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Quando o bodybuilding conquistou o cinema em 1948
Muscle Beach, o pioneiro dos filmes sobre fisiculturismo
Nem sempre o fisiculturismo foi pouco respeitado pela sociedade e menos valorizado por meios de comunicação. Se hoje vivemos um tempo em que o bodybuilding é distorcido para as massas, visando intensificar a desinformação e o preconceito ao diferente, é importante entender que nos anos 1940 a modalidade era tão admirada nos Estados Unidos que tinha status de atração turística.
Tudo isso e muito mais é retratado no filme Muscle Beach, de 1948, dos cineastas Joseph Strick e Lerner Irving, que levou milhares de pessoas comuns para os cinemas dos EUA, interessadas em conhecer e admirar os físicos perfeitos de homens e mulheres que frequentavam a Muscle Beach de Santa Monica, na Califórnia. A primeira obra sobre o bodybuilding apresenta a realidade dos fisiculturistas amadores que dividiam o mesmo espaço de treino com ginastas e praticantes de outros esportes.
Embora o bodybuilding tenha se profissionalizado em ambientes fechados e privados, a verdade é que o berço da modalidade é a praia, como apresenta Muscle Beach. O filme mostra atletas treinando rodeados por uma plateia de entusiastas e crianças que desde cedo aprendiam a cultivar uma bela relação com a natureza. Na obra, até os pássaros e outros animais se aproximam enquanto os bodybuilders mantêm o foco nas barras e halteres. Com uma estética vívida, iluminada, plácida e pueril, o filme é uma ode ao belo. Nem mesmo as limitações técnicas do cinema em preto e branco, com certa predominância do cinza, ofuscam a luz que se sobressai e transcende em cada cena.
O que também chama atenção em Muscle Beach é a harmonia e a alegria irradiadas pelo cenário. O filme contagia, embora não seja pautado em uma história nem em diálogos. É um registro fiel e nostálgico do bodybuilding em sua forma mais clássica. Strick e Irving tiveram uma grande preocupação em mostrar que a harmonia do corpo é capaz de promover uma conformidade psicológica e emocional com reflexos positivos no ambiente. Não foi preciso dar voz aos personagens para transmitir isso; bastou mostrá-los em seu habitat.
É possível interpretar que aqueles atletas não viviam para o corpo, mas sim o corpo vivia para eles, pois todos os resultados foram conquistados com a alegria e satisfação proporcionadas pela natural busca da qualidade de vida, sem excessos; como se o homem reconhecesse a sua necessidade de manter o corpo em movimento e desenvolvimento. Embora o filme não aborde o assunto, a Muscle Beach de Santa Monica era uma referência turística não apenas pela qualidade da praia. Todos queriam ver de perto o que aquelas pessoas faziam para conquistar uma forma física tão cativante.
Joseph Strick e Lerner Irving viajaram até a Muscle Beach, onde passaram três dias acompanhando o cotidiano de um grande número de atletas. O local também era famoso por ser uma área de aluguéis baratos e equipamentos de levantamento de peso disponíveis gratuitamente a qualquer hora do dia. O ginásio a céu aberto de Santa Monica foi frequentado por importantes nomes do bodybuilding. Alguns exemplos são Vic Tanny, Jack LaLanne, Joe Gold, Chet Yorton, Steve Reeves, Vince Edwards, Jack Delinger, George Eiferman e Dave Draper. Anos mais tarde, atraiu os atletas Larry Scott, Arnold Schwarzenegger, Franco Columbu, Hulk Hogan, o ator Danny Trejo e muitos outros.
A trilha sonora é uma singela viagem pela perspectiva do cantor Earl Robinson que do início ao fim narra as belezas do local e das pessoas que o frequentavam. Em 2008, o filme Muscle Beach foi recuperado pela Academy Film Archive e relançado em 2009 pela San Francisco Cinematheque que o avaliaram como um dos grandes documentários da cultura norte-americana do século XX.