David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Uma Itália de gaviões e passarinhos

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Uccellaci e Uccellini, uma parábola sobre o surgimento do neocapitalismo e o enterro do comunismo

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Totò e Ninetto, dois pequenos burgueses que viajam a pé pela Itália (Foto: Reprodução)

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Dentro da principal história, há algumas bem curtas (Foto: Reprodução)

Uccellaci e Uccellini, de Pier Paolo Pasolini, ícone do cinema neorrealista italiano, é um filme de 1966 que foi lançado no Brasil como Gaviões e Passarinhos. Na obra, dois pequenos burgueses viajam a pé em companhia de um corvo. Durante o percurso, um caminho circular, os personagens assistem e vivenciam o surgimento do neocapitalismo e o enterro do comunismo.

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Personagens vivem importante etapa da história italiana (Foto: Reprodução)

Totò (Totò) e Ninetto (Ninetto Davoli), pai e filho, são os protagonistas de uma história em que Pasolini apresenta uma metáfora de si mesmo, principalmente o desalento com a política esquerdista italiana. Os personagens viajam por uma estrada que possibilita o contato com importantes elementos de uma etapa da história da Itália.

Totò e Ninetto, homens de certa inabilidade intelectual, são símbolos da pequena burguesia. Já o corvo falastrão que encontram pelo caminho representa o marxismo, embora a ave, como um animal livre, demonstre uma peculiar autonomia de pensamentos. Enquanto a narrativa do corvo se constrói sob uma perspectiva ideológica romântica e poética, a fala e as atitudes dos protagonistas humanos são baseadas no pragmatismo e materialismo.

A hipocrisia neocapitalista se apresenta como um ciclo vicioso. Exemplo é a cena em que Totò e Ninetto vão até uma propriedade onde cobram o aluguel de um inquilino. Mesmo ciente da situação degradante da família, Totò, com a frieza digna de um materialista, exige que o homem o pague para evitar o despejo. Em seguida, pai e filho passam pela mesma situação. O predador se torna presa e surge uma inversão de valores.

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O corvo intelectual e marxista de Pasolini (Foto: Reprodução)

Pasolini chama atenção pelo uso da metalinguagem. Dentro da principal história, há algumas bem curtas. Merece destaque uma fábula envolvendo São Francisco de Assis que parece emprestar a fala marxista do corvo, assim como a ave, em certos momentos, discursa como se fosse um frade. Outro episódio-chave, com caráter documental, é o enterro do político Palmiro Togliatti, nome mais importante do comunismo italiano.

Além da cena ser uma referência a queda da ideologia no país, simboliza o fim de um período cultural. O neorrealismo perdia em importância para o novo cinema que se pautava na fantasia e misticismo. A influência brechtiana é muito forte em Uccellacci e Uccellini, tanto que na maior parte das cenas os personagens interagem com o público. O cineasta também homenageia Roberto Rossellini e Federico Fellini.

No mais, o clássico não é linear – sem início, meio e fim. Se fosse feito de trás para frente ainda seria coerente. Quem assiste Uccellaci e Uccellini nunca mais esquece a canção que abre o filme, considerada até hoje uma das melhores opening credits da história do cinema. A composição é de Ennio Morricone e conta com a interpretação de Domenico Modugno, um dos maiores cantores da Itália do século 20.

As esculturas de Antonio Menezes

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Artista plástico cria obras que são símbolos e metáforas da condição existencial do homem

Antonio Menezes cria obras com galhos, ossos e pedras (Foto: David Arioch)

No período de um ano e seis meses o artista plástico paranavaiense Antonio de Menezes Barbosa produziu mais de dez obras com materiais descartados. São peças feitas com galhos, ossos e pedras; símbolos e metáforas de sonhos e até da condição existencial do homem perante o mundo e a natureza.

O artista plástico Antonio de Menezes Barbosa descobriu o dom para as artes plásticas há 30 anos, quando confeccionou miniaturas de ferramentas de marceneiro, rastelos, enxadas e cavadeiras de mão. Porém, o cotidiano conturbado pelo trabalho não permitiu que na época Barbosa se dedicasse a atividade. Contudo, Antonio de Menezes nunca desistiu das artes plásticas e há um ano e meio decidiu produzir esculturas com maior regularidade.

Os materiais para a confecção das esculturas, Barbosa encontra na natureza. São galhos, pedras e ossos abandonados, fragmentos que para o artista ganham formas antes de serem recolhidos. “Eu vejo e já imagino onde cada coisa pode se encaixar”, afirma. Antonio de Menezes leva para casa somente aquilo que pode ser aproveitado.

A Mão Furada pelo Cravo (Foto: Amauri Martineli)

O artista que já enviou obras para Milão, na Itália, usa muita madeira, principalmente eucalipto e sibipiruna, mas jamais cortou sequer um galho pequeno. “Só pego aquilo que foi descartado”, explica o artista plástico. Antonio de Menezes admite que tenta sempre manter uma relação de harmonia com a natureza.

As Bailarinas (Foto: Amauri Martineli)

Entre as esculturas do artista estão “Um Par de Mãos”, “A Mulher Grávida”, “O Homem do Violino”, “O Pé de Pedra”, “O Homem Fracionado”, “O Bandolim”, “As Bailarinas”, “ A Formiga de Osso”, “A Formiga de Galhos” e “A Mão Furada pelo Cravo”. O Pé de Pedra foi a obra mais rápida. Segundo Antonio de Menezes, foi concluída em cinco horas. Já O Homem Fracionado levou dois meses. “Precisei de um bom tempo, só que também nunca trabalhei nele em período integral”, explica.

O Homem Fracionado feito em madeira tem um conceito existencialista, o de que o homem se retalha um sem número de vezes no decorrer da vida, mas que mesmo assim sempre deve predominar a persistência de administrar todas as situações ruins. “Do contrário, o homem morre ou enlouquece”, avalia Antonio de Menezes. Já A Formiga de Galhos foi concebida segurando uma mão com dedo indicador três vezes superior aos demais. Significa que ao ser humano, independente de tamanho – uma metáfora social – não cabe apenas apontar os erros, mas ir além.

Outra peça que desperta muita curiosidade é A Mulher Grávida feita com seis tipos de madeira. É uma simbologia da miscigenação não apenas do brasileiro, mas do homem universalizado. Também se destaca a mão furada por um cravo de onde brota uma orquídea. “Mesmo o homem massacrado, ele ainda germina vida”, comenta o autor.

A Formiga de Galhos (Foto: Amauri Martineli)

Artista vai expor obras na UEM

O artista plástico Antonio de Menezes Barbosa também explora a dualidade humana longe das amarras do maniqueísmo em uma criação bilateral de pedra que apresenta a face de uma ovelha e de um cão; o bem e o mal contido no homem. Há também peças bucólicas como duas mãos se tocando, representando a candura do primeiro amor. Para o artista, importante é dar margem as mais diversas interpretações.

Até hoje, Antonio de Menezes já produziu cerca de 20 esculturas. “Algumas peças refletem o que eu gostaria de ter sido. São idealizações”, declara. Para a produção das esculturas, Barbosa usa faca, serrote, furadeira, broca e uma serra de cortar ferro. “Até improviso, invento ferramentas”, revela, sem deixar de mencionar que já está trabalhando em novas esculturas.

No dia 2 de setembro, 12 obras do artista plástico estarão em exposição no Museu da Bacia do Paraná, na Universidade Estadual de Maringá (UEM). “As peças poderão ser vistas pelo público até o dia 14, das 8h às 11h e das 14h às 17h”, assinala Antonio de Menezes.