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Breve reflexão sobre o ódio
Tenho altos e baixos como qualquer ser humano, mas realmente não costumo nutrir ódio pelas pessoas. Isso faz de mim um ser humano melhor? Não sei, porque não penso criteriosamente a respeito. Porém, creio que o ódio demanda tempo e energia, e honestamente não vejo como me dedicar a isso pode ser positivo. Afinal, odiar também é um exercício, e como todo exercício é preciso despender algo.
Ademais, o ódio, como desdobramento da passionalidade, também pode ser uma forma de impermanência ou fragilidade consubstanciada, e como tudo que é negativamente consubstanciado te priva de algo se você não se esforçar para observar além ou entender que isso naturalmente pode ter mais implicações para você do que para o objeto do seu ódio.
Sendo assim, creio que, de fato, o ódio, para além de ser um agente limitador, não me parece um bom motivador se excita em mim algum tipo de paixão virulenta que me priva da razoabilidade ou mesmo da racionalização. Odiar me parece desnecessariamente laborioso e contraproducente. Há que se considerar também o fato de que o ódio em longo prazo pode ser um agente corrosivo, e mesmo um gatilho de doenças psicossomáticas.
Você não sente muito ódio das pessoas por toda a violência que elas causam aos animais?
— É muito triste, e até desanimador às vezes. Mas não chego a esse ponto, simplesmente porque se eu começar a sentir muito ódio, naturalmente vou perder o foco do meu trabalho. E emoção sem informação e conscientização infelizmente não garante compreensão nem razão, principalmente quando você fala com pessoas que não são realmente sensíveis ao sofrimento animal. É justamente por isso que não discuto com pessoas que fazem piadas sobre o sofrimento animal, ou que fazem provocações vazias, que não condizem com a realidade; porque elas simplesmente não sabem o que falam. Estão na superfície da coisa toda, e acredito que no fundo mais por ignorância do que por insensibilidade.
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O ódio constante…
O ódio constante é a exteriorização das nossas feridas, nossas vulnerabilidades; um prurido consubstanciado. O ódio frequente é a reafirmação das nossas fragilidades, da rejeição daquilo que desprezamos porque estamos ocupados demais para entender quem somos, o que sentimos e o que fazemos.
A mídia e o ódio
Li algo interessante sobre como a mídia é capaz de alimentar o ódio da população simplesmente repercutindo notícias negativas e sequenciais envolvendo crimes e violência. Conheço pessoas que buscam apenas esse tipo de notícia. Será que isso é saudável? E acredito que nem todo mundo reflete sobre o impacto que isso tem em sua consciência e em sua vida. O mundo pode ser cinzento, mas isso não significa que ele se resume a isso.
Odioso na internet, manso fora dela
Odioso na internet, manso fora dela. Existe muita gente assim. O problema é que há pessoas que esquecem que palavras na internet também têm consequências. Por isso acredito que o melhor de tudo é ponderar: “Será que o que falo aqui eu seria capaz de falar cara a cara com alguém?”
Ou: “Será que isso é realmente o que penso ou estou apenas nervoso?” Um bom exercício também é ler o próprio discurso e tentar imaginar como você reagiria se fosse alguém falando da mesma forma com você.
O ódio, o rancor e o surgimento de doenças
Há pessoas que em inúmeras situações são motivadas pelo ódio e pelo rancor, mas ignoram que esses sentimentos também levam ao surgimento de doenças psicossomáticas. E isso inclui desde doenças cardiovasculares até gastrointestinais, endocrinológicas, dermatológicas, entre outras. No século 19, um neurologista, fisiologista e antropólogo italiano chamado Paolo Mantegazza alertava para os perigos de se cultivar esse tipo de sentimento. Ele discute isso no seu livro “A Fisiologia do Ódio”, publicado em 1899.
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A contradição de clamar por democracia sendo antidemocrático
Vejo muita passionalidade envolvida, e muitas vezes me parecem armadilhas do ego e da vaidade
Esses dias, testemunhei na internet um camarada sendo chamado de “comunista”, no sentido mais pejorativo do termo, aquele que hoje povoa o ideário comum, porque publicou um vídeo mostrando um general da época da ditadura militar impedindo um jornalista de exercer a própria função. Esse sujeito que o ofendeu com palavras baixas e declarou que o camarada deveria ser fuzilado por ser “comunista” é um exemplo de uma efervescência perigosa e sem precedentes que tenho visto na internet.
Primeiro porque o camarada não é “comunista”. Ainda assim, tentei entender o posicionamento do rapaz, mas foi impossível porque ele vive uma estoica contradição – uma pessoa que diz estar lutando pela democracia e ao mesmo tempo se coloca no direito de dizer que muitos brasileiros deveriam ser deportados ou fuzilados porque não pensam como ele. Me refiro a alguém que entra na internet para impor sua opinião de forma agressiva em páginas de pessoas com quem não partilha as mesmas ideias.
Penso que se não sou seu amigo e entro na sua página para comentar algo sem ser convidado, devo pelo menos ser educado e defender o meu posicionamento de forma ponderada e lúcida – o mínimo que se pode esperar de um ser humano que deveria respeitar o outro tanto quanto respeita a si mesmo. Não é correto invadir um perfil pessoal no Facebook para impor nada, até porque esse espaço pode, porém não precisa ser democrático. Ninguém tem o direito de fazer isso, independente de qualquer coisa.
Sinceramente, não há como negar que comportamentos como o do rapaz citado têm relação direta com a indigência cultural, já que generalizações e ofensas costumam ser usadas com mais frequência por pessoas que não são capazes de argumentar ou defender um ponto de vista sem apelar para clichês ou estereótipos. O sujeito que ofendeu esse meu camarada trabalha como instrutor em uma academia onde paro em frente quase todos os dias quando o sinal vermelho do semáforo está acionado.
Já o vi algumas vezes rindo e fazendo brincadeiras com alunos e colegas de trabalho, o que torna tudo mais chocante porque mostra como um ser humano aparentemente pacífico pode na realidade esconder uma faceta agressiva e tirânica, o que é interpretado por estudiosos do comportamento humano como sinais de sociopatia.
Acho válido citar também pessoas mais próximas que conheço há muito tempo e que presenciei e ainda presencio defendendo discursos de ódio em mídias sociais. Posso dizer que não é fácil olhar para a pessoa e não associá-la ao que li na internet. A vida segue, mas um resquício de fel na boca persiste.
Vejo muita passionalidade envolvida, e muitas vezes me parece armadilha do ego e da vaidade, aliada a uma visão canhestra do mundo; até um anseio jactante e quase totalitarista de redefinir o que é certo e errado. É incrível como nos deparamos todos os dias com pessoas hostilizando alguém. Tudo isso porque não foram preparadas para lidar com as diferenças, e acho que esse é um problema que surge na infância e adolescência.
Diariamente encontramos pessoas querendo moldar o mundo e as pessoas à sua maneira, o que não significa que seja algo basicamente ruim, já que no fundo todos fazemos isso de algum modo. E claro, muitas coisas nesse sentido podem ser realmente positivas. No entanto, a preocupação surge quando as negativas se sobrepõem, porque aí o respeito é relegado à farelagem e o ser humano deixa de ser humano.
Uma metamorfose social
Lord of the Flies mostra como a necessidade de sobrevivência transforma as pessoas
Lançado em 1990, Lord of the Flies, inspirado no livro homônimo de William Golding – vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, é um filme do cineasta inglês Harry Cook que chegou ao Brasil com o título O Senhor das Moscas e mostra como a necessidade de sobrevivência transforma os seres humanos. Na obra, um grupo de crianças resiste a uma queda de avião no oceano e encontra abrigo em uma ilha.
Logo nos primeiros dias, Ralph (Balthalzar Getty), o mais maduro dos garotos, demonstra aptidão para a liderança, deixando claro, apesar da pouca idade, que o melhor meio de sobreviver e manter o equilíbrio é seguindo um programa diário de direitos e deveres. Para Ralph, todos na ilha desempenham papel importante e insubstituível, o que remete à democracia.
Contudo, Jack (Chris Furrh) antagoniza o idealismo de Ralph. Assim como muitos líderes se aproveitaram de um momento de fraqueza de suas nações para instituir um sistema ditatorial, Jack faz o mesmo na ilha. Com a proposta de oferecer caçadas e brincadeiras aos comparsas, o garoto consegue persuadir quase todos os seguidores de Ralph, com exceção de Simon (James Badge Dale) e Piggy (Danuel Pipoly).
O primeiro é uma criança com uma essência mística que se destaca dos demais pela sensibilidade aguçada. O segundo representa a ciência, o juízo e a razão. Mas ninguém personifica melhor a metamorfose social do homem do que Jack. O garoto aparentemente amistoso se torna agressivo após formar um grande grupo de dissidentes. Embriagado pelo poder, se recusa a refletir sobre as propostas dos companheiros. O novo líder mergulha os passivos discípulos em uma realidade truculenta, chegando a perder a capacidade de ver a si e aos outros como crianças e adolescentes.
Jack cede espaço ao ódio indiscriminado e se isenta de culpa por todos os atos de injustiça, crente de que sacrifícios são válidos por um “bem maior”. O cineasta Harry Cook explora a transformação do personagem através de fortes expressões faciais, maquiagem pesada e vestimentas que se definham. Tudo se soma na construção simbólica da decadência do homem como ser social, marcado pelo retorno ao estado primitivo.
Curiosidade
O primeiro filme baseado na novela de William Golding, de 1954, foi lançado em 1963 pelo cineasta britânico Peter Brook.