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Casal investe na produção de alimentos orgânicos em Paraíso do Norte
A empresa baseada na agricultura familiar tem se destacado pela oferta de alimentos livres de agrotóxicos
Em novembro de 2016, o tatuador Marcos Cordeiro, que mudou de São Paulo para Paraíso do Norte, no Noroeste do Paraná, decidiu investir em um novo ramo – horta orgânica.
Levando em conta que a região ainda conta com uma baixa produção de alimentos orgânicos, mesmo havendo uma grande demanda, ele e a esposa Tais Cristina Delin não pensaram duas vezes antes de começar um novo negócio.
A empresa baseada na agricultura familiar, e que recebeu o nome de Family Ranch, tem se destacado pela oferta de produtos de boa qualidade, o que inclui tomate-cereja, pimenta-biquinho, quiabo, rúcula, acelga, quatro variedades de alface, mandioca, milho e brócolis, entre outros alimentos distribuídos em uma propriedade de um alqueire.
“Logo que meu marido chegou aqui, ele ficou abismado em ver que só tinha cana-de-açúcar e soja. Quando descobriu que todos os produtores de hortaliças e leguminosas usavam muitos pesticidas, ele começou uma pequena produção orgânica no fundo do quintal”, conta.
A identificação de Marcos e Tais com a produção de alimentos saudáveis foi tão grande que eles decidiram migrar a produção para um rancho, fazendo da atividade uma fonte de renda e profissionalizando a produção.
“Nosso intuito sempre foi vender produtos de qualidade e com preço justo; e sem uso de agrotóxicos”, garante Tais. Em 2016, na primeira safra, o casal atingiu a produção de 60 mil pés de hortaliças e, felizmente, conseguiram vender tudo que foi produzido.
Marcos e Tais admitem que no início foi difícil, até pelo fato de até então não terem experiência no ramo. Hoje em dia, para evitar problemas, já que a produção de orgânicos requer mais cuidado, eles fazem rotação cultural.
“Chegamos a perder todo um plantio por causa de pragas. Além disso, como não tínhamos noção nenhuma desse sistema, cometemos muitos erros. Agora contamos com o engenheiro agrônomo Ricardo Shintani, que tem nos ajudado bastante”, garante o casal, acrescentando que a produção e a diversidade deve aumentar em breve, assim oferecendo ainda mais alimentos saudáveis e de boa qualidade.
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A horta orgânica fica ao lado da Vila Rural de Paraíso do Norte.
Contato
(44) 99726-3739 (Whatsapp)
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Uma premiada Estrela da Guia
Grupo de folia de reis mantém-se na ativa vencendo dezenas de concursos
Parte de uma tradição que une religião e folclore, o grupo de folia de reis Estrela da Guia, de Paraíso do Norte, surgiu há quase 30 anos. À época, foi criado para honrar uma promessa envolvendo doença. Mas desde o princípio houve tanta dedicação que além de cumprir compromissos religiosos o grupo venceu mais de 50 concursos no Paraná.
Tudo começou na década de 1980, quando o irmão de Hilda Maria da Silva descobriu um grave problema cardíaco. “Ele foi desenganado pelo médico e começou a viver como se esperasse pela morte. Então lembrei que quando nosso pai ficou paralítico, ele fez uma promessa para os três reis magos. Deu tudo certo, e meu irmão foi curado, assim como meu pai”, conta Hilda que em seguida assumiu o compromisso de fundar o primeiro grupo de folia de reis de Paraíso do Norte.
Após a convalescença, o irmão de Hilda cumpriu a promessa de sair com a companhia de reis durante sete anos consecutivos. Gostou tanto da experiência que continuou e se tornou embaixador do grupo. “Fiquei doente pouco tempo depois. Então todos os membros do grupo se ajoelharam e assumiram um novo compromisso”, relata Maria da Silva. No dia seguinte à promessa, Hilda recebeu alta médica e passou o Natal em casa com os familiares.
Ainda com dificuldades para caminhar, a coordenadora da companhia estimulou os confrades a continuarem a tradição. Porém, antes de deixarem a casa, os membros do grupo iniciaram uma cantoria, um ato que representou o desejo de que Hilda carregasse a bandeira da companhia. “Quando a segurei, consegui andar normalmente”, garante a coordenadora que participa todos os anos de concursos de folia de reis.
Festivais
O grupo formado por 14 integrantes já conquistou mais de 50 prêmios em inúmeros municípios do Norte do Paraná. “Vencemos em Paranavaí, Maringá, Sarandi, Nova Esperança, Campo Mourão, São Tomé, Paraíso do Norte, Apucarana, entre muitas outras cidades. A gente sempre ganha algum prêmio. Significa que o nosso grupo é bem aceito”, declara Hilda. Cada concurso de folia de reis tem, em média, 30 companhias. Quando o Estrela da Guia participa de algum festival fora de Paraíso do Norte, a prefeitura se responsabiliza pelas despesas.
Qualquer pessoa pode participar do grupo que tem integrantes de 7 a 70 anos. A diversificação da faixa etária é importante para uma boa encenação que inclui saltos acrobáticos, danças, cantos e declamações. A coordenadora da companhia é a responsável pela confecção da bandeira e dos trajes de todos os membros do grupo: embaixador, contra-embaixador, bastiões e marungos (palhaços).
Doze dias de folia
O grupo de folia de reis Estrela da Guia, de Paraíso do Norte, inicia os festejos em 25 de dezembro e os encerra no dia 6 de janeiro. “Na primeira hora, eu corto um bolo, eles comem e seguem viagem”, conta a coordenadora Hilda Maria da Silva. Ao meio-dia do Natal, depois de passarem a noite em claro, cantando e batendo nas portas, os foliões param pela primeira vez. “Onde estiverem, eles deixam a bandeira e vão almoçar, retornando às 16h”, explica Hilda. Para a companhia, o mais importante não é o morador dar algo para os foliões, mas sim aceitar a bandeira dos três reis magos.
Durante a encenação que tem como trilha de fundo o som do cavaquinho, viola e caixa, o grupo Estrela da Guia já se deparou com outros grupos pelas ruas; momentos em que o duelo é inevitável. “Quando isso acontece, os palhaços se escondem. A gente canta pedindo a bandeira. Quem vencer no verso fica com ela. Enquanto isso os foliões fazem pedidos e os palhaços ficam chorando e enrolando. É uma bagunça”, frisa sorrindo Hilda Maria.
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O respeito e carinho pelo grupo Estrela da Guia é tão grande que mais de mil pessoas participam das anuais festas realizadas por Hilda Maria.
Folia de reis é um festejo folclórico de tradições cristãs que celebra o encontro dos três Reis Magos com o menino Jesus.
Os reis Baltazar, Belchior e Gaspar, guiados pela estrela de Belém, são os personagens centrais da festa trazida pelos colonos portugueses. A comemoração brasileira foi semelhante a portuguesa até o século XVII, quando o folclore de cada região do Brasil se misturou, de modo peculiar, a folia de reis.
Alegria e sofrimento na era de ouro do rádio
Ephraim Machado: “A gente tocava tudo com motor e bateria de carro”
O pioneiro e empresário Ephraim Marques Machado chegou a Paranavaí, no Noroeste Paranaense, em 1948, pouco tempo depois que seu pai, agente fiscal do Governo do Paraná, foi enviado para instalar a Coletoria Estadual. Admite que no primeiro momento não gostou do que viu na colônia, então retornou para Londrina, onde morava com o tio Odinot Machado, homenageado com um nome de rua em Paranavaí. “Fiquei lá uns seis meses e meu pai insistiu outra vez. Disse que estava muito bom aqui, então voltei”, relata.
A princípio, Machado iria apenas ajudar o pai, mas dois meses depois decidiu investir em um serviço de alto-falantes. “Eu já queria conquistar a minha independência”, conta o pioneiro que nasceu em Castro, na região de Ponta Grossa, no Centro Oriental Paranaense. No final de 1948, Ephraim circulava pela cidade com um microfone e uma caixa amplificadora. Até hoje, lembra como as “vozes saíam por cima”. A sede da modesta rede de comunicação de Machado ficava em frente à Banca do Wiegando, na Rua Marechal Cândido Rondon, de onde administrava os dez alto-falantes espalhados em pontos estratégicos da cidade.
Algumas caixas podiam ser vistas perto do antigo Terminal Rodoviário e outras onde é hoje a Academia Unimed, na Avenida Distrito Federal. Quando o pioneiro anunciava algo em uma caixa, a mesma mensagem era reproduzida em todas as outras. “Foi assim até 1956, quando coloquei a Rádio Cultura no ar, um trabalho iniciado em 1950. Contratava gente da cidade e de fora, o que aparecesse”, explica. A sede da emissora na Rua Getúlio Vargas no cruzamento com a Rua Minas Gerais, onde era a Loja Ipiranga, chegou a ter três andares, dois construídos por Machado e um por Luiz Ambrósio.
Como a maior parte da população não tinha televisor e o cinema abria as portas somente aos sábados e domingos, o pioneiro cativava a comunidade com os programas de auditório. “Sempre aproveitava para levar ao Aeroclube [atual tênis Clube – em frente ao Ginásio Lacerdinha] os artistas que se apresentavam na rádio. Então o povo tinha a chance de assistir shows do Jorge Goulart, Nora Ney, Mestre Sivuca, Orquestra Casino de Sevilla e muitos outros”, cita.
No começo, o empresário tinha uma equipe de oito profissionais. Do total, cinco eram locutores. Quem chefiava a redação era o jornalista Ivo Cardoso, mas as notícias eram apresentadas por Jackson Franzoni e Evaldo Galindo. Havia muitos colaboradores, o que fazia a diferença quando surgiam problemas técnicos. “O equipamento de transmissão não era tão caro. O difícil era fazer o aparelho funcionar numa época sem energia elétrica. A gente tocava a rádio com motor e bateria de carro. Tudo era grande, até o gravador”, destaca.
Os problemas de transmissão eram frequentes, pois nem sempre o gerador de energia funcionava como o esperado. Às vezes, a rádio ficava dias fora do ar, um sofrimento inevitável. “Quando surgiu a primeira instalação elétrica, tive que puxar uma fiação de mais de um quilômetro de distância. Começava em uma chácara pra lá da Avenida Tancredo Neves e tinha que trazer por trás da Igreja São Sebastião”, conta o homem que trouxe a Paranavaí os mais diversos tipos de geradores de energia. O melhor funcionou bem por apenas seis meses.
No Brasil da época, pouco se ouvia falar em equipamentos de qualidade. A solução era importar quase tudo, inclusive gravadores, um privilégio para poucas emissoras do Norte do Paraná. Certa vez, o pioneiro fez a transmissão de uma eleição de Mandaguari, de quem Paranavaí ainda era distrito. Na ocasião, pediu emprestado um cabo de comunicação da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP). Infelizmente, de Alto Paraná até Paranavaí não se ouvia praticamente nada por causa da chiadeira.
Ephraim Machado considera os anos 1950 e 1960 como os melhores do rádio local e regional. A justificativa é que naquele tempo o espectro não era tão carregado. “Depois de alguns anos, melhorou bem. Conseguíamos falar até com pessoas de Santa Isabel do Ivaí e Porto São José. Hoje, a rádio AM não atinge esses lugares com a mesma potência. Só se for FM. Há muita interferência de sinais de TV, comunicação amadora, etc. Não temos mais o espectro livre”, frisa. Até o final da década de 1950, pelo menos 50% da população de Paranavaí já possuía um aparelho de rádio em casa.
Para Machado, o rádio começou a se popularizar no Brasil em 1942 e só em 1954 deu um grande salto, liderando a comunicação de massa no país. A chegada da Companhia Paranaense de Energia (Copel) fez a diferença na cultura radiofônica local a partir de 1964. “Em 1962, vinha uma sobra de energia de Maringá que durava das 20h às 6h. Era limitada, mas melhor que nada”, avalia.
As instabilidades do rádio em Paranavaí surgiram nos anos 1970, exigindo melhores estratégias dos comunicadores e empresários para manterem-se no ramo. Ephraim Machado perseverou e ainda montou a Rádio Caiuá FM em 1980, emissora que começou a operar em 1984. Como a realidade já era bem diferente e o empresário contava com mais recursos, trouxe a Paranavaí os equipamentos mais sofisticados.
“Subia em postes, puxava fio, consertava aparelho, motor e microfone…”
O pioneiro Ephraim Machado começou a trabalhar com radiodifusão aos dez anos. A primeira função foi de trocador de discos. Anos mais tarde, quando surgiu a oportunidade de montar uma emissora, aprendeu a fazer de tudo. “Subia em postes, puxava fio, consertava aparelho, motor e microfone. Mexia no estúdio cortando som e reformava a acústica para dar mais eco. Fui até faxineiro e transportador de óleo. Minhas lembranças são boas porque passei por todos os setores”, relata o pioneiro que fazia questão de ocupar o tempo livre com trabalho.
Machado fala com preciosismo dos tempos de repórter, quando entrevistou os governadores Moisés Lupion e Bento Munhoz da Rocha Neto, além do presidente Juscelino Kubitschek. Embora só fosse para as ruas quando faltava algum repórter, o pioneiro adorava fazer entrevista política em época de eleição. Segundo Ephraim, era algo mais livre, diferente de hoje que o entrevistador precisa estar atento às exigências da justiça eleitoral.
“Atualmente, você corre muitos riscos quando entrevista uma autoridade política. Só tem liberdade se for falar com suspeito de crimes, daí é costumeiro o repórter fazer a típica escarrada de besteiras que vemos por aí. É triste ver como temos tanto lixo na radiodifusão brasileira”, critica o empresário que em algumas situações perdeu boas entrevistas por causa da falta de energia. Às vezes, o gravador parava de funcionar de repente.
Uma das linhas da Rádio Cultura, fundada pelo pioneiro, chegava até a sede do Atlético Clube Paranavaí (ACP), atual Praça dos Pioneiros. A fiação foi feita por Ephraim Machado que a ligava a um amplificador chamado de “maleta”, uma espécie de base do famoso microfone de fio comprimido. “Quando era ao vivo, a gente sempre preferia fazer tudo no estúdio, por questão de segurança”, pondera.
O primeiro operador de rádio amador de Paranavaí
O pioneiro Ephraim Machado foi o primeiro operador de rádio amador de Paranavaí. No final dos anos 1940, se comunicava até com pessoas do Rio Grande do Sul. Muita gente o procurava para dar recados aos parentes que viviam em outras cidades e estados. “Repassava mais notícias de falecimentos e de necessidades primárias da população. Era um serviço em prol da coletividade. Perdi as contas de quantas vezes saí de Paranavaí para levar recado em Paraíso do Norte, São João do Caiuá, Planaltina do Paraná, Amaporã, Tamboara, Alto Paraná e outras localidades”, afirma.
Machado considera o rádio amador um veículo que ajudou o interior do Brasil antes da implantação do telefone. Muitas vidas foram salvas graças ao aparelho. “Meu principal sinal vinha de uma empresa cafeeira que se comunicava com os portos de Paranaguá e Santos. Servi Paranavaí por muitos anos nessas condições”, garante. O pioneiro também se recorda de um rapaz que no final da década de 1940 trabalhava como rádio telegrafista na colônia, a serviço de uma companhia de terras.
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O primeiro político eleito por Paranavaí
Otacílio Egger representou Paranavaí na Câmara Municipal de Mandaguari
O pioneiro Otacílio Egger foi o primeiro político eleito por Paranavaí, no Noroeste do Paraná. Em dezembro de 1947, assumiu o cargo de vereador de Mandaguari, município do qual Paranavaí era distrito.
A campanha de Otacílio Egger, do Partido Social Democrata (PSD), foi baseada na popularidade e na idoneidade. O candidato era famoso por socorrer a população nos momentos mais difíceis. Nas eleições de 1947, para a escolha de prefeito e vereadores de Mandaguari, Paranavaí participou com 383 eleitores. Do total, muitos votaram em Otacílio Egger para vereador e Décio Medeiros Pullin para prefeito.
Segundo o pioneiro Ulisses Faria Bandeira, foi a primeira campanha política da comunidade, e a luta era contra o progresso de Maringá que tinha o apoio da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) que lançou a candidatura de Valdemar Cunha Gomes, conhecido como Barbudo. “Décio Pullin se elegeu e o nosso candidato Otacílio Egger também”, relatou Bandeira em entrevista ao jornalista Saul Bogoni décadas atrás.
Egger assumiu uma vaga na Câmara Municipal de Mandaguari em 13 de dezembro de 1947, cargo que ocupou até 10 de dezembro de 1951. A pioneira fluminense Palmira Egger, casada com Otacilio, contou em entrevista publicada no livro “História de Paranavaí”, de Paulo Marcelo, que o marido fez muito pela cidade.
“Quando aqui era nada, ficava ele e o Paulo Tereziano de Barros até de madrugada fazendo abaixo-assinado para mandar pra Curitiba. Pediam que viessem a Paranavaí abrir estradas e fazer pontes”, disse. Otacilio Egger foi uma das pessoas que mais lutou pelo desenvolvimento local até a década de 1970. No entanto, não foi devidamente reconhecido, tanto que é muito difícil encontrar pessoas que já tenham ouvido falar do pioneiro.
Como vereador, Egger viajava para Mandaguari duas vezes por semana, deixando Palmira com os dois filhos. “Não era fácil lidar com aquelas pessoas mal-encaradas. Todo dia tinha gente procurando meu marido e pedindo para legalizar chácaras, estradas, lotes e pontes”, desabafou a pioneira fluminense.
O pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, afirmou que Otacílio e Palmira eram as pessoas mais simpáticas da colônia. “Eram muito bons. O compadre Otacílio Egger sempre defendeu os nossos direitos. Uma vez até fizemos uma serenata pro Otacílio e pra Palmira em agradecimento”, frisou Palhacinho.
Egger foi o responsável por enviar ao prefeito de Mandaguari, Décio Pullin, um pedido para que formalizasse o nome do distrito como Paranavaí. Entre os moradores da colônia nos anos 1940 e 1950, há unanimidade em apontar Otacilio Egger como uma das autoridades mais importantes da história local.
Paranavaí parecia um cemitério
Os pioneiros Otacílio e Palmira Egger, acompanhados de dois filhos e uma empregada, deixaram o Estado do Rio de Janeiro e vieram para Paranavaí em 10 de março de 1945, quando conversaram com o pioneiro Rodrigo Ayres de Oliveira. “A fama da Fazenda Velha Brasileira [atual Paranavaí] não era nada boa. Os que estiveram aqui antes da gente fizeram muitos absurdos”, declarou Palmira.
A colônia parecia um cemitério quando os Egger fixaram residência no povoado. Não havia energia elétrica e ao anoitecer a escuridão tomava conta de tudo. “O local era horrível, só tinha gente atrasada e necessitada. Não existia, carne, pão e leite. Só melhorou depois de 1956”, assinalou Palmira. A realidade era tão difícil que a pioneira afirmou que nunca esperou que Paranavaí se tornasse o que é hoje.
“Quando chegamos aqui devia ter umas vinte casas e as ruas já estavam traçadas. Trouxemos cem mil contos de réis em mercadoria pra abrir uma casa de secos e molhados. Em seguida, compramos uma área de 96 alqueires em Paraíso do Norte e abrimos uma fazendinha”, assinalou Palmira. Naquele tempo, o comércio se resumia as casas comerciais dos pioneiros Carlos Faber, Leodegário Gomes Patriota e Joaquim Machado.
Alcides de Sordi também concorreu as eleições de 1947
O jovem Alcides de Sordi, presidente do diretório local da União Democrática Nacional (UDN), também concorreu ao cargo de vereador da Câmara Municipal de Mandaguari, assim como Otacílio Egger, nas eleições de 1947. Alcides fez oposição ao Partido Social Democrata (PSD), liderado pelo capitão Telmo Ribeiro, mas não obteve votos e nem apoio suficientes para ser eleito.
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Otacílio Egger foi eleito vereador na primeira eleição municipal de Mandaguari.
O pioneiro nasceu em 16 de abril de 1911, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e morreu em 31 de julho de 1974 em Paranavaí.
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O rock regionalista de Rodolfo Lemys
Compositor se inspira no estilo de vida de quem vive no Noroeste do Paraná
O roqueiro Rodolfo Lemys, de Paraíso do Norte, já compôs 60 canções ao longo de dez anos de carreira. O diferencial do compositor é a abordagem regionalista, já que boa parte de suas composições trata da cultura e do estilo de vida de quem vive no Noroeste do Paraná.
Enquanto muitos músicos da atualidade abusam dos clichês para caírem no gosto do público em geral, há quem prefira seguir na contramão apresentando um trabalho simples, mas sólido. É o caso do músico Rodolfo Lemys que mesmo vivendo numa região sem tradição quando o assunto é rock ‘n’ roll se mantém fiel à proposta desde os 12 anos.
“Com essa idade me tornei um ouvinte e amante do rock. Já meu interesse por tocar surgiu aos 15 anos”, lembra o músico autodidata que além do contrabaixo também toca outros instrumentos de corda e harmônica.
Um dos temas preferidos do artista é a cultura e o estilo de vida de quem vive no interior do Paraná, o que se relaciona com a identidade musical de Rodolfo Lemys. “Também já escrevi sobre autoconfiança, viagens, amor e assuntos sobrenaturais”, confidencia e acrescenta que só nos primeiros dez anos de carreira compôs cerca de 60 músicas.
Dentre as composições de destaque estão “Capital Monotonia”, “O Homem Nasceu pra Sonhar”, “Associação dos Suicidas”, “O Sonho de Liberdade”, “Um Whisky Antes Um Cigarro Depois” e “A Verdade Virou Lenda”. “Com o amadurecimento tomei apreço pelo rock das décadas de 1960, 1970 e também MPB”, assegura Lemys que começou a tocar há 15 anos.
Dentre as influências do músico estão Zé Geraldo, Arnaldo Antunes, Engenheiros do Hawaii, The Beatles, Creedence Clearwater Revival e Lynyrd Skynyrd. “Atualmente estou escutando ZZ Top, Johnny Cash, Neil Young, Blindagem e Vera Loca”, exemplifica. Durante alguns anos, Lemys integrou uma banda de Maringá com a qual excursionou pelo interior do Paraná, São Paulo e Santa Catarina.
“Hoje em dia é mais difícil fazer algo assim porque estou me dedicando a um projeto autoral”, se referindo à banda Exscabelos que além de canções próprias toca covers de bandas das décadas de 1960 e 1970, e rock gaúcho. O músico, que participa do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) há anos, está se preparando para gravar o primeiro disco independente com previsão de lançamento para o final deste ano ou início de 2011. “Recentemente entrei em estúdio para gravar mais algumas faixas”, enfatiza.
Contato
Para entrar em contato com Rodolfo Lemys, basta enviar e-mail para rodolfolemys@hotmail.com
O hip-hop que salva vidas
em Paranavaí, três artistas da cultura urbana já salvaram mais de cem vidas
Em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, três jovens descobriram no hip-hop uma maneira de salvar vidas. Por meio da dança, já reintegraram à sociedade mais de cem pessoas. O trabalho que desenvolvem também contribui muito para a valorização da cultura popular urbana.
Tudo começou há sete anos, quando Daniel Hudson, Marcos Paulo Gomes e Rodrigo Sena começaram a estudar hip-hop. “Na época, já decidimos que nossa missão seria tirar as pessoas do caminho das drogas e da prostituição”, conta Hudson.
Os três se introduziram no universo do hip-hop como autodidatas. Muito do que aprenderam até hoje descobriram sozinhos, apenas praticando. “Corremos atrás dos passos, nos aperfeiçoamos. A gente estudava tudo que encontrava sobre o assunto. A maior ajuda que tivemos foi da internet”, relata Marcos Paulo Gerê.
Rodrigo Sena conta que no início havia muita discriminação porque as pessoas viam o hip-hop apenas como cultura de marginais. “Estamos quebrando esse preconceito e difundindo a dança da melhor forma possível”, frisa. Entre as principais referências, os três citam B-Boy Neguin e Tsunami All-Stars, de São Paulo, e a competição de b-boying Red Bull BC One, a maior da categoria no mundo.
Encarado como um estilo de vida, o hip-hop para os três b-boys é o grande chamariz para a reabilitação de pessoas que vivem às margens da sociedade. “É um estilo de impacto, que consegue atrair muita gente. Isso é tão verdade que por meio da dança tiramos até pessoas do mundo do crime”, explica Daniel Hudson.
Basta ver apenas uma apresentação dos breakdancers para entender a tônica do trabalho. A linguagem do corpo flerta com a música de forma tão despojada que é possível interpretar os movimentos como símbolos de liberdade, satisfação, alegria e harmonia. “A nossa língua é a dança”, enfatiza Sena que assim como Gerê e Hudson não esconde o orgulho em ser parte do movimento hip-hop local.
Questionados sobre exemplos de pessoas que mudaram de vida graças a dança, Gerê cita a si mesmo. Se livrou da dependência química quando decidiu se tornar um breaker. Em Paranavaí, os três b-boys já introduziram mais de 200 pessoas na subcultura da dança urbana Desse total, cerca de 70% são pessoas que abandonaram vícios ou saíram do mundo da prostituição e do crime. “Reabilitamos muita gente. Aqui também temos um grande parceiro que faz a diferença, o B-Boy Maiquinho”, ressalta Hudson.
Os b-boys atuam em seis comunidades de Paranavaí, entre as quais Jardim Campo Belo, Vila Operária, Chácara Jaraguá, Coloninha e Jardim Progresso. “Levamos nosso trabalho para escolas e associações de moradores. Também temos uma parceria com algumas igrejas evangélicas, inclusive nosso trabalho começou na igreja”, relatam os breakdancers.
Na região, os três já disseminaram o hip-hop em Paraíso do Norte, Terra Rica e Guairaçá. “A gente tem representantes do hip-hop em quase toda a região”, garantem e acrescentam que os três têm como objetivo mostrar que em Paranavaí o hip-hop está em ascensão.
“Há um grande envolvimento, como uma família”
O hip-hop é um movimento que surgiu no Bronx, em Nova York, nos EUA, ao final da década de 1970. Na época, já tinha uma postura social, transmitia a insatisfação das classes menos favorecidas. A cultura hip-hop está ligada a figura de quatro personagens: DJ, MC, b-boy e grafiteiro. Normalmente, leva de seis meses a um ano para o praticante de dança de rua conquistar resultados sólidos. “Mas pra isso ele tem que treinar pelo menos três horas por dia”, alerta Rodrigo Sena.
Em Paranavaí, os b-boys Hudson, Gerê e Sena ensinam não apenas os movimentos de dança, mas também a teoria. “É importante que eles conheçam a história, entendam o sentido de tudo”, explica Gerê. Para aprender breakdance não há restrição quanto a idade. “Temos alunos de dança com faixa etária de 7 a 40 anos”, exemplifica Sena, acrescentando que a partir dos 14 anos o praticante adquire mais facilidade para dançar.
Os três estimulam os alunos a jamais desistem do hip-hop. “Estamos sempre em contato porque não podemos deixar ninguém se perder. Há um grande envolvimento, como uma família”, assegura Gerê que trabalha na Fundação Cultural de Paranavaí.
“Queremos fazer um festival de cultura urbana”
Uma das metas dos b-boys Daniel Hudson, Marcos Paulo Gerê e Rodrigo Sena é realizar um grande evento de hip-hop em Paranavaí. “Queremos fazer um festival de cultura urbana, com workshops e tudo o mais. O único problema é que ainda precisamos de patrocínio”, contam e acrescentam que recentemente trouxeram a Paranavaí, na Casa de Cultura Carlos Drummond de Andrade, uma oficina com o grupo Urban Style Crew, de Maringá.
Os três especialistas em street dance, pop e power move participaram do 28º Festival de Dança de Joinville, em Santa Catarina. “É o maior evento da América Latina. Fomos convidados a ir com o pessoal do grupo Urban Style Crew, de Maringá”, relata Gerê.
Dedicação à música clássica
Conservatório Nice Braga levou arte erudita a mais de mil pessoas durante 44 anos
É impossível falar de música erudita em Paranavaí sem citar o saudoso Conservatório Nice Braga. Com uma história de 44 anos, a escola que encerrou atividades no final de 2006 formou mais de mil alunos em piano clássico. E mais, se tornou referência no Noroeste do Paraná, principalmente por usar as metodologias dos conservatórios europeus.
Em 1962, o professor Arnoldo Poll entrou em contato com a Prefeitura de Paranavaí e solicitou um terreno para a implantação de uma escola de música. No mesmo ano, o pedido foi atendido e a construção foi concluída em pouco tempo, graças ao empenho da comunidade que trabalhou sem cobrar nada. Assim surgiu o Conservatório Nice Braga que recebeu tal nome em homenagem a mulher do então governador Ney Braga.
Alguns anos depois, ainda na década de 1960, o professor vendeu o conservatório, a título de direito, para Luzia Guina Machado, também falecida, que administrou a escola durante 38 anos, segundo o ex-auxiliar administrativo do Conservatório Nice Braga, Israel Rodrigues, que entrou na escola de música em 1984 para estudar órgão. “A Luzia me convidou para ajudá-la na administração por dez dias. O tempo passou e fiquei 22 anos”, reitera Israel sorrindo.
Entre 1962 e 2003, sob dedos habilidosos os pianos ressoavam pelas imediações da escola de música, fazendo os transeuntes se sentirem imersos em um universo de beleza e sensibilidade. “Não conhecia música clássica, mas sempre que passava lá em frente ficava encantada”, relata a dona de casa Roberta Castelo. As releituras no conservatório incluíam composições como as clássicas sonatas de Beethoven e o primitivismo de Bartók.
Até o final da década de 1990, foram realizados muitos concursos no auditório da escola, segundo a professora de música Neuza Diogo que se matriculou no Conservatório Nice Braga com o objetivo de concluir o curso de piano clássico iniciado em São Paulo. “Em 1962, eu estava no sétimo ano fundamental e quando terminei me convidaram para dar aula”, lembra. O que começou como uma atividade remunerada casual durou 35 anos.
À época, quatro professores lecionavam na escola de música, mas logo foram contratados mais quatro. Segundo Neuza, a procura pelo curso de piano clássico era tão grande que o interessado tinha de reservar uma vaga em novembro para começar a estudar em janeiro. “Pra você ter uma ideia, só eu como professora assinei mais de 800 diplomas de alunos que concluíram estudos de piano. Em Paranavaí, a maioria dos conservatórios que vieram depois foram fundados por professoras que foram minhas alunas”, frisa.
A escola não era referência apenas para a população local. Professores de música de Nova Londrina, Loanda, Querência do Norte, Paraíso do Norte, Terra Rica, Alto Paraná, Nova Esperança, Nova Aliança do Ivaí e muitas outras cidades se formaram no Nice Braga. A qualificação profissional sempre foi o maior objetivo do conservatório que foi comparado às escolas de música da Europa.”Lembro da carta de uma aluna que se mudou para a Alemanha. Ela nos parabenizou pelo curso porque a nossa grade curricular é compatível com a deles. Houve o caso de um rapaz também que vive na Inglaterra e falou a mesma coisa”, enfatiza Rodrigues.
A professora Neuza Diogo admite ser impossível mensurar com precisão o total de alunos que passaram pelo conservatório. “Foram muitos, provavelmente mais de mil. Mas o auge, sem dúvidas, foi em 1968, quando tínhamos mais de 200 alunos. Dávamos aulas de piano, teclado, órgão, violão, violino, balé e jazz”, pontua.
O Silêncio do Nice Braga
Em 2006, o Conservatório Nice Braga perdeu a magia de outros tempos. Com apenas oito alunos matriculados, a impossibilidade de manter a escola aberta crescia a cada dia. Em um passeio pelas pequenas salas do conservatório, tornou-se comum encontrar os belos e bem conservados pianos Essenfelder e Schwartzmann, que antes pareciam ter vida própria e emocionavam os passantes, aposentados, relegados ao ostracismo. Lá fora, até mesmo vizinhos estranharam o silêncio.
O auxiliar-administrativo do Conservatório Nice Braga, Israel Rodrigues, diz acreditar que tudo foi uma consequência natural do desinteresse pela música clássica. Para ele, era como se as pessoas tivessem um bloqueio em relação ao erudito. “Se divulgar que teremos uma audição do gênero, acredite, apenas estudantes de música vão participar. Os demais não se importam”, lamenta. Opinião também dividida pela professora de música Neuza Diogo. “Hoje em dia, os alunos querem apenas o popular”, frisa.
Os primeiros sinais de mudanças surgiram na década de 1990, e dez anos depois as dificuldades aumentaram. Segundo Rodrigues, não sobrava mais dinheiro para suprir despesas com manutenção, limpeza e jardinagem. Até 2003, a situação foi contida porque os gastos eram proporcionais ao número de aprendizes. “Até o último momento, tínhamos oito alunos. Mas a situação já era insustentável e o jeito foi fechar a escola”, destaca.
Com o fechamento do Conservatório Nice Braga, o município reassumiu a propriedade e repassou R$ 12 mil aos familiares da ex-diretora Luzia Guina Machado pela realização de benfeitorias ao longo de décadas. Mantido pela Fundação Cultural, hoje o espaço é sede da Escola Municipal de Música Luzia Guina Machado, onde dezenas de crianças e adolescentes participam gratuitamente de oficinas de música. Além disso, as características originais do imóvel foram mantidas, preservando a história do conservatório.
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