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Seis anos lutando pela cultura de Paranavaí
Paulo Cesar de Oliveira, um dos melhores presidentes da história da Fundação Cultural
No início de 2009, atendendo a um pedido da classe artística de Paranavaí, o prefeito Rogério Lorenzetti convidou o músico Paulo Cesar de Oliveira para assumir a presidência da Fundação Cultural. Embora já estivesse aposentado há alguns anos, Paulo Cesar aceitou o desafio de mais uma vez fazer a diferença na cultura local.
Sob a direção de Oliveira, a FC começou a trilhar um novo caminho de conquistas, transparência e interação com a população. Assim que assumiu, sugeriu a retomada de um projeto antigo da Fundação Cultural. Ou seja, a produção do DN Cultura, página semanal em que são publicadas matérias sobre as atividades da FC, o trabalho dos artistas locais e eventos realizados no Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa. Desde então, se passaram seis anos e a página continua sendo publicada no Diário do Noroeste, parceiro da iniciativa.
Também foi na gestão de Paulo Cesar que houve um grande incentivo à criação de novas mostras, projetos e festivais. “Com o PC, implementamos o projeto Portas Abertas, um evento de música com entrada gratuita. Muita gente participou”, comenta o ex-diretor geral e atual presidente da Fundação Cultural, Amauri Martineli. Com Oliveira, o Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) foi elevado à mostra, perdendo o caráter competitivo que normalmente acirrava os ânimos e segregava artistas. Com a nova proposta, houve mais harmonia entre músicos, contistas, poetas e espectadores. Não há mais motivos para conflitos porque todos os selecionados hoje recebem prêmios em dinheiro e também ajuda de custo da FC.
Paulo Cesar se esforçou para motivar a criação do Fórum de Cultura de Paranavaí que trouxe nomes de grande projeção no cenário nacional, além de propor mais diálogos e debates entre os artistas. A gestão de Oliveira marcou o retorno do Festival de Teatro de Paranavaí que cresceu consideravelmente nas últimas edições, trazendo artistas de todo o Brasil. Apesar da cidade não ter uma sólida cultura audiovisual, Paulo Cesar sempre incentivou a realização do Projeto Mais Cinema que de 2008 até 2013 exibiu mais de cem filmes seguidos de análise e debate na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade.
Além de duas mostras de cinema, inclusive uma internacional, o ex-presidente da Fundação Cultural também se empenhou na descentralização das atividades culturais do município. Exemplos são as muitas oficinas que foram realizadas nos bairros ao longo dos anos, atendendo crianças e adolescentes. “Com o Arte em Todos os Cantos, o Paulo Cesar também defendeu o acesso aos mais diversos tipos de espetáculos. Muita gente não tem condições de vir ao Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa e Casa da Cultura, então sempre escolhemos um bairro da periferia para levar apresentações dos nossos artistas”, destaca a gerente de desenvolvimento cultural Talise Schneider.
Paulo Cesar de Oliveira uniu a equipe da Fundação Cultural e os seus colaboradores. Em pouco tempo, a FC chegou a um total de dois mil alunos participando das dezenas de oficinas de artes. É até difícil enumerar em apenas um texto todas as conquistas que tiveram a contribuição de Paulo Cesar em seis anos de dedicação. Na gestão de Oliveira, a FC criou também o Concurso Altino Costa de Declamação, que visa incentivar crianças a se interessarem por poesia, e o Femupinho, uma versão do Femup para crianças e adolescentes. “A boa vontade e empenho do Paulo permitiu também que criássemos o Festival A Voz do Trabalhador e melhorássemos o Festival de Corais de Paranavaí”, destaca Martineli.
Talise cita também que Paulo Cesar viabilizou a criação do Festival de Dança de Paranavaí, evento que tem crescido e se tornado uma grande referência regional. No 1º Fórum de Cultura de Paranavaí, o então presidente da FC incentivou a criação de grupos de trabalho divididos por segmentos. Assim os artistas poderiam se unir para discutir sobre as necessidades de cada área. Muitas vezes, Oliveira se responsabilizou por conseguir patrocínio para projetos de artistas locais. Um exemplo é o Camerata Paranavaí, coordenado pelo músico Arnaldo Santos.
Quando necessário, Paulo Cesar ia muito além da sua função. Chegou a tirar dinheiro do próprio bolso para custear despesas da Fundação Cultural e ajudar artistas que enfrentavam alguma crise financeira. Também implantou o Projeto Clave de Luz, de formação profissional de música para crianças e adolescentes na Escola Municipal de Música Luzia Guina Machado, ampliou o número de oficinas oferecidas pela Fundação Cultural e depois batalhou pela criação da Banda Sinfônica Clave de Luz.
A gravação do primeiro CD da Orquestra de Sopros Paranavaí, mantida pela Fundação Cultural, também não seria possível sem a ajuda do então presidente da FC. “O Paulo lutou também pela aquisição de novos instrumentos para a orquestra e para o Projeto Clave de Luz”, garante Amauri Martineli. O fortalecimento do Conselho Municipal de Cultura e as criações do Fundo Municipal de Cultural, Edital Municipal de Incentivo à Cultura e Conferência Municipal de Cultural também são conquistas que contaram com a dedicação de PC. Após tanto trabalho, Paulo Cesar de Oliveira pediu exoneração do cargo na semana passada para trilhar um novo caminho.
A versatilidade de Paulo Cesar de Oliveira
Filho dos pioneiros Sebastião Bem Bem de Oliveira e Elazir Azevedo de Oliveira, personagens ilustres da história de Paranavaí, Paulo César de Oliveira nasceu em Paranavaí em 30 de maio de 1951. Começou a trabalhar com apenas 12 anos no Banco América do Sul. Antes de ingressar no Exército em 1970, trabalhou na Livraria Santa Helena e na Livraria Eclética. Quando retornou, assumiu a chefia da Divisão de Pessoal da Prefeitura de Paranavaí, até que em abril de 1974 tomou posse como funcionário do Banco do Brasil, onde trabalhou até 1997.
Paulo Cesar também foi vereador por dois mandatos, secretário da administração municipal, gerente da Associação Comercial e Empresarial de Paranavaí (Aciap), presidente da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e vice-presidente do Sindicato dos Bancários, além de presidente da Associação Paranavaiense de Arte e Cultura (Apac) e da comissão organizadora do Femup em 1973.
Mas para a classe cultural de Paranavaí, Paulo Cesar é sempre lembrado como membro-fundador do Teatro Estudantil de Paranavaí (TEP), um dos mais antigos do teatro paranaense, e fundador do Grupo Gralha Azul, importante nome da música regionalista do nosso estado. Músico, poeta, compositor e bacharel em direito, Oliveira compôs mais de 100 músicas ao longo da carreira.
“Ele escreveu, dirigiu e atuou no espetáculo ‘A Hora da Boia’, montado pelo TEP. Recebeu diversos prêmios, inclusive o de melhor ator coadjuvante no Festival Internacional dos Países do Mercosul, realizado em Marechal Cândido Rondon em 1999”, enfatiza Amauri Martineli. Paulo Cesar também escreveu e dirigiu a peça “Bar Copa 70”, montada pelo TEP em 2009 em comemoração aos 40 anos do grupo.
Depoimentos da equipe da Fundação Cultural de Paranavaí
“PC foi de longe um dos melhores presidentes que a Fundação Cultural já teve. Paulinho é da classe, é músico, é poeta, é da gente. Por isso seu comprometimento e seriedade à frente da cultura da nossa Cidade Poesia foi tão importante. Posso afirmar que sua ausência faz parecer que nos falta um braço direito, uma parte de nosso corpo que leva um tempo para nos acostumarmos com sua falta. PC deixa em todos nós marcas indeléveis e inspiradoras. Querido por artistas e não necessariamente artistas, PC deixa sua marca e muitas conquistas para o meio cultural. Para mim, será sempre o nosso presidente de honra.”
Amauri Martineli, presidente da Fundação Cultural de Paranavaí
“Paulo Cesar foi mais que presidente, administrador e artista. Foi humano ao compreender todo o movimento artístico que faz de nossa Paranavaí a Cidade Poesia. A cultura chegou aos bairros mais distantes e trouxe muitos para perto. Artistas e plateia, inclusive formada por crianças, dividiram o palco inúmeras vezes. O grande pescador que sempre contava histórias ao final de cada reunião com a equipe jogou a rede e trouxe muitas conquistas para a cultura de nossa cidade. Hoje temos festivais que mobilizam artistas de todo o país. Exemplos são os festivais de teatro e dança. Admirado por muitos artistas, será sempre grande inspiração para o movimento cultural de Paranavaí.”
Talise Schneider, gerente de desenvolvimento cultural da Fundação Cultural de Paranavaí
“O Paulo César foi um grande mestre na minha juventude, quando me iniciei no teatro. Anos depois, pude me reencontrar com o mestre durante esses seis anos na Fundação Cultural. Bem, foi uma honra para mim esses dias de convivência, aprendizado e trabalho. Para ele, minha gratidão enquanto artista e agente cultural. Como presidente da Fundação Cultural, promoveu o Movimento Cultural de nossa cidade, assim como já havia feito na sua juventude e durante sua vida em tempos atrás. Não vou mensurar ou destacar aqui suas contribuições. Eu seria injusta com certeza, pois foram muitas. O que quero dizer é que sei de sua luta de anos atrás e sei da sua luta durante esses últimos seis anos. Por isso, agradeço ao mestre PC com minha alma de artista por mais essas lições e pelos caminhos apontados para trilharmos. Siga com sua poesia, mestre querido. Não podemos viver sem ela. Evoé!”
Rosi Sanga, coordenadora da Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade
“Eu acredito que a música é uma ferramenta capaz de formar cidadãos sensíveis e críticos, além de músicos. Assim como um maestro dotado de muita sensibilidade tira o melhor de seus músicos, o PC com sua experiência e sabedoria soube tirar o melhor de sua equipe e assim nasceram projetos incríveis como a banda sinfônica Clave de Luz e os projetos de música nos bairros. Considero o PC um grande maestro da cultura paranavaiense.”
Rafael torrente, coordenador da Escola Municipal de Música Luzia Guina Machado.
O centenário de nascimento de Sebastião Bem Bem
Roza de Oliveira: “Nunca vi outro político assim, que não quer usar dinheiro público”
Nascido em 11 de março de 1915, o lavrador Sebastião Bem Bem de Oliveira deixou Monte Alegre, distrito de Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro, em novembro de 1948. Se mudou com a família para o Noroeste do Paraná após ser convencido pela irmã de que Paranavaí era a terra do café. Com experiência nas mais diversas lavouras, Bem Bem se arriscou e perseverou. Mais tarde, trocou o campo pela cidade e se tornou um político exemplar numa época em que vereadores não ganhavam nada para exercer a função. Depois de superar muitos obstáculos e ajudar tantas pessoas, o pioneiro faleceu aos 77 anos em 4 de maio de 1992.
“O café estava em evidência e meu pai sempre gostou de trabalhar como lavrador. Quando chegamos a Paranavaí, ficamos na casa da tia Taninha até arrumar um cantinho para morar. Enfrentamos dificuldades e perdemos uma irmãzinha, Ruth, que passou muito mal nos quatro dias de viagem e faleceu dez dias após a chegada”, diz a filha Roza de Oliveira, acrescentando que o trajeto tortuoso foi percorrido de trem e de ônibus.
Quando deixou a residência da irmã, Sebastião Bem Bem hospedou a família em uma humilde casinha construída onde é hoje a Unimed, na Rua Antônio Felipe. “O Paulo [Cesar de Oliveira, fundador do Grupo Gralha Azul e presidente da Fundação Cultural de Paranavaí] nasceu naquele ranchinho de tabuinhas, parede de lascas e chão de terra batida”, relata Roza sorrindo, como se estivesse revivendo o passado.
Bem Bem de Oliveira também trabalhou em Paranavaí como funcionário da Prefeitura de Mandaguari até que se mudaram para a famosa Chácara Progresso. O local era o preferido dos filhos, mas infelizmente o pioneiro teve de vender o imóvel e se mudar para um sítio. “Papai começou a lidar com café na propriedade do seu Antonio José da Silva. Depois fomos colher algodão. A família toda ajudava na lavoura”, lembra a filha.
Durante as colheitas, Bem Bem, que ainda criança aprendeu a manejar enxada, foice e machado, sempre explicava aos filhos a importância de estudar. Não queria que enfrentassem as mesmas dificuldades que ele. “Deixou claro para todos nós que é estudando que se vence. Tinha uma tristeza muito grande por não ter estudado”, confidencia Roza, lembrando que pais como Sebastião Bem Bem eram raros nos anos 1950 e 1960. Os filhos se recordam da alegria do patriarca ao vê-los diante de uma lamparina folheando um livro ou caderno à noite, mesmo que isso custasse acordar com o rosto sujo de tanta fuligem.
Quando Roza completou 15 anos e recebeu uma nomeação do prefeito José Vaz de Carvalho para trabalhar como professora na Casa da Criança, onde é atualmente Colégio Estadual Dr. Marins Alves de Camargo, Bem Bem ficou preocupado porque a filha precisaria percorrer quilômetros a pé para lecionar. Então decidiu se mudar.
Na área urbana, novamente se sentiu perdido porque tinha pouca experiência trabalhando longe do campo. Esperto e inteligente, não se abateu. Ao perceber a chegada de tantas famílias a Paranavaí, Sebastião Bem Bem começou a atuar como corretor de imóveis. Entre altos e baixos, o pioneiro fluminense estava sempre disposto a encarar desafios, tanto que trabalhou até na derrubada de mata em Loanda. Saía de Paranavaí na segunda e retornava apenas no sábado.
“Sempre teve uma capacidade muito grande de auto-superação. Não se entregava de jeito nenhum”, assegura Roza. Enquanto Bem Bem trabalhava como peão, a esposa Elazir Azevedo de Oliveira prestava serviços como lavadeira de roupas para muitas famílias de Paranavaí.
De acordo com o filho Paulo Cesar de Oliveira, com o incentivo dos amigos, Bem Bem de Oliveira concorreu ao cargo de vereador nas eleições de 1952 e ficou como suplente. À época, trabalhou para o candidato a prefeito Herculano Rubim Toledo, vencido pelo médico José Vaz de Carvalho. Logo que assumiu a administração municipal, José Vaz o convidou para uma conversa. “Ele disse que queria meu pai trabalhando com ele, ajudando a administrar Paranavaí. O convite foi aceito e os dois nunca desfizeram a parceria”, garante Paulo Cesar.
Naquele tempo, Bem Bem já realizava trabalhos sociais, contribuía com solicitações de encaminhamento para internações. Nos quatro primeiros anos que viveu em Paranavaí, não teve nenhuma pretensão política, só agia por amor ao próximo. “Ele se tornou um famoso voluntário da ação social e da área de saúde. Não sossegava enquanto não conseguia internar quem o procurava pedindo auxílio”, frisa Roza.
A partir de 1965, com a popularidade alta e o crescente reconhecimento de suas ações, o pioneiro conseguiu se eleger vereador. O desempenho agradou tanto a população que Bem Bem foi reeleito em 1969, 1973, 1977 e 1983. “Foram cinco mandatos consecutivos. De 1975 a 1976, ele foi presidente da Câmara Municipal. Atuou também como secretário da assistência social”, lembra Paulo Cesar de Oliveira.
Quando era vereador, não tinha hora para chegar em casa e recebia os eleitores até de madrugada. Tarde da noite, não era raro os filhos ouvirem vozes vindo da entrada da residência. A visita tinha quase sempre a mesma motivação: “Ô seu Bem Bem, meu pai tá doente. Precisamos da sua ajuda”, clamavam. O vereador se apressava e ia para a Santa Casa de Paranavaí, de onde não saía até garantir que o enfermo fosse internado.
Paulo Cesar se recorda de um episódio cômico em que até o prefeito José Vaz de Carvalho se rendeu aos esforços de Sebastião Bem Bem. “Um dia, o José Vaz, que era médico, estava atendendo na Santa Casa e uma recepcionista chegou falando que o Bem Bem estava nervoso. Então o prefeito disse: ‘Ah, manda ele pra lá”, narra o filho.
Se voltando para um paciente, Carvalho justificou que Bem Bem era uma pessoa muito boa, mas que exigia muita atenção. “Ninguém aguenta alguém que quer ser atendido toda hora”, criticou. Quando percebeu que Sebastião Bem Bem já estava entrando, José Vaz mudou o rumo da conversa. “Estou falando. Não tem homem igual o Bem Bem em Paranavaí. Atende ele, menina!”, ponderou.
Respeitado até por adversários políticos, o vereador tinha o hábito de fazer tudo sem usufruir de recursos públicos. Quando conseguia o encaminhamento de pacientes para Curitiba e outras cidades do Paraná, fazia questão de ir junto e ainda dormia ao lado da cama do paciente. “Sempre procurava a hospedaria mais barata. Chegava a ser ridicularizado pelos colegas. Nunca vi outro político assim, que não quer usar dinheiro público. Uma vez, papai dormiu em uma pensão e roubaram a mala dele”, confidencia Roza de Oliveira, evidenciando a bondade e azar do vereador.
O respeito e consideração de Sebastião Bem Bem pela população era tão grande que muitas vezes o pioneiro chegou ao Hospital das Clínicas de Curitiba carregando enfermos nos braços. Como vereador não tinha salário, trabalhou cerca de 16 anos sem ganhar nada. “Sabe o que ele fez na primeira ocasião em que recebeu como vereador? Dividiu mais da metade com os menos favorecidos”, conta rindo o genro Augustinho Borges.
Quem conheceu Sebastião Bem Bem de Oliveira sempre o considerou um guerreiro. Se sobressaía pelo interesse em fazer a diferença quando ainda não existiam políticas específicas para a área da saúde. “Era firme no que acreditava e um comentário só o atingia se tivesse argumentos consistentes, não vaidades”, avalia Rosa. Até hoje, Bem Bem é lembrado pela defesa de leis que garantiram à população o direito de acompanharem os familiares internados na Santa Casa de Paranavaí.
Em ato de coragem, durante uma sessão na Câmara Municipal, o vereador manifestou indignação contra a bancada ruralista no Congresso Nacional e ainda fez questão de chamar a atenção dos que representavam os interesses dos latifundiários na região. Mesmo depois de dedicar 25 anos de vida à população de Paranavaí, Sebastião Bem Bem de Oliveira não conseguiu obter a aposentadoria. “Não se aposentou nem como trabalhador rural, atividade que exerceu por décadas. Também foi guarda do aeroporto, secretário de assistência social e corretor de imóveis. Nada disso garantiu que ele recebesse nem mesmo um salário mínimo na terceira idade”, lamenta Paulo Cesar.
Antes de falecer em 4 de maio de 1992 em decorrência de falência múltipla de órgãos, Bem Bem teve um acidente vascular cerebral (AVC) e passou os dois últimos anos de vida em uma cadeira de rodas. Segundo Roza de Oliveira, o pai sofreu bastante. Teve de fazer hemodiálise e frequentemente precisava ser internado. “Ele era diabético e hipertenso. Um dia, o José Vaz entrou no quarto e falou que o Bem Bem não merecia passar por isso”, testemunha Paulo Cesar de Oliveira.
Pouco antes de morrer, Sebastião Bem Bem de Oliveira lamentou o arrependimento de não ter se dedicado mais aos filhos. Também questionou se realmente foi um bom pai. “Deixamos claro que ele foi o melhor pai do mundo, que nos ensinou com rigor a importância de sermos honestos e trabalhadores. Apesar de todas as dificuldades, nos ensinou muito sobre Deus, um presente eterno que todo pai deveria dar aos filhos. Foi um momento de emoção, choro e conforto”, assinala Roza.
No dia 6 de maio de 1992, o editorial do Diário do Noroeste expressou pesar pela morte de um dos políticos mais importantes da história de Paranavaí. “Bem Bem de Oliveira entrou pobre na política e assim saiu dela, quando sua saúde já não permitia mais desenvolver as atividades legislativas. Fez um grande trabalho na área social – fato reconhecido até por adversários políticos. E a grande virtude do ex-vereador é que ele realizou este trabalho antes de entrar para a Câmara Municipal e continuou depois de se despedir do legislativo. Foi a política que entrou na vida de Bem Bem e não ele que entrou para a política.”
Bem Bem amava poesia e adorava noticiários
Obrigado a trabalhar desde criança, Sebastião Bem Bem de Oliveira só estudou até o segundo ano do primário, atual ensino fundamental. Ainda assim, gostava muito de ler e era bom em cálculos. “Ele tinha aquele complexo de achar que não possuía cultura por ter estudado pouco. Apesar disso, gozava de uma capacidade invejável para discursar e evangelizar. Era um homem inteligentíssimo e entendia tudo sobre a bíblia, o seu livro preferido que leu tantas vezes”, diz a filha Roza de Oliveira.
O amor pela poesia e pela declamação, Roza herdou do pai aos cinco anos. A influência foi tão significativa que os filhos cresceram afeiçoados à literatura. Paulo Cesar de Oliveira, fundador do Grupo Gralha Azul, atribui ao pai o seu grande envolvimento com arte e cultura ao longo da vida. Além de leitor inveterado, Sebastião Bem Bem adorava noticiários, tanto que quando comprou a primeira TV “foi como se o paraíso chegasse até ele”, define a família.
Bem Bem também sabia ser bravo e intransigente, principalmente quando ficava com ciúmes. Roza de Oliveira jamais esqueceu o episódio em que estava estudando química em casa com a ajuda do amigo e engenheiro Luís Beletti. “De repente, passa o papai com um cabo de vassoura pra bater no rapaz. Ele achou que estávamos muito perto um do outro. Tinha o coração bom demais, mas um temperamento difícil”, admite Roza às gargalhadas. No dia, a filha chorou a noite toda de vergonha. Ficou tão constrangida que passou um bom tempo sem se aproximar de rapazes. Mais tarde, Bem Bem se arrependeu e convidou o jovem para um almoço.
Um mito em Santo Antônio de Pádua
Nos anos 1970, Sebastião Bem Bem de Oliveira já convivia com o diabetes. Teimoso, se recusava a seguir a dieta. “Ia pra casa do amigo Salomão e comia tudo que não podia. Ele não gostava de se cuidar. Lá pelo início dos anos 1980, só abriu uma exceção e deu uma caprichada quando prometi levar ele e a mamãe para visitar os parentes no Rio de Janeiro”, lembra a filha Roza de Oliveira.
Cumprindo o combinado, o levaram para Santo Antônio de Pádua. Apesar de ter deixado a cidade natal ainda muito jovem, a fama de Bem Bem como um homem bondoso e admirável era tão grande que na casa do irmão, onde ficou hospedado, recebeu visitas o dia todo, até de pessoas que não conhecia.
“Chegou muita gente de carro de boi e também a cavalo. Foi aí que percebi o quanto ele era querido em Pádua. De lá, fomos para o Rio [de Janeiro, capital], onde visitamos Jorge de Sá, um de seus melhores amigos. Na volta, passamos ainda em São Paulo para ele rever o ‘Seu Olivier’, outro grande amigo”, descreve Roza, acrescentando que fizeram todas as vontades de Bem Bem durante a viagem.
O que também chamava a atenção no pioneiro era a grande sensibilidade. Era acostumado a chorar com facilidade, principalmente quando reencontrava algum parente ou amigo. Se emocionava até mesmo com figuras públicas que admirava. “Eu tinha 13 anos quando o presidente Getúlio Vargas cometeu suicídio e lembro como se fosse hoje. Morávamos em um ranchinho e o ‘radião’ ficou ligado dia e noite. Papai chorava sem parar”, pontua Roza.
Um traço de personalidade que virou nome
De acordo com a esposa Elazir Azevedo de Oliveira, o pioneiro fluminense Sebastião de Oliveira ficou conhecido como Bem Bem muito cedo pelo jeito afável e querido de ser. “Quando ele era criança o chamavam de benzinho. Mais tarde, começaram a falar Bem Bem”, conta. O genro Augustinho Borges explica que o apelido que depois virou nome ganhou força com o altruísmo do pioneiro fluminense. “Ele era a pessoa que mais se encaixava no ditado ‘faça o bem sem olhar a quem’. Fazia o melhor por qualquer pessoa e tentava sempre ver o lado bom de tudo”, comenta Borges.
Em 1980, Sebastião de Oliveira decidiu fazer uma retificação de nome porque nas últimas eleições perdeu muitos votos quando concorreu a vereador. O problema era que bastante gente o conhecia apenas como Bem Bem. “O sujeito votava, mas os votos não eram considerados porque o que valia era o nome no registro de identidade”, comenta Augustinho Borges.
Com o auxílio do advogado Fuad Esper Cheida, o pioneiro conseguiu fazer a alteração. À época, Augustinho Borges viajou até o Rio de Janeiro para formalizar a mudança e buscar a nova certidão de nascimento do sogro. Na última eleição municipal em que concorreu, Bem Bem superou de longe a quantidade de votos das eleições anteriores, provando que era um dos políticos favoritos da época. Em reconhecimento a tudo que fez por Paranavaí, Sebastião Bem Bem de Oliveira recebeu em 14 de dezembro de 1981 o título de cidadão benemérito de Paranavaí.
Em 2 de setembro de 1987, o pioneiro foi presenteado pela Associação Comercial e Industrial de Paranavaí com uma placa de prata entregue pelo então prefeito Benedito Pinto Dias. A solenidade o reconheceu como o homem público do ano pela Comissão Organizadora das Solenidades da Semana da Pátria. Bem Bem também foi prestigiado com um nome de rua. Uma das vias mais importantes do Jardim Ibirapuera e Jardim Santos Dumont, a Rua Catete recebeu o nome de Rua Sebastião Bem Bem de Oliveira.
Saiba Mais
Sebastião Bem Bem de Oliveira era do Rio de Janeiro, cujo padroeiro é São Sebastião e se mudou para Paranavaí, cidade que também tem o santo como padroeiro. Casou-se com Elazir Azevedo de Oliveira que nasceu em 20 de janeiro, Dia de São Sebastião. Além disso, por pouco “Dona Elazir” não recebeu o nome de Sebastiana.
Sebastião Bem Bem se apaixonou por Elazir quando ela tinha apenas 14 anos. Tentou pedir a mão da jovem em casamento, mas o pai dela recusou alegando que não tinha filha em idade de se casar. Apaixonado, Bem Bem ficou tão abalado que chegou a ser internado em um sanatório. Sebastião de Oliveira não desistiu, tanto que se casaram quatro anos depois.
Em Santo Antônio de Pádua, Sebastião Bem Bem trabalhava cultivando arroz na serra. Apesar das dificuldades, todos os dias ‘Dona Elazir’ percorria longas distâncias e subia morros levando uma cesta de comida para o marido e os companheiros de trabalho.
Paulo Cesar de Oliveira se recorda do episódio em que o pai, Sebastião Bem Bem, estava acompanhando um homem com problemas psicológicos para receber tratamento médico em outra cidade. Na ocasião, o sujeito abriu a porta do carro, desceu e fugiu em direção a um matagal. Bem Bem teve de correr atrás do homem para trazê-lo de volta.
Frase da filha Roza de Oliveira, de 73 anos.
“Um dia, ali perto do Grande Hotel teve um tiroteio e o papai mandou todo mundo deitar no chão. Ficou com medo que alguma bala acertasse a gente. A confusão foi armada por causa de grilagem de terras.”
Frase da esposa Elazir Azevedo de Oliveira, de 94 anos.
“Eu e o Bem Bem enchemos Paranavaí de gente. Tivemos 14 filhos, 17 netos e 22 bisnetos. Fico triste por ter perdido sete filhos, mas também fico feliz de ter uma família tão grande, boa e bonita. Todos me tratam bem, querem o melhor pra mim. São muito queridos. Me sinto uma ilha cercada por netos por todos os lados. Tem hora que fico perdida no meio da turma, né?”
A diversidade cultural do cinema
2ª Mostra de Cinema de Paranavaí exibirá filmes de todas as regiões do Brasil e de Moçambique
Na sexta-feira, 7, e no sábado, 8, às 20h30, a Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade será cenário da 2ª Mostra de Cinema de Paranavaí (MIC) em que serão exibidos 16 filmes de curta, média e longa-metragem dos mais diversos gêneros. O evento que recebeu obras de todas as regiões do Brasil e de Moçambique é uma iniciativa da Fundação Cultural. A entrada será gratuita.
Para a primeira noite da 2ª MIC está programada a exibição dos filmes “Sonho de Valsa”, de Beto Besant, de Santo André, São Paulo; Loading 66%, de Henrique Duarte, de São Carlos, São Paulo; “Caça-Palavras”, de Pedro Flores da Cunha, de São Paulo, capital; “As Aventuras de Seu Euclides Chegança”, de Marcelo Roque Belarmino, de Aracaju, Sergipe; “Maria Ninguém”, de Valério Fonseca, do Rio de Janeiro, capital; “Foi Uma Vez”, de Renan Lima e Bruno Martins, de São Paulo, capital; “Burguesia”, de Rodrigo Parra, do Rio de Janeiro, capital; “Incelença da Perseguida”, de Silvio Gurjão, de Fortaleza, Ceará; e “Eu Não Faço a Diferença?”, de Henrique Moura, de Paranavaí.
Já no sábado, serão exibidos “A Maldição de Berenice”, de Valério Fonseca, do Rio de Janeiro, capital; “Hr. Kleidmann”, de Marcos Fausto, de São Paulo, capital; “No Oco da Serra Negra”, de Angelo Bueno, Ernesto Teodósio, Pedro Kambiwá e Otto Mendes, de Recife, Pernambuco; “Aos Pés”, de Zeca Brito, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul; “Bucaneiro”, de Juliana Milheiro, do Rio de Janeiro, capital; “Do Morro”, de Mykaela Plotkin e Rafael Montenegro, de Recife, Pernambuco; e Chikwembo, de Julio Silva, de Maputo, Moçambique.
Para o presidente da Fundação Cultural de Paranavaí, Paulo Cesar de Oliveira, o cinema brasileiro e africano está muito bem representado na 2ª Mostra de Cinema de Paranavaí pela diversidade de gêneros e também de temas que abordam desde assuntos mais simples e bucólicos até os mais controversos e subjetivos. “Escolhemos filmes que façam com que as pessoas deixem a Casa da Cultura discutindo, repensando o que assistiram”, enfatiza o diretor cultural Amauri Martineli, acrescentando que a 2ª MIC é voltada ao público com faixa etária acima de 14 anos.
Um show à brasileira
Próxima apresentação da OSP será pautada na música popular
No domingo, 27, às 20h30, a Orquestra de Sopros Paranavaí sobe ao palco do Teatro Municipal Dr. Altino Afonso Costa para apresentar o show “Noite da Música Brasileira”. O espetáculo leva ao público os grandes clássicos da música popular. Ingressos estão à venda na Fundação Cultural por R$ 10.
O show “Noite da Música Brasileira” é o segundo espetáculo da temporada de concertos da Orquestra de Sopros que este ano ainda fará shows temáticos de jazz, samba e choro, música regionalista e concerto de natal. “O fato de um show ser diferente do outro é uma forma de atendermos aos mais variados gostos e, assim, divulgarmos a boa música”, explica o presidente da Fundação Cultural, Paulo Cesar de Oliveira.
Para o show de domingo, a OSP está preparando um show que inclui grandes clássicos da música brasileira como “Samba de Uma Nota Só”, de Tom Jobim e Newton Mendonça; “Zazueira”, de Jorge Ben Jor; “Cromático” e “Cristalina”, de Antônio Adolfo, grande compositor carioca que faz parte do clube da bossa nova. Há também composições autorais como “Aí tem coisa”, de Gabriel Forlani Zara.
As canções executadas pela OSP não são apenas releituras, mas músicas adaptadas para orquestra. “Eles sempre acrescentam novos arranjos, isso dá um toque especial”, explica o diretor cultural da FC, Amauri Martineli, acrescentando que a Orquestra de Sopros é mantida pela Fundação Cultural. Segundo o trombonista e maestro-adjunto da orquestra Luciano Ferreira Torres, o apoio financeiro da FC é imprescindível para que a Orquestra de Sopros continue na ativa. “Acredito que não há outra banda no Estado que seja mantida com recursos municipais. Podemos nos orgulhar disso”, diz o maestro-adjunto.
Ao longo dos 12 anos de apresentações da OSP, do eclético repertório que inclui MPB, chorinho, foxtrot, bolero, jazz e trilhas sonoras, o destaque para o público são sempre as clássicas canções de Glenn Miller e Henry Mancini. “Também gostam muito de ouvir Tico-tico no Fubá, do Zequinha de Abreu”, lembra Torres. A orquestra já se apresentou por muitas cidades do Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Contudo, para os integrantes o grande trunfo são as participações no Festival de Música de Londrina (Filo), onde a orquestra foi banda base do evento por vários anos.
Os shows da orquestra têm um compromisso sociocultural, ajudam a manter o Projeto Clave de Luz, uma iniciativa da Fundação Cultural que oferece formação musical profissional a dezenas de estudantes de baixa renda por um período de quatro anos. “Toda a renda dos shows é usada para manter o projeto”, ressalta Oliveira. A OSP também realiza concertos didáticos nas escolas. Os músicos se informam sobre o gênero preferido dos estudantes, então depois realizam uma apresentação seguida de análise das canções e dos instrumentos.
OSP é remanescente da Banda Lira do Noroeste
Fundada pelo maestro Arnold Poll em 18 de maio de 1961, a Banda Lira do Noroeste era conhecida por embalar a população com releituras de samba-canção e chorinho, gêneros musicais disseminados pelas rádios da época. “O maestro Nílson Antônio dos Santos fez uma revolução transformando-a na Banda Sinfônica Municipal.
O repertório mudou e o número de integrantes chegou a 40. Ele conseguiu fazer com que todos os músicos se dedicassem integralmente ao projeto”, conta o trombonista e maestro-adjunto da Orquestra de Sopros Paranavaí (OSP), Luciano Ferreira Torres, acrescentando que quatro anos depois Santos daria lugar ao regente Sales Douglas Santiago.
Santiago transformou a Banda Sinfônica em Orquestra de Sopros Paranavaí (OSP) no dia 19 de novembro de 1998. À época, houve uma grande mudança. “Alguns músicos se casaram e estabeleceram famílias, assim abandonando a carreira musical. Percebemos que do total de integrantes apenas 20 estavam dispostos a tornarem-se músicos profissionais”, revela o trombonista. Segundo a OSP, Sales tinha uma visão de Big Band, orquestras formadas por músicos de jazz nos Estados Unidos da década de 1920.
Em 2002, Santiago deixou a OSP e deu lugar a um novo maestro, Vitor Hugo Gorni que assim como os outros regentes que passaram por Paranavaí também é de Londrina. “Ele começou a vir aqui uma vez por semana”, enfatiza o trombonista. Com Gorni, a orquestra se dedicou a um repertório mais refinado. Exemplos são as canções eternizadas por Frank Sinatra e Tony Bennett. Depois a orquestra começou a homenagear artistas brasileiros. “Já fizemos apresentações especiais apenas com músicas do Roberto Carlos e Tim Maia”, informa o maestro-adjunto.
Mesmo com inúmeras mudanças ao longo da trajetória, a orquestra ainda carrega a nostalgia dos tempos áureos da Banda Lira e Sinfônica Municipal. “Sempre tocamos os dobrados e os hinos que fazem parte de uma história musical que ultrapassa o tempo, como o Hino do Paraná, Hino da Independência e Hino à Bandeira”, finaliza Luciano Torres.
Saiba mais
A OSP fará cinco shows até o final do ano: de MPB, jazz, samba e choro, de música regionalista e concerto de natal. O pacote para todos os espetáculos está à venda na Fundação Cultural por R$ 50. Para mais informações, ligar para (44) 3902-1128