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Quem banca a Bancada Ruralista?
De acordo com o historiador e assessor do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Edélcio Vigna, a Bancada Ruralista, fortemente representada pelo PMDB, que tem mais de 40 deputados na bancada, é composta por mais de 200 membros, porém apenas “meia dúzia” definem as pautas, os rumos da bancada e orientam as votações.
As reuniões da Bancada Ruralista são realizadas em uma mansão em Brasília, de onde partem ações que não costumam ser discutidas previamente na Câmara dos Deputados ou no Senado. Segundo Edélcio Vigna, as pessoas precisam entender que esses políticos são financiados por bancos, grandes empresas agroalimentares e agroquímicas. E claro, se compramos produtos dessas empresas que os financiam, somos nós que damos condições para que essas empresas os financiem.
Laticínios, coca-cola e o poder da indústria
Você percebe como a indústria tem poder sobre as definições dietéticas de uma sociedade quando encontra mais recomendações ao consumo de leite do que de água. Isso me fez lembrar de um episódio em que perguntei a uma mulher porque ela quase não consumia água, e ela me disse que não precisava porque a água que ela bebia já fazia parte da composição da coca-cola. Sabe como se chama isso? Uma propaganda bem-sucedida capaz de desencadear uma dependência. Imagino como os executivos da Coca-Cola não ficariam extasiados ao ouvirem alguém dizer isso.
Uma coisa que pouca gente se dá conta, quero dizer a não ser que você seja vegetariano, vegano ou tenha sido diagnosticado como intolerante à lactose, é que laticínios estão muito além de produtos óbvios como leite, iogurte, bolos, chocolates e outros doces. Se você começar a ler os rótulos dos produtos nos mercados, você vai se surpreender com a quantidade de produtos que você consome que contêm laticínios. Muitas vezes, até quem diz que não consome leite ou não gosta de leite está consumindo laticínios sem se dar conta. Faça esse teste. Quando for ao mercado, leia os rótulos de tudo que você compra. Leite está muito além do que você pensa.
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“A ideia é tentar controlar todo mundo, transformar toda a sociedade no sistema perfeito”
Se voltarmos ao século 19, no início da Revolução Industrial, os trabalhadores tinham muita consciência disso. Eles, na verdade, predominantemente consideravam o trabalho assalariado não muito diferente da escravidão, a única diferença é que era temporário. Na verdade, era uma ideia tão popular que era o slogan do Partido Republicano. Ali havia uma afiada consciência de classe. No interesse do poder e privilégio, é bom tirar essa ideia da cabeça das pessoas. Você não quer que elas saibam que são uma classe oprimida.
Então, esta é uma das poucas sociedades [sociedade dos Estados Unidos] em que não se fala sobre classe. Na verdade, a noção de classe é bem simples. Quem dá as ordens? Quem as segue? Isso basicamente define classe. Tem mais nuances, é mais complexo, mas basicamente é isso.
As indústrias de relações públicas e publicidade, que são dedicadas a criar consumidores, são um fenômeno que se desenvolveu nos chamados países livres; na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, e o motivo é bem claro. Ficou claro, há um século, que não seria tão fácil controlar a população à força. Muita liberdade foi conquistada. Organização do trabalho, partidos trabalhistas em vários países, as mulheres começando a votar, etc.
Então era preciso ter outras formas de controle. E era de conhecimento expresso que você tinha que domá-las controlando suas crenças e atitudes. Uma das melhores formas de controlar pessoas em termos de atitudes é o que o grande economista Thorstein Veblen chamou de “fabricar consumidores”.
Se você fabricar vontades, fazer as pessoas obterem coisas que estão ao alcance, “a essência da vida”, elas virarão consumidoras. Ao ler os jornais empresariais dos anos 1920, eles falam da necessidade de direcionar as pessoas às coisas superficiais da vida, como “consumo de moda”, e isso as manterá fora do seu caminho.
Você encontra essa doutrina em meio a pensamentos intelectuais progressistas, como de Walter Lippman, o principal intelectual progressista do século 20. Ele escreveu famosos ensaios progressistas sobre a democracia em que sua visão era exatamente essa. “O público deve ser colocado no seu lugar para que os homens responsáveis tomem decisões sem a interferência do ‘rebanho desnorteado’.”
Devem ser espectadores, não participantes. Assim há uma democracia eficiente, retomando Madison, o Memorando de Powell e assim por diante. E a indústria de publicidade explodiu tendo esse objetivo: fabricar consumidores. E tudo é feito com grande sofisticação. O ideal é o que se vê hoje em dia. Em que, digamos, adolescentes que têm um sábado à tarde livre, vão ao shopping passear, não à livraria ou outro lugar.
A ideia é tentar controlar todo mundo, transformar toda a sociedade no sistema perfeito. O sistema perfeito seria uma sociedade baseada em uma díade, um par, o par é você e seu aparelho de TV, ou, talvez agora, você e sua internet, que lhe apresenta o que deveria ser a vida apropriada; que tipo de engenhocas você deveria ter.
E passa seu tempo e esforço para conseguir essas coisas, que não precisa, não quer, e talvez jogue fora, mas essa é a medida de uma “vida decente”. O que vemos nas propagandas na televisão, se você já fez um curso de economia, você sabe que os mercados devem ser baseados em “consumidores informados fazendo escolhas racionais”.
Bem, se tivéssemos um sistema de mercado assim, então uma propaganda de televisão consistiria de, digamos, a General Motors dando informações dizendo: “Eis o que temos à venda.” Mas uma propaganda de carro não é assim. Uma propaganda de carro tem um herói do futebol, uma atriz, um carro fazendo alguma loucura como subir uma montanha ou algo assim.
A questão é criar consumidores desinformados que farão escolhas irracionais. É disso que se trata a publicidade, e quando a mesma instituição, o sistema de RP comanda a eleição, eles fazem do mesmo jeito. Eles querem criar um eleitorado desinformado, que fará escolhas irracionais, muitas vezes contra seus próprios interesses, e toda vez vemos uma dessas extravagâncias acontecerem.
Logo após a eleição, o presidente Obama ganhou um prêmio da indústria de publicidade pelo melhor marketing de campanha. Não foi divulgado aqui, mas se procurar na imprensa internacional, os executivos ficaram eufóricos. Eles disseram: “Nós vendemos candidatos, fazemos marketing de candidatos como se fosse de pasta de dente, desde Reagan, e essa é a maior conquista que temos.”
Eu geralmente não concordo com Sarah Palin, mas quando ela zomba do que ela chama de “hopey-changey”, ela está certa. Primeiramente, Obama não prometeu nada. Isso é principalmente ilusão. Analise a campanha retórica e preste atenção. Há pouca discussão de questões políticas, e por um ótimo motivo, porque a opinião pública sobre política é muito desconectada do que a liderança de dois partidos e seus financiadores querem. A política cada vez mais está focada nos interesses particulares que financiam as campanhas, com o público sendo marginalizado.
Excertos de Noam Chomsky no documentário “Requiem for the American Dream”, de Kelly Nyks, Peter D. Hutchison e Jared P. Scott, lançado em 2015.
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“Na ditadura militar brasileira, eles [os críticos do Estado] eram chamados de antibrasileiros”
Essa noção antiamericana é bem interessante. É uma noção totalitária. Não é usada em sociedades livres. Então se alguém na Itália critica o Berlusconi ou a corrupção do governo italiano, ele não é chamado de anti-italiano. Se o chamassem de anti-italiano, as pessoas iriam cair na risada nas ruas de Roma e Milão.
Em Estados totalitários essa noção é usada. Na antiga União Soviética, os dissidentes eram chamados de antissoviéticos. Era a pior condenação. Na ditadura militar brasileira, eles eram chamados de antibrasileiros. É verdade que em quase toda sociedade, os críticos são difamados ou maltratados de várias formas, dependendo da natureza da sociedade. Como na União Soviética, Vaclava Havel seria preso.
Em um Estado parte dos EUA como El Salvador, na mesma época, seus homólogos teriam seus miolos estourados por forças terroristas comandadas pelos Estados Unidos. Em outras sociedades, eles são condenados ou difamados, daí por diante. Nos Estados Unidos, um dos termos de abuso é antiamericano. Há alguns outros, como marxista.
Há uma série de termos de abuso. Mas nos Estados Unidos, você tem um alto grau de liberdade, então, se for difamado por alguns comissários, quem liga? Você continua, faz seu trabalho. Esses conceitos só surgem em uma cultura em que, se você criticar o poder estatal, e por estatal quero dizer em geral, não só o governo, mas também o poder empresarial, se criticar o poder concentrado, você é contra a sociedade, é contra o povo.
Noam Chomsky em “Requiem for the American Dream”, de 2015.
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Dos males, o menor?
Dos males, o menor? Não quando se trata de política. Acredito que tal reflexão quando se fala em política e políticos é algo que acaba por soar como um tipo de anuência em relação às atrocidades que são cometidas em nome da politicagem e da ânsia por poder.
Muitas das desgraças que testemunhamos hoje no mundo têm relação com o raciocínio de conivência baseado na conveniência. “O cara comete excessos, mas é linha dura. Ninguém faria melhor” ou “Ele é ladrão, mas tem lá suas qualidades.” Esse tipo de conformismo tem lesado não somente a humanidade, mas obviamente outras espécies.
Uma metamorfose social
Lord of the Flies mostra como a necessidade de sobrevivência transforma as pessoas
Lançado em 1990, Lord of the Flies, inspirado no livro homônimo de William Golding – vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, é um filme do cineasta inglês Harry Cook que chegou ao Brasil com o título O Senhor das Moscas e mostra como a necessidade de sobrevivência transforma os seres humanos. Na obra, um grupo de crianças resiste a uma queda de avião no oceano e encontra abrigo em uma ilha.
Logo nos primeiros dias, Ralph (Balthalzar Getty), o mais maduro dos garotos, demonstra aptidão para a liderança, deixando claro, apesar da pouca idade, que o melhor meio de sobreviver e manter o equilíbrio é seguindo um programa diário de direitos e deveres. Para Ralph, todos na ilha desempenham papel importante e insubstituível, o que remete à democracia.
Contudo, Jack (Chris Furrh) antagoniza o idealismo de Ralph. Assim como muitos líderes se aproveitaram de um momento de fraqueza de suas nações para instituir um sistema ditatorial, Jack faz o mesmo na ilha. Com a proposta de oferecer caçadas e brincadeiras aos comparsas, o garoto consegue persuadir quase todos os seguidores de Ralph, com exceção de Simon (James Badge Dale) e Piggy (Danuel Pipoly).
O primeiro é uma criança com uma essência mística que se destaca dos demais pela sensibilidade aguçada. O segundo representa a ciência, o juízo e a razão. Mas ninguém personifica melhor a metamorfose social do homem do que Jack. O garoto aparentemente amistoso se torna agressivo após formar um grande grupo de dissidentes. Embriagado pelo poder, se recusa a refletir sobre as propostas dos companheiros. O novo líder mergulha os passivos discípulos em uma realidade truculenta, chegando a perder a capacidade de ver a si e aos outros como crianças e adolescentes.
Jack cede espaço ao ódio indiscriminado e se isenta de culpa por todos os atos de injustiça, crente de que sacrifícios são válidos por um “bem maior”. O cineasta Harry Cook explora a transformação do personagem através de fortes expressões faciais, maquiagem pesada e vestimentas que se definham. Tudo se soma na construção simbólica da decadência do homem como ser social, marcado pelo retorno ao estado primitivo.
Curiosidade
O primeiro filme baseado na novela de William Golding, de 1954, foi lançado em 1963 pelo cineasta britânico Peter Brook.