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Sobre erros, apontamentos e violência verbal
Vivemos numa época de tantos apontamentos e violência verbal que acredito piamente que o melhor instrumento de combate a isso é a reação baseada na improbabilidade. Para citar um exemplo, quando cometo erros em meus textos, principalmente por inobservância, já que quem escreve nem sempre percebe as próprias falhas nas primeiras leituras, tento sempre ser justo e amenizador.
Passei por várias situações em que pessoas apontaram minhas falhas de forma hostil e, contrariando o que elas esperavam de mim, sempre agradeci, demonstrei cordialidade e consideração pela observação do meu erro. Pode ter certeza que você desarma qualquer tentativa de confronto agindo dessa forma. Na realidade, acredito que seja algo válido em todas as circunstâncias da nossa vida.
Sobre o assunto, me recordo até de um episódio na academia. Um dia me aproximei de uma máquina de remada cavalinho e não vi ninguém a usando. Daí incluí algumas anilhas e um rapaz que estava papeando com um amigo se aproximou e disse:
“Qual é, cara? Que folga! Estou fazendo aí!” Então expliquei numa boa que faria apenas uma série, bem rapidinho. A contragosto, acabou concordando, mas continuou me olhando incomodado.
Assim que terminei, removi as anilhas que acrescentei e comentei com ele: “Cara, muito obrigado mesmo! Você é gente boa!” E o sujeito ficou sem graça e mudou completamente o semblante carrancudo: “Não precisa tirar não, pode continuar”, sugeriu.
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William Blake, entre a pobreza e o anonimato
Assumiu um semblante justo, seus olhos brilharam e ele cantou sobre as coisas que viu no céu
No dia 12 de agosto de 1827, o poeta inglês William Blake faleceu aos 69 anos na pobreza e no anonimato. Seu velório em Bunhill Fields, na região norte de Londres, passou despercebido e só pôde ser realizado através de um empréstimo de 19 xelins. Sepultado em um túmulo sem qualquer inscrição, o corpo de Blake foi colocado sobre outros três e seguido por mais quatro falecidos.
Sua esposa, Catherine, revelou a uma amiga que durante o casamento ela não teve tanto a companhia do marido quanto gostaria. “Ele estava sempre em seu próprio paraíso”, declarou. Apesar da saúde fragilizada, Blake parecia não se preocupar tanto com a morte. “É a imaginação que deve viver para sempre”, comentou quando já estava próximo do falecimento.
Nos últimos dias de vida, o poeta gastou os seus últimos xelins comprando um lápis que usou para homenagear a esposa. “Fique, Kate! Mantenha-se exatamente como você é. Por você ter sido um anjo para mim, vou desenhar o seu retrato”, declarou. Pouco antes de morrer, William Blake assumiu um semblante justo, seus olhos brilharam e ele cantou sobre as coisas que viu no céu”, escreveu um amigo.
O inglês que amargou décadas de pobreza se via mais como escultor e pintor do que poeta. Ele esperava que em uma exposição realizada em 1808 o seu trabalho pudesse trazer-lhe tanto retorno financeiro quanto reconhecimento por seu estilo original, baseado em temas a frente do seu tempo.
Na exposição que recebeu o nome de “Afrescos de Invenções Poéticas e Históricas”, Blake reuniu 16 de suas pinturas. “Aos que foram informados de que o meu trabalho se resume a obras não científicas, excêntricas ou nada mais que rabiscos de um louco, façam-me justiça e examinem tudo antes de tomar uma decisão”, pediu. Naquele dia poucas pessoas prestigiaram o evento.
Ainda assim ele não hesitou em dizer que não desistiria do seu sonho de ser reconhecido. “Ignorantes insultos não me farão desistir do meu dever para com a minha arte”, informou. Infelizmente ninguém comprou nenhuma de suas obras e a única resenha publicada sobre a exposição definiu William Blake como um lunático que só não corria risco de ser preso porque era inofensivo demais.
A recepção da poesia do inglês também seguiu na mesma esteira de suas pinturas e esculturas. Poucos viram ou leram pelo menos um de seus livros escritos e ilustrados à mão. Em 1811, dois anos antes de se consagrar como o poeta laureado, o britânico Robert Southey, leu “Jerusalem”, uma das obras mais famosas de William Blake. “É um poema perfeitamente louco”, sintetizou Southey.
Catherine continuou a imprimir e divulgar as obras do marido depois que ele morreu, o que deixou claro que a parceria dos dois envolvia tanto amor quanto trabalho. Com a ajuda de poucos amigos e fãs de William Blake, ela conseguiu sobreviver por mais quatro anos. Nesse período afirmou ter visto o marido muitas vezes, chegando a sentar-se junto dele por duas a três horas diárias.
No dia 31 de outubro de 1831, Catherine chamou por Blake como se ele estivesse no quarto ao lado. “Meu William…meu William…”, repetiu ela até o momento de sua morte. Com o falecimento de Catherine, os direitos sobre as obras de Blake foram transferidos para Frederick Tatham, um artista inglês de pequena expressão que fazia parte de um grupo de seguidores do poeta, conhecido como Shoreham Ancients.
Segundo o livro The Stranger From Paradise, publicado em 2001, e de autoria do biógrafo G.E. Bentley Jr, Tatham vendeu a própria herança ao longo de 30 anos e por bom preço. Depois que se tornou um religioso fanático, destruiu muitas gravuras e poemas de Blake. Chegou a declarar que se livrou delas porque acreditava que o artista tivesse sido inspirado pelo diabo quando as concebeu.
Saiba Mais
Entre as obras mais importantes do poeta inglês se destacam “The Marriage of Heaven and Hell”, “Jerusalem”, “And did those feet in ancient time”, “Songs of Innocence and of Experience”, “Milton” e “The Four Zoas”.
William Blake nasceu em 28 de novembro de 1757 e faleceu em 12 de agosto de 1827.
Catherine Blake nasceu em 25 de abril de 1762 e faleceu em 31 de outubro de 1831.
Referências
http://www.todayinliterature.com/
G.E. Bentley (2001). The Stranger From Paradise: A Biography of William Blake. Yale University Press.
Blake, William and Tatham, Frederick. The Letters of William Blake: Together with a Life. 1906.
Gilchrist, A. The Life of William Blake, London, 1863, 405.
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Comentário na entrevista “A trajetória de um homem do campo”
Muito legal ver até que ponto o seu trabalho pode ser valorizado. Pra mim, esse tipo de comentário (publicado na minha entrevista “A trajetória de um homem do campo”) é mais recompensador do que qualquer dinheiro que eu ganhe desempenhando a minha função profissional.
“David, sua reportagem me foi muito útil. Agradeço a Deus todos os dias, por existir gente como você. Estou desenvolvendo uma monografia de mestrado, com o tema central “O homem rural (do campo)”, e seu artigo veio muito em conta. Parabéns! Continue ajudando acadêmicos como eu e outros desse nosso Brasil tão diversificado, principalmente em relação ao trabalhador rural. Abraços, Conceição.”
Andreas Møl registra o amor dos afegãos pelo bodybuilding
Cineasta mostra que o fisiculturismo é o esporte mais popular no Afeganistão
Em 2003, o dinamarquês Andreas Møl Dalsgaard viajou para Cabul, no Afeganistão, onde se surpreendeu com a grande quantidade de cartazes de fisiculturistas masculinos espalhados pela cidade. A experiência motivou o cineasta a produzir o documentário Afghan Muscles, lançado em 2006, que mostra como os atletas afegãos se dedicam a busca do controle do corpo na caótica Cabul pós-guerra.
Depois de se graduar em antropologia social pela Universidade de Aarhus e estudar cinema na Escola Nacional de Cinema da Dinamarca, por onde também passou a cineasta Susanne Bier, vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro por In A Better World, Dalsgaard decidiu produzir o seu primeiro longa-metragem, sobre homens jovens que através da arte do bodybuilding vivem a modernidade a sua maneira, na batalha para tornarem-se bem sucedidos. “Me dei conta que o fisiculturismo no Afeganistão consiste em homens assistindo homens. Não há envolvimento das mulheres, nem como atletas nem plateia”, conta o cineasta dinamarquês.
O interesse pela musculação começou a ganhar força no país em 2001. No ano seguinte, alcançou status de esporte mais popular. Embora o ambiente seja muito diferente do que se vê em países de Primeiro Mundo e até no Brasil, o Afeganistão se destaca por ser uma nação onde a maioria dos jovens atraídos pela musculação sonha em ingressar no bodybuilding. “Para eles, é um caminho para começar uma carreira, ter uma vida melhor através dos músculos. Infelizmente é um lado do Afeganistão e do Oriente Médio que poucos viram até hoje”, lamenta Andreas Møl.
Apesar de não oferecer apoio ao desenvolvimento do fisiculturismo, o movimento fundamentalista islâmico Talibã tolera a prática, mas impõe algumas exigências, como não permitir que os praticantes de musculação treinem sem camiseta. Já durante as competições, os atletas podem subir ao palco usando apenas sunga e com o corpo coberto por autobronzeador, sem risco de represália. “É interessante ver uma plateia de homens barbudos, usando trajes típicos, torcendo com muito entusiasmo para os seus competidores preferidos e, claro, bastante atentos ao melhores físicos. Eles realmente amam o bodybuilding”, declara o cineasta.
Os fisiculturistas afegãos Hamid Shirzai e Noorulhoda Shirzad explicam que a vitória em grandes campeonatos pode proporcionar fama, reconhecimento e honra para a família. “Você ganha o apoio de um senhor da guerra que pode até abrir uma academia em seu nome”, revelam. Shirzai e Shirzad são os protagonistas do filme Afghan Muscles que registra a luta e a preparação dos atletas da equipe afegã para competirem no Mr. Ásia 2004, no Bahrain, um estado insular do Golfo Pérsico.
No Afeganistão, os melhores fisiculturistas têm o privilégio de serem tratados como celebridades. No entanto, segundo o filme, o desenvolvimento dos atletas é quase sempre comprometido pela falta de apoio financeiro. Isso dificulta a contratação de assessoria profissional e investimento em dietas e produtos que otimizariam os resultados. Proteína em pó, por exemplo, que custa mais caro no Afeganistão do que em qualquer outro país, precisa ser contrabandeada como se fosse droga para chegar as mãos de Shirzai e Shirzad, grandes fãs de “Arnold”, como se referem ao famoso Arnold Schwarzenegger.
Fora as dificuldades econômicas que o guarda Hamid enfrenta para continuar lutando pelo sonho em um país definhado pela guerra, ainda é obrigado a lidar com o pai que não o apoia e cobra que ele desista do bodybuilding e se case. Afghan Muscles mostra o momento em que o atleta perde o seu maior patrocinador, o proprietário de um ginásio de musculação. Há muitos momentos de altos e baixos. Shirzai não desiste, pois acredita na conquista dos títulos de Mr. Afeganistão e Mr. Ásia. O primeiro sonho se tornou realidade em 2009, três anos após o lançamento do filme, quando venceu o campeonato mais importante do país. Hamid se orgulha de fazer parte de uma linhagem de fisiculturistas que inclui o tio e o irmão, dois campeões nacionais.
O documentário deixa claro que a construção do corpo no bodybuilding vai além da hipertrofia e simetria. É a materialização dos principais predicados que motivam um atleta a alcançar a singularidade. O corpo é como um templo. Por isso, há uma plena relação harmoniosa. Andreas Møl também apresenta duas realidades conflitantes. Enquanto Cabul, a cidade natal de Shirzai, representa as ruínas de um velho mundo em crise e miséria, Bahrain, para onde o atleta viaja em competição, simboliza o novo, as belezas da modernidade, o futuro e a ostentação.
Mas Hamid não se deslumbra, muito pelo contrário. Quer sempre voltar para casa e continuar se empenhando em ser um bom representante afegão. Shirzai deixa a lição de que independente de probabilidades, é preciso definir metas e se esforçar para alcançá-las. Afghan Muscles, que teve excelente repercussão no Oriente Médio, Europa e até nos Estados Unidos, venceu em 2007 o Grande Prêmio do Júri de Melhor Documentário no Festival de Cinema AFI, nos EUA. Em síntese, é uma obra sobre uma Cabul desconhecida e um Afeganistão que se constrói sobre novas esperanças e sonhos.