Archive for the ‘Recuperação’ tag
Um relato sobre a importância da boa alimentação
Desde a minha adolescência, nas poucas vezes em que adoeci, sempre me alimentei normalmente. Nunca deixei de comer bem, porque sei que um sistema imunológico afetado não vai se recuperar sozinho com deficiência na ingestão de macro e micronutrientes.
Me lembro que a última vez que adoeci foi há três anos, quando contraí dengue. Mesmo com dengue, continuei trabalhando e me exercitando. Quantas pessoas você conhece que têm força e disposição para praticar musculação mesmo com dengue? Pode parecer estranho pra muita gente, mas isso foi bom pra mim.
E por que acho que isso não me trouxe nenhuma consequência negativa? Não apenas porque sempre tive uma boa capacidade de recuperação, mas porque dificilmente deixo de me alimentar adequadamente. Mesmo sem fome, não deixo de ingerir o que preciso. Não tenho dúvida de que qualquer recuperação é mais rápida quando uma pessoa não tem uma alimentação deficiente.
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Você se lembra de mim?
Perto do Banco do Brasil, um rapaz se aproximou de mim sorrindo e perguntou se eu me recordava dele.
— Lembro sim. Você ficou um tempo na rua, não?
— Sim. Então, parei com o crack, mano. Na verdade, parei com tudo.
— Que bom, cara. Muito bom mesmo saber disso.
— É…agora estou bem mesmo. Estou limpo desde o final do ano passado. Não tive nenhuma recaída e estou trabalhando também.
— Você é um exemplo. Pode ter certeza. Isso é uma grande notícia.
— Você acha que estou bonito?
— Está sim. Nem parece o mesmo cara.
— Recuperei todo o peso que perdi enquanto fumava pedra. Olha minha roupa limpinha e nova.
— Ficou muito bem em você.
— Comprei sexta quando recebi o pagamento.
— Que beleza.
— Fiquei mais de ano vagando pela rua, noiado mesmo. Você lembra que eu andava pedindo dinheiro, né?
— Lembro, claro que lembro.
— Isso já passou. Voltei a trabalhar como ajudante de marceneiro também. Tô feliz, cara, de verdade.
— Me desculpe se estou incomodando, falando demais.
— Que isso. Claro que não. É sempre bom receber uma notícia assim. Anima qualquer um com um pouquinho de sensibilidade.
— Valeu mesmo! Vou indo porque amanhã tenho que acordar bem cedo pra trabalhar.
— De nada, cara. Fique bem. Bom trabalho e siga o seu caminho.
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Nem todos os jovens que cometem delitos são irrecuperáveis
Me recordo que na minha adolescência eu e alguns amigos assistíamos aqueles filmes em que professores realizavam trabalhos de recuperação social dos piores estudantes em escolas dos Estados Unidos. Alguns alunos eram usuários de drogas, ladrões, entre outros. Isso emocionava toda a gente.
Achavam lindo ver aquela transformação na telinha. inclusive quando os filmes eram exibidos nas escolas, todo mundo ficava emocionado. Alguns até choravam. As pessoas amavam esse tipo de filme. Será que é porque era apenas ficção e se passava nos Estados Unidos? Quero dizer, se for algo real e próximos de nós, não devemos cogitar a possibilidade de um trabalho de recuperação?
Acredito que podemos sim. E posso citar como exemplo a minha experiência. Frequento a Vila Alta, um dos bairros mais pobres de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, desde 2009, onde tento contribuir como posso, e de forma voluntária. Quero dizer, não ganho nada pra isso. Nunca ganhei. Claro, a não ser satisfação em contribuir. Inclusive fiz reportagens, artigos e documentários sobre essa realidade.
Lá, conheci dezenas de garotos que já cometeram delitos, e muitos são recuperáveis. Posso citar inúmeros que não praticaram mais nenhum crime. Um deles mudou de vida depois que conseguimos uma mochila e uma porção de materiais escolares. Então, sim, em oito anos mantendo contato com jovens que já se envolveram em “coisas erradas”, posso dizer com alguma propriedade que vale a pena acreditar nessa molecada, nem todos estão perdidos. Se você não acredita, que tal se perguntar o que você pode fazer para ajudar a mudar isso?
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A primeira etapa da recuperação de Jessé Piedade
Ex-morador de rua começa sua trajetória para se livrar do alcoolismo
Demoramos um pouco para achar hoje de manhã a Casa da Misericórdia, em Apucarana, no Norte do Paraná, onde o ex-morador de rua Jessé Piedade começou uma nova trajetória para se livrar do alcoolismo. Inclusive penso até em escrever uma crônica sobre a aventura até encontrarmos o lugar certo. No mais, a viagem foi tranquila. Chegando lá, nos surpreendemos. A Casa da Misericórdia me parece um santuário, inclusive em muitos momentos me recordei do livro homônimo de William Faulkner sobre a face bucólica do cenário rural do Sul dos Estados Unidos.
Ao lado da rodovia, à esquerda, na saída de Apucarana para Curitiba, atravessamos um elevado trilho de trem, onde um sinal verde permitia a nossa passagem, mas não uma visão clara do que estava por vir. Ainda assim continuamos descendo, sem qualquer certeza de que finalmente encontraríamos por aquelas bandas a Casa da Misericórdia. Depois de percorrer quilômetros de um cascalho misturado a pedregulhos, observamos em meio a um cenário campestre, muito bem arborizado, por onde despontavam araucárias de proporções colossais, algumas edificações brancas como neve.
Subimos por uma estradinha ladeada por uma lagoa, passamos por uma ponte de madeira, um pomar e uma horta. Logo vimos muitos homens nos observando nos mais diversos pontos da casa de recuperação. Havia desde jovens a idosos – papeando, lendo, literalmente pastoreando ovelhas e curiosos para saber quem chegava.
Descemos do carro, cumprimentei os que nos observavam, e alguns metros acima fiquei admirado com a maneira como a vegetação nativa envolve a Casa da Misericórdia, reafirmando sua condição de santuário. Lá, onde parece impenetrável o sol escaldante, a realidade urbana chega a ser desinteressante, ofuscada por um frescor amarante. Mais ao alto, notei uma igrejinha de moldes clássicos, onde um senhor barbudo de mais de 60 anos se inclinava sobre um violão e dedilhava as cordas, atraindo um pouco de atenção e sorrisos.
Me aproximei do lugar mais movimentado da casa e perguntei se alguém poderia me dizer onde encontro Henrique, diretor da Casa da Misericórdia. “Ah, o Henrique saiu, mas ele me avisou que você viria. Já está tudo certo”, disse Canarinho sorrindo, um ex-alcoólatra que abandonou o vício há anos e hoje ajuda na coordenação da casa. Apresentei Jessé Piedade e falei um pouco de sua história. Canarinho o motivou, mas deixou claro que a recuperação vai depender da própria força de vontade de Jessé.
“Aqui a gente não segura ninguém. A pessoa tem que gostar de estar aqui. Eu, por exemplo, moro aqui há mais de três anos. Não quis mais partir. Agora quando a pessoa desiste do tratamento, o que fazemos é avisar quem o trouxe aqui”, garante num tom de voz cordial e sincero.
Jessé deixou claro que entendeu o recado e comentou que se identificou muito com o lugar, praticamente um pedaço de paraíso onde a fragilidade pode ser substituída por força e segurança. Lá, também encontramos Everton Luiz Rodrigues, um rapaz que já conhecíamos. Artista de rua e sem residência fixa, ele está passando uma temporada na Casa da Misericórdia enquanto aguarda um novo chamado da direção do Hospital Regional João de Freitas, de Arapongas, onde faz tratamento cardíaco.
Pouco tempo depois, Henrique chegou, me apresentei e repeti a história de vida de Jessé Piedade. Quando falei da cobra chamada Sogra, com quem Jessé circulava pelas ruas de Paranavaí, o diretor da Casa da Misericórdia achou graça. Em seguida, declarou que ficou feliz em recebê-lo e deixou claro que agora os bons resultados vão depender do recém-chegado.
Ao sairmos do local, percebemos um certo pesar de Jessé, já preocupado com a chegada de visitas. Entretanto, ele admitiu que vai lutar para provar que a vontade de renascer é maior do que o destemor de morrer. Confortante também foi ver de longe, quando descíamos pela mesma estradinha que nos trouxe, Jessé rindo, conversando com Everton Luiz. Agora o ex-morador de rua tem mais um amigo e um motivo a mais para se sentir feliz na nova casa.
Saiba Mais
Jessé Piedade é bem conhecido em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, onde há alguns anos se tornou morador de rua em decorrência do alcoolismo.