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Pioneiros perderam terras por falta de recursos
Era preciso legalizar a propriedade para não correr riscos
Não foram poucos os pioneiros de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, que no decorrer dos anos perderam terras por não terem condições financeiras para legalizarem as propriedades. Um exemplo foi o pernambucano Frutuoso Joaquim de Sales que fixou residência na Vila Montoya em 1929.
Sales foi um dos primeiros migrantes nordestinos a conseguir em Paranavaí uma chácara situada em área de terras devolutas do Estado do Paraná, no entanto, como não tinha dinheiro para requerer o título de terras em Curitiba, mais tarde o pioneiro perdeu a propriedade.
“Ele não foi o único, muita gente passou por isso. Quando um sujeito ganhava um lote, era preciso dar um jeito de conseguir a escritura, senão mais tarde perdia a terra, já que não tinha como provar o direito de posse”, afirmou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que a terra não era de graça, pois era necessário gastar com a documentação.
Frutuoso Joaquim admitiu que o futuro da Família Sales poderia ter sido bem diferente se não tivesse desperdiçado tantas oportunidades de conseguir terras e também legalizá-las. “Era pra eu ter ficado rico. A gente ganhou, mas não aproveitou, tem que se conformar”, disse Salles em entrevista ao jornalista Saul Bogoni.
Apesar das perdas, o pioneiro pernambucano viveu em Paranavaí até os últimos dias de vida. “Frutuoso tinha fibra de verdadeiro bandeirante. Venceu todas as intempéries e sobreviveu inclusive às pestes e doenças que tomavam conta da região”, afirmou o pioneiro sul-matogrossense Alcides Loureiro de Almeida em entrevista à Prefeitura de Paranavaí.
Porém, nem todos resistiram a tantas dificuldades. Muitos migrantes que ganharam terras do Governo do Paraná abandonaram Paranavaí, já que desempenhavam atividades que não permitiam lucrar o suficiente para investir na aquisição da escritura. “Muitos ficavam com medo, pois não tinham garantia nenhuma de que não seriam expulsos de suas terras. O peão não aguentava e partia pra outro canto. Só que isso foi ruim pra nós também. Apareceram muitos grileiros por causa das terras abandonadas”, comentou o pioneiro gaúcho João Alegrino de Souza.
A qualidade de vida naquele tempo era péssima, tanto que muitos morriam antes mesmo de terem a chance de explorar as próprias terras. João Mariano citou como exemplo um conterrâneo que contraiu malária e faleceu um mês depois. “Ele tinha acabado de conseguir um pedaço de chão. A família ficou tão desiludida com o lugar que partiram pra Londrina [no Norte Central Paranaense]”, relatou.
À época, alguns migrantes, mesmo sem condições financeiras para custear despesas com a escritura de uma propriedade, conseguiam resolver a situação, pois contavam com a amizade de algumas autoridades locais, como é o caso do pioneiro paulista Salatiel Loureiro. “Eu pedi pro Capitão Telmo Ribeiro requerer meu título de terras e ele não me cobrou nada. Foi até Curitiba e me fez o favor”, declarou.
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João Franco: “Ficamos no mato por mais de vinte anos”
Pioneiro chegou a Paranavaí quando a colônia era coberta por mata virgem
Em 1944, havia tanta vegetação nas imediações da Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, no Noroeste do Paraná, que a mata virgem cobria toda a colônia. Tudo tinha de ser improvisado, até mesmo estradas e pontes. “Ficamos no mato por mais de vinte anos”, afirmou o pioneiro paulista João Silva Franco.
Franco conta que deixou a família no interior de São Paulo quando decidiu conhecer a Brasileira. Somente depois trouxe a mulher e a filha. Quando chegou a futura Paranavaí, antes de fixar residência, acampou onde é hoje a Praça dos Pioneiros. “Lá, naquele capoeirão que cobria os cafezais, ficamos 16 dias queimando lata. Foi assim até comprar uma terrinha pra fazer um ranchinho de colonião e sapé, tempo em que só havia movimento de carroças e cavaleiros”, declarou o pioneiro.
Em 1944, o ponto preferido dos peões e outros migrantes era uma praça localizada entre as Ruas Minas Gerais e Manoel Ribas. “Uma espécie de boca maldita”, sentenciou o pioneiro Oscar Geronimo Leite em entrevista ao jornalista Saul Bogoni há algumas décadas. Até aquele ano, não havia mais que 30 casas em Paranavaí, todas feitas de tabuinhas, e muitas estavam desocupadas há mais de dez anos, quando a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) foi expulsa do Distrito de Montoya, após a Revolução de 1930.
“Até mesmo uma grande serraria que ficava no fundo de um buracão no Jardim São Jorge foi abandonada”, lembrou João Franco, referindo-se ao empreendimento fundado em 1929 pela Braviaco. Ainda em 1944, o pioneiro comprou uma propriedade na “Água do 22”, no Distrito de Graciosa. Enfrentou todas as dificuldades que atingiram Paranavaí nos anos 1940 e 1950; desde problemas com golpes, tempestades, animais silvestres, falta de higiene, doenças e até escassez de alimentos.
“Tudo que aconteceu aqui nós vimos ao vivo. Os contratantes judiavam do povo. Queriam que trabalhasse sem direito a nada. Na hora de pagar, eles batiam demais e se teimasse era morto e jogado no rio”, desabafou. À época, para ampliar o tráfego de pessoas, animais e veículos, os pioneiros abriram picadões. O trabalho era bem simples. Um tratorista apenas empurrava o mato para o lado.
As pontes eram improvisadas com coqueiros derrubados, uma alternativa à morosidade do poder público em enviar profissionais qualificados para a construção de pontes e vias. “Trabalhei muito na abertura de estradas. Desmatei de Paranavaí até Capelinha [Nova Esperança]”, ressaltou Franco que sobreviveu na Brasileira porque tinha resistência para viver em lugares isolados, mesmo sob precárias condições. O pioneiro já tinha trabalhado como foiceiro, enxadeiro, serrador e lavrador.
Em 1940, de acordo com o pioneiro mineiro José Antonio Gonçalves, muitos dos migrantes que chegavam à Brasileira eram peões. “Foi assim até 1945, quando o Governo do Paraná parou de dar terras”, enfatizou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho. Um ano depois, com o crescimento populacional, as terras da Colônia Paranavaí começaram a ser bem valorizadas.
Segundo o pioneiro paulista Paulo Tereziano de Barros, só a partir de 1946 surgiu a preocupação em nominar as ruas e avenidas da cidade. “Em 1948, chegava gente aqui todos os dias. Era como a corrida do ouro”, avaliou o pioneiro paulista Salatiel Loureiro. Entretanto, a erosão hídrica já era um problema para o solo do arenito Caiuá nos anos 1940, o que foi se intensificando décadas depois. Migrantes que não tinham adquirido terras aproveitavam as áreas sem donos, como os buracões, para plantar feijões.
Em 1954, o desmatamento ganhou força em Paranavaí, conforme palavras do frei alemão Henrique Wunderlich em carta enviada à revista alemã Karmelstimmen. O padre alemão Alberto Foerst fez coro às palavras de Wunderlich. “O mato era derrubado e ficava no chão algumas semanas até ser queimado”, confidenciou no artigo “Die Stimme Der Mission”, publicado em outubro de 1954 na Karmelstimmen.
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