Archive for the ‘Meio Ambiente’ tag
A falácia de Ricardo Salles sobre Chico Mendes
Marina Silva publicou no Twitter que o ministro Ricardo Salles desconhece a relevância de Chico Mendes. Salles respondeu que está indo se informar e compartilhou uma matéria de 2014 em que a família de Chico Mendes é acusada de desvio de recursos.
No Google, você encontra apenas uma notícia, e repetida por diversos meios, de 2014. Sendo assim, se eles cometeram alguma ilegalidade e tiveram definitivamente que devolver recursos públicos, por que não há mais nenhuma matéria sobre o assunto nos últimos anos? Que eu saiba não tem ninguém da família de Chico Mendes preso por improbidade administrativa.
Outra coisa, o falecido ambientalista Chico Mendes é responsável por algo que sua família possa fazer décadas depois? Então quer dizer que se um primo do Ricardo Salles, por exemplo, mata alguém, sem que haja o envolvimento dele, nós podemos culpá-lo pelo assassinato? Não, mas claro que podemos lembrá-lo que ele foi condenado em dezembro, um fato recente, por fraude no Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê.
Que argumento mais fragilizado, embora típico da capciosidade desse pessoal que tem promovido o anti-intelectualismo no Brasil. Apenas jogam com o populismo barato para ludibriar a população mais incauta.
A deslealdade vergonhosa de Ricardo Salles sobre Chico Mendes
Em entrevista ao Roda Viva, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles deu a entender que quando se fala do Chico Mendes é preciso ouvir os dois lados – o dos ambientalistas e também o dos agropecuaristas em relação à Amazônia. E que segundo ele, Chico Mendes não é o que dizem ser. Chico Mendes morreu milionário ou bilionário atuando como ambientalista? Não. Já escrevi sobre isso em um artigo há algum tempo. Quem será que tem mais interesses escusos e nocivos em relação ao meio ambiente? Pra mim, é uma questão bem lógica.
Não conheço nenhum ambientalista que tenha feito o estrago daqueles que lucram com a degradação ambiental. E que credibilidade tem tais observações vindo de alguém que já foi condenado ao fraudar o processo do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê? Simplesmente não consigo não ver o Ricardo Salles como um oportunista tentando confundir a população. O sujeito diz isso no Brasil, um dos países que mais mata ambientalistas.
Veja a história da freira Dorothy Stang, do José Cláudio Ribeiro da Silva e da Maria do Espírito Santo. O retrato mais comum é de pessoas simples morrendo por um ideal. Querer comparar quem lucra milhões ou até bilhões de reais com a exploração do meio ambiente com o ideal de um ambientalista, ainda que cometesse equívocos ou tivesse má conduta em alguns momentos, é de uma deslealdade vergonhosa.
Bancada ruralista, Bolsonaro e meio ambiente
Bancada ruralista, com seus 261 deputados federais e senadores, anunciou hoje apoio à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). Depois que votar no Messias, não esqueça de compartilhar aquelas matérias sobre o impacto da agropecuária no meio ambiente, aquelas reportagens contra a exportação de animais vivos.
Acredito que o tipo de apoio que um candidato recebe diz muito sobre quem ele realmente vai representar. Até porque apoios que não são bem-vindos são prontamente rejeitados. Bancada BBB, não, obrigado. Líderes “evangélicos” de moral duvidosa mandando pastores pedirem votos aos fiéis, grandes empresários forçando seus anseios políticos sobre seus funcionários, mesmo que para isso seja necessário dissimular um cenário fantasioso.
Posso estar exagerando, mas isso me lembra a política do café com leite, ou mesmo notícias atemporais de patrões que “levavam” os empregados para votar. Meu avô me contava muito essas histórias. Fico imaginando qual vai ser o futuro de uma nação onde uma vitória política pode significar a fusão de um ministério tão importante quanto o do meio ambiente com o da agricultura, ainda mais em um país onde o lucro está acima de tudo. O que pensariam sobre isso figuras como Chico Mendes, a freira Dorothy Stang, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo? Mortos brutalmente tentando defender aquilo que não tem preço – o meio ambiente.
Vivemos no país que mais mata ativistas ambientais, e há pessoas que querem eleger um sujeito que inclusive sugeriu o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 916/13, que previa a proibição aos agentes de fiscalização ambiental de usarem armas de fogo. Que momento estranho, que realidade estranha.
Natalie Portman: “Eu não como animais”
A atriz se tornou vegetariana aos nove anos e vegana há sete anos
Na semana passada, a atriz e produtora Natalie Portman, que recentemente lançou o documentário “Eating Animals”, inspirado no livro homônimo de Jonathan Safran Foer, participou do The Late Show with Stephen Colbert.
Depois de comentar que ela agora tem um documentário chamado “Eating Animals”, Colbert a questionou se ela não se alimenta de animais: “Eu não como animais”, respondeu Natalie Portman, acrescentando que se tornou vegetariana aos nove anos e vegana há sete anos.
Colbert admitiu que experimentou uma dieta completamente livre de alimentos de origem animal por sete meses. “Nada que tivesse olhos passou pelos meus lábios. Nada com casco, penas, escamas; sem leite, sem laticínios ou qualquer coisa parecida por sete meses” revelou. O apresentador, que acabou cedendo, relatou que está tentando ser vegano novamente.
Sobre “Eating Animals”, que no Brasil deve receber o título de “Comer Animais”, assim como o livro, Natalie explicou que o documentário todo é voltado para a discussão sobre a agropecuária industrial, que representa 99% de todos os animais criados para consumo nos Estados Unidos, incluindo carnes, ovos e laticínios.
“É a fonte número um de poluição, superando carros ou qualquer outra coisa”, afirmou. Quando começaram a falar sobre “carnes mais sustentáveis”, proveniente de pequenos criadores de animais, Natalie Portman argumentou que, embora pequenas propriedades sejam melhores para o meio ambiente, elas não têm condições de sustentar a demanda dos consumidores por produtos de origem animal – o que indica que a abstenção desse consumo é o melhor caminho.
Maiores fornecedores de proteína animal não estão reduzindo as emissões de gases do efeito estufa
“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público”
Um novo indicador de sustentabilidade global divulgado esta semana revelou que os maiores fornecedores de carnes e laticínios não estão conseguindo gerenciar efetivamente as contribuições às mudanças climáticas, colocando em risco as metas da missão do Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissões de gases do efeito estufa. O indicador é resultado de um levantamento intitulado “The Coller FAIRR Protein Producer Index”, feito pela Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR), sediada em Londres.
O indicador, que serve como referência para investidores, avaliou as 60 maiores empresas fornecedoras de proteínas de origem animal – incluindo McDonald’s, KFC, Nestlé, Danone e Walmart. A conclusão foi que 60% dessas empresas foram classificadas como de alto risco se tratando de gerenciamento de sustentabilidade em todas as categorias – incluindo emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e perda de biodiversidade, uso de água, bem-estar animal, desperdício, poluição, compromisso com a produção sustentável de proteínas vegetais e segurança dos trabalhadores. Tudo isso é apontado como bastante problemático para o meio ambiente.
Tratando-se especificamente de emissões de gases do efeito estufa, o percentual é ainda mais preocupante – 72%. Apenas uma das empresas que compõem o indicador conseguiu atingir pontuações consideráveis na redução de emissões. “Está claro que as indústrias de carne e laticínios permaneceram fora do escrutínio público em relação ao seu significativo impacto climático. Para que isso mude, essas empresas devem ser responsabilizadas pelas emissões e devem ter uma estratégia confiável e verificável de redução de emissões”, disse ao The Guardian a diretora do Instituto Europeu de Agricultura e Política Comercial, Shefali Sharma.
No total, segundo o indicador, 87,5% das empresas de carne bovina e laticínios não têm divulgado dados sobre as suas emissões e gerenciamento de GEE, o que é apontado como um risco ao Acordo de Paris. O FAIRR destaca que a diversificação na produção de proteínas alternativas, ou seja, de origem não animal, é fundamental tanto para o gerenciamento dos riscos da cadeia de suprimentos com restrição de recursos quanto para aproveitar as oportunidades de crescimento do mercado. Ou seja, essas empresas precisam investir menos em alimentos de origem animal e mais em alimentos de origem vegetal.
“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público porque pagamos por sua poluição ambiental, custos de saúde pública que não são contabilizados em seu modelo de negócios. É aí que os governos precisam intervir”, enfatiza Sharma.
Referências
The Coller FAIRR Protein Producer Index. Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR)
Segundo estudo da Universidade de Oxford, não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta
“Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”
Um estudo intitulado “Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers”, publicado na conceituada revista Science, conclui que não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta.
Considerada pelo jornal britânico The Guardian como a maior análise já feita sobre os efeitos da produção agrícola, a pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, que reuniu dados de quase 40 mil fazendas que produzem 40 produtos agrícolas em 119 países, informa que 80% das áreas agrícolas do mundo são destinadas à criação de animais para consumo.
A atividade, que segundo o trabalho têm grandes consequências se tratando de alocação de terras e uso de água doce, é responsável por 58% das emissões de gases do efeito estufa, 57% da poluição da água e 56% da poluição do ar. A pesquisa, disponibilizada no site da revista Science, enfatiza que o impacto pode variar em até 50 vezes entre os produtores de um mesmo produto, criando oportunidades substanciais de mitigação.
No entanto, mesmo que os produtores de alimentos de origem animal se esforcem para alcançar baixos impactos ao longo da cadeia de produção e fornecimento, a redução ainda é limitada, de acordo com os cientistas. Isto porque “o impacto dos produtos de origem animal de menor impacto normalmente excede os dos seus substitutos de origem vegetal, fornecendo novas evidências para a importância da mudança na dieta” — explica.
Em entrevista ao The Guardian, o coordenador da pesquisa, Joseph Poore, disse que “uma dieta vegana é provavelmente a melhor maneira de reduzir o impacto no planeta, não apenas por causa dos gases do efeito estufa, mas também por causa da acidificação global e eutrofização, além do uso de terra e água.”
O estudo também comparou o impacto da produção de carne bovina com a proteína baseada em vegetais e revelou que até mesmo a carne orgânica ou considerada sustentável pode requerer 36 vezes mais terra e gerar seis vezes mais emissões de gases do efeito estufa do que a produção de ervilhas.
Poore frisa que, para quem se preocupa com o meio ambiente, é muito melhor abdicar do consumo de alimentos de origem animal do que reduzir viagens de avião ou comprar um carro elétrico: “Realmente são os produtos de origem animal que são responsáveis por muitos desses problemas. Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”.
Ibama vai multar em mais de R$ 105 milhões os fornecedores do McDonald’s, Burger King, Walmart, Unilever e Nestlé por destruírem áreas de preservação permanente
As áreas foram usadas para o plantio de soja destinado à pecuária, ou seja, à ração animal
O Ibama anunciou esta semana que vai multar em mais de R$ 105 milhões a Cargill e a Bunge, fornecedores de alimentos para animais criados para consumo, por destruírem áreas de preservação permanente, causando grande impacto no cerrado brasileiro. A ação do Ibama é consequência de uma investigação realizada pela organização ambiental Mighty Earth em 2017, expondo as práticas da Cargill e da Bunge, que fazem parte da cadeia de fornecimento de carnes e produtos lácteos de corporações como McDonald’s, Burger King, Walmart, Unilever, Nestlé, Tesco e Carrefour.
Para se ter uma ideia do impacto, foi comprovado que a Cargill e a Bunge, que atendem 61 grandes companhias, financiaram ativamente a destruição de áreas úmidas nativas, obrigando populações inteiras a se deslocarem para favorecer um desmatamento equivalente ao tamanho da Inglaterra – comprometendo a biodiversidade e a sobrevivência de animais como a onça-pintada, tamanduá-bandeira, lobo-guará e cervo-do-pantanal. As áreas foram usadas para o plantio de soja destinado à pecuária, ou seja, à ração animal.
Glenn Hurowitz, CEO da Mighty Earth, diz que, embora a responsabilidade esteja recaindo somente sobre a Cargill e a Bunge, é importante questionar também por que as grandes corporações e empresas continuam se beneficiando dessa prática criminosa. A Bunge se defendeu dizendo que achava que destruir essas áreas era uma prática legal. “O governo brasileiro claramente não concorda. Mas se a Bunge apenas adotasse o simples passo de proibir todo o desmatamento em sua cadeia de fornecimento, não estaria enfrentando esses riscos”, enfatiza Hurowitz.
Referência
60% dos mamíferos do mundo são produtos da pecuária
“Nossas escolhas alimentares têm um grande efeito sobre os habitats dos animais, plantas e outros organismos”
Um estudo intitulado “A Distribuição de Biomassa na Terra”, publicado esta semana pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, revelou que 60% de todos os mamíferos do mundo são produtos da pecuária. Ou seja, existem para serem comercializados como alimentos ou fontes de alimentos.
Desses 60%, a maioria é formada por suínos e bovinos. Tratando-se de animais não mamíferos, 70% das aves do mundo todo são criadas para consumo, e apenas 30% são silvestres. Os seres humanos, que somam 7,6 bilhões na atualidade, não representam mais do que 0,01% de todos os seres vivos que habitam a Terra. Ainda assim, a humanidade conseguiu provocar o desaparecimento de 83% de todos os mamíferos selvagens desde o início da civilização, segundo a pesquisa.
Ron Milo, do Instituto de Ciência Weizmann, de Israel, que liderou o trabalho, declarou que ficou chocado ao descobrir que não havia uma estimativa abrangente de todos os diferentes componentes da biomassa. “Espero que isso dê às pessoas uma perspectiva sobre o papel dominante que a humanidade desempenha agora na Terra”, enfatizou.
Para o pesquisador, a maneira como nos alimentamos exige uma profunda reflexão. “Nossas escolhas alimentares têm um grande efeito sobre os habitats dos animais, plantas e outros organismos. Considero o impacto ambiental na minha tomada de decisão, então isso me ajuda a pensar se quero escolher bife ou frango ou usar tofu?”
Referência
Alex Proud: “Todos nós precisamos parar de comer carne”
“Se tornar vegetariano é uma das melhores coisas que você pode fazer pela Terra”
Até então inegavelmente viciado em carne, o colunista britânico Alex Proud publicou no The Telegraph um artigo intitulado “We all need to stop eating meat now, and this is why” ou “Todos nós precisamos parar de comer carne, e este é o porquê“, explicando como foi a sua tomada de decisão em relação à contrariedade à exploração animal e o entendimento de que não há carne sem dor. Além disso, ele enfatiza o seu entendimento de que o consumo de animais também traz consequências negativas para o mundo. Por todos esses fatores, decidiu se empenhar em começar uma transição para o vegetarianismo:
Um pequeno salto, eu sei, mas tenha paciência comigo. Na semana passada, foi anunciado que o bilionário da tecnologia russa Yuri Milner estava investindo US$ 100 milhões para procurar vida extraterrestre e o que o professor Hawking estaria a bordo. No entanto, o professor Hawking há tempos tem grandes preocupações sobre a busca por vida inteligente. A essência de seu pensamento é que os alienígenas que são muito mais avançados do que nós poderiam nos ver como “não mais valiosos do que vemos bactérias.”
Pelo pouco que vale a pena, discordo um pouco do professor Hawking. Com um toque de orgulho antropocêntrico ou arrogância, imagino que nossos novos senhores galácticos possam nos ver como vemos os animais de fazenda. Porcos, se estivessem sendo generosos, e galinhas caso não estivessem.
O problema é que este pensamento não se dissipa, até porque a exobiologia está em alta no momento. Em nosso próprio sistema solar, descobrimos oceanos sob o gelo da Europa e do Encélado (e possivelmente em Plutão e Ceres), onde a vida poderia existir. Existe agora uma boa chance de que a vida alienígena seja encontrada na próxima década ou mais; hoje em dia, os bookies [que registram apostas] só te darão chances de 100 por 1 de um ET ser descoberto em qualquer ano, enquanto há dez anos você teria uma chance em mil, ou mais.
Para ser justo, os habitantes desses mundos próximos provavelmente são suspeitosos e deveriam ter mais a temer de nós do que nós deles. Mas são os bilhões de outros mundos potencialmente habitáveis na Via Láctea com os quais estou preocupado. Mundos como o atual planeta do mês Kepler-452b (também conhecido como Earth 2.0), que tem uma vantagem de 1,5 bilhão de anos sobre nós. Quero dizer, você pode imaginar o que poderíamos fazer em 1,5 bilhão de anos? Provavelmente, teríamos um aplicativo como o Uber para viagens mais rápidas que a velocidade da luz.
De qualquer forma, esse constante bombardeio de questões complicadas sobre a vida alienígena significa que é difícil ter a ideia de um alienígena verde cintilante saindo de uma espaçonave para me avaliar (como um açougueiro faria com um boi). E o corolário natural disso é: Cristo, tratamos mal os animais de fazenda. Então, talvez, quando nossos senhores galácticos se agitarem, eles olharão para a maneira como tratamos os porcos e pensarão, pff, selvagens, antes de nos jogarem em um forno para fazer um delicioso prato de humano assado.
Tudo isso me forçou a dar uma longa olhada em minha própria dieta de carne – e, lentamente, estou chegando à ideia de que as enormes pilhas de salsichas maravilhosamente douradas, os bifes perfeitamente grelhados, o delicioso bacon e os mistos grelhados que compreendem pelo menos 50% da minha dieta, podem ser um pequeno equívoco. Esta não foi uma jornada fácil pra mim. Sou meio alemão. Eu costumava jogar rugby. Tenho 1,88. Sou projetado para funcionar com combustível pesado. E ainda assim, não consigo me livrar desse pensamento. É como se eu tivesse um pequeno porco alado no meu ombro sussurrando: “Se você comer uma variedade de vegetais, você nunca precisará transformar outro dos meus amigos em uma salsicha.”
Então, ao longo do último ano, tenho olhado para a carne. Lido sobre a carne. Assistido documentários sobre carne e espreitado fóruns online sobre carne. Eu não posso dizer que isso fez com que eu me sentisse melhor. Continuo tropeçando em livros que vão desde “A Questão da Consciência Animal”, de Donald Griffin, de 1976; até o “Além das Palavras: O que os Animais Pensam e Sentem”, de Carl Safina, de 2015. Parece muito claro para mim que os animais sentem como nós e sofrem como nós. Os corvos usam ferramentas, as baleias têm cultura, os porcos podem aprender e os bovinos interagem socialmente. Além disso, a diferença entre nós e os animais é de grau, não de tipo. O cristianismo nos ensina que estamos separados dos animais, mas hoje em dia apenas o fanático mais iludido pode acreditar que somos outra coisa senão macacos muito espertos.
Uma vez que você leve isso em consideração, as fazendas industriais tornam-se praticamente injustificáveis. É repugnante para os animais – da mutilação e do apinhamento à crueldade e ao crescimento artificial acelerado. E é repugnante para o meio ambiente: 10 mil lagoas de lama não podem estar erradas. É até repugnante para a saúde humana porque a vida fica muito mais interessante quando os antibióticos param de funcionar. De fato, a única maneira de comer carne cultivada em fazendas industriais é não pensar nisso – ou não se importar.
Então, você pergunta, a agricultura orgânica e de alto nível de bem-estar poderia ser o nosso cartão para sair da cadeia? Bom, é melhor, mais ou menos. Mas mesmo assim, você ainda está pensando, sentindo seres em algum tipo de cativeiro que serão transformados em nuggets ou hambúrgueres. Além disso, a comida orgânica é cara, e embora eu possa pagar, detesto defender soluções que servem apenas para quem tem um bom orçamento.
No final, porém, animais criados ao ar livre não são uma solução real. Por algumas métricas ambientais o acesso livre é realmente pior do que as fazendas industriais. E enquanto eu recebo o argumento de que muitas áreas montanhosas do Reino Unido são adequadas para as pastagens, então eles podem produzir carne ou não, sei que se fizéssemos isso com todos os animais, não haveria terra suficiente no mundo.
Acrescente isso ao fato de que metade dos animais selvagens no mundo desapareceram nos últimos 40 anos e você começa a entender por que os rebanhos de bovinos orgânicos simplesmente não funcionam para todos. O que funciona para todos, porém, é não comer carne. É matemática básica. As estimativas variam, mas são necessários cerca de sete quilos de grãos para fazer um quilo de bife. Porcos demandam 4 por 1, e as galinhas 2 por 1. Depois, há o vasto consumo de água (15.415 litros para um quilo de bife, parte dos quais são destinados ao cultivo da ração); e as emissões de CO2 (27 quilos por quilo de bife). Se, no entanto, os humanos comessem o quilo de grãos eles mesmos, seria basicamente isso. Um quilo de lentilhas gera somente 0,9 quilo de CO2. Se tornar vegetariano é uma das melhores coisas que você pode fazer pela Terra.
De qualquer forma, sei de tudo isso. Você provavelmente sabe disso tudo. A pequena voz ainda não vai embora (embora eu permita que a pequena voz possa realmente ser minha minha esposa vegetariana sussurrando: “carne é assassinato” enquanto eu durmo). Mas, mesmo assim, no fundo, sei que ela está certa. O buraco é mais embaixo. Também amo Bife Wellington e foie gras e vitela. Sou um macho alfa barulhento e explosivo. Descrevi o vegetarianismo como um distúrbio alimentar – e pior. Passar pelos próximos 40 anos consumindo feijão-mungo parece-me fora de questão.
Então, o que vou fazer? Já fiz a coisa fácil de classe média. Compro carne orgânica de vacas chamada Rachel, que passou seu tempo em fazendas à direita da Cotswolds [uma cadeia de pequenas colinas onde são criados “animais soltos”]. A próxima coisa é um pouco mais difícil. Dirijo três restaurantes, então [por enquanto] recorro à carne orgânica de baixo impacto. A partir de agora vou oferecer várias opções vegetarianas – e promovê-las e garantir que sejam alternativas genuínas e excelentes, em vez de hesitantes e miseráveis opções na parte inferior do cardápio.
Também vou comer bem menos carne. O britânico médio come 80 quilos de carne por ano. Suspeito que no momento eu esteja mais parecido com o estadunidense médio (125 quilos), mas vou tentar ser como o tailandês médio (28 quilos). Mas, no final das contas, acho que até isso é meio que desculpa. A conclusão inescapável é que tenho que me tornar mais parecido com o indiano médio – isto é, um vegetariano. Francamente, a perspectiva me enche de pavor. Ela coloca borboletas no meu estômago cheio de hambúrguer e provoca gotas de suor com um gosto de molho de carne que parece curiosamente escorrer pela minha testa. Isso me faz odiar o professor Hawking.
Ainda assim, se eu conseguir, vou me sentir muito melhor comigo mesmo. O planeta vai se sentir muito melhor comigo. Os animais vão se sentir melhor comigo. E se os alienígenas avançados do Kepler 452b chegarem à nossa porta, poderei dizer: “Olha, vi o erro dos meus caminhos – e desisti 15 anos atrás. E não, eu também não comi nenhum dos deliciosos palitos de peixe da Europa.”
O artigo foi publicado originalmente no The Telegraph em 27 de junho de 2015. Proud é formado em política pela Universidade de Nova York, atua como colunista do jornal britânico The Telegraph e é fundador das galerias de arte e fotografia Proud.
Andrey Beketov, o pai da botânica e a sua defesa do vegetarianismo
Andrey Nikolayevich Beketov foi um cientista russo e defensor do vegetarianismo que ficou conhecido como o pai da botânica russa e mundial, além de criador da geografia das plantas e da morfologia experimental. Além disso, foi reitor da Universidade de São Petersburgo, uma das mais prestigiadas da Rússia, e um dos homens que influenciou o escritor Liev Tolstói a adotar o vegetarianismo.
Em 1891, Andrey Beketov publicou o livro “A Dieta Humana no Presente e no Futuro”. Na obra que chamou a atenção de Tolstói, ele apresenta razões morais e psicológicas sobre o porquê os seres humanos na sua progressão de um estado primitivo para um estado verdadeiramente civilizado devem se abster do consumo de animais.
De acordo com o pesquisador Alexey Shulga, o trabalho de Beketov pode ser considerado o primeiro ensaio russo sobre vegetarianismo que deu origem ao movimento de educação e moral científica na Rússia, cuja preocupação era superar o paradigma de que alimentos de origem animal são produtos “comuns” gerados por uma condição de “inevitabilidade”, desconsiderando a perspectiva imoral e prejudicial aos animais não humanos – além dos efeitos na saúde humana e no meio ambiente.
“Estamos todos tão acostumados a comer ou ver outras pessoas comendo carne, que nunca ponderamos que aqueles cujas partes estão diante de nós em nossos pratos foram abatidos. Em algum lugar fora da cidade, há um matadouro, lugar nojento, fétido e sangrento, onde cortam, retalham e fatiam, escoando o sangue das veias [dos animais], mas ninguém está olhando para lá”, registrou em “A Dieta Humana no Presente e no Futuro”.
Beketov reconheceu que o hábito de matar animais e consumi-los já era naturalizado pela legitimada artificialidade da tradição, e que a mudança depende das pessoas relacionarem o que consomem com a história do que está sendo consumido. Ou seja, o processo que antecede o contato do consumidor com o produto de origem animal. Na perspectiva do cientista russo, a aversão a qualquer derramamento de sangue é um primeiro sinal de humanidade. O “abate de um animal sem voz”, segundo o autor, se opõe ao respeito à vida.
“Parece-me que esses dois matadouros estão em uma conexão muito mais forte do que normalmente pensamos: a carne e a bucha de canhão são duas coisas que se pressupõem ou pelo menos apoiam umas às outras”, escreveu. Andrey Nikolayevich Beketov acreditava que o sistema digestivo humano sempre se adaptou melhor ao consumo de plantas, vegetais e frutas, não de alimentos de origem animal. “Ele também considerou a prática da agropecuária ineficiente, chamando a atenção para o fato de que é sempre mais caro plantar e produzir vegetais para alimentar os animais do que consumir diretamente os vegetais; e que a dieta vegetariana pode satisfazer todas as necessidades nutricionais humanas”, enfatiza Shulga.
Como um visionário do século 19, Andrey Beketov também declarou à época que no futuro a Terra iria requerer uma diminuição de pastagens e uma redução natural do gado e de outros animais criados para consumo. Segundo o pesquisador V. K. Teplyakov, antes de Charles Darwin apresentar a sua teoria de “A Origem das Espécies”, Beketov já havia divulgado a ideia da influência de fatores externos e da luta pela sobrevivência na evolução dos organismos.
Suas primeiras e importantes contribuições à ciência aparecem no livro “Harmonia na Natureza”, que antecede “A Origem das Espécies”, em que ele apresenta princípios cientificamente fundamentados da teoria do desenvolvimento evolucionário no mundo orgânico. Na perspectiva de Beketov, a matéria pode assumir uma infinita variedade de formas, mas de modo algum pode escapar à influência de condições externas – a estrutura, a aparência externa e a essência de cada ser são determinadas pelas condições ambientais. Ele também descobriu o papel da luz no ciclo da vida das plantas.
Em 1862 e em 1871, o cientista russo publicou os volumes I e II do trabalho científico “Curso Botânico”, considerado o primeiro e melhor livro de botânica do mundo. “Graças ao seu trabalho, ele foi chamado de pai da botânica russa e mundial. Também foi o primeiro no mundo a escrever e publicar um livro sobre geografia vegetal”, destacou Teplyakov em referência à obra “A Geografia das Plantas”, de 1896.
Em 1870, o renomado cientista K.A. Timiryazev escreveu que os textos de Beketov foram únicos na literatura europeia e estavam pelo menos 50 anos à frente de seu tempo em princípios científicos. Andrey Nikolayevich Beketov faleceu em 1º de julho de 1902 em Shakhmatovo, em Moscou, deixando um extenso legado que até hoje permanece desconhecido por muita gente, inclusive da área botânica.
Beketov foi um dos fundadores do Cursos Bestuzhev, que oferecia educação de alto nível às mulheres
Andrey Beketov nasceu em 8 de dezembro de 1825 no vilarejo de Apferevka, na província de Penza. Em 1841, se graduou em ciências naturais pela Faculdade de Física e Matemática de Kazan. Em 1858, concluiu o doutorado sob o tema “As Relações Morfológicas das Folhas e Caules” na Universidade de Moscou. Tornou-se professor de botânica da Universidade da Cracóvia em 1861, depois transferindo-se para a Universidade de São Petersburgo, onde atuou como professor e coordenador do Departamento de Botânica. Mais tarde, ocupou o cargo de diretor da Faculdade de Física e Matemática e, então, reitor, função exercida entre 1876 e 1883.
Beketov, que fundou a Scripta Botânica em parceria com Kristofor Gobi, a primeira revista russa de botânica, também se destacou como um dos fundadores da Sociedade Econômica Livre da Rússia, que presidiu de 1891 a 1897. Também foi um dos fundadores do Cursos Bestuzhev, em São Petersburgo, um instituto que possibilitava às mulheres receberem educação de alto nível na Rússia Imperial. “Ele foi o primeiro a estudar o problema da reprodução florestal na tundra. Ficou intrigado com os efeitos do clima na taxa de crescimento de pinheiros e abetos. Sua pesquisa em flora e geotecnia o levou a investigar a distribuição de espécies madeireiras e as razões do desmatamento das estepes. Ele sugeriu que a propagação das estepes se resultou principalmente de mudanças climáticas e fatores pré-históricos”, informou V. K. Teplyakov.
Saiba Mais
Andrey Beketov traduziu para o russo muitos trabalhos seminais de Alphonse Pyramus de Candolle, August Grisebach, Matthias Jakob Schleiden e Thomas Henry Huxley.
Referências
Shulga, Alexey. The History of Russian Veganism: In a Nutshell (2015).
Teplyakov, V.K. A History of Russian Forestry and Its Leaders. Página 23. Diane Publishing (1998).
Shcherbakova, A.A. Andrey N. Beketov, Андрей Николаевич Бекетов – выдающийся русский ботаник и общественный деятель. Издательство Академии наук СССР (1958).