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A respeito dos meus textos sobre veganismo
Se eu sensibilizar ou levar uma pessoa a ver o veganismo com bons olhos, já terá valido a pena. Não sou o tipo de pessoa que escreve tentando impor nada a ninguém, até porque acho que esse não é o caminho. Se uma pessoa tem uma reação negativa aos meus textos, entendo apenas que pelo menos naquele momento ela não tem nenhuma inclinação ao veganismo ou a refletir sobre a exploração animal.
Talvez isso mude, talvez não. Discutir desnecessariamente ou brigar por causa disso não faz nenhum sentido pra mim, simplesmente porque vencer uma discussão significa apenas que alguém apresentou melhor estrutura de ideias e argumentos, o que não quer dizer exatamente que houve sensibilização ou conscientização. O ser humano é muito complexo, e vencer uma discussão pode ser algo interessante e positivo, mas também pode ser uma vitória solitária.
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Quem eu era na infância ainda vive dentro de mim
Sempre que termino a musculação, faço treino de mobilidade por 10 a 15 minutos. Como não havia espaço no local onde sempre realizo esse treinamento, deitei perto do espelho que fica em frente à polia. Então prestei bastante atenção no meu rosto, e sorri sozinho, porque reconheci que quem eu era na infância ainda vive dentro de mim.
Percebi isso nos meus olhos, e me senti realmente grato, porque perder isso seria perder a minha própria identidade. Às vezes, se olhar no espelho não tem nada a ver com narcisismo, ainda mais se o que quero ver somente o reflexo não pode me oferecer.
A respeito do meu artigo sobre as afirmações de Drauzio Varella
A respeito do meu artigo sobre as afirmações do médico Drauzio Varella, defensor do consumo de carne, tem pessoas dizendo que veganismo não é pela saúde, mas sim pelos animais. Claro que isso é verdade. Porém, esse meu artigo em específico não é sobre veganismo, é sobre alimentação vegetariana, até porque não se rebate afirmações de um médico com informações sobre direitos animais. Acredito que cada coisa é uma coisa.
Direitos animais e veganismo devem ser abordados e discutidos quando os argumentos se voltam para isso, mas não quando são direcionados a outras questões. Se o Drauzio fala que não há nenhum estudo que prova que o consumo de carne faz mal, o correto é contrapor o que ele disse se valendo da mesma seara – ou seja, da medicina.
Falar em direitos animais tentando rebater o que ele disse, não ajudaria na minha opinião – porque o público dele é de pessoas que buscam informações sobre saúde e qualidade de vida, não sobre direitos animais. Na realidade, ir por esse caminho só reforçaria o discurso dele, de que não se tem argumentos para rebater o que ele disse fora do que ele chama de “campo ideológico”.
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A insegurança humana e as laranjas
A insegurança humana me surpreende na mesma proporção que me intriga. Hoje, no mercado, eu estava analisando algumas laranjas em uma banca. De repente, uma mulher se aproximou, me olhou e fez o mesmo. Achei normal. Afinal, qual é o problema de duas pessoas selecionando laranjas? Antes que eu terminasse, um homem, provável marido da moça, se aproximou e me observou por alguns segundos. Quando eu retribuí a observação, ele disfarçou, a pegou pelo braço e se afastou. Eu? Continuei analisando as laranjas.
Tolstói: “O vegetarianismo é um sinal da aspiração séria e sincera da humanidade”
Sobre a carne como alimento, o escritor russo Liev Tolstói a desqualificava sob qualquer aspecto
Um dos maiores nomes da literatura mundial, Liev Tolstói, além de romancista, filósofo, humanitarista e pacifista, também chamou a atenção e conquistou muito respeito nos séculos 19 e 20 por ser um grande defensor do vegetarianismo. Levando uma vida frugal, ele se alimentava basicamente de pães, frutas e vegetais.
Sobre a carne como alimento, Tolstói a desqualificava sob qualquer aspecto, e não apenas ponderando sobre o sofrimento dos animais, mas também a supressão da capacidade espiritual humana – que deveria se voltar para a simpatia e compaixão pelos seres vivos. “Ao violar esses sentimentos, o ser humano abre as portas para a crueldade. Mas afirmando que Deus ordenou o abate dos animais, o que acima de tudo é tão somente um hábito, as pessoas perdem inteiramente o seu sentimento natural”, escreveu Tolstói em ensaio publicado no livro Recollections and Essays, lançado em 1937, 27 anos após sua morte.
Na obra, há diversos textos raros em que ele aborda suas experiências com o vegetarianismo. E se alguns deles se voltam para a introspecção e interiorização, outros consistem em retratos da comezinha hipocrisia. Exemplos são os relatos sobre o que ele testemunhava tanto nas áreas urbanas quanto rurais da Rússia tsarista.
Segundo o escritor russo, o ser humano, por ter hábitos onívoros, ignora o fato de que o primeiro elemento da vida moral é a abstinência. “Não faz muito tempo que falei com um soldado aposentado. Ele ficou surpreso quando eu disse que é uma pena matar animais e reduzi-los à comida. Justificou que era a ordem natural das coisas. Falei que sentia mais pena ainda quando os animais surgiam silenciosos, como gado manso. ‘Eles vêm, coitados, confiando em ti. É muito lamentável.’ Até o final da nossa conversa, ele já estava concordando comigo”, narra.
Tolstói também relata uma experiência que teve quando decidiu visitar um matadouro em Tula, ao sul de Moscou. Naquele dia, ele convidou um amigo para acompanhá-lo. A proposta foi declinada e o homem alegou que não suportaria ver o abate dos animais. “Vale a pena observar que ele era também um desportista que caçava pássaros”, enfatiza o escritor, desvelando a contradição especista do amigo.
De acordo com o russo, em qualquer lugar, sempre há uma senhora refinada devorando a carcaça de um animal, crente de que está agindo corretamente. Ela é tão frágil que diz não ter condições de se alimentar somente de vegetais. Também é tão sensível que jamais conseguiria causar dor a si mesma ou a qualquer outro animal. Na realidade, seria incapaz até de vê-lo sofrer. E ela é fraca justamente porque foi ensinada a se alimentar daquilo que não é natural ao homem. E, ainda assim, ela não consegue evitar de causar dor aos animais porque prefere continuar comendo eles.
Para Tolstói, se alimentar de animais é uma injustiça e uma imoralidade que tem sido aceita pela humanidade durante toda a vida consciente dos seres humanos. Apesar disso, há séculos cresce o número de pessoas que não reconhecem o ato de comer carne como sendo certo. No século 19, o escritor russo percebeu que a humanidade já passava por um progresso moral lento, mas ininterrupto.
“Não se pode duvidar que o vegetarianismo tem progredido dessa forma. O progresso do movimento deve provocar especial alegria naqueles que se esforçam por trazer o verdadeiro reino de Deus à Terra. O vegetarianismo é um sinal da aspiração séria e sincera da humanidade em direção à perfeição moral”, defende Liev Tolstói em Recollections and Essays. Sua contribuição para o vegetarianismo foi tão significativa que desde a década de 1950 seus ensaios são usados em congressos realizados no mundo todo.
Referências
Tolstoy, Leo. Recollections and Essays. Nabu Press (2011).
IVU World Vegetarian Congress, Souvenir Book (1957).
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