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Não comemoro mortes, mas infelizmente…

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Não comemoro mortes, mas infelizmente esse senhor que faleceu na quarta-feira, e que foi um dos fundadores da Minerva Foods, era um dos responsáveis por pagamentos de propina visando “relaxamento” da fiscalização nas superintendências federais de agricultura entre os anos de 2010 e 2016. Aí eu te pergunto, de que adianta ganhar tanto dinheiro, lucrar tanto, morrer e não levar nada? Lesou animais humanos e não humanos a custo de que?

Deixou um estranho legado de muitos bens e muito dinheiro, mas que não existiria sem a desconsideração por vidas humanas e não humanas. Vale a pena? Tudo que lucrou, esse império magnânimo, não garantiu que ele passasse dos 68 anos. As pessoas parecem não entender que nem tudo está ao alcance do dinheiro, e que o tempo se encarrega de enterrar a imagem que criamos de nós mesmos e o que tivemos para preservar ou não o que verdadeiramente deixamos.





 

Written by David Arioch

February 17th, 2018 at 12:48 am

Minerva Foods: impacto ambiental, vazamento de amônia e demissão em massa

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Minerva Foods se envolveu em inúmeras tragédias e escândalos nos últimos anos (Imagens: Reprodução)

A empresa alimentícia Minerva Foods, responsável pelo envio de aproximadamente 54 mil bois à Turquia desde que o Porto de Santos voltou a realizar o transporte de animais para exportação em dezembro do ano passado, é apontada pela revista Globo Rural como a segunda maior exportadora de carne bovina do Brasil, e não é novidade para ninguém que com a queda da JBS/Friboi, a empresa pode se consolidar como a maior produtora de proteína animal do Brasil em 2018.

A Minerva Foods começou a chamar muita atenção no ano passado pelo grande volume de animais enviados para serem mortos e comercializados fora do Brasil, um negócio que há muito tempo é reprovado no mundo todo, e não apenas por defensores dos direitos animais, entidades de bem-estar animal e ambientalistas, mas também por profissionais de medicina veterinária e do setor de vigilância sanitária, que reconhecem que não há transporte de carga viva sem maus-tratos e impacto ambiental.

Normalmente os problemas incluem má acomodação, alimentação deficiente, incapacidade de movimentação e até mesmo casos de ações diretas de crueldade que culminam na morte do animal. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em uma viagem com 27 mil bois para a Turquia, por exemplo, é preciso trabalhar com uma margem de perda de pelo menos 10% dos animais, o que significa que até 2,7 mil bovinos poderão morrer antes de chegaram ao seu destino. E para o “descarte” desses animais, há sempre um moedor ou triturador nos “navios boiadeiros”.

Também de acordo com a Embrapa, um bovino criado para extração de carne produz em média de 30 a 35 quilos de esterco por dia. Sendo assim, em uma viagem marítima com 27 mil bois, e duração de 15 dias, esses animais podem produzir até 945 mil quilos de fezes e urina, e não raramente os dejetos são lançados ao mar, provocando grande impacto ambiental.

A flexibilização das multas e das leis em situações que envolvem exploração animal em pequena ou grande escala também favorece essas consequências. Na semana passada, por exemplo, mesmo após a constatação de irregularidades, a Secretaria de Meio Ambiente de Santos multou a Minerva Foods em pouco mais de R$ 1,4 milhão por inadequação no transporte de “carga viva”. Em síntese, maus-tratos contra animais. Sim, “carga viva” é o termo formal. Mesmo que se trate de vidas, os bovinos, como bens móveis, são qualificados apenas como “carga”. Essa multa, assim como outra de R$ 2 milhões emitida sob a causa de poluição atmosférica, não significou nada para a empresa, e nem poderia ser diferente.

Só no segundo trimestre de 2017, a Minerva Foods alcançou uma receita bruta de R$ 2,76 bilhões, segundo informações da Revista Globo Rural de outubro de 2017. E desde a queda da JBS/Friboi após a Operação Carne Fraca, a Minerva Foods estreitou ainda mais o seu relacionamento com a Bancada Ruralista na Câmara dos Deputados em Brasília, o que claramente levanta suspeitas sobre jogo de interesses e favorecimentos.

Uma grande prova disso foi a intervenção do deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e do ministro da agricultura Blairo Maggi (PP-MT) em favor da Minerva Foods, garantindo a liberação do Navio Nada com destino à Turquia, levando cerca de 27 mil bovinos. O resultado gerou surpresa e comoção porque até então tudo indicava que o Brasil em uma ação revolucionária, necessária e endossada legalmente já não toleraria mais o transporte de cargas vivas, que comprovadamente vai na contramão até mesmo da mais sutil compreensão do bem-estar animal.

No entanto, como o próprio ministro é um dos maiores representantes dos ruralistas no Brasil a sua atuação foi bastante previsível quando ele decidiu intervir em benefício do lucro e em detrimento dos milhares de animais no Navio Nada, mesmo depois de laudos comprovando maus-tratos e más condições de acomodação. E não bastando a liberação do navio, outra intervenção garantiu que a exportação de animais vivos em todo o território nacional voltasse a ser permitida. A liminar que proibia tal prática foi derrubada pelo desembargador do TRF-3 Fábio Prieto, sob a alegação de que isso “enseja “grave risco de lesão à agropecuária nacional”, o que desconsidera completamente a realidade dos animais e, mais uma vez, considera somente os lucros dos envolvidos, ou seja, interesses particulares em detrimento da vida e do meio ambiente.

O que também não pode ser desconsiderado nessa questão de exportação de bovinos, é que a Minerva Foods, que deve liderar as exportações de animais vivos no Brasil em 2018, esteve envolvida nos últimos anos em diversos escândalos, como vocês podem conferir no meu artigo “Minerva Foods: maus-tratos contra animais, pagamento de propina, exportação de carne contaminada e trabalho escravo”. E como se não bastasse, a empresa também é a responsável por uma tragédia registrada em 6 de outubro de 2015, quando o navio Haidar, com cinco mil bois vivos, tombou em um cais em Barcarena, no Nordeste do Pará, resultando na morte da maior parte dos animais. Segundo o prefeito de Barcarena, Antônio Carlos Vilaça, o navio da Minerva Foods deixou óleo em todas as praias do município, gerando grande impacto ambiental, e inviabilizando até mesmo o turismo.

Outra tragédia foi registrada em 31 de agosto de 2016, quando um vazamento de amônia no frigorífico Minerva Foods em Barretos, interior paulista, resultou na morte de uma pessoa e deixou 30 feridas. Porém, o primeiro episódio em que a empresa foi responsabilizada por um vazamento de amônia que feriu funcionários foi em 2012. Em 2013, a Justiça do Trabalho de Araraquara condenou a Minerva Foods a pagar R$ 200 mil por danos morais coletivos devido a irregularidades.

Segundo investigação do jornalista Marcelo Toledo, em publicação da Folha de S. Paulo de 31 de agosto de 2016: “A empresa, que também respondia a uma outra ação civil pública em Araraquara por não realizar o controle de vazamentos de amônia, firmou acordo judicial com o MPT em 2014, no valor de R$ 750 mil, para extinguir as ações.”

Argumento comum de quem defende a Minerva Foods no caso da exportação de bovinos vivos é o de que pessoas envolvidas na cadeia produtiva podem ser prejudicadas economicamente pelo impedimento na operacionalização de suas atividades. No entanto, essas pessoas desconsideram fatos que merecem ser considerados. Um exemplo é o de que a Minerva Foods também é conhecida por suas demissões em massa. Um dos casos mais emblemáticos foi registrado em Mirassol D’Oeste, No Mato Grosso, em 2015, quando o Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação contra a empresa pela demissão de mil funcionários, ou seja, de todos os funcionários de uma de suas unidades.





 

Considerações sobre os mais de 25 mil bois enviados à Turquia

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Acervo: ANDA

Mais de 25 mil bois estão indo para a morte na Turquia e isso é lamentável, mesmo sabendo que aqui o destino deles não seria outro. Mas pelo menos isso está servindo para mostrar a quem quiser ver que tipo de tratamento “humanitário” que são dispensados aos animais, que antes de partirem já passavam por situações de privação envolvendo fome e sede, além de mortes registradas no Navio Nada, segundo laudos veterinários. Isso sem citar ainda o fato de que já havia bovinos bem “acomodados” entre as próprias fezes.

Outro ponto a se considerar é que a Bancada Ruralista, que em conjunto com a Bancada Evangélica domina a Câmara dos Deputados em Brasília, mais uma vez está mostrando a sua face, que não tem nada a ver com os interesses da população, mas sim uso de ferramentas políticas a serviço dos próprios interesses. Algo que, sem dúvida, vê quem quiser ver, já que informações disponíveis não faltam.

O episódio também está servindo para chamar a atenção para a Minerva Foods, que não muito diferente da JBS/Friboi, é apenas mais uma empresa envolvida em maus-tratos contra animais, exportação de carne contaminada, boicote no Chile, exploração de trabalho análogo ao escravo e pagamentos de propina para fiscais das superintendências federais de agricultura .

Tratando-se de grandes empresas produtoras de alimentos de origem animal, podemos perceber mais uma vez, com esse e com outros exemplos, que o que muda, de tempo em tempo, são os nomes em maior evidência, porque o modus operandi parece sempre o mesmo – sujeira para quem quiser ver.

Será que isso não deveria levar as pessoas a repensarem o consumo de animais e as nossas relações com seres não humanos? Será que deveríamos ser realmente individualistas em relação a isso? O que esperar de bom em longo prazo de um processo que começa impondo privação aos animais e que culmina em milhares, milhões e bilhões de mortes? O prazer efêmero do paladar vale tudo isso?





 

Minerva Foods: maus-tratos contra animais, pagamento de propina, exportação de carne contaminada e trabalho escravo

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Há inúmeras denúncias registradas nos últimos anos contra a Minerva Foods (Imagens: Reprodução)

No último domingo, a empresa alimentícia Minerva Foods conseguiu garantir que os mais de 25 mil bois a bordo do Navio Nada seguissem viagem até a Turquia, onde serão mortos sob os preceitos do abate halal. Tal conquista foi possível por intervenção do deputado federal Beto Mansur (PRB-SP), do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e do ministro da agricultura Blairo Maggi (PP-MT) que recorreram à Advocacia-Geral da União, ou seja, um órgão público, para intervir em benefício da Minerva Foods, uma empresa privada responsável pela exportação dos animais. Com isso, derrubaram a liminar no Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) que impedia o embarque desses animais depois de comprovadas más condições, maus-tratos e danos ambientais em desacordo com a legislação sanitária.

Sobre a decisão favorável à Minerva Foods foi justificado que o Navio Nada estava em condições de seguir viagem para a Turquia. A defesa da empresa também argumentou que o Ministério da Agricultura realizou inspeção no Nada e não identificou qualquer problema que ratificasse o impedimento da viagem. Porém, surpreendente seria se o Ministério da Agricultura emitisse um parecer contrário, levando em conta que o próprio órgão foi usado em benefício da Minerva Foods, já que o ministro da agricultura Blairo Maggi recorreu à AGU para conseguir derrubar a liminar, de acordo com informações do Jornal Valor Econômico.

Ou seja, além do uso de uma plataforma que deveria servir em primeiro lugar aos interesses da população, e nela estão inclusos ativistas que se manifestaram contra o embarque dos animais, houve uma clara desconsideração em relação aos laudos veterinários – disponíveis na internet, que comprovaram violência e negligência em relação aos animais; além, claro, de testemunhos registrados por outras pessoas que acompanharam de perto a situação dos bovinos. À Minerva Foods, coube não mais do que pagar uma multa.

Outro ponto a se considerar é que o Navio Nada, que conta com 12 andares, e alegadamente oferece todo o “conforto” necessário aos mais de 25 mil bois, possui um moedor para descarte de animais que não resistem à viagem. Sendo assim, se tal recurso é utilizado, claramente há uma indução de que não há garantias de “bem-estar”. Ou seja, alguns ou muitos animais morrerão antes de chegarem ao destino, que também é a morte – sem insensibilização e por degola, o que significa que o sofrimento desses animais só terminará quando deixarem de respirar.

Além disso, o que chama a atenção nessa decisão favorável à Minerva Foods, é que não estamos falando de uma empresa acima de qualquer suspeita, mas sim de uma daquelas que foram investigadas na Operação Carne Fraca, comandada pela Polícia Federal no ano passado. E que surpreendentemente alcançou bastante visibilidade depois que a JBS/Friboi perdeu grande espaço no mercado, assim favorecendo o crescimento da Minerva Foods, de Barretos, interior paulista, que chegou ao mercado em 1992. Hoje a empresa já é vista como a maior força do mercado brasileiro de proteína de origem animal. E nessa trajetória, já teve seu nome associado a pagamentos de propina, exportação de carne contaminada e exploração de mão de obra análoga ao trabalho escravo.

Em um documento emitido pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 30 de agosto de 2017, e assinado pelo juiz federal João Paulo Massami Lameu Abe, consta na página 11 que Edvair Vilela Queiroz e Hanilton de Souza Moraes, sócios da Minerva Foods, realizaram entre os anos de 2010 e 2016 o pagamento mensal de R$ 6 mil a Dagoberto Machado Prata, funcionário da Superintendência Federal de Agricultura do Estado do Tocantins. O pagamento era feito sistematicamente para liberar a Minerva Foods da “intensidade da fiscalização”. Além do dinheiro, a Minerva Foods presenteava Dagoberto com “kits” de carnes, derivados industrializados e despesas com combustível.

Episódio que também levantou suspeitas sobre as operações da Minerva Foods foram as exportações de carne registradas pela empresa em 2016, quando o Ministério da Saúde do Chile emitiu um alerta depois de identificar “lesões compatíveis com parasitoses” na carne comercializada pela Minerva Foods, o que resultou na suspensão da importação de carne da empresa.

Ademais, em novembro do ano passado, três caminhoneiros foram resgatados pela Polícia Militar de uma das unidades da Minerva Foods em Várzea Grande, no Mato Grosso. De acordo com informações da jornalista Cintia Borges, a PM identificou que os funcionários estavam atuando em condições análogas ao trabalho escravo. Também não contavam com alojamento e eram impedidos de deixar as dependências da empresa – o que foi caracterizado pela Polícia Militar como constrangimento ilegal, sequestro e cárcere privado.





 

A má-fé da imprensa no caso do navio com mais de 25 mil bois

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Foto: TV Tribuna

Há poucas horas, o G1 publicou uma matéria com o seguinte título: “Impasse de navio com 25 mil bois no Porto de Santos gera ‘mais prejuízos’ aos animais”. No texto, há uma declaração de que “a demora para o prosseguimento da viagem e desembarque dos animais no destino, causa muito mais prejuízos do ponto de vista do bem-estar animal do que o que é atribuído pelas ONGs, e que gerou o impasse”.

Essa afirmação não condiz com a realidade, mas apenas com a intenção da Minerva Foods e do Ministério dos Transportes – ambos considerando apenas os lucros de transação. E lamentavelmente, isso mostra como o Estado atua indiscriminadamente em favor da indústria em detrimento de vidas. Fazem uso das manobras mais diversas para atraírem a atenção do público para o seu lado, nem que para isso seja necessário vilanizar ativistas, pessoas que voluntariamente lutam pelo verdadeiro bem-estar animal. Até porque não é difícil, valendo-me da realidade comum, concluir que quem investe na exploração de animais sempre terá como prioridade o lucro, e isso consequentemente eleva o retorno financeiro a uma posição de protagonismo que desconsidera sempre as especificidades e o real valor da vida animal.

Viagens de carreta já são desgastantes, ainda mais depois de um percurso de 500 quilômetros. Agora imagine ser enviado como “carga” em uma viagem de navio que pode durar até 20 dias. Além disso, é importante ponderar que eles sempre serão acondicionados extremamente próximos uns dos outros, e partilhando de um espaço bem reduzido e do mesmo sentimento de estranhamento. Imagine esses animais extremamente pesados, desembarcando na Turquia depois de tanto tempo sem espaço para se locomover adequadamente.

Isso é saudável? Qualquer animal condicionado, logo forçado a passar dias sem se movimentar, está sendo privado de sua natureza, já que corpos foram feitos para o movimento. Após mais de 17 anos, estamos vivendo um retrocesso. Este é o segundo embarque de cargas vivas com mais de 25 mil animais em um intervalo de menos de dois meses.

E quando falamos em bovinos não podemos esquecer que são animais precocemente afastados do convívio com os seus. Isso é justo? Viver para ser reduzido a pedaços de carne? Infelizmente é isso que financiamos quando nos alimentamos de animais. Outro ponto que parece ter sido ignorado é que esses bezerros estão sendo enviados para um país onde o abate predominante é o halal.

Nesse tipo de abate, o animal é degolado com um golpe em forma de meia lua, que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago. Há quem diga que um “bom golpe” pode não gerar “sofrimento ao animal”, o enquadrando inclusive como “abate humanitário”, embora registros de ações em matadouros mostrem exatamente o oposto.

O chamado “abate humanitário” é hoje a bandeira da indústria de carne visando persuadir os consumidores a acreditarem que estão se alimentando de uma carne “sem dor”, o que é uma ilusão, já que qualquer tipo de privação precedente a morte já é uma forma de violência que gera sofrimento em diversos níveis. Alguma dúvida? Veja o desespero de um animal quando ele reconhece que está em um ambiente de onde não sairá com vida.
 





 

Envio de 27 mil bezerros para a Turquia pode abrir um precedente para uma situação ainda mais crítica

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Para quem lucra com esse tipo de negociação, desde que tenha sido muito bem pago, pouco importa o destino desses animais (Foto: Divulgação)

O envio de 27 mil bezerros para a Turquia pode abrir um precedente para uma situação ainda mais crítica. Se essa megaoperação for considerada “bem-sucedida” o Brasil pode se tornar um grande fornecedor de bezerros para a indústria estrangeira de carne. O que isso significa? Que no futuro a vida dos bovinos, que já é terrível partindo da objetificação, pode ser ainda mais curta.

Vivemos em um país onde os produtores de carne sempre alegam desvantagem quanto ao abate de bezerros. Porém, com um mercado estrangeiro ávido por esse tipo de carne, e que “paga bem”, tanto que a Turquia reduziu de 60% para 10% a tarifa sobre importação de gado, provamos que nossos subjetivos escrúpulos, que já ignoram o direito dos animais à vida, são sempre negociáveis. Sendo assim, podem tornar-se um pouco mais deletérios.

Por outro lado, essa situação também traz luz à desonestidade da indústria da carne. Qual seria? Essa ação reforça o fato de que o “abate humanitário” sempre foi um engodo, já que não apenas enviamos animais para a morte, mas também de acordo com o “gosto do cliente”. Se isso significa degolar crianças de outras espécies, que assim seja, não é mesmo?

Para quem lucra com esse tipo de negociação, desde que tenha sido muito bem pago, pouco importa o destino desses animais. Já os bezerros, enviados para uma jornada que termina com suas cabeças separadas dos corpos, em breve serão consumidos e esquecidos como se jamais tivessem existido. Se nada for feito, muito mais bezerros terão o mesmo destino.

O que a grande mídia fez para favorecer o transporte dos 27 mil bezerros para a Turquia:

— A maioria não citou que são bezerros, o que acredito que, por estranhamento e associação, poderia ter despertado alguma reflexão sobre a exploração e o consumo de animais.
— Falou do que isso pode representar economicamente.
— Citou como a exportação de animais vivos pode beneficiar o Porto de Santos
— Ouviu somente os envolvidos na megaoperação.
— Publicou apenas fotos do navio ainda vazio e de poucos animais no Porto de Santos.
— Deu ênfase no trabalho da Minerva Foods, destacando a grandiosidade da exportadora responsável pelo envio dos animais.
— Descreveu positivamente a estrutura do navio, endossando o embarque dos animais. Porém, não citou a área destinada a cada animal.
— Citou cifras, cifras e mais cifras para fazer todo o resto parecer insignificante.