Archive for the ‘Mudança’ tag
Sempre encontro pessoas reclamando da vida e do mundo
Sempre encontro pessoas reclamando da vida e do mundo, e às vezes algumas se incomodam quando pergunto respeitosamente se elas estão fazendo algo para contribuir com alguma mudança, se elas não concordam com o status quo. Normalmente há uma corrente transferência de culpa a terceiros, como se isso garantisse uma isenção de manifestação prática. Ou pior do que isso, há a defesa consciente ou inconsciente do fatalismo. E isso me leva à conclusão de que a crítica muitas vezes existe somente pela crítica, arredada de seu sentido utilitário, porque a vontade é menor do que o conformismo.
Acredito que o ideal de muitas pessoas não é um mundo melhor para todos, mas um mundo melhor para elas e talvez para aqueles que elas julguem merecedores desse mundo ideal. Vivemos em um mundo onde desde muito cedo as pessoas são condicionadas a buscarem um futuro digno para elas. Mas muitas ignoram que um futuro digno para elas pode depender essencialmente da busca por um futuro melhor para os outros também.
A verticalização em detrimento da horizontalização é comumente ignorada por um viés se não individualista, talvez espuriamente coletivista. Isso é apenas uma simplista inferência sobre a desconsideração em relação à importância de um clamor mais do que pontual da alomorfia ou mudança estrutural em uma sociedade.
Acho que se reunir com amigos em algum lugar para fazer críticas às coisas pode ser interessante, mas se não passa disso, se não há ações nem mesmo partindo da nossa recusa em aceitar algo que consideramos, de fato, inadmissível, e sobre o qual temos poder de reação, esbarramos no clássico tartufismo, na demagogia.
Quando saio às ruas, sempre vejo homens reunidos em algum lugar fazendo críticas – em bares, cafés, sob alguma marquise. Passam horas, dias, meses, anos naqueles lugares. Creio que reclamam apenas para passar o tempo, para ser ouvido (mesmo que minutos depois ninguém se recorde do que ouviu), porque as críticas nunca mudam, e se não mudam é porque, esperando uma mudança que não parta deles, seguem imersos na inação.
Se eu não acreditasse que as pessoas são capazes de mudar, eu não seria vegano
Se eu não acreditasse que as pessoas são capazes de mudar, eu não seria vegano. Mas o que tem a ver? Muito simples, o veganismo é uma filosofia de vida que desde o princípio já era baseada na luta pelo fim da exploração animal. Ninguém é vegano sem lutar por isso em algum nível, mesmo que não reconheça ou não perceba. Uma pessoa não acorda um dia e diz: “Vou ser vegano e ficar sentado aqui de boa, só seguir a vida. Deixa a exploração rolar como deve ser.” Então claro que acredito que não se reduz a exploração animal sem conscientizar pessoas. E ninguém conscientiza pessoas se não acreditar que elas são capazes de mudar. Logo ter uma descrença visceral nas pessoas é inevitavelmente contraproducente e paradoxal em vários sentidos.
Sobre boas notícias que fazem o meu trabalho valer a pena
Sobre aparência
Deixo barba porque gosto, sabe? Tudo que fiz na minha vida em relação à minha aparência foi porque eu quis. Opiniões dos outros não me influenciam a mudar nada em relação à minha aparência. Quem me conhece há muito tempo sabe que já tive várias faces, e quando eu tiver vontade, de fato, mudarei. Mas não porque alguém disse que eu deveria mudar. Falar que estou feio de tal forma não significa nada para mim. Nunca vou entender por que as pessoas têm essa mania em tentar ditar como os outros devem parecer ou não.
Ter barba, não ter barba; ter músculos, não ter músculos; manter cabelos curtos ou longos – ou raspar tudo. Cada um sabe de si. O mais importante é entender e respeitar que a aparência de uma pessoa, desde que não seja consequência de algo nocivo, quem deve ter o direito de determinar como deve ser é ela, e somente ela. Mudanças, até mesmo físicas, podem ser até resultado de mudanças internas. Então acho legal quando temos o cuidado de não ofender as pessoas por suas escolhas em relação à sua aparência. O meu gosto nem o seu deve pautar a vida de ninguém. Pessoas têm suas próprias predileções, e podem tranquilamente antagonizar as minhas ou as suas.
Reflexões sobre política – III
Sobre pessoas e lutas
Muitas pessoas, seja por questão cultural ou condicional, optam por não lutar por nada que não seja relacionado a elas ou, na melhor das hipóteses, ao que elas consideram “os seus”. Logo, infelizmente, é naturalizado o ato de ver o outro, que se engaja em alguma luta ou mudança que não tenha a si mesmo como beneficiário prioritário, com estranhamento, debique ou até mesmo ojeriza. Quem sabe, uma ameaça a algo que afiançamos quando nos embriagamos na ilusão.
De fato, não me irrita a ideia de uma pessoa fazer piada de algo em que eu esteja engajado, simplesmente porque o mais importante é a motivação inerente e o entendimento que tenho do que faço. E lidar com adversidades é parte da vida, e quanto a isso não há como ser diferente dada à abstração do que envolve a existência.
Ademais, quando alguém age de forma flauteadora, sei que a essa pessoa falta simplesmente um pouco de assimilação ou percepção, e claro algum tipo de contrariedade em relação às zonas de conforto. Até porque não é novidade que a mecanicidade é sempre mais sedutora do que a tenacidade. Porém, por bem, se assim o desejarmos ou permitirmos em algum momento, isso é mutável, assim como muito do que diz respeito à construção humana.
1120 pessoas afirmaram que foram influenciadas pelo meu trabalho
Sempre que uma pessoa me diz que se tornou vegetariana ou vegana por influência dos meus textos eu faço questão de registrar isso. Na semana passada, uma moça bem educada me revelou que faz dois meses que não consome nada de origem animal. Ela acompanha o meu trabalho há seis meses. Contando com ela, e levando em conta meus registros, já são 1120 pessoas que disseram que as conscientizei a seguirem por esse caminho.
Não imponho nada a ninguém, simplesmente escrevo, e fico muito feliz por esses resultados, apesar de já ter cogitado parar algumas vezes. Que eu possa levar algo de bom para mais pessoas, que elas possam reconhecer que podem viver muito bem sem consumir nada de origem animal.
Sobre as mais diferentes formas de ativismo
Não raramente me deparo com pessoas que são contra as mais diferentes formas de ativismo. Levando isso em conta, pergunto:
— O que você acha que você seria ou o que você acha que você teria se não fosse pelo ativismo feito por tanta gente no decorrer da história? Algum tipo de ativismo consolidado no passado te beneficia hoje, não tenha dúvida. Você pode condenar uma ou outra forma de ativismo, mas é importante entender que nem tudo é totalmente errado, nem totalmente certo. O que precisa ser definido é se esse ativismo foi ou é sincero e honesto. Se foi, ou se é, há uma intenção legitimada que leva à mudança. A evolução da humanidade, claro, há muitas falhas, mas as conquistas ao longo da história só foram possíveis por causa de ativismo. Só o ativismo promove mudanças sólidas na estrutura de uma sociedade. Então se você é contra isso, você naturalmente é contra os outros e quem sabe até contra a si mesmo.
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“Tentava acreditar que os animais realmente só existiam para nos servir”
Um camarada de longa data veio me falar que no ano passado ficou muito irritado com alguns textos que publiquei sobre vegetarianismo e veganismo, e porque faziam com que ele se sentisse mal por ter conhecimento do que realmente acontece com os animais, mas não fazer nada para não tomar parte nisso.
— Cara, não vou mentir. Ficava puto mesmo, em total negação. Achava que era muito sensacionalismo. Claro, era uma defesa minha, porque são coisas que tocam na ferida, são coisas reais, mesmo que a princípio a gente rejeite essa ideia. No fundo, você sabe, senão você não se incomodaria. Me sentia estranho por continuar fingindo que nada acontecia. Tentava acreditar que os animais realmente só existiam para nos servir. Mas depois, pensando bem, comecei a me sentir mal, até que parei de comer carne. Já perdi completamente o interesse em qualquer tipo de carne. Isso foi em janeiro e continuo firme, sem qualquer desejo por carne. Agora faz dois meses que também não como ovos nem laticínios.
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Um acumulador de versões
Sou um acumulador de versões. Então é natural que eu não seja a mesma pessoa do ano passado, do mês passado, da semana passada ou até mesmo de ontem. Temos uma tendência a achar que pessoas que mudam são basicamente pessoas volúveis. Sim, podem ser, mas se for para o bem delas, seu crescimento, prefiro chamar isso de evolução.
Pessoas que escrevem, por exemplo, são pessoas curiosas, interminavelmente curiosas, eu diria. Então é natural que não passem a vida toda escrevendo sobre as mesmas coisas ou abordando sempre os mesmos assuntos. Escrever é desbravar-se primeiro para então desbravar aquilo que está diante dos seus olhos e reverberando em sua mente.
Ademais, escrita, na minha opinião, trata-se de fidelidade. Ser fiel a si mesmo, seja no campo ficcional ou não. Quem não é fiel a si mesmo dificilmente faz um bom trabalho nesse sentido.
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