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Uma vida dedicada ao próximo
Na infância, Rosinha percorria até 20 quilômetros a pé com o pai para rezar pelos enfermos

Dona Rosinha: “Desde que nasci meu pai já orava pelos outros e fazia caridade. Vem de geração em geração” (Foto: David Arioch)
Chego na casa de Dona Rosinha no Jardim Ipê, como é mais conhecida Rosa Ferreira dos Santos, e o seu marido, o vigilante Cido Dias dos Santos, pede que eu entre. Sem cerimônia, diz que ela já está me aguardando. Quando me vê, a dona de casa exibe um sorriso largo e singelo e me convida para sentar em um sofá na sala.
Miudinha e ansiosa pela entrevista, Rosinha tem uma rara força e resistência, o que ela atribui à fé religiosa. Procurada toda semana por pessoas que desejam algum tipo de graça, a dona de casa diz que não é benzedeira, mas sim rezadora. “O povo chega aqui e pede pra eu rezar. Meu trabalho pra ajudar quem precisa é baseado em três orações: ‘Pai Nosso’, ‘Creio em Deus-Pai’ e ‘Salve Rainha’. São as mais fortes pra gente”, afirma.
Além de orações, muitos são atraídos pelos seus remédios caseiros para dores nas costas, gripe e bronquite, feitos há 16 e 20 anos. “Quando acontece de não vir quase ninguém numa semana eu já fico preocupada, me perguntando se minha oração ainda está ajudando. Mas depois o número de visitas aumenta e fico feliz”, comenta com simplicidade.
A cultura da oração entrou na família de Rosinha com os bisavós e desde então a família segue a tradição de ajudar quem precisa, independente de classe social. “Desde que nasci meu pai já orava pelos outros e fazia caridade. Vem de geração em geração. As pessoas me procuram bastante por motivos de doença e também pra passar em algum tipo de concurso. Muita gente já me ligou agradecendo depois. Só não sei é a minha fé que é mais forte ou a fé deles em mim”, declara sorrindo.
Ainda criança, e vivendo em um cenário que lembra a atmosfera mística do filme “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, Rosinha e os sete irmãos acompanhavam o pai em caminhadas de até 20 quilômetros para levar orações àqueles que já não podiam frequentar uma igreja, principalmente por problemas de saúde. Quando chegavam ao local, o pai e os filhos rodeavam o enfermo e oravam por horas.
“Ele era rezador de terço igual eu sou agora. Foi a herança que me deixou. Lembro que íamos tão longe que às vezes até dormíamos na beira da estrada. Meu pai e os filhos mais velhos carregavam os menores nas costas. Nunca foi homem de sair e deixar a família abandonada em casa”, destaca.
O relato remete aos anos 1960 e início dos anos 1970, quando a família de Rosinha vivia em cidades como São Jorge do Patrocínio, Pérola, Altônia e Rondon, nas regiões de Umuarama e Cianorte. “Morávamos em um canto, daí passava um tempo e a gente mudava, até que ficamos na residência do meu tio em São Jorge do Patrocínio. Depois arrumamos uma casa e começamos a trabalhar como boia-fria nos cafezais. O serviço mais perto exigia pelo menos quatro quilômetros de caminhada”, conta.
Após o falecimento do pai, há quase 20 anos, Rosinha continuou a tradição familiar, inclusive o trabalho de aplicar injeções em enfermos, algo que aprendeu na juventude, numa época de grande carência médica. “Quando um doente não pode sair de casa e a ajuda não chega, as pessoas me procuram. Faço exatamente como meu pai me ensinou”, justifica.
A dona de casa defende que o mais importante é fazer o bem aos outros sem esperar nada em troca. “Nem poderia ser diferente. Já alcancei tantas graças que só tenho a agradecer. Não me vejo no direito de cobrar nada de ninguém”, afirma. De acordo com a zeladora Maria Ruth Serrano, Rosinha é uma mulher atenciosa e batalhadora que possui muita força. “O trabalho dela é maravilhoso. Tá sempre preocupada com o próximo”, garante Ruth que a conhece há mais de 30 anos.
Segundo o marido Cido, o que também reafirma a solidariedade da esposa é o fato de nunca terem morado sozinhos. “Ela sempre trouxe alguém pra gente cuidar. Alguns eram parentes e outros não. Quase todos os irmãos dela já moraram com nós. Hoje cuidamos do meu pai. Torço para que ela nunca precise parar de fazer esse trabalho porque sei que é a maior satisfação da vida dela”, argumenta o vigilante.
“Nunca gostei de ficar à toa em casa”
Nascida em Salinas, no Norte de Minas Gerais, Dona Rosinha adotou Paranavaí como lar há 37 anos. “Já fiz de tudo na minha vida. Até trabalhei de doméstica e não me adaptei, retornando pra roça de café. Agora faço apenas trabalhinhos como confecção de rosários e crochê”, explica e acrescenta que atualmente a renda familiar é baseada no salário do marido e do filho.
A dona de casa, acostumada a realizar serviços manuais, foi obrigada a parar de trabalhar após o implante de um marca-passo. “Ninguém dá serviço para alguém nessa condição. Não sou aposentada. Já tentei três vezes e não consegui, nem mesmo pelo INSS. Por que os ricos se aposentam e eu não? Tem muita gente por aí aposentada sem necessidade”, desabafa.
A casa onde vive há dois anos no Jardim Ipê, e perto de uma igreja, foi conquistada com muito sacrifício, assim como praticamente tudo na vida de Rosinha. “Me empenhei para que meus filhos estudassem e hoje me orgulho de saber que se formaram na faculdade. Quando eram crianças, eu até trabalhava na escola pra garantir uma boa educação pra eles”, revela.

“Me empenhei para que meus filhos estudassem e hoje me orgulho de saber que se formaram na faculdade” (Foto: David Arioch)
Por mais de dois anos, a rezadora fez trabalho voluntário na Santa Casa de Paranavaí. Assim que terminava os afazeres domésticos, ia até o hospital, onde dava banho e trocava as roupas dos enfermos. “Nunca gostei de ficar à toa em casa. Por isso passava horas na Santa Casa, ajudando principalmente aqueles que não recebiam visitas de parentes”, garante.
Com a proximidade do Natal, Dona Rosinha explica que está preparando um presépio feito de jornal dobrado, em forma de torre. Seguindo uma velha tradição, em vez de pintá-lo com tinta, ela vai colori-lo com carvão molhado. “Fazemos isso todos os anos e atrai muita gente. As pessoas pedem muitas orações, até quem não pode vir faz o pedido por telefone”, confidencia.
“Não tinha quase comida, só um pouquinho de arroz e feijão cru”
Aos 20 anos, quando trabalhava como boia-fria, Rosinha, acompanhada do pai e dos irmãos, percorria a pé 15 quilômetros de estrada de terra para chegar ao cafezal. Saía de casa às 5h, antes do galo cantar, quando a escuridão ainda tomava conta do lugar. “Um dia a gente tava em casa se preparando pro trabalho e não tinha quase comida, só um pouquinho de arroz e feijão cru. Minha mãe olhou nas panelas e ficou preocupada”, conta. Então sugeriu ao marido que pedisse um pouco de mandioca para o patrão, senão teriam de passar fome no dia seguinte.
No mesmo dia, às 9h, uma vizinha bateu na porta da casa de Dona Joana, mãe de Rosinha, e reclamou que seus três filhos estavam sem comer há três dias. Sensibilizada, Joana deu metade do arroz e do feijão cru já insuficiente para alimentar a própria família. Por volta do meio-dia, uma mulher desceu de um automóvel em frente à casa de Rosinha e bateu palmas, surpreendendo Dona Joana. “Naquele tempo era difícil ver carro em São Jorge do Patrocínio. Ela chamou minha mãe e mostrou um saco de estopa enorme cheio de alimentos. Tinha tanta coisa que a gente nem sabia o que era. Pra gente era comida de rico”, lembra Rosinha rindo e chorando.
Um homem que acompanhava a mulher posicionou o saco ao lado do pequeno portão da casa dos pais de Rosinha. No mesmo instante, o mais novo dos oito filhos de Dona Joana começou a chorar. Ela se desculpou e foi ver o que aconteceu com a criança. Quando retornou, a mulher não estava mais lá, nem o homem e o carro que a trouxe. “Minha mãe ficou desesperada. Queria agradecer de qualquer jeito. Ela correu toda a vizinhança tentando saber o paradeiro da mulher. Todos os vizinhos falaram a mesma coisa, que não viram carro nenhum passar por aquelas bandas naquela manhã. Então minha mãe chorou, se sentindo abençoada por Deus”, narra com olhos marejados.
Solidária, Dona Joana retirou apenas o essencial do saco de estopa e dividiu o restante com quatro famílias de boias-frias. O dia foi tão especial que até a jornada de trabalho dos que foram para o campo acabou mais cedo. “A gente sempre chegava em casa à noite, lá pelas nove horas, porque demorava pra arruar o café, mas naquele dia vimos o Sol desaparecer através da nossa janela”, relata Rosinha chorando.
“Senti mãos me pegando e me levantando”
Numa noite, Dona Rosinha sentiu tontura e não conseguiu dormir. Preocupados, o marido e os filhos a levaram para o Pronto Atendimento Municipal (PA), onde recebeu um pouco de soro intravenoso. Às 6h, a dona de casa deveria ir Arapongas, no Norte Central do Paraná, trocar o marca-passo que parou de funcionar, mas ninguém a chamou. Assim que levantou e olhou pela janela, já estava tudo claro lá fora. Então Rosinha deitou com os olhos fechados debaixo de uma lâmpada, pedindo a Deus que não deixasse nada de ruim acontecer com ela. “Senti mãos me pegando e me levantando. Fiquei com os olhos fechados porque não tive vontade de abrir. Quando fui colocada novamente na cama, abri os olhos e não tinha ninguém ao meu lado, como se ninguém tivesse entrado no quarto”, conta.
Depois a dona de casa se levantou e lembrou a enfermeira de que ela precisava ir a Arapongas trocar o marca-passo. “Veio uma equipe grande me ajudar. Na ambulância, durante toda a viagem, senti como se as mesmas mãos que não vi continuassem acariciando o lugar onde o marca-passo que não funcionava mais estava instalado. Sentia tudo, mas não via nada”, garante.
Após receber anestesia, Rosinha ficou sabendo que não havia condições de recuperar seu marca-passo, sendo necessário fazer a substituição. “Foi preciso fazer uma outra cirurgia de última hora pra trocar o marca-passo. A operação acabou tão rápido que até a equipe médica se surpreendeu. E eu ainda sentia aquela mão desconhecida no marca-passo”, assegura.
Ao final da cirurgia, a dona de casa foi avisada que precisaria de dois ou três dias de repouso para conseguir andar novamente. Surpreendendo todos, Rosinha levantou na manhã seguinte, andando por todo o quarto e se oferecendo para ajudar os pacientes deitados nas camas mais próximas. “O médico disse que nunca viu uma recuperação tão rápida. Dias atrás também tive um princípio de [acidente vascular cerebral] AVC, só que logo ficou tudo bem”, comemora com voz remansosa.
Frases de Dona Rosinha
“Seguindo as lições de meu pai e minha mãe, não consigo passar um dia sem ajudar alguém”
“Quando eu era criança, uma moça que era nossa vizinha tentou se matar. Ela tomou veneno cinco vezes e chegou até a beber soda e não morreu. Se não for a hora, não adianta insistir”
“Qualquer pessoa que aparece aqui pra eu cuidar, eu cuido, porque Deus me deu esse dom e eu sigo em frente”
Saiba Mais
Dona Rosinha, que também é procurada por pessoas de outras cidades e regiões, mora no Paraná há 53 anos. Quem quiser entrar em contato com ela, pode ligar para (44) 3045-7819.
O Quintal Mágico de Sergio Torrente
“Não tinha como não transformar o lugar onde moro naquilo que vivo diariamente, a arte popular”

Casa na Rua Antônio Felipe que abriga o escritório e o Quintal Mágico de Sergio Torrente (Foto: David Arioch)
Em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, quem passa pela Rua Antônio Felipe em direção à Praça dos Pioneiros se depara com uma residência bem chamativa à direita. É lá, no número 1676, que vive o artista popular Sergio Torrente. Num colorido cenário, Sergio prova que na vida poucas coisas são realmente descartáveis, ainda mais quando um artista tem a sensibilidade de dar um novo sentido até para objetos que cabem na palma da mão e já não funcionam mais, como um velho despertador à corda.
Depois de passar por uma sala, onde também fica o escritório de Torrente, vou mais adiante, atravesso a cozinha e a última porta da casa. Então encontro meu destino, o motivo da visita, o Quintal Mágico, dividido em três espaços. “Não tinha como não transformar o lugar onde moro naquilo que vivo diariamente, a arte popular”, justifica o artista sorrindo.

Em pouco tempo, chegaram peixinhos, flores e gira-giras, penduricalhos criados por Sebastião Torrente (Foto: David Arioch)
Entre pinceladas de tinta verde, amarela e azul, há três anos surgiu um palco e alguns bancos doados por uma igreja do Jardim São Jorge, agora pintados num azul anilado. Em pouco tempo, chegaram peixinhos, flores e gira-giras, penduricalhos criados por Sebastião Torrente, pai de Sergio, que hoje adornam uma bela e frutífera jabuticeira. “Começou a se transformar e vimos que ele estava mágico, então surgiu a ideia de dar o nome de Quintal Mágico, um espaço onde a arte popular floresce, onde artistas autorais podem se apresentar”, enfatiza.
Pelo local já passaram compositores locais como o próprio Sergio Torrente, Marquinhos Diet, Fernando Bana, Rogério Esquivel e João Henrique. Todos os fazedores de música de Paranavaí podem se apresentar no Quintal Mágico. Ao final da performance é passado um chapéu e quem quiser pode contribuir. “Tem que aproveitar o espaço que é nosso”, comenta. Depois peço que me leve até SáD´Zabumbê, onde uma pequena e estreita abertura no muro exige que cada convidado se abaixe para entrar, fazendo uma reverência ao rei, um boneco grande que tem pés no lugar das mãos e mãos no lugar dos pés.
Após sair de uma limítrofe cobertura de lona escura, piso no solo de SáD´Zabumbê, que é melhor aproveitado se você estiver descalço, sentindo a energia da terra. Há um palco bem rústico, que remete ao início da civilização, delimitado por duas ripas e um tronco fino. No muro se vê sapatos pendurados, uma analogia de que tudo que cobre os pés deve ficar suspenso. As trepadeiras também crescem livremente em várias direções. “A energia foi chamando”, acredita Sergio.

Após sair de uma limítrofe cobertura de lona escura, piso no solo de SáD´Zabumbê (Foto: David Arioch)
O local conta somente com a iluminação de uma fogueira, lampião ou luz de velas para criar um clima mais tribal, intimista e informal. Torrente não se preocupa com a ordem das coisas no ambiente, pois elas se ajeitam naturalmente. “Terminamos de tomar uma garrafa de vinho e simplesmente a colocamos aqui, junto com todas as outras que fazem parte de uma simbologia do sangue e da despreocupação”, revela e acrescenta que ao trocar a água pelo vinho o homem deixa de ser motivado pela razão e se guia pela emoção.

Por dois a três minutos, Sergio manipula os personagens, encenando em espanhol um fragmento criterioso de “Oração” (Foto: David Arioch)
O palco de SáD´Zabumbê também foi criado para a encenação do espetáculo “Oração”, do renomado escritor, dramaturgo e cineasta espanhol Fernando Arrabal, de quem Sergio Torrente conseguiu autorização para a montagem da peça. “A minha ‘Oração’ tem direção do capixaba Wilson Coêlho, grande dramaturgo e pesquisador que possui os direitos do espetáculo no Brasil. Apresentei ‘Oração’ na versão original, em espanhol, em 2010 em três festivais na Argentina. Agora quero marcar uma reestreia para 30 a 40 pessoas, discutindo as questões da culpa e da des…culpa, da origem do conhecimento”, pontua enquanto empurra sobre o solo de SáD´Zabumbê um carrinho de bebê com três bonecos que fazem parte do espetáculo, representando Fídio, Lilbé e seu filho.
Por dois a três minutos, Sergio manipula os personagens, encenando em espanhol um fragmento criterioso de “Oração”, a busca do casal por um sentido em suas vidas. Em frente ao modesto palco há uma mamoneira envolta por fitas e uma pinheira. A primeira é uma árvore de recordações em que as fitas representam as histórias, a trajetória humana. “A vida nada mais é do que momentos de felicidade e esses momentos são criados por nós, seja na intenção de viver, ouvir coisas boas ou estar presente. E o Quintal Mágico celebra isso”, argumenta. Sobre o nome, SáD´Zabumbê é um neologismo da junção dos termos regionalistas “sassinhora” e “zabumbê” que juntos significam senhora felicidade. “Se você entrar por baixo, ela vai te levantar. A ideia aqui é manter o espírito de luz, a boa energia em alta”, defende.
A Ação B, o segundo e maior espaço do Quintal Mágico, que fica entre SáD´Zabumbê e a futura Fábrica de Brinquedos, possui um palco com três palmos de altura, usado para apresentações musicais de duas ou três pessoas. Foi construído a partir de cacos de telhas, sobras de lajotas, tijolos e outros restos de entulho. “Assim que mudei pra cá, fui limpando e colocando tudo num canto. Quando vi aquele monte de tranqueira feia pra danar, armei uns palanques, espalhei tudo isso e compactei. Assim surgiu outro palco”, narra.
Nas “Terças Encantadas”, a partir das 19h30, a diversão no local é baseada em prosa, viola, violão, risos e fogueira. “A gente brinca até as 22h, é o suficiente, até porque o vizinho tem que dormir e nós precisamos trabalhar no dia seguinte”, avisa. No sábado e no domingo os encontros começam às 15h e terminam por volta das 19h. O sinal de que o Quintal Mágico está aberto para quem quiser entrar são as luzinhas acesas na entrada da casa. “Viu a luz? É só vir pro fundo”, sugere.
O céu aberto permite que os convidados tenham um visão privilegiada da Lua e das estrelas enquanto se divertem em torno da fogueira. Nos finais de semana o Quintal Mágico convida todos a retornarem à infância, em rodas de brincadeiras e de cirandas, tocando tambores. “’Esta ciranda quem me deu foi Lia que mora na ilha de Itamaracá…’ E assim por diante. A gente pede que as pessoas se sintam à vontade, pisem no chão, façam coisas que não estão acostumadas a fazer todos os dias”, recomenda o artista que também pretende realizar rodas de congo e coco.
No terceiro espaço do Quintal Mágico, Sergio e o músico Rogério Esquivel vão coordenar pesquisas para a fabricação de brinquedos populares. A ideia é futuramente oferecer oficinas para adultos e crianças. “Queremos incentivar todo mundo a brincar como antigamente. Chegou a hora de desligar um pouco a TV, o computador e o celular. Aqui eles vão aprender a fazer um traca-traca, um mané gostoso – aquele que pula, um jogo de trilhas, damas. Enfim, joguinhos que meu pai brincava comigo quando criança e o pai dele brincou com ele”, explica.

Antes de eu ir embora, Sergio abraça a viola, canta a plenos pulmões e toca percussão com os pés (Foto: David Arioch)
Cada oficineiro vai assumir o compromisso de produzir três ou quatro brinquedos, feitos principalmente de materiais recicláveis, para doações em comunidades carentes. Além disso, o Quintal Mágico está recebendo brinquedos quebrados para serem consertados e doados. E como diz a letra da música de Torrente: “Uma cidade tem que ter uma canção, um santinho padroeiro para lhe dar proteção. E tem que ter uma bodega sempre aberta, uma cachaça esperta e um louco de plantão. Vamos fazer a nossa bodega aqui”, canta e informa Sergio.
Coordenada por Sol Púrpura, a bodega deve promover ainda mais a interação e a valorização mútua dos frequentadores do Quintal Mágico. “Em breve vamos oferecer pizza, docinhos caseiros, um vinhozinho, uma cachacinha artesanal, os penduricalhos do Seu Tião, brinquedos populares e o que vier. Todo mundo pode trazer alguma coisinha pra expor e vender, inclusive você. Precisamos de pessoas que venham somar, ajudar para que as coisas aconteçam”, declara.
Antes de eu ir embora, Sergio me serve um café fresco, abraça a viola, canta a plenos pulmões e toca percussão com os pés. A cantoria é acompanhada de uma interpretação singular repleta de trejeitos e caretas. A cada batida o chão treme, os objetos passeiam pela estante azul, os penduricalhos se agitam e as cores vibrantes nas paredes reforçam a alegria emanada de um cenário naturalmente festivo. “As cores, a brisa, o olho vibrando, tudo isso faz com que a alma cresça. É muito bom ver que você voltou com vontade de conhecer ainda mais o Quintal Mágico. É bacana. O Quintal Mágico, SáD´Zabumbê, já pegou você!”, anuncia ao notar a minha satisfação em divulgar a magia de um lugar que contrasta com a tecnologia e a célere realidade da vida urbana.
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