David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Musculação’ tag

Não tenho necessidade de me alimentar de animais

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Pratico musculação há anos e reconheço que não tenho necessidade de me alimentar de animais e também não tenho necessidade de usar esteroides. Conheço meus limites naturais e eles são satisfeitos com a riqueza do mundo vegetal. Além disso, a minha perspectiva de que o veganismo é um imperativo moral deixa clara que uma motivação estética não é mais importante do que a vida dos animais não humanos. Então por que eu deveria trilhar outro caminho? Por que eu deveria incentivar mortes? Por que tomar parte na exploração de seres vulneráveis? Por que a realização estética deve se sobressair à vida? Há algo mais importante que a vida? Não creio.

Written by David Arioch

July 1st, 2018 at 3:25 pm

“Você faz mais alguma coisa além de musculação?”

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Um dia, na academia, um camarada me perguntou se eu fazia mais alguma coisa além de musculação. Achei a pergunta um tanto quanto estranha, mas tudo bem:

— Sim, eu trabalho.
— Sério mesmo?
— Verdade.
— Você trabalha com que?
— Com jornalismo, sou jornalista.
— Ora, nunca imaginaria.
— É? Por quê?
— Por causa da sua aparência. E também achei que você ficasse horas na academia.
— Não. Na realidade, meu treino tem duração de 40 a 50 minutos, às vezes chegando a uma hora. É o suficiente pra me exercitar e ter um shape razoável.
— Realmente não é muito tempo.
— Sim, o dia tem 24 horas, então me resta um bom tempo pra me ocupar com outras atividades, não?
— É…





 

Written by David Arioch

June 10th, 2018 at 7:27 pm

Waldemar Guimarães defende veganos e vegetarianos

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(Foto: Divulgação)

Waldemar Guimarães, um dos caras mais respeitados da musculação e do fisiculturismo brasileiro, publicou recentemente um texto no Instagram defendendo veganos e vegetarianos, e explicando que ele mesmo está indo pelo caminho da abstenção do consumo de animais. Para falar sobre isso em um meio onde as pessoas comem toneladas de carne, ovos e laticínios tem que ser realmente guerreiro. Minha admiração pelo cara aumentou instantaneamente. Tipicamente, os marombeiros e atletas que defendem que “não existe musculação e fisiculturismo sem o consumo de carne” fizeram chacota de seu posicionamento. O clássico e clichê “te respeito até o momento que concordo com você”.





Written by David Arioch

May 10th, 2018 at 11:29 am

Relato de um vegano que pratica musculação

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Foto: David Arioch

Como sou vegano e pratico musculação, me perguntaram o que tenho feito no “cutting”, na fase de queima de gordura. Me alimento e treino – sem aeróbicos, termogênicos ou suplementos pré-treino. Não consumo nem cafeína nem guaraná. Não uso recursos ergogênicos sintéticos. Atualmente, nessa fase, consumo de 1,5 a 2 gramas de carboidratos por quilo corporal/dia, em torno de 2 gramas de proteínas por quilo corporal/dia, e cerca de 0,5 grama de lipídios por quilo corporal/dia. Como treino diariamente há 12 anos, acho que conheço um pouquinho das minhas necessidades nutricionais.

Como sempre digo, meu treino não muda nessa fase hipocalórica, porque não acredito nas tais teorias de treinos diferentes para cada objetivo. Meu corpo corresponde a apenas uma coisa – minha disciplina e força de vontade. Quando se treina há um bom tempo e possui uma razoável massa muscular, seu metabolismo te favorece (tanto para ganhar massa muscular quanto para queimar – claro, desde que você seja uma pessoa realmente disciplinada).

Não uso esteroides anabolizantes. Não uso nenhuma droga farmacológica, mesmo não esteroidal. Há pessoas que recorrem a broncodilatadores para amplificar a termogênese e queimar gordura. Não faço isso e não gosto disso, porque acredito que isso pode trazer consequências para o organismo. Também evito estimulantes. Não acho que devo brincar com medicamentos como se fossem coisas inofensivas. Fármacos são criados com uma finalidade específica, e ainda assim são controversos.

Compensa usá-los com uma finalidade para a qual não foram criados? Será que isso vale a pena em longo prazo? Para mim, não. Além disso, infelizmente diversos dos grandes laboratórios farmacêuticos costumam testar seus produtos em animais, e há ainda aqueles que não testam, mas compram insumos testados. É algo abstruso e pouco claro. Há também laboratórios “underground”, que além da possibilidade de colocarem a saúde do consumidor em risco por questões sanitárias, compram matéria-prima chinesa, onde o teste em animais é um padrão.

Mas cada um sabe de si e pesa na balança o que é melhor em acordo às suas metas. Como sempre tive objetivos modestos, assim como muita gente, e me exercito por prazer, treinar tendo como base simplesmente a alimentação é uma opção minha da qual não abro mão.





 

Written by David Arioch

March 11th, 2018 at 2:34 pm

Um vegano subnutrido

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Eu hoje de manhã, um vegano subnutrido. Atualmente estou em fase de queima de graxa, o que significa que estou seguindo uma dieta hipocalórica. Nessa fase, ao contrário do que muitos pensam, não corto carbos, apenas diminuo volumes e quantidade de refeições. Passo a fazer quatro refeições em vez de cinco ou seis. E mantenho um jejum de no mínimo 12 horas diárias. Ah, mas como você consegue perder gordura sendo vegano, já que vegano parece que só come carbo?

Não, isso não é verdade, basta consumir na proporção adequada ao seu peso corporal, e claro, sem negligenciar proteínas e lipídios. Proteínas vegetais? Sim, isso mesmo, nada de origem animal! Você está perdendo peso? Sim, claro, não há como queimar graxa sem perder peso. Não existe isso de substituir gordura por músculo, então é normal que as pessoas notem isso, principalmente no meu caso que não uso esteroides. Você faz aeróbico? Não, não tenho feito nenhum, só musculação.

Você está perdendo gordura em quais partes do corpo? Nele todo. Nosso organismo não escolhe onde queimar gordura, então isso acontece de forma geral. Por isso não acredito na tal da perda de gordura localizada de forma natural. E como você se alimenta? Todas as minhas refeições atualmente têm carbos e proteínas, e em alguns momentos do dia boas fontes de gorduras/lipídios. Você se sente menos disposto nessa fase?

Não, mas como estou comendo bem menos normalmente sou mais cuidadoso no treino porque o risco de lesões pode aumentar nessa fase hipocalórica, então não é bom forçar muito as articulações. Porém, sinto sim um pouquinho de perda de força, o que é natural em decorrência da alimentação. Mas nada que me incomode. Você está usando algum termogênico? Não, nada.

Minha base é só alimentação e treino. E meu treino é praticamente o mesmo também. Minha prioridade é a exaustão. Mesmo sendo vegano e não usando qualquer e esteroide ou recurso farmacológico, não vejo impossibilidade em alcançar qualquer objetivo em relação a isso. Tenho vontade o suficiente, e isso me basta, independente do que os outros pensam.

“Ô irmão, vi que você é forte, será que pode me tirar uma dúvida?”

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Arte: Ivan Feskov

No mercado, um funcionário se aproximou.
— Ô irmão, vi que você é forte, será que você pode me tirar uma dúvida?
— Posso sim. Pode perguntar.
— Então, é que estou fazendo musculação e queria umas dicas.
— Dicas de que exatamente? Musculação ou alimentação?
— Os dois.
— Você já segue alguma dieta?
— Sim.
— Treina há quanto tempo?
— Tem pouco mais de três meses.
— Você procura dica de suplementação para ganho de massa muscular?
— É…
— Imaginei. Vou ser honesto contigo. A princípio, não vejo necessidade de suplementação, até porque você já está seguindo uma dieta. Mas se você estiver com dificuldade para consumir a quantidade de proteínas que seu organismo demanda, uma boa pode ser a inclusão de algum suplemento proteico.
— E o que você me indica?
— Cara, vou ser sincero. Sou vegano, então naturalmente não vou te indicar nada de proteína animal. Minha sugestão é proteína isolada de soja, de arroz, de ervilha, que é o que eu consumo. Mas suplementos devem ser consumidos de acordo com as suas necessidades individuais. A isolada de soja tem um bom custo/benefício, é só você comparar com o preço das proteínas de origem animal. E não é difícil encontrar proteína vegetal não transgênica, apesar do que muita gente diz. Proteínas vegetais também fornecem boa quantidade de aminoácidos essenciais, são de fácil digestão, muitas não contêm aditivos químicos, o que significa que costumam ser mais “naturais”, e dependendo do tipo há a vantagem de serem hipoalergênicas.
— Muito bom saber disso. Não conhecia essas proteínas, só ouvia falar de whey. E vou ver melhor esse negócio de veganismo.
— Pois é. Existe muita publicidade sobre whey protein. Mas há opções vegetais que não deixam a desejar em nenhum aspecto.
— Legal mesmo. Obrigado!





 

Written by David Arioch

January 14th, 2018 at 1:14 am

Treinando no escuro

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Subi a escadaria da academia, montei a barra para fazer rosca direta e comecei a treinar no escuro. Sim, não havia energia elétrica por causa do forte temporal. De repente, notei um cara me observando. Um olhar fixo e incivil. Sempre que eu me distraía, ele desaparecia.

Logo retornava. Continuava me assistindo. Movia os braços e fazia esgares ocasionais. Desconfortável, não nego. Estava bem escuro, e o sujeito continuava na mesma posição, movimentando os braços e contraindo os músculos. Um olhar grave, indômito. Movia a cabeça e sorria, não um sorriso comum. Um sorriso do tipo macarrônico.

“O que esse cara quer?” pensei. Deixa pra lá. Juntei 12 halteres ao redor do banco onde eu estava e continuei treinando. O sujeito também sentou e começou a me imitar. “Que isso?”, “O que está acontecendo aqui?” ‘O que tem de errado com esse cara?”, me questionei.

Ele só não me seguia quando eu ia até o bebedouro encher a minha garrafa de água. Mas continuava no mesmo lugar, me observando sem parar. Ele não se importava que eu soubesse. Sim, não fazia a menor diferença. Folgado.

No escuro, ocasionalmente a janela permitia que a pequena incidência de luz lançasse um brilho insólito sobre o espelho; um lume fortuito, intermitente. Era como se sua presença se desvanecesse com a luz. Dizem que o escuro é o refúgio dos casmurros. Deve ser.

Vez ou outra, eu caminhava até a janela, sentia o frescor, observava os galhos das árvores balouçando, desviava os olhos e retornava. Ok. Deitei no banco e comecei a fazer tríceps testa. Muito bom, assim não vejo ninguém, a não ser a barra e o movimento dos meus braços. Terminei, me levantei e ele continuava lá. “Po, ainda por aqui?”, pensei. Que seja!

Fiz rosca francesa com barra e caminhei até o outro lado da academia. “Aqui não tem ninguém. Claro que hoje não tem quase ninguém na academia, mas especialmente aqui estou só”, ponderei satisfeito. É isso aí! Olhei para o lado e o sujeito já tinha se antecipado. Ele sorriu; outro sorriso satírico, dicaz. Deve ter pensado: “Idiota, achou que fugiria de mim?”

“Que isso? Será que não posso treinar em paz?”, monologuei no escuro, desinteressado em abrir a boca. Fiz minhas séries de tríceps corda, fechando com drop-set. Antes de deixar a polia, a energia elétrica retornou por um instante. Observei o sujeito. Era o meu próprio reflexo no espelho.





Written by David Arioch

November 4th, 2017 at 12:06 am

“Carrega também, pai”

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No início da noite, quando saí da academia, passei em frente ao Rotary. Um garotinho, sem qualquer sinal de constrangimento, apontou o dedo para mim e chamou a atenção de seu pai.

— Pai, por que você não é forte que nem aquele tio árabe ali?
— Deve ser porque em vez do camelo carregar ele é ele quem carrega o camelo.
— Sim, carrego camelo nas costas — comentei de longe.
— Carrega também, pai — comentou a criança.

 

 





Written by David Arioch

September 14th, 2017 at 12:50 am

Como você descobriu onde eu moro?

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Arte: San Martin

O cara chega na sua casa depois das 22h pedindo dicas de musculação. Você nunca o viu na vida.

— Como você descobriu onde eu moro?
— Me falaram por aí.
— Como assim por aí? Você vai me desculpar, mas isso é muito estranho.
— Como?
— Vir na minha casa essa hora sendo que nunca te vi.
— É que eu só tinha esse horário livre pra falar contigo, fora que a noite é mais silenciosa.

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Written by David Arioch

September 10th, 2017 at 10:52 pm

“O reconhecimento do direito animal à vida é isso, não me colocar acima deles quando posso viver bem sem explorá-los”

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“Eu gosto de ter um shape legal, mas isso não é mais importante pra mim do que não comer animais”

— Vamos supor que você tenha virado vegano no mês passado, e de repente grande parte da sua muscular construída em anos de musculação está indo embora. O que você faria? Digo isso num cenário hipotético em que não é possível evitar essa perda de massa magra.

— Eu não faria nada. Claro, eu gosto de ter um shape legal, mas isso não é mais importante pra mim do que não comer animais. O que tenho é um corpo que é consequência da minha filosofia de vida. E se uma nova filosofia de vida não permitisse que eu tivesse uma boa massa muscular, sem problema. Pra mim, o reconhecimento do direito animal à vida é isso, não me colocar acima deles quando posso viver bem sem explorá-los. Meu ego e minha vaidade diminuem um pouquinho mais a cada dia. Ter saúde seria o suficiente para continuar trilhando o meu caminho. Isto aqui é uma carcaça que merece cuidados para que eu possa ter uma boa qualidade de vida. Porém, me vejo mais abaixo do que acima, talvez uma consequência natural de um tipo peculiar, ou estranho aos olhos de alguns, de estabelecimento de prioridades.

 

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