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Pesquisadores descobrem que o agrião pode ajudar a prevenir deficiência de vitamina B12
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Kent, na Inglaterra, descobriu recentemente que o agrião pode ser usado na prevenção da deficiência de cobalamina (vitamina b12).
Os resultados publicados na revista científica Cell Chemical Biology, revelam que a vitamina – comumente tomada na forma de suplementos, no caso dos veganos, está disponível nas folhas do agrião, desde que a planta seja cultivada em um solo enriquecido.
De acordo com os pesquisadores, essa descoberta pode ser uma grande aliada para enfrentar o desafio global de fornecer uma dieta vegetariana completa e nutritiva à medida que as pessoas passem a consumir cada vez menos carne com a expansão populacional.
Referência
Fleming, Sandy. University of Kent. University scientists make vitamin B12 breakthrough.
Pesquisa revela que sete a cada dez consumidores desconhecem a real violência por trás da carne
Em uma pesquisa concluída esta semana pela World Animal Protection (WAP), sete a cada dez consumidores entrevistados, de um total de mais de dez mil de mais de dez países, informaram que se surpreenderam ao descobrir como os porcos são criados no sistema industrial. Eles classificaram a criação de animais para consumo como “perturbadora”, “errada” e chocante”. A pesquisa apresentou aos participantes detalhes da vida de animais que ainda muito cedo são enviados para os frigoríficos – como práticas em que porcas são mantidas em gaiolas, uso de antibióticos; e cortes de rabo, dentes e castração – às vezes sem anestesia.
Se por um lado, a pesquisa serviu para atender a interesses consideravelmente “bem-estaristas” em oposição à “violência excessiva” contra os animais criados nas chamadas fazendas industriais, exigindo “melhor tratamento” para os animais. Por outro, também serviu como alerta para o fato de que é muito comum as pessoas desconhecerem e não se preocuparem, de fato, com a cadeia de violência e crueldade contra seres não humanos criados para fins de consumo.
E como a maior parte da população mundial não tem condições de comprar os produtos de origem animal considerados “orgânicos” ou “menos antiéticos” por dois fatores – preço e área insuficiente para esse tipo de criação em escala mundial, a verdade é que o predomínio desse sistema é simplesmente um reflexo natural da alta demanda do mercado consumidor. Ou seja, quanto mais pessoas consumindo animais, maiores índices de violência e crueldade contra seres não humanos; já que a quantidade sempre favorece a permissividade.
Certamente, isso ajuda a endossar a ideia de que a mais promissora solução para a redução da violência contra seres de outras espécies que transformamos em alimentos e produtos é uma só – a abstenção desse consumo, não a sua redução ocasional ou sazonal; e menos ainda a busca de alternativas classificadas como “menos inclementes”, já que essas são, claramente, benéfica aos seres humanos (porque ameniza o peso na consciência), mas não aos não humanos que terão o mesmo implacável destino – a morte precoce.
Referências
Todos os animais têm direitos, a perspectiva de um cientista
Marzluff: “A indústria humana frequentemente limita diretamente os direitos naturais – o lugar das espécies na ecologia e na evolução”
Em maio de 2015, o cientista e biólogo John M. Marzluff, que também é professor de ciências da vida selvagem na Universidade de Washington, publicou na revista Wired um artigo explicando por que ele acredita que todos os animais têm direitos. O texto intitulado “All Animals Have Rights: A Researcher’s Perspective” se baseia em suas experiências e na sua compreensão da intervenção humana na vida animal. Entre os anos de 1992 e 2014, Marzluff publicou vários livros sobre a realidade da vida selvagem: “The Pinyon Jay: Behavioral Ecology of a Colonial and Cooperative Corvid”, “In the Company of Crows and Ravens”, “Gifts of the Crow”, “Dog Days Raven Nights” e “Welcome do Subirdia”:
Perdoe-me PAI, por eu ter pecado. Faz 35 anos desde que me tornei um cientista e capturei milhares de aves selvagens, equipando-as com pulseiras barulhentas ou mochilas pesadas. Tornei públicas suas vidas privadas. Algumas, temporariamente confinei em gaiolas e as submeti a varreduras cerebrais destinadas a revelar pensamentos desconhecidos.
Sempre me pergunto se violei os direitos desses seres sencientes. Amo e respeito esses pássaros e dedico minha vida à sua conservação. No entanto, para argumentar persuasivamente por sua preservação, devo saber (e contar aos outros) sobre eles. Se possível, eu pediria sua permissão antes de forçar minha curiosidade sobre eles. Mas, claro, isso é impossível.
Como biólogo, acredito que todos os organismos vivos têm direitos. Como alguém que gasta uma boa parte do ano em companhia de animais inteligentes e sociais, como corvos e lobos, estou convencido de que todas as aves e mamíferos merecem o cuidado e a consideração que damos aos humanos. A arquitetura neurológica avançada e a função cognitiva dessas criaturas comprovam o seu intelecto, mas não vejo razão para não estender direitos iguais a todos os animais.
Essa ética enfatiza o direito do indivíduo de manter o seu natural nicho ecológico e evolutivo. Aldo Leopold declarou isso eloquentemente em seu livro “A Sand County Almanac”, de 1948, “escrevendo” que algo está certo quando tende a preservar a integridade e a estabilidade e beleza da comunidade biótica. Em minha opinião, está certo – na perspectiva de Leopold – que para os animais viverem uma vida plena e livre em seu habitat natural eles precisam exercer seus papéis ecológicos e evolutivos.
Permitir que uma espécie simplesmente tenha o direito de existir significa que nós, seres humanos, devemos conceder a um camundongo o direito a uma vida em ritmo acelerado, reunindo sementes, se reproduzindo e, muitas vezes, acabando nas garras de um falcão faminto. Devemos ativar a capacidade da população de camundongos de evoluir em táticas evasivas. Os direitos dos falcões incluem a morte diária de camundongos e a evolução das estratégias para viver em um mundo dominado por humanos.
A indústria humana frequentemente limita diretamente os direitos naturais – o lugar das espécies na ecologia e na evolução – que eu concederia a todos os nossos irmãos selvagens. À medida que conduzimos algumas espécies em direção à extinção, comprometemos seu potencial evolutivo. À medida que procuramos reduzir os hábitos naturais de caça dos lobos e coiotes, violamos seus direitos de ser um predador.
Conforme concedemos a mais espécies seus direitos naturais, alguns dilemas certamente surgirão. Considere corvos e tetrazes. No oeste dos EUA, os corvos aumentaram em resposta à modificação de paisagens áridas. Nossas atividades proporcionaram aos corvos novos locais de nidificação, novos alimentos e permitem que eles se espalhem profundamente por terras silvestres degradadas e fragmentadas. Em contraste, essas mesmas ações condenam o perdiz-silvestre à extinção. O desaparecimento do perdiz fez com que os proprietários de terras, administradores da vida selvagem e conservacionistas propusessem o abate de corvos.
O corvo não foi questionado sobre o assunto. No entanto, como os pesquisadores investigam a vida pessoal dos corvos, uma resposta pode ser apresentada em nome das aves escuras. Ao capturar, marcar, contar e seguir os corvos, soubemos que a maioria dos indivíduos não é caçadora de perdizes. Muitos raramente se aventuram em centros de atividade humana – cidades, depósito de lixo e campos agrícolas. Descobrir que os poucos corvos que vivem entre os perdizes têm vida longa e são rápidos aprendizes sugere que em vez de matar pode ser muito mais eficaz ensiná-los a evitar os perdizes.
O condicionamento aversivo de corvos para que não comam os ovos de perdizes e galinhas é viável, e uma vez treinados, os corvos territoriais protegem os perdizes, mantendo outros corvos na baía. Como os animais não têm voz para expressarem os seus direitos e confrontar aqueles que os negam, a pesquisa deve elucidar suas necessidades e falar em seu nome.
Para que nossa voz seja ouvida, pesquisadores devem se preocupar com o bem-estar animal. Comitês estaduais, federais e institucionais revisam pesquisas sobre animais vertebrados para incutir integridade científica e minimizar os riscos para os animais. Os pesquisadores são obrigados a usar modelos ou simulações sempre que possível, em vez de animais reais. Os pesquisadores também devem provar que o número de animais usados é apenas grande o suficiente para garantir rigor estatístico, não maior. Cada nuance da pesquisa é examinada – captura, cuidado, experimentação e treinamento pessoal. Fazer isso produz uma voz forte e eticamente defensável para aqueles que não podem falar.
Apesar da minha boa vontade em conduzir uma pesquisa cuidadosa e significativa em nome dos animais, é evidente que nem todas as aves que pesquisei aprovaram meus métodos. A imagem de um corvo rolando no chão tentando remover as faixas da perna que eu tinha acabado de aplicar incendeia em minha memória. As reações agressivas de outros à máscara que usei durante a captura, há nove anos, servem para me lembrar da minha influência duradoura [sobre suas vidas]. Essas dores são reduzidas, no entanto, quando a exposição à pesquisa sobre a vida selvagem amplia a mente humana para considerar as necessidades dos animais. O conhecimento científico levanta a cortina do mito e do mal-entendido para que possamos aprender a coexistir pacificamente com os animais selvagens que compartilham o nosso planeta.
Referência
Marzluff, John M. All Animals Have Rights: A Researcher’s Perspective. Wired (2015).
Walter Willett: “Seres humanos não têm nenhuma necessidade de consumir leite de origem animal”
“Seres humanos não têm nenhuma necessidade de consumir leite de origem animal, uma evolutiva e recente adição à dieta”, escreveu o pesquisador Walter Willett e o co-autor David Ludwig, do Boston Children’s Hospital, no artigo “Three Daily Servings of Reduced-Fat Milk – An Evidence-Based Recommendation?”, publicado no jornal JAMA Pediatrics, que refuta a necessidade de seres humanos consumirem leite e ainda aponta as consequências do excesso de laticínios.
Willett, que é médico e tem doutorado em saúde pública, é professor de nutrição e epidemiologia da Harvard T.H. Chan School of Public Health, professor de medicina da Harvard Medical School e chairman do Departamento de Nutrição da Universidade Harvard. Por suas contribuições à área da nutrição, o jornal The Boston Globe afirmou que ele é o nutricionista mais influente do mundo na atualidade.
Para ler a pesquisa na íntegra, acesse: http://jamanetwork.com/…/jamapedia…/article-abstract/1704826
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Sobre a realidade dos animais usados como cobaias
Há experiências com animais que fazem parte da categoria comportamento e aprendizado. Nesse caso, animais usados como cobaias são submetidos a isolamento social, alimentar, desidratação severa e privação de sono que podem durar dias, semanas, meses ou anos. As pesquisas com animais que visam avaliar o comportamento e o aprendizado não humano normalmente são baseadas na abertura do crânio do animal ainda consciente e na instalação de elétrodos no cérebro.
Nesse ínterim, o cérebro da vítima é manipulado como um brinquedo. Em muitos casos, uma porção do cérebro do animal é cortada e descartada; e ele é obrigado a encontrar alguma saída em um labirinto, por exemplo, mesmo incapaz de reagir naturalmente. Também é mantido sobre plataformas por dias, mas como sempre há água embaixo, o animal evita dormir com medo de cair e morrer afogado. Somente depois de muitos episódios de vivissecção que culminam em traumas extremos, ele entra em estado vegetativo. Como já não responde satisfatoriamente aos estudos, é descartado como lixo.
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O trauma espanhol
Soldados de Salamina explora o obscurantismo da Guerra Civil Espanhola
O filme Soldados de Salamina, idealizado pelo cineasta espanhol David Trueba e lançado em 2003, explora o obscurantismo da Guerra Civil Espanhola partindo da suposta execução do escritor e falangista Rafael Sánchez Mazas.
A protagonista da obra é a escritora em crise Lola Cercas (Ariadna Gil) que decide se aprofundar em uma pesquisa in loco sobre a Guerra Civil Espanhola. O ponto de partida é a ordem de execução do poeta Rafael Sánchez Mazas, um dos fundadores da Falange Espanhola, grupo paramilitar que se aliou ao ditador Francisco Franco em 1936. Decidida a descobrir como Mazas sobreviveu, Lola viaja em busca de personagens que participaram do evento.
Enquanto Lola é uma personagem alheia a própria história, inclusive se entrega a pesquisa como razão existencial, o seu estado de vulnerabilidade é uma simbologia da Espanha da época; confusa e controversa, principalmente com relação aos elementos históricos da Guerra Civil Espanhola ocultados por conveniência política. No decorrer do filme, Lola constrói uma outra identidade de si mesma conforme encontra novas informações sobre o episódio da execução de Rafael Sánchez.
O cineasta David Trueba deixa evidente na trama a importância da memória histórica para a preservação da identidade de um país, tanto que a personagem principal só consegue reconstituir importantes fatos da Guerra Civil Espanhola a partir da oralidade, pois não havia muitas provas materiais do que aconteceu com Mazas. O filme oferece poucas respostas, mas faz muitas perguntas e termina de uma maneira que impele o espectador a refletir sobre o assunto enquanto a folclórica canção “Suspiros de España”, de Antonio Álvarez Alonso, ainda ecoa.
Sobre a estética cinematográfica, os destaques são a quebra de linearidade, estruturada a partir de flashbacks, e a fotografia sobre a qual incide pouca luminosidade dando a ideia do quão a Guerra Civil Espanhola é um trauma histórico obscuro; um acontecimento com riqueza de detalhes desconhecidos pela população.