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Sociopatia e psicopatia no mundo

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Há estudos afirmando que 1% da população mundial possui transtorno de personalidade antissocial. Ou seja, 70 milhões de pessoas. Será mesmo que esses dados são precisos? Se levarmos em conta os fatos do cotidiano, não é difícil inferir que nos deparamos todos os dias com os mais distintos casos de manifestações de sociopatia e psicopatia.

Sendo assim, é difícil crer que há somente 70 milhões de pessoas com tal transtorno em meio a uma população de sete bilhões. Livros como “The Sociopath Nextdoor”, lançado por Martha Stout em 2006, e “Snakes in Suits: When Psychopaths Go To Work”, de Paul Babiak, de 2007, reforçam o meu raciocínio e fazem refletir sobre a possibilidade do número de psicopatas chegar a pelo menos 10%.





Written by David Arioch

September 18th, 2017 at 7:55 pm

Posted in Reflexões

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Violência, psicopatia, justiça e individualismo

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Por motivo torpe, motorista perseguiu a moto e causou uma tragédia (Foto: Blog Leandro Oliveira)

Em Maringá, motorista perseguiu uma moto e causou uma tragédia por motivo torpe (Foto: Blog Leandro Oliveira)

Ontem à noite, em Maringá, no Norte do Paraná, um motociclista atingiu o retrovisor de um Volkswagen Golf próximo ao Parque do Japão. Irritado, o motorista de 24 anos perseguiu o motociclista, atingiu a moto e a arrastou por metros. O rapaz de 18 anos que estava na garupa da moto faleceu no hospital e o condutor de 21 anos segue em estado grave. É mais um caso que revela claramente a falta de empatia das pessoas, a incapacidade de se colocar no lugar do outro, reconhecer falhas e ser tolerante com as vicissitudes do mundo atual.

Psicopatia está mais presente na sociedade contemporânea do que nunca (Foto: Reprodução)

Psicopatia está mais presente na sociedade contemporânea do que nunca (Foto: Reprodução)

Há estudos afirmando que 1% da população mundial possui transtorno de personalidade antissocial. Ou seja, 70 milhões de pessoas. Será mesmo que esses dados são precisos? Se levarmos em conta os fatos do cotidiano, não é difícil inferir que nos deparamos todos os dias com os mais distintos casos de manifestações de sociopatia e psicopatia. Sendo assim, é difícil crer que há somente 70 milhões de pessoas com tal transtorno em meio a uma população de sete bilhões. Livros como “The Sociopath Nextdoor”, lançado por Martha Stout em 2006, e “Snakes in Suits: When Psychopaths Go To Work”, de Paul Babiak, de 2007, reforçam o meu raciocínio e fazem refletir sobre a possibilidade do número de psicopatas chegar a pelo menos 10%.

Muitas pessoas não ocultam mais o seu desejo pelo retorno do Código de Hamurabi (Foto: Reprodução)

Há pessoas que não ocultam mais o desejo pelo retorno do Código de Hamurabi (Foto: Reprodução)

Há mais de 20 anos, muitos pensadores da chamada hipermodernidade preconizaram que isso aconteceria hoje em dia. O mundo está se tornando um semeadouro de impaciência e todos os dias pessoas perdem um pouco mais de sensibilidade e plasticidade. A cada ano que passa a vida vale um pouco menos. Muitos se consideram aptos a decidir quem merece viver e quem merece morrer.

Mas o problema maior subsiste no fato de que com o crescimento dessa linha de pensamento é inevitável pensar na possibilidade de que o mundo pode se tornar um lugar muito pior. Vejo isso como um retorno ao primitivismo. Já não é mais velado o desejo do retorno da Lei de Talião, do Código de Hamurabi.

A violência insufla as pessoas de um tipo peculiar de medo que faz com que elas matem ou desejem a morte de outrem não porque acham que é a única forma de sobreviver, mas sim porque são alimentadas diariamente pela ideia de que a vida tem pesos diferentes e valores estimáveis.

No início dos anos 2000, me recordo que em âmbito acadêmico ainda se falava muito em disfunção narcotizante que é a incapacidade de se sensibilizar com a violência a partir do momento que ela se torna fato recorrente do cotidiano. Por exemplo, é o caso de uma criança que convive com assassinatos e por isso em certo ponto da vida os considera normais.

Muitos são alimentados diariamente pela ideia de que a vida tem pesos diferentes e valores estimáveis (Arte: Reprodução)

Muitos são alimentados diariamente pela ideia de que a vida tem pesos diferentes e valores estimáveis (Arte: Reprodução)

Mais de dez anos depois, o problema se tornou um pouco mais grave. Há muitas pessoas que não apenas consideram a violência como algo intrínseco à realidade, como acham justo tomar parte dela. É aquela consciência de que se as leis não funcionam corretamente, posso criar as minhas próprias. Ou seja, serei o senhor de meus atos e ninguém terá o direito de me deter, já que rejeito e condeno os mecanismos de justiça da atualidade.

Outro agravante é o fato de que se todos alimentarem um senso de justiça individualista, não há de tardar para as pessoas menosprezarem um pouco mais a vida. Sendo assim, um indivíduo pode achar justo matar alguém porque invadiu sua casa. Outro pode considerar plausível assassinar uma pessoa porque lhe deve dinheiro ou porque arranhou a pintura do seu carro em um acidente. O justo seria um criminoso aos olhos do injusto e vice-versa. Sendo assim, não seria tão obtuso acreditar no futuro como o prólogo do fim da humanidade.

Psicopatia Tarantinesca

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Reservoir Dogs e a incursão por um mundo dissocial

Em Reservoir Dogs, Tarantino explora a violência e a ironia (Foto: Reprodução)

Em Reservoir Dogs, Tarantino explora a violência e a ironia da criminalidade (Foto: Reprodução)

Lançado em 1992, Reservoir Dogs, que chegou ao Brasil com o título de Cães de Aluguel, é o longa-metragem de estreia do cineasta Quentin Tarantino. A partir de imagens e diálogos tão violentos quanto irônicos, o filme propõe incursão a um universo onde criminosos se confrontam, motivados pela própria natureza.

É sempre bom lembrar que Quentin Tarantino se tornou cineasta tendo como principal formação os centenas de filmes que assistiu quando trabalhava como atendente de uma videolocadora. Justamente por isso, a sua primeira obra reúne heterogeneidade e cosmopolitismo, características que o acompanhariam por toda a filmografia da carreira.

Com influências que vão da cultura pop até o cinema alternativo, Reservoir Dogs conta a história de seis criminosos que não se conhecem e são contratados para praticar um grande assalto a uma joalheria. No entanto, durante o crime, a polícia chega ao local antes do previsto e na fuga um dos assaltantes é baleado e morre. Os sobreviventes, entre eles um gravemente ferido, fogem e vão para um galpão, onde aguardam a chegada do chefe da quadrilha. Enquanto isso, os bandidos trocam acusações sobre quem os delatou para a polícia.

Steve Buscemi e Harvey Keitel em cena antológica (Foto: Reprodução)

Steve Buscemi e Harvey Keitel em cena antológica (Foto: Reprodução)

No filme, a primeira cena em que discutem sobre a música Like a Virgin, da diva pop Madonna, funciona como uma ponte de alegorias. Cada personagem interpreta com extrema pessoalidade o significado da letra, denunciando traços da personalidade. Tarantino ousa ainda mais. Tanto que um dos criminosos cita uma canção como referência para a criação de uma metáfora que revela importantes informações sobre a história.

Sem se ater a linearidade, o cineasta mostra com requinte descritivo alguns fragmentos da vida dos bandidos. Aos poucos, o espectador percebe que a quadrilha reúne muitas das características inerentes a um ser humano aparentemente comum, seja sob uma perspectiva maniqueísta ou não. Nesses momentos, são destacados desde a complacência até a exasperação e a psicopatia – transtorno de personalidade dissocial que no filme só pode ser percebido de acordo com a ânsia do personagem.

Para o elenco, o diretor reuniu nomes de peso como Harvey Keitel, Steve Buscemi, Tim Roth, Michael Madsen e Chris Penn. No primeiro longa-metragem da carreira, Quentin Tarantino apresenta uma curiosa estética cinematográfica – enaltece os detalhes sem prejudicar a trama. Além de uma câmera testemunhal, o filme é pautado em uma narrativa agressiva e que combate o falso moralismo.

O autor deixa evidente sua opinião na obra: “Para uma mente criminosa, a vida é descartável como um copo.” Prova isso visualmente quando mistura – sem qualquer parcimônia – sangue, morte e comicidade, ratificando a banalização do “existir”.