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Um exemplo a ser seguido
Esta semana, eu e minha mãe visitamos a horta orgânica do senhor Gabriel Esperidião Yousseff. Mesmo com alguns problemas de saúde, ele segue labutando e investindo no seu sonho de ver a horta crescer. Muito legal ver que ainda há pessoas que priorizam a qualidade em vez da quantidade. Gabriel é um exemplo de pessoa que não se deixa abater pelas próprias limitações.
As verdadeiras academias estão morrendo
O treinador Rob King fala sobre o fim dos bons ginásios e a expansão dos “centros de fitness”
O treinador Rob King, 40, é um apaixonado por musculação que fundou há alguns anos a Heavyweights Training Center e a Heavyweights Sports Supplements em Mount Pearl, na província de Newfoundland and Labrador, no Canadá. Com a experiência de quem acompanha a expansão mundial da cultura fitness, King afirma que as verdadeiras academias estão morrendo e vê com preocupação o crescimento desenfreado dos chamados “centros de fitness”. Segundo ele, na atualidade, muitas academias vendem mais ilusões do que resultados.
“O que é vendido como novo e fresco, acredite, já foi feito antes. Não existe nenhuma novidade. É o que podemos chamar de falsas reinvenções”, afirma. Rob King ingressou no mundo da musculação há 25 anos. Quando colocou os pés pela primeira vez em uma academia, logo se sentiu intimidado pela atmosfera do ambiente. “Imagine você, eu era um skatista de 15 anos que praticava artes marciais em frente de casa. Queria muito levantar pesos, mas tinha medo de entrar em uma sala de musculação”, diz.
Apesar do receio, o canadense encarou o desafio. Ainda considera o primeiro dia de treino como uma das experiências mais assustadoras de sua vida. “Quando entrei, vi um sujeito de cara fechada que mais parecia um guerreiro. Ele estava levantando pouco mais de 100 quilos no supino reto. Pra mim, parecia que eram mais de 400”, conta.
O temor se dissipou quando Rob se tornou parte de um grupo de marombeiros que treinava diariamente após às 18h. À época, o ginásio não tinha máquinas, com exceção de alguns rústicos aparelhos com cabos. “Quase tudo se resumia a barras, halteres e uma barra fixa. Muitos dos equipamentos pareciam caseiros. Na verdade, acho que eram”, destaca. Não havia esteiras na academia de King. Mesmo assim, ninguém sentia falta. Alguns nem sabiam o que era. Quando surgiram as primeiras, a surpresa foi geral. “Era um negócio enorme, gigante. Agora percebo como estou ficando velho”, comenta em tom bem humorado.
“As pessoas estão preocupadas em sentir dor”
Quando pondera sobre a realidade atual das academias, lamenta o fato de que o comprometimento com os resultados foi deixado de lado. “As academias de hoje não são ginásios, mas sim ‘centros de fitness’”. As pessoas estão mais preocupadas com a possibilidade de sentirem dor ou ficarem com as mãos calejadas. Até transpirar parece exagerado, o que diriam então sobre fazer ruídos ou deixar os pesos caírem?”, questiona, lembrando que já viu marombeiros serem repreendidos por levarem pó de giz para algumas academias.
A expansão dos “centros de fitness” é definida por Rob King como um fenômeno mundial que pode piorar um pouco mais. E a culpa disso são daqueles que encaram a musculação como um sacrifício, atividade banal, ocasional ou meramente recreativa. Afinal, se esse é o pensamento de quem busca uma academia, com certeza, muitos proprietários vão se aproveitar disso para oferecer um serviço de baixa ou péssima qualidade. “Temos academias ruins porque há clientes que buscam isso. Se muitos dos frequentadores fossem conscientes, bem informados e tivessem bons objetivos, pode acreditar que muita gente pensaria duas vezes antes de se tornar instrutor ou abrir uma academia”, dispara.
“Defendemos o conceito Warehouse Gym”
Por outro lado, Rob King tem fé que no futuro o mundo da musculação seja mais direcionado ao básico. “Não vejo razão para abrir mão daquilo que sempre funcionou muito bem. Aqui na América do Norte, estamos divulgando o máximo possível o conceito Warehouse Gym que se pauta no uso de halteres, trenós, cordas e correntes. Defendemos que quanto menor o número de pessoas agindo como hamsters em uma esteira, melhor!”, destaca.
O mais curioso é que na América do Norte o retorno ao básico encontrou uma grande base de defesa entre pessoas que não são atletas, mas amam treinar. “A diferença está sendo feita por gente que nas horas vagas se dedica ao treino duro e pesado. Propagamos a ideia de que não são necessários muitos equipamentos para proporcionar bons resultados”, conta.
Quando Rob King decidiu fundar a sua primeira academia, ele alugou um pequeno salão. À época, tinha apenas uma gaiola de agachamento, um pneu grande, algumas cordas e modestos equipamentos de pequeno porte. “O que não me faltava era a capacidade de criar, me divertir e me desafiar”, explica, acrescentando que nunca se preocupou em comprar aparelhos aeróbicos.
O interesse pela musculação levou o treinador a participar de competições de bodybuilding e powerlifting. “Comecei aprendendo e continuo aprendendo. Viajo muito e invisto na minha educação. Estou sempre em contato com os melhores do ramo. O conhecimento constante é essencial para quem quer ajudar as pessoas”, garante.
“Odeio ver tanta gente sendo enganada”
Segundo o treinador canadense, é animador ver o aumento da popularidade da cultura fitness nos últimos anos. Afinal, isso mostra que há muita gente querendo entrar em forma. Em contraponto, o interesse também fez surgir novas e grandes empresas que priorizam o lucro. “Não me entenda mal, sou totalmente a favor do fitness, mas vejo que estamos sendo engolidos pelas ‘big boxes’ ou o que chamo de walmart das academias”, reclama.
Exercícios incoerentes, uma infinidade de máquinas, atividades aeróbicas em que a pessoa não sai do lugar e treinos repetitivos por longos períodos são algumas das características dos “centros de fitness”, na perspectiva de King. “Por incrível que pareça, tudo isso me deu mais fôlego para tentar fazer a diferença. Odeio ver tanta gente sendo enganada por essas bobagens”, desabafa.
“Jurei a mim mesmo que me superaria”
Na adolescência, com uma precoce obsessão por músculos, Rob se inspirou em Arnold Schwarzenegger, após ser hipnotizado pela interpretação do ex-bodybuilder no filme “Conan, O Bárbaro”, de 1982. Quando não podia ir ao ginásio treinar, corria para o quarto do irmão, onde se exercitava com um par de velhos halteres de concreto. Depois, começou a ler tudo que encontrava sobre musculação, até que surgiu a oportunidade de trabalhar na área administrativa de uma academia. Cansado de ficar atrás de uma mesa, se graduou e se tornou treinador.
“No meu quarto, eu tinha uma prateleira com 200 dólares em suplementos. E foi assim que ingressei no ramo de vendas. Anotava tudo que comercializava em uma caderneta. Mais tarde, me mudei para Vancouver e percebi que estava infeliz”, ressalta. O próximo passo foi voltar para a casa do pai e abrir uma loja de suplementos. Sem dinheiro e sem orientação, se arriscou. Dividia o tempo entre a recém-aberta Heavyweights Sports Supplements e o trabalho de treinador em uma academia.
“Jurei a mim mesmo que me superaria, que faria de tudo para transformar a vida de muita gente. Me comprometi em torná-los mais fortes e saudáveis. Encontrei a minha verdadeira paixão e nunca olhei para trás”, confidencia. Hoje, King tem o próprio ginásio, uma boa equipe e se orgulha de ter mudado a vida de milhares de pessoas. Além de treinador e empresário, também é palestrante e autor de mais de dez livros sobre fitness, saúde e qualidade de vida.
O encontro com Arnold Schwarzenegger
Em 1999, Rob King usou todas as economias para viajar para Columbus, em Ohio, nos Estados Unidos. Naquele ano em que o grande vitorioso foi o lendário bodybuilder alemão Nasser El Sonbaty, o objetivo de King era conversar com Arnold Schwarzenegger no Arnold Classic. “Foi a melhor experiência que tive aos 25 anos. Sem dúvida, mais um sonho realizado”, enfatiza.
Saiba Mais
Rob King é colaborador dos sites T-Nation, EliteFTS, Schwarzenegger, JasonFerrugia, BretContreas, PTPower, KickBackLife, Super-Trainer, DeanSomerset, InsideFitnessMag, ExerciseForInjuries, FixingMuscleImbalances, FitProInferno e da revista Muscle-Insider.
Dicas de Rob King para quem sonha em abrir uma academia
Você não precisa de muitas esteiras
Você não precisa da aprovação de ninguém
Você não precisa ter um ginásio crossfit
Você não precisa de um ginásio grande
Você precisa gostar de ajudar os outros
Você precisa ter uma mente aberta
Você precisa ter uma fome constante de melhorias
Você precisa querer fazer a diferença
Entenda, todas as grandes coisas começaram como pequenas
Comece agora!
Lou Ferrigno, de vítima de bullying a campeão de fisiculturismo
Stand Tall, mais do que uma versão Pumping Iron do ítalo-americano
Embora muitos digam que o ex-fisiculturista e ator Lou Ferrigno foi ofuscado por muito tempo pelo também ator e ex-fisiculturista Arnold Schwarzenegger, a verdade é que o primeiro filme estrelado pela dupla, o documentário Pumping Iron, de 1977, de Robert Fiore e George Butler, serviu para alavancar ainda mais a carreira do ítalo-americano, mesmo que a película tenha se pautado mais na carreira e personalidade de Arnie.
Exemplos não faltam. Após o lançamento de Pumping Iron, Lou Ferrigno estrelou o filme The Incredible Hulk, seguido pela série homônima de sucesso que foi ao ar pela CBS até 1982. Depois, Ferrigno foi protagonista de The Incredible Hulk Returns, de 1988; The Trial of the Incredible Hulk, de 1989; e The Death of the Incredible Hulk, de 1990. Ainda trabalhando com a sétima arte, interpretou o mitológico Hércules em 1983 e 1984, além de Sinbad of the Seven Seas em 1989.
Dos anos 1990 para cá, o fisiculturista aposentado teve poucas participações no cinema e na TV. Os trabalhos mais populares incluem a voz do Hulk nos remakes mais recentes e muitas dublagens para os desenhos animados da Marvel. No Brasil, o filme Stand Tall, de 1996, do cineasta Mark Nalley, é desconhecido da maior parte do público aficionado por musculação e fisiculturismo.
Curiosamente, é o único que mostra quem é e quem foi o maior adversário de Arnold Schwarzenegger no antológico Mr. Olympia de 1975. Ainda assim, é preciso ressaltar que talvez por ser um docudrama com caráter de tributo ou homenagem, Stand Tall omite informações sobre o final da carreira de Ferrigno como bodybuilder, quando amargou em 1992 e 1993 as posições de 12º e 10º colocado.
O filme de Mark Nalley tem boa estrutura, em acordo com uma proposição humanista que visa despertar a identificação do público com um dos maiores ícones da era de ouro do bodybuilding. Na obra, Louis Jude Ferrigno é uma criança do Brooklyn, em Nova York, que aos três anos é diagnosticada com surdez causada por uma infecção. Restando apenas 15% da audição, o jovem Ferrigno cresce retraído. As cenas sobre a infância difícil do atleta são apresentadas em forma de vídeos caseiros registrados no final dos anos 1950.
Vítima constante de bullying, apenas anos mais tarde consegue ouvir e falar com clareza. São emocionantes as cenas de Lou contando como foi ridicularizado na infância por ser um garoto magricela surdo-mudo. Mas tudo começa a mudar aos 13 anos, quando descobre o fisiculturismo como forma de superar a timidez e a baixa autoestima. O amor pela modalidade é quase instantâneo, tanto que Ferrigno trabalhava como engraxate para comprar revistas de musculação.
Um dos momentos mais inesquecíveis de Stand Tall surge quando o ex-fisiculturista lembra dos episódios em que disse aos seus clientes que se tornaria um campeão mundial de bodybuilding. A narrativa vigorosa e a construção clara e objetiva do filme conquistam a atenção do espectador. Mesmo quem não gosta de musculação ou fisiculturismo começa a entender e respeitar a complexidade e o rigor da construção corporal, seja em nível competitivo ou não.
O filme que conta a história de superação do ítalo-americano também tem algumas semelhanças com Pumping Iron. No clássico de 1977 o adversário que o protagonista Arnold Schwarzenegger precisa superar é Lou. Já em Stand Tall, Ferrigno, com mais de 40 anos, tem de vencer o veterano Boyer Coe. A obra que levou um ano e meio para ser produzida tem bom material de pesquisa e apresenta entrevistas com familiares e amigos de Lou, além de Arnold, o maior ídolo do fisiculturismo.
Nalley quase desistiu de ter Schwarzenegger no filme por causa das dificuldades em convencê-lo a participar. Para o bem do cineasta, as regulares insistências garantiram um final feliz. Em troca da participação, Arnie pediu apenas uma caixa de charutos. “Sabíamos como seria determinante para o filme ter alguém famoso como o Arnold”, diz o cineasta Mark Nalley que precisou se desdobrar com um orçamento modesto de 200 mil dólares, considerado minúsculo para os padrões estadunidenses. Uma das poucas queixas sobre o filme diz respeito a iluminação. Há algumas cenas escuras que denunciam uma certa falta de cuidado e de recursos da produção.
Felizmente, nada disso é o suficiente para ofuscar o brilho do documentário sobre um dos atletas mais importantes da história do fisiculturismo. Se tratando de estatura física, Ferrigno, que tinha 1,96m e 130 quilos, ultrapassou os padrões do bodybuilding profissional e conquistou dois títulos de Mr. Universo em 1973 e 1974, além de uma terceira colocação no Mr. Olympia de 1975. Em síntese, Stand Tall é um filme feito para todos os seres humanos, amantes ou não de atividade física resistida. “Ele tinha tudo. Boas costas, bons ombros e sabia como posar”, comenta um admirador do atleta no filme.