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A superação de Stevie Zee
O fisiculturista com paralisia cerebral que se tornou um exemplo
O estadunidense Stevie Zee estava completamente perdido em 1992. Reprovado na faculdade comunitária e incapaz de encontrar trabalho, o rapaz que sofre de paralisia cerebral (PC) decidiu fazer algo para evitar a depressão e a autopiedade.
Em dezembro do mesmo ano, Stevie foi até um ginásio de musculação em Portland, Oregon, sua cidade natal, onde conheceu o fitness trainer e fisiculturista heavyweight David Hughes. “Ele apareceu para uma sessão de treinamento e logo me disse que queria se tornar um bodybuilder. Me surpreendi com a decisão e me empenhei em ajudá-lo”, conta Hughes que instruiu o rapaz no treinamento com pesos e o ensinou muito sobre nutrição esportiva.
Stevie queria competir no bodybuilding, seguindo o mesmo caminho de David. Porém as limitações impostas pela paralisia cerebral fizeram com que o sonho parecesse distante e utópico. Em função da doença, os músculos de Zee costumavam ser encurtados, rígidos e enfraquecidos, o que tornava tudo mais difícil. Com frequência, o controle dos músculos era interrompido por movimentos espontâneos e indesejados, além dos problemas de equilíbrio, instabilidade em movimentar pés, mãos e até falar. Em síntese, Stevie sofre de paralisia cerebral mista, o tipo mais severo.
“Eu tinha dificuldade em aceitar a doença, mas agora eu sei que eu a tenho para inspirar outros a se tornarem pessoas melhores, a tirarem o máximo proveito da vida, independente de tudo”, afirma Zee. Segundo David Hughes, Stevie é mais motivado que a maioria das pessoas. Apesar das dificuldades, mora sozinho, cozinha, dirige e faz as próprias compras.
A primeira recompensa do atleta veio em junho de 2003, quando surgiu um novo tratamento para paralisia cerebral. Zee passou por um procedimento em que foi instalado um mecanismo especial na parede abdominal, minimizando os extremos espamos musculares que o fizeram sofrer por tantos anos. Em 2006, o fisiculturista recebeu um prêmio da revista MuscleMag no Los Angeles Championships, onde foi aplaudido de pé por centenas de pessoas, entre celebridades do bodybuilding.
“Ele teve a coragem de deixar Portland e se mudar para Hollywood. Tudo isso, para realizar seus sonhos. É como se ele fosse um personagem de uma história em quadrinhos”, comenta o lendário ex-fisiculturista Rich Gaspari, que desde 2008 patrocina Stevie Zee. Para entender a história de superação do atleta é preciso ter em mente que para quem sofre de paralisia cerebral é complicado até mesmo caminhar e realizar pequenas tarefas diárias. “Imagine então fazer musculação? Há milhares de limitações que o dizem para não ir por esse caminho. Isso mostra o quanto ele é um vencedor”, diz David Hughes.
O que também chama atenção sobre Stevie Zee é a sua capacidade em seguir dietas restritivas, outro ponto considerado impossível para quem sofre de PC. Ao longo de 20 anos, o atleta não apenas ganhou em condicionamento e qualidade de vida, minimizando os problemas com a doença, como se tornou referência de novos estudos sobre a medicina da encefalopatia crônica não progressiva nos Estados Unidos. “Devo tudo isso a David Hughes que foi quem me transformou em uma pessoa totalmente diferente”, declara Stevie emocionado. Vale lembrar que o fisiculturista é tema do documentário Hang On To Your Dreams, lançado em 2008.
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Grimm cria em Portland um universo moderno de seres fantásticos
Cada episódio da série é uma versão livre de uma história dos Irmãos Grimm
Desde a primeira temporada, acompanho a série Grimm, da NBC, e ouso dizer que é uma das produções televisivas mais intrigantes da atualidade; um mix de fantasia, mistério e crimes. Recomendo principalmente para quem na infância, adolescência ou qualquer outra fase da vida tenha lido as fábulas dos Irmãos Grimm, famosos por contos como “Chapeuzinho Vermelho”, “O Flautista de Hamelin” e “O Príncipe Sapo”, entre outros.
Na série que gira em torno do detetive Nick Burkhardt, um descendente dos Grimm, interpretado por David Giuntoli, cada episódio é uma versão livre de uma história dos alemães. A criatividade aliada a uma estética fria recria na moderna Portland, Oregon, um universo místico, onde personagens como Blutbad (Homem-Lobo Mau), Hexenbiest (Mulher-Bruxa), Jagerbar (Homem-Urso), Mellifer (Homem-Abelha), Ziegevolk (Homem-Bode), Reinigens (Homem-Rato) e Bauerschwein (Homem-Porco) assumem características tão peculiares quanto assustadoras.
Há tanta profundidade na construção do perfil físico e psicológico de cada personagem sobrenatural que nos leva até mesmo a questionar se os contos de Jacob e Wilhelm realmente eram apenas mágicas histórias infantis. Em um dos episódios, aqui cito o sexto da primeira temporada – “The Three Bad Wolves”, me surpreendi logo no início quando percebi que se tratava de uma livre releitura contemporânea do conto “Os Três Porquinhos”.
Dois Bauerschweins (Homem-Porco) são assassinados um ano antes por uma Blutbad (Mulher-Lobo Mau) e mais tarde surge a retaliação, pois o terceiro decide se vingar pela morte dos irmãos. A trama se desenrola a partir de uma inversão de papéis, destrói e reconstrói metáforas, anula estereótipos e se apoia na obliteração da figura do Lobo Mau diante do Porquinho.
É possível até enxergar pequenas referências aos pensadores Niccolò Machiavelli e Jean-Paul Sartre em algumas passagens. A vendetta do Bauerschwein diante do Blutbad é emblemática. Na série, o Lobo-Mau não sopra casas. Além disso, é suplantado pelo Porquinho que faz uma residência ir pelos ares sabotando o sistema de distribuição de gás. Noutra oportunidade, aniquila o inimigo com quatro tiros disparados de uma arma automática e silenciosa.
E o mais interessante de tudo é que aparentemente todos os seres da série são humanos, pois apenas os sobrenaturais se reconhecem como tais em momentos de grande carga emocional. Outros dois personagens de destaque da série são: o detetive Hank Griffin, interpretado por Russell Hornsby, parceiro de Burkhardt; e o blutbad Monroe, papel de Silas Weir Mitchell, amigo de Nick. Em suma, Grimm permite novas reflexões sobre as fábulas infantis.