David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Ephraim Machado presenciou a inauguração da TV em 1950

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“Ouvi muita gente dizendo: ‘Como é que pode, né? O cara lá e a imagem aqui; não dá pra acreditar!'”

Em 18 de setembro de 1950, uma multidão se reuniu em torno de um pequeno televisor (Foto: Divulgação)

Em 18 de setembro de 1950, uma multidão se reuniu em torno de um pequeno televisor (Foto: Reprodução)

O empresário Ephraim Marques Machado, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, assistiu a inauguração da primeira estação de TV do Brasil. No evento, viu de perto celebridades da Rádio Tupi que migrariam para a televisão. A experiência foi tão marcante que o então jovem se apaixonou pela tecnologia.

No dia 18 de setembro de 1950, em meio a milhares de curiosos de diversas partes do Brasil e do mundo, lá estava Ephraim Machado, participando de um dos momentos mais célebres da história da televisão brasileira: o nascimento da Tupi, de Assis Chateaubriand, que consagrou o Brasil como o quarto país do mundo a ter TV.

“Eu não passava de um jacu que tinha um serviço de alto-falante e saiu do mato para ir a São Paulo ver a inauguração da TV”, conta, às gargalhadas, Machado. O empresário diz considerar esse dia como um dos mais incríveis de sua vida, e ratifica tais palavras com brilho nos olhos.

Ephraim relata que jamais imaginou como seria o primeiro contato com um televisor, objeto nunca visto, nem mesmo em fotografias. De televisão, o pioneiro só tinha ouvido falar. “O impacto foi muito grande, tanto para mim, quanto para outras pessoas. Ao meu lado, ouvi muita gente espantada dizendo: ‘Como é que pode, né? O cara lá e a imagem aqui; não dá pra acreditar!’”, relembra Machado.

Chatô, responsável por trazer a teledifusão ao Brasil (Foto: Reprodução)

Chatô, responsável por trazer a teledifusão ao Brasil (Foto: Reprodução)

À época, o empresário supôs que o televisor fosse simplesmente uma tela parecida com a do cinema. “Pensei também que um cara abria ela. Não tinha nada disso. Por isso me surpreendi tanto”, revela. Contudo, o susto de não foi apenas com o aparelho, mas também com o número de pessoas presentes na inauguração. “Tive uma dificuldade tão grande pra entrar no auditório que você nem queira saber. Tinha gente demais, muita gente mesmo, afinal São Paulo é São Paulo”, comenta.

A experiência foi tão significativa que ele admite ter se apaixonado instantaneamente pela televisão. Inclusive pensou em seguir o caminho do comunicador que tanto admirava: Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados. “É um sonho que gostaria de ter realizado. Fiquei muito interessado no produto quando vi. Se naquela época eu morasse numa cidade com potencial de uma metrópole, eu teria dado um jeito de montar uma estação”, assegura.

Quando o governo brasileiro lançou o primeiro edital para pleito de concessões, o pioneiro cogitou a possibilidade de enveredar pela teledifusão. Segundo Machado, havia um bom patrocínio e também inúmeros benefícios. Entretanto, depois de se inscrever para disputar o direito de montar uma emissora, o empresário soube que firmas estrangeiras estavam capitalizando o negócio no Brasil. “Não pude transformar meu desejo em realidade porque vi que não tinha recursos o suficiente para competir com o capital externo. Nunca gostei de sociedade, então desisti”, justifica.

Atraso para entrar no ar

A primeira emissora da TV Tupi, prefixo PRF-3, seria inaugurada às 21h com o programa TV na Taba, mas problemas técnicos causaram atraso de uma hora. “Entrou no ar e saiu do ar. Tudo isso porque a câmera às vezes parava de funcionar. Mesmo assim foi um evento espetacular. Dava gosto ver aquela minúscula telinha”, defende o empresário Ephraim Machado.

Uma das primeiras câmeras da TV Tupi; filme precisava ser revelado (Foto: Reprodução)

Uma das primeiras câmeras da TV Tupi; filme precisava ser revelado (Foto: Reprodução)

Além de assistir ao vivo o primeiro programa televisivo, comandado pelo emblemático Homero Silva, Machado viu de perto dezenas de artistas que fizeram história no rádio, teatro e cinema, como Lolita Rodrigues, Amácio Mazzaropi, Aurélio Campos, Walter Forster e Lima Duarte. “Fiquei deslumbrado quando vi a Hebe Camargo e o J.B. Junior. Deram um rosto para aqueles famosos que tanto ouvíamos na Rádio Tupi”, reitera.

A influência do rádio para a TV também foi explícita, tanto que o pioneiro se recorda de ter visto o apresentador com uma folha de papel em mãos, lendo tudo ao vivo. “Ele parecia não se importar com o que víamos”, brinca o pioneiro, se referindo a um fato de uma época em que ainda não existia videotape.

Tudo era filmado em 35 milímetros e depois o filme era revelado, para então ser transmitido por uma emissora de televisão. A precisão era algo tão distante da realidade na década de 1950 que a filmagem normalmente era veiculada cinco dias depois.

Saiba Mais

A TV Tupi foi a primeira emissora de televisão da América Latina

Todos os equipamentos usados na inauguração da TV eram de origem americana – da Radio Corporation of America (RCA).

No dia do evento, o transmissor foi colocado no topo do prédio do Banco do Estado de São Paulo.

O frei mexicano José Mojica, também cantor, foi a primeira pessoa a se apresentar na TV.

Assis Chateaubriand foi proprietário do Diários Associados, o maior conglomerado de imprensa do Brasil. As posses do comunicador incluíam 36 emissoras de rádio, 34 jornais, 18 estações de televisão, várias revistas infantis, uma agência de notícias, uma editora, a revista O Cruzeiro e a revista A Cigarra.

O aliendígena

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Plebeu: “Todo mundo dizia que eu tinha criado um estilo, mas não me deram incentivo algum”

Plebeu produz pelo menos 15 obras por mês (Foto: David Arioch)

Há mais de vinte anos, Roldney Plebeu, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, encontrou na arte mais do que um hobby e uma profissão: uma razão existencial. Cada uma de suas telas recebe cores e formas que nascem da mistura de impressões e sentimentos. É a arte existencialista de um aliendígena, como o artista define a si e tudo que produz.

Roldney Plebeu, 42, teve o primeiro contato com o desenho e a pintura na infância. “Comecei rabiscando com caneta”, diz. Na adolescência, se tornou um artista autodidata solitário por causa da incompreensão e falta de apoio. Aos 23 anos, sentiu necessidade de amadurecimento artístico e tentou entender melhor as próprias pinturas. Anos depois, insatisfeito em Paranavaí, Roldney se mudou para São Paulo.

Na capital paulista, o artista conheceu alguns empórios, institutos e escolas de artes como a Panamericana Escola de Arte e Design. “Precisava saber se o meu trabalho pertencia a alguma corrente artística, mas apenas me decepcionei. Todo mundo dizia que eu tinha criado um estilo, que sou revolucionário da arte, mas não me deram incentivo algum”, lamenta, sem esconder a decepção.

Plebeu não conseguiu custear as despesas em São Paulo por muito tempo e logo adotou como lar um banco gelado do Terminal Rodoviário da Barra Funda, espaço que dividia com mendigos. “Eu dormia pouco nessa época. Ficava a maior parte do tempo pintando na Avenida Paulista”, relata. O destino era sempre uma viela do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp).

Lá, chamou a atenção de estrangeiros. Turistas dos Estados Unidos, Japão, Inglaterra e Israel compraram muitas de suas obras. “Um norte-americano, Joshua Rodriguez, presidente de uma fábrica de medicamentos do Texas, gostou muito do meu trabalho. Comprou até pinturas inacabadas”, garante Roldney. Convidado a se mudar para Londres, recusou a proposta para não se distanciar da mulher e dos filhos que estavam em Paranavaí.

Não demorou para os seguranças do Masp pedirem para Plebeu procurar outro lugar para pintar. Sem lugar fixo para expor as obras, o artista teve dificuldade em vender o que produzia. “Comecei a dar aula de graça para crianças de rua que eram viciadas em drogas”, explica. Pouco tempo depois, a desvalorização artística levou Roldney à depressão crônica. “Diziam que minhas obras eram complexas demais. Não consegui vender mais quase nada. Me envolvi com pichação e comecei a usar drogas”, revela o artista que abandonou a dependência química quatro anos depois e retornou a Paranavaí.

Emocionado, declara que nunca conquistou estabilidade trabalhando com arte, inclusive há períodos em que enfrenta sérias dificuldades para comprar materiais. “Pintar é uma terapia, mas é uma pena que com essa arte eu não consiga manter a mim e minha família”, desabafa o pintor que também é escultor. Plebeu manipula madeira, pedra-sabão e ferro.

O conceito aliendígena

O estilo aliendígena é uma referência as origens do artista (Foto: David Arioch)

Roldney Plebeu é um artista prolífico. Consegue produzir pelo menos 15 obras por mês. Pinta telas com extrema naturalidade, tanto que abre mão de criar esboços. “Muito do que pinto surge como uma surpresa até pra mim, é algo sem planejamento, um reflexo da maneira como eu encaro o mundo e a vida”, justifica Plebeu que materializa impressões e emoções usando pincel e tinta.

O artista é autor do estilo aliendígena de conceber arte. O neologismo é uma referência às origens de Roldney Plebeu, um sincretismo de europeu e índio. “Eu sou o aliendígena, uma mistura de etnias. Trato das diferenças em meio ao caos mundial. Cada pessoa pode interpretar como quiser”, comenta.

Plebeu: “Muito do que pinto surge como uma surpresa até pra mim” (Foto: David Arioch)

O conceito estético aliendígena parece carregar um pouco de brasilidade, tropicalismo, existencialismo, surrealismo e modernismo; uma arte de origem globalizada e destribalizada que aborda a heterogeneidade cultural do ser humano e descortina as dificuldades do homem em reconhecer a si mesmo diante do semelhante. É possível encarar cada pintura de Plebeu como um quebra-cabeças, tanto na forma quanto no conteúdo, inclusive os personagens do quadro são fragmentos que se encaixam tanto quanto se antagonizam.

Roldney Plebeu também trabalha com paisagismo. É uma maneira de dar novas perspectivas a um ambiente. “É como criar um mundo dentro de outro”, avalia o artista plástico que também é poeta, letrista e escreve até versos de rodeio.

Frase do artista plástico Roldney Plebeu sobre a arte aliendígena

“Em São Paulo, quando era mais jovem, mostrei meus quadros para pessoas com grande formação em arte. Achei que me dariam respostas, mas me enganei.”

Contato

Para mais informações sobre o trabalho de Roldney Plebeu, basta ligar para (44) 9832-3901

O alto-falante do Palhacinho

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José Ferreira de Araújo foi o primeiro publicitário de Paranavaí

José Ferreira nos tempos da alfaiataria. É o segundo da esquerda para a direita (Foto: Reprodução)

Nos anos 1940, quando surgiram os primeiros pontos comerciais de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, decidiu investir em publicidade. Com um serviço de alto-falante, fez desde as mais simples até as mais inusitadas divulgações.

José Ferreira chegou a Paranavaí na época da Fazenda Brasileira, em 1944. Se surpreendeu com o que viu; um pequeno deserto no meio da mata primitiva. “Eu já imaginava que aqui era assim e vim por isso mesmo, atraído pelas caçadas e também com a intenção de ganhar a vida com mais facilidade, já que aqui eles davam terras devolutas”, disse Palhacinho em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas.

O pioneiro se fixou na Brasileira porque tinha fé no futuro. “Enfrentei tudo sem medo”, garantiu. Ao longo da vida, José Ferreira sempre destacou as dificuldades enfrentadas nas décadas de 1940 e 1950. “Logo que cheguei aqui eu não sabia o que fazer. Minha ideia era abrir uma alfaiataria que era o meu ramo, mas eu achava que não daria certo. Aqui não tinha freguês”, revelou.

Outro problema era a falta de capital para investir na terra que recebeu do Governo do Paraná. As despesas com derrubada de árvores e formação de sítio eram muito caras, acessíveis a poucos. “Foi aí que o Dorvalino Moreira, que tinha uma pensão onde eu estava hospedado, falou para eu comprar a hospedaria. Naquele tempo, eu estava desanimado e tinha muitos filhos para criar. Então fechei negócio”, relatou José Ferreira que encontrou na diversidade de serviços uma saída para sustentar a família.

Palhacinho começou a trabalhar com a pensão, a alfaiataria e também como fotógrafo. Depois vendeu um sítio e usou o dinheiro para viajar a Londrina, onde comprou um equipamento de alto-falante que foi instalado na Rua Getúlio Vargas, no cruzamento com a Rua Souza Naves. “Instalei o serviço aqui com 80 discos”, lembrou e destacou que o negócio era novidade no interior do Paraná.

Em Paranavaí, havia poucos estabelecimentos comerciais até o final da década de 1940, o que motivou José Ferreira de Araújo a fazer um acordo com a Inspetoria de Terras, de quem recebia para anunciar a venda de terrenos. O primeiro cliente a contratar o serviço de alto-falante de José Ferreira foi o pioneiro mineiro José Alves de Oliveira, mais conhecido como Zé do Bar. “O único comércio da cidade era dele, então eu fazia os anúncios”, explicou Palhacinho.

O serviço de alto-falante ficava na Rua Getúlio Vargas (Foto: Reprodução)

O primeiro slogan

O primeiro slogan do pioneiro da publicidade em Paranavaí dizia o seguinte: “Quer trocar dinheiro? Zé do Bar! Quer tomar uma geladinha dentro do poço? Zé do Bar!” “No começo, foi difícil porque tinha poucas casinhas aqui. Mas fui indo, falando e trabalhando. Eu também contava piadas e anedotas. As pessoas se divertiam”, enfatizou.

Em 1948, Palhacinho e outros pioneiros começaram a construir o primeiro cinema local (Foto: Reprodução)

O serviço de alto-falante também era usado para contar histórias e divulgar notícias. José Ferreira fez muitos anúncios de animais perdidos e encontrados, principalmente cavalos. “A coisa melhorou em 1946. Era uma barulheira de martelo dia e noite. Todo mundo construindo casas e tendo como fontes de luz apenas lampião, farolete e a Lua”, salientou.

Tinha ainda o barulho de sarilho por causa dos muitos poços de água que foram abertos na época. O movimento de pessoas em Paranavaí cresceu e o comércio também. “Tudo isso animava a gente”, comentou. Em 1948, Araújo fez uma parceria com os pioneiros João Machado e Raimundo Leite. Juntos, fundaram o primeiro cinema local, o Cine Theatro Paramounth, na Rua Marechal Cândido Rondon. “Fui até Maringá para aprender a passar filmes”, declarou.

Frase do pioneiro José Antonio Gonçalves

“As pessoas passavam nas esquinas para ouvirem as músicas do alto-falante do senhor Zequinha.”

As esculturas de Antonio Menezes

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Artista plástico cria obras que são símbolos e metáforas da condição existencial do homem

Antonio Menezes cria obras com galhos, ossos e pedras (Foto: David Arioch)

No período de um ano e seis meses o artista plástico paranavaiense Antonio de Menezes Barbosa produziu mais de dez obras com materiais descartados. São peças feitas com galhos, ossos e pedras; símbolos e metáforas de sonhos e até da condição existencial do homem perante o mundo e a natureza.

O artista plástico Antonio de Menezes Barbosa descobriu o dom para as artes plásticas há 30 anos, quando confeccionou miniaturas de ferramentas de marceneiro, rastelos, enxadas e cavadeiras de mão. Porém, o cotidiano conturbado pelo trabalho não permitiu que na época Barbosa se dedicasse a atividade. Contudo, Antonio de Menezes nunca desistiu das artes plásticas e há um ano e meio decidiu produzir esculturas com maior regularidade.

Os materiais para a confecção das esculturas, Barbosa encontra na natureza. São galhos, pedras e ossos abandonados, fragmentos que para o artista ganham formas antes de serem recolhidos. “Eu vejo e já imagino onde cada coisa pode se encaixar”, afirma. Antonio de Menezes leva para casa somente aquilo que pode ser aproveitado.

A Mão Furada pelo Cravo (Foto: Amauri Martineli)

O artista que já enviou obras para Milão, na Itália, usa muita madeira, principalmente eucalipto e sibipiruna, mas jamais cortou sequer um galho pequeno. “Só pego aquilo que foi descartado”, explica o artista plástico. Antonio de Menezes admite que tenta sempre manter uma relação de harmonia com a natureza.

As Bailarinas (Foto: Amauri Martineli)

Entre as esculturas do artista estão “Um Par de Mãos”, “A Mulher Grávida”, “O Homem do Violino”, “O Pé de Pedra”, “O Homem Fracionado”, “O Bandolim”, “As Bailarinas”, “ A Formiga de Osso”, “A Formiga de Galhos” e “A Mão Furada pelo Cravo”. O Pé de Pedra foi a obra mais rápida. Segundo Antonio de Menezes, foi concluída em cinco horas. Já O Homem Fracionado levou dois meses. “Precisei de um bom tempo, só que também nunca trabalhei nele em período integral”, explica.

O Homem Fracionado feito em madeira tem um conceito existencialista, o de que o homem se retalha um sem número de vezes no decorrer da vida, mas que mesmo assim sempre deve predominar a persistência de administrar todas as situações ruins. “Do contrário, o homem morre ou enlouquece”, avalia Antonio de Menezes. Já A Formiga de Galhos foi concebida segurando uma mão com dedo indicador três vezes superior aos demais. Significa que ao ser humano, independente de tamanho – uma metáfora social – não cabe apenas apontar os erros, mas ir além.

Outra peça que desperta muita curiosidade é A Mulher Grávida feita com seis tipos de madeira. É uma simbologia da miscigenação não apenas do brasileiro, mas do homem universalizado. Também se destaca a mão furada por um cravo de onde brota uma orquídea. “Mesmo o homem massacrado, ele ainda germina vida”, comenta o autor.

A Formiga de Galhos (Foto: Amauri Martineli)

Artista vai expor obras na UEM

O artista plástico Antonio de Menezes Barbosa também explora a dualidade humana longe das amarras do maniqueísmo em uma criação bilateral de pedra que apresenta a face de uma ovelha e de um cão; o bem e o mal contido no homem. Há também peças bucólicas como duas mãos se tocando, representando a candura do primeiro amor. Para o artista, importante é dar margem as mais diversas interpretações.

Até hoje, Antonio de Menezes já produziu cerca de 20 esculturas. “Algumas peças refletem o que eu gostaria de ter sido. São idealizações”, declara. Para a produção das esculturas, Barbosa usa faca, serrote, furadeira, broca e uma serra de cortar ferro. “Até improviso, invento ferramentas”, revela, sem deixar de mencionar que já está trabalhando em novas esculturas.

No dia 2 de setembro, 12 obras do artista plástico estarão em exposição no Museu da Bacia do Paraná, na Universidade Estadual de Maringá (UEM). “As peças poderão ser vistas pelo público até o dia 14, das 8h às 11h e das 14h às 17h”, assinala Antonio de Menezes.

Uma vida de riffs e solos

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Fábio Pianucci: o autodidata que se tornou músico profissional

Fábio Pianucci toca guitarra desde os 13 anos

Em 1993, o garotinho paranavaiense Fábio Pianucci estava assistindo ao show da banda brasileira de hard rock Dr. Sin no festival Hollywood Rock. O fascínio pelos riffs e solos de guitarra de Eduardo Ardanuy foi tão grande que a partir daquele dia Fábio decidiu se tornar músico profissional.

“Eu tinha 13 anos e comecei a estudar guitarra sozinho, como autodidata mesmo”, relata. À época, o rock estava em ascensão, era o estilo mais tocado nas rádios.

Fábio, que hoje é produtor musical, professor de música e um dos guitarristas profissionais mais solicitados de Paranavaí, se introduziu no universo da música da mesma maneira que quase todos os garotos que gostam de rock: tocando Ramones, a banda estadunidense que se tornou o maior ícone do punk-rock mundial.

“Depois tirei Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Metallica e por aí vai”, cita Pianucci, referindo-se a bandas que são emblemáticas quando o assunto é heavy metal e thrash metal. O guitarrista ainda cita a revista Guitar Player, criada em 1996, como grande fonte de conhecimento.

Em 1997, Fábio Pianucci ingressou na banda de rock “Netos da Vovó Mafalda”. “Era algo amador, mais pra se divertir mesmo”, frisa. Depois o guitarrista foi para a banda Callyra que tocava basicamente heavy metal e suas vertentes, como thrash metal e heavy metal melódico. Nesse período, Fábio já era conhecido como um guitarrista virtuoso, de grande habilidade técnica.

Guitarrista se inspirou em Eduardo Ardanuy do Dr. Sin (Foto: Amauri Martineli)

Com o fim da Callyra, Pianucci entrou para a banda Drenergia que tinha uma proposta mais profissional. “Foi aí que a gente decidiu tocar para ganhar dinheiro, seguindo uma linha mais acessível. Com a Drenergia, toquei em muitas cidades do Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e até Argentina”, declara. A banda que se apresentava mais em casas noturnas durou quase quatro anos e tocava rock nacional e internacional.

Fábio Pianucci, que já compôs para artistas locais e da região, cita como um grande mestre o guitarrista Eduardo Faria, de Maringá. “É importante nunca parar de estudar. Por isso, participo muito de workshops e palestras musicais. Também sempre tive o apoio da família, o que conta muito”, assinala. O guitarrista dá aulas há 12 anos para alunos de Paranavaí e região, e desde 2005 é proprietário do Jam Studio em parceria com o também músico Calil Souza.

Juntos, já produziram discos das bandas Okzião, Piratas de Aldebaran, que foi classificado para o Garagem do Faustão, e Marcela Martins. “Já gravamos sertanejo, pop, rock, todos os estilos”, assegura Fábio que desde 2008 é patrocinado pela Tagima, uma das maiores fabricantes de guitarras, violões e baixos do Brasil.

Pianucci é patrocinado pela Tagima (Foto: Amauri Martineli)

Pianucci ressalta que não recebe dinheiro, mas sim os instrumentos. “Meu trabalho é divulgar a marca tocando as guitarras do Seizi Tagima”, explica o músico que atualmente se dedica a banda Culinária Blue, de Maringá, que realiza shows didáticos de rock. Em 2011, Fábio Pianucci e Calil Souza pretendem lançar o disco independente de música instrumental “Sex, Love & Guitar”.

Contatos

Fábio Pianucci trabalha com aulas de guitarra e produção musical. Para mais informações, ligar para (44) 3446-1963 ou (44) 8439-5188.

Sites

www.fabiopianucci.com

www.culinariablue.com.br

www.youtube.com/user/fabiopianucci

Capitão Telmo: herói ou vilão?

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Telmo Ribeiro é um paradoxo na história de Paranavaí, o herói que se transformava em vilão

Ribeiro chegou a Paranavaí em 1936 (Foto: Reprodução)

Capitão Telmo Ribeiro é um dos personagens mais controversos da história de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, onde viveu entre os anos de 1936 e 1964. Durante esse período, conquistou amigos, inimigos e apatia.

O tenente

Em 1932, o tenente gaúcho Telmo Ribeiro deixou o Rio Grande do Sul e foi para Porto Murtinho, no Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), lutar na Revolução Constitucionalista. Com o fim dos conflitos, Ribeiro comandou o regimento de cavalaria de uma brigada militar em Ponta Porã. A missão era defender a fronteira brasileira. “Eu era tenente no esquadrão do Telmo. Naquele tempo, quem comandava a brigada era o coronel Mário Garcia”, relatou o pioneiro mato-grossense Alcides Loureiro de Almeida em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

Enquanto trabalhou em Ponta Porã, Telmo Ribeiro morou em Bela Vista, na Fazenda Casualidade, de João Loureiro de Almeida, pai de Alcides Loureiro. “Depois de um tempo, a brigada foi extinta e surgiu o convite para trabalhar na Fazenda Caaporã. Contratamos alguns homens e começamos o plantio e transporte de erva-mate para exportação”, lembrou Loureiro. Mais tarde, Telmo e Alcides retornaram a Ponta Porã. Loureiro continuou trabalhando na cidade e Ribeiro fechou um contrato com a Companhia Mate-Laranjeira para transportar erva-mate através do rio em um barco a vapor.

Em uma das viagens pelo estado, Telmo Ribeiro conheceu o engenheiro Francisco Natel de Camargo que atuava como boiadeiro, levando gado vacum do Mato Grosso para a Fazenda Brasileira, futura Paranavaí. A carne bovina alimentaria os migrantes que viviam no povoado. “O Natel levou o Telmo até Londrina para conversar com o representante do governo, o delegado Achilles Pimpão, intermediário do interventor Manoel Ribas”, revelou o pioneiro Alcides Loureiro.

Ao conquistar a simpatia do delegado e do interventor, Telmo Ribeiro foi contratado para abrir estradas ligando a Brasileira ao restante do Paraná. “Lembro quando ele foi encarregado por Natel de Camargo para abrir uma estrada para a movimentação de gado da Brasileira até a Gleba Roland [atual Rolândia]”, pontuou o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles, ex-empregado e amigo do tenente Telmo.

Salles contou que Ribeiro fixou residência onde é atualmente o Jardim São Jorge. Lá, havia uma colônia abandonada, com casas boas e móveis coloniais de finíssima qualidade. “As árvores já tinham varado o teto das residências. Telmo aproveitou o que deu pra aproveitar”, assegurou o pernambucano.

O herói

Em 1936, nas palavras do pioneiro paulista Natal Francisco, o tenente e uma turma de paraguaios acabaram com a onda de assassinatos praticados por grileiros na Fazenda Brasileira. Nessa época, o tenente já se destacava entre a população humilde do povoado. Tinha boa postura e passo firme, mas o que mais chamava atenção era o carisma, o requinte e a elegância. Ribeiro usava paletó de alta qualidade combinando com botas feitas sob medida, além de um cinturão que tinha como fivela a letra T.

Fumava apenas charutos importados da Holanda e só usava perfume francês. “Ele tinha um anel madrepérola feito por um famoso joalheiro carioca. No pescoço, sempre trazia um lenço de cetim preso por um broche de ouro”, detalhou Alcides Loureiro, acrescentando que apesar da fama de violento, Telmo Ribeiro era um homem delicado.

O título de capitão, o tenente gaúcho recebeu por serviços prestados ao Estado do Paraná na Brasileira, segundo o pioneiro paulista Valdomiro Carvalho. Contudo, o pioneiro curitibano Aldo Silva deu outra versão sobre o assunto: “Ele foi promovido a capitão pelo próprio povo da região, então ficou conhecido assim.” Telmo Ribeiro se tornou uma figura tão influente na cidade que a jardineira da Viação Garcia que fazia a linha Paranavaí-Londrina adotou como ponto de parada a casa do capitão.

Ao longo da vida, o pioneiro paulista Salatiel Loureiro nunca se esqueceu de um favor feito por Telmo na década de 1940. “Uma vez, ele foi até Curitiba requerer meu título de terras. Fez isso e não cobrou nada.” Carlos Faber, José Alves de Oliveira, José Ferreira de Araújo (Palhacinho), Severino Colombelli, José Francisco Siqueira (Zé Peão) e Izabel Andreo Machado são alguns pioneiros que sempre tiveram bom relacionamento com o capitão Telmo Ribeiro.

“O meu amigo sempre foi um líder, homem com fibra de pioneiro, com o qual partilhei bons e maus momentos”, destacou Alcides Loureiro. Outro pioneiro que defendia a idoneidade e o caráter de Ribeiro era o paulista João da Silva Franco. “Muita gente falava que ele era ruim e ganancioso. Mas eu acredito que ele nunca matou ninguém. O problema era a cabroeira dele, usavam o nome do Telmo pra fazer coisas erradas aqui”, salientou.

O vilão

Se por um lado, o capitão Telmo Ribeiro foi admirado e fez valiosas amizades nos 28 anos dedicados a Fazenda Brasileira, depois Paranavaí, por outro, também conviveu com pessoas que não aprovavam suas atitudes, não gostavam dele ou lhe eram indiferentes. “Lembro que ele andava com dois revólveres, uns dez capangas e insultava muita gente na rua. Telmo achava que só ele tinha razão”, desabafou o pioneiro cearense Raimundo Leite.

Leite costumava relembrar o episódio em que entrou em conflito com o capitão. “Certo dia, o Raimundo Arruda e o Zé Andrade insultaram ele no Bar do Zé e depois foram pra minha casa. O Telmo apareceu lá e o pau quebrou. Teve gente que apanhou e correu. Eu não tinha nada com o peixe, mas quase sobrou pra mim. A minha sorte foi que chegou um pessoal e pediu pra ele não fazer nada comigo”, enfatizou.

Com o tempo, Ribeiro conquistou muitas inimizades em Paranavaí. “Aqui tinha os capa-preta e me recordo que eles queriam matar o capitão Telmo Ribeiro”, revelou o pioneiro espanhol Thomaz Estrada. Para a pioneira fluminense Palmira Gonçalves Egger, o capitão Telmo perseguiu muita gente e fez muitas coisas que não deveria ter feito.

Capitão Telmo (primeiro da direita para a esquerda) viveu aqui até 1964 (Foto: Reprodução)

De acordo com o pioneiro gaúcho Otávio Marques de Siqueira, Telmo ajudou muito Paranavaí, mas nunca permitiu que alguém se lançasse contra ele na política. “No fundo, era boa pessoa, mas também sabia ser violento quando eram com ele”, avaliou. O pioneiro mineiro Enéias Tirapeli pertencia a um grupo que não simpatizava e nem desgostava de Telmo Ribeiro, apenas era indiferente ao capitão.

“Nunca me relacionei com ele, mas achei errado ele ter matado aquele rapaz na cadeia”, ressaltou, referindo-se ao assassinato do jovem Alcides de Sordi, de quem o capitão assumiu a autoria do crime. Fato sobre o qual houve divergências de opiniões. O pioneiro João Franco dizia que Telmo Ribeiro nunca atirou no rapaz. Para ele, o capitão tinha as “costas quentes” e chamou a responsabilidade para si na tentativa de livrar os amigos da prisão.

A decadência do capitão

Nas décadas de 1940 e 1950, Ribeiro conseguiu status e fortuna em Paranavaí. Entre as suas propriedades estava uma fazenda que compreende todo o Jardim São Jorge. Também tinha fama de perdulário. Ostentava um padrão de vida elevadíssimo, gastava muito dinheiro com a própria vaidade, amigos e mulheres em ambientes como a Boate da Cigana.

“Tal extravagância o levou a decadência. Depois de um tempo, começou a vender suas terras”, salientou Alcides Loureiro. Em 1964, às raias da falência, Telmo Ribeiro fixou residência em Maringá. Três anos mais tarde, viajou até Cornélio Procópio, no Norte Pioneiro, para cobrar um devedor e levou um tiro no peito.

O capitão influente e de muitos amigos, conhecido como rápido no gatilho, e que um dia participou da Guerra Paulista, enfrentou grileiros e jagunços, foi surpreendido e morreu no próprio local, longe de casa e sozinho, sem tempo de ao menos tirar a arma do coldre.

Curiosidade

Pioneiros contam que na época da colonização diziam que Telmo Ribeiro ameaçou roubar uma das filhas do pioneiro Arthur de Melo. Para evitar o pior foi enviado reforço policial de Arapongas.

Frases dos pioneiros sobre o capitão Telmo Ribeiro

Carlos Faber

“Nunca vi ele bravo, estava sempre alegre. Embora falassem certas coisas dele, nunca vi nada. O Telmo sempre me oferecia ajuda, mas nunca precisei.”

Raimundo Leite

“Ele me desacatou dentro da minha casa. E eu não morri porque não corri.”

Severino Colombelli

“O capitão Telmo era uma pessoa muito boa e de coração mole.”

Cincinato Cassiano Silva

“A parada era dura com o Capitão Telmo. Ele que expulsou os jagunços daqui. Para alguns ele era bom, mas pra outros não.”

Izabel Andreo Machado

“O capitão era pra nós uma pessoa muito boa.”

José Antonio Gonçalves

“Ele usava um chapéu grande e um lenço no pescoço. Era educadíssimo, mas a coisa com ele era meio brava.”

Valdomiro Carvalho

“Ele era realmente grande aqui. Eu ia com ele buscar boi no Mato Grosso, pra ganhar um dinheiro. Levava um mês. A gente ia pelo Porto São José, pegava um vaporzinho e atravessava a boiada de pouco em pouco.”

Paulo Tereziano de Barros

“O Capitão Telmo trouxe muita gente que ele achava que podia trabalhar no mato.”

José Francisco Siqueira (Zé Peão)

“Meu primeiro negócio com ele foi 30 sacas de arroz e 10 capados. Tudo fiado. Falavam que ele não pagava ninguém, tudo mentira. Depois de três dias, ele acertou comigo.”

Oscar Geronimo Leite

“Telmo Ribeiro era um dos mandões da época.”

José Ferreira de Araújo (Palhacinho)

“O telmo jogava snooker com a gente, andava com nós.”

José Alves de Oliveira

“Ele foi um dos grandes fregueses do meu bar. Nunca me deu um único prejuízo. Ia lá, comprava e pagava direitinho.”

Written by David Arioch

August 4th, 2010 at 12:12 pm

Posted in História,Paranavaí,Pioneirismo

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Um amor em forma de prosa

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Paulo Campos rejuvenesce o passado de Paranavaí por meio da literatura

Paulo Campos com as duas produções literárias que lhe renderam prestígio (Foto: David Arioch)

Paulo Campos com as duas produções literárias que lhe renderam prestígio (Foto: David Arioch)

Há décadas, o advogado e escritor regionalista Paulo Campos registra o amor a Paranavaí por meio da prosa. Produziu centenas de contos, poemas e publicou dois livros: “O diabo e o Homem na Brasileira” e “Memórias de Luta e uma História de Amor”. Tanta dedicação rendeu prêmios em várias regiões do Brasil e fez de Campos um ícone local na arte de rejuvenescer o passado por meio da literatura.

Paulo Campos começou a se interessar pela produção textual aos 18 anos, influenciado por histórias contadas pelos pais. Não demorou e surgiu o convite para produzir o primeiro texto – adaptação de uma peça do dramaturgo Martins Pena. “O fundador do Teatro Universitário de Paranavaí (TUP), João Batista Tirapelle, me pediu para trazer o conteúdo da obra para a nossa realidade”, conta Campos. A adaptação despertou no jovem Paulo Campos o desejo de resgatar o início da colonização em Paranavaí.

Anos depois, em 1986, o escritor publicou a primeira obra, “Memórias de Luta e uma História de Amor”, que sintetiza a história de Paranavaí sob um prisma artístico com requinte ficcional. Também participou da antologia poética “Assim escrevem os Paranaenses”, iniciativa do renomado escritor paranaense Domingos Pellegrini. Para a obra literária, Campos transferiu, de forma peculiar, fatos da década de 1950, como os muitos assassinatos cometidos à luz do dia, alheios aos transeuntes.

“Meus familiares viam muitos corpos ensanguentados próximos das valetas. Minha mãe pedia a meus irmãos que não olhassem”, relata o escritor. Dentre os textos que homenageia personagens da cidade, o destaque é “Orquídea Negra”, um poema sobre o saudoso Negão do Surucuá. “Ele teve uma morte relativamente misteriosa. Mesmo assim, sempre será parte da nossa história”, avalia Campos.

No acervo, o escritor tem centenas de contos e poemas, mas prefere guardá-los para fazer leituras mais críticas. “Escrevi bastante, tenho até material para publicar livros de contos, mas não me animo com a ideia. Inclusive ‘O Diabo e o Homem na Brasileira’ só foi publicado por incentivo e coordenação do Téia”, explica Campos, referindo-se a José de Arimatéia Tavares, um ícone do movimento cultural de Paranavaí.

Com a Barriguda (troféu do Femup), o reconhecimento de um trabalho em prol da arte e história local (Foto: David Arioch)

Com a Barriguda (troféu do Femup), o reconhecimento de um trabalho em prol da arte e história local (Foto: David Arioch)

Apesar de ter publicado pouco do que produz, conquistou grande reconhecimento. O escritor tem contos lançados no Brasil e em Portugal. Entre as conquistas mais memoráveis, destaca o Prêmio Macunaíma, em São Paulo, e Concurso de Contos da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de janeiro, além de vitórias no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), evento que o estimulou a escrever.

“Muita gente cria um laço com a literatura a partir do Femup. Ganhei meu primeiro prêmio em 1973. Depois comecei a escrever com mais intensidade”, diz Paulo Campos.  Atualmente o escritor pensa em publicar um romance. “Até sou cobrado por isso. Tenho uma ideia em mente há muito tempo, mas ainda não comecei. Posso adiantar que é relacionada com Paranavaí que tem uma história muito rica”, confidencia.

Peça polêmica e reconhecimento

Das peças produzidas pelo escritor e advogado Paulo Campos, duas tiveram grande repercussão. A primeira, “Vila Montoya”, foi encenada no Festival Internacional de Londrina (Filo). Como tinha um caráter crítico e foi concebida durante a Ditadura Militar, o Teatro Universitário de Paranavaí, dirigido por João Batista Tirapelle, teve de substituir alguns diálogos envolvendo o presidente Getúlio Vargas.

“O Tirapelle acatou a ordem da censura, porém tivemos um ator com dificuldades em memorizar os diálogos. O resultado foi que o rapaz soltou toda a fala que tinha decorado, sem cortes”, relembra. Ao final, a Polícia Federal subiu ao palco e encaminhou o grupo para a coxia (bastidores), onde foi dada a ‘voz de prisão’ para os artistas. “Enquanto o público aplaudia de pé, nós explicamos a situação e tudo acabou bem”, lembra o escritor.

Outra peça que ganhou repercussão foi “Chão Bruto” ou “Nem o Pai, nem o Filho, nem o Espírito Santo”, classificada em um concurso promovido pelo Centro Cultural Teatro Guaíra, de Curitiba. “O presidente do centro gostou muito da história e me ligou perguntando se eu autorizava uma nova encenação. Concordei e fiquei uma semana com eles para fazer as adaptações necessárias”, revela Paulo Campos.

“Chão Bruto” consiste em uma reza para fechar o corpo. O personagem de destaque é um rapaz inconformado com o coronelismo e as desigualdades sociais em Paranavaí. “No período de colonização, era muito comum uma pessoa vender determinada propriedade e cobrar o valor pago outra vez. No conto, o personagem não aceita isso e faz um levante armado para acabar com as injustiças”, frisa.

Um fato curioso é que na peça há um barracão onde as armas são guardadas. O local realmente existiu na Rua Pernambuco, uma das vias mais conhecidas da cidade. Porém, como a arte imita a vida, o levante nem chegou a acontecer porque o líder da mobilização foi convidado para ir até a delegacia, onde o assassinaram em um ato covarde e traiçoeiro.

Literatura X Advocacia

Há 19 anos, antes de optar pela advocacia, Paulo Campos atuava como professor. Influenciado pelos irmãos ligados ao magistério, cursou letras almejando trilhar o caminho da literatura. Foi professor por muitos anos, mas como não tinha tempo para se dedicar à arte literária, resolveu cursar direito. “Já sabia que teria uma condição financeira melhor. O profissional poderia alimentar o escritor”, conta.

Os planos não se concretizaram como Campos vislumbrou. “Comecei a fazer direito, e a partir do segundo ano me apaixonei pelo curso. Em resumo, até hoje atuo como advogado. As duas atividades me satisfazem plenamente”, destaca, acrescentando que no início da profissão podia se dedicar mais à literatura. Com o passar dos anos, a advocacia tomou-lhe a maior parte do tempo. Hoje, Paulo Campos escreve esporadicamente.

Inspiração na história regional

Assim como o emblemático Guimarães Rosa, o escritor e advogado Paulo Campos também privilegia a linguagem prosaica na produção textual, beirando ao dialeto regional, herança que assume com prazer e honra. “Admito a influência do escritor mineiro. Pra mim, ele é o maior escritor de todos os tempos. Tem um grande poder de sedução”, afirma Campos. O regionalismo é o ingrediente mais importante das histórias do escritor paranavaiense.

O conto “Um Grito no Escuro”, por exemplo, é baseado em um fato que o escritor vivenciou há muito tempo, quando foi a uma farmácia. “Um ventríloquo chamou o balconista, mas o homem não percebeu a origem da voz. Curiosamente o atendente ficou desesperado e telefonou para a família. Na minha história isso acontece em um ônibus e desencadeia uma série de acontecimentos”, comenta.

Genocídio na década de 1920

Um altruísta pesquisador da história local, o escritor Paulo Campos sempre procurou informações sobre fatos não oficiais, principalmente do início da colonização, quando Paranavaí ainda era conhecida como Vila Montoya. “Na década de 1920, havia um foco de interesse anti-revolucionário aqui e acredita-se que um exército foi enviado para praticar assassinatos em massa, o que resultou na morte de muita gente”, relata.

Mais tarde, alguns sobreviventes decidiram viver na mata, instalando-se em buracos no interior das árvores, assim como fazem os animais. Cogita-se que os remanescentes do genocídio viveram em ostracismo por mais de dez anos. “Em pesquisas, descobri que viveram nus todo esse tempo”, informa Paulo Campos.

Outra curiosidade é que à época não havia estrada até a Vila Montoya. Mesmo assim, alguns pioneiros encontraram um piano no interior de uma residência. “O acesso a Paranavaí era pelo Porto Tigre, de Presidente Prudente, tinha que atravessar por um picadão. Ninguém sabe como esse piano chegou aqui”, declara Campos, que conhece também muitos outros fatos dignos de contos, não somente ligados a Paranavaí, mas também outras cidades.

“Em Querência do Norte tinha uma pessoa que morava em um sítio e vivia nu, apenas vestia roupa quando ia à cidade. Ele fazia pregações, era considerado louco, mas levava a vida normalmente. Era conhecido por praguejar os poderosos na época”, afirma.

Curiosidade

“Nem o Pai, nem o Filho e nem o Espírito Santo” era o pseudônimo do escritor Paulo Campos quando concluiu “Chão Bruto”. Só que durante a adaptação da peça em Curitiba, o grupo do Centro Cultural Teatro Guaíra perdeu a primeira folha com o nome do espetáculo, então usaram “Nem o Pai, nem o Filho e nem o Espírito Santo” como título. A diretora da peça e o presidente do CCTG gostaram tanto do nome que o escritor adotou definitivamente o pseudônimo como título alternativo.