudo que foi publicado no Jornal de Medicina Ortomolecular, do qual sou editor-assistente, ao longo de 41 anos, e isso significa centenas de artigos, nada disso foi indexado pela United States Library of Medicine, que se autointitula a maior biblioteca de medicina da Terra. Então, o que parece puramente científico e acadêmico, como jornais, publicações, e toda essa edificação da ciência, atualmente foi transformado em uma extensão do departamento de marketing da indústria farmacêutica.
Depoimentos
Dan Rogers, médico especialista em medicina integrativa.
Ian Brighthope, professor de medicina nutricional.
Phillip Day, jornalista investigativo.
Jerome Burne, jornalista com especialização em saúde e medicina.
Andrew W. Saul, doutor em nutrição terapêutica e editor-assistente do Jornal de Medicina Ortomolecular dos Estados Unidos.
Fonte: Food Matters, de James Colquhoun e Carlo Ledesma, lançado em 2008.
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O sofrimento dos animais nos testes de toxicidade
A indústria farmacêutica realiza testes de toxicidade em animais e mais tarde lança no mercado medicamentos que serão usados por animais. Ou seja, animais sofrem e são inclusive mortos para que outros animais sejam tratados. Faz pensar, não? Na foto, é possível ver a expressão de satisfação de um animal dando sua saúde e vida para que o ser humano e outros animais possam consumir medicamentos.
Isso é totalmente desnecessário hoje em dia. Há uma organização internacional que inclusive atua no Brasil, chamada Cruelty Free International. Eles oferecem toda a consultoria necessária para a substituição dos testes em animais. A Cruelty Free é responsável pelo fim de testes em animais em diversos países, inclusive em alguns estados brasileiros. Em março, eles conseguiram banir o teste em animais na Guatemala, com aprovação do Congresso. No site deles tem uma lista de alternativas:
https://www.crueltyfreeinternational.org/why-we-do-it/alternatives-animal-testing