David Arioch – Jornalismo Cultural

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Passagem do livro “Infância Roubada: Crianças atingidas pela Ditadura Militar no Brasil”

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Página 17 do livro “Infância Roubada: crianças atingidas pela Ditadura Militar no Brasil”, lançado em 2014 pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo:
 
“A repressão política não poupou nem crianças nem mulheres grávidas. Muitas mulheres abortaram nas dependências dos DOI-CODIs de tanto apanharem e levarem choque na barriga, vagina e demais partes do corpo. Assim como existiram mulheres que tiveram seus partos, na mais ferrenha clandestinidade, outras tiveram seus filhos na cadeia, como Hecilda, Crimeia Schmidt, Linda Tayah. Todas foram presas grávidas e, mesmo sendo muito torturadas, permaneceram grávidas e seus filhos nasceram sob a ameaça de torturas sendo que algumas dessas crianças sofreram a tortura ainda na barriga de suas mães. Nessa seara, temos o caso do Joca, João Carlos Schmidt de Almeida Grabois. Sua mãe, Criméia, foi presa com sete para oito meses de gravidez. Levou choques elétricos, foi espancada em diversas partes do corpo e sofreu socos no rosto. Quando os carcereiros pegavam as chaves para abrir a porta da cela e levá-la à sala de tortura, o seu bebê ainda na barriga começava a soluçar. Nasceu na prisão e, mesmo anos depois, quando ouvia o barulho de chaves, voltava a ter soluços.”

Written by David Arioch

October 21st, 2018 at 9:01 pm

Há um documentário chamado “O Dia que Durou 21 anos”

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Há um documentário chamado “O Dia que Durou 21 anos”, do Camilo Galli Tavares, de 2013, inclusive recomendo, que é sobre o período da ditadura militar. Nesse filme um general é questionado sobre como seria a implantação do “regime militar” hoje. Ele enfatiza que para fazer a ditadura acontecer não seria preciso matar, torturar ou violentar ninguém, já que vivemos na era da guerra da informação. O general deixa subentendido que a implantação desse “regime” seria feita de forma silenciosa, e com a conivência da própria população que, imersa em um cenário de dúvidas e descrença, não resistiria, muito pelo contrário, agradeceria; mesmo sem ponderar as implicações desse incentivo que custaria a democracia e a liberdade em diversos aspectos.

Written by David Arioch

October 20th, 2018 at 12:09 am

“Brasil: Nunca Mais”, um livro que não deve ser esquecido

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O livro “Brasil: Nunca Mais” foi lançado em 1985 por dom Paulo Evaristo Arns, quinto arcebispo de São Paulo, e pelo pastor presbiteriano Jaime Wright. A obra é baseada em informações coletadas em mais de um milhão de páginas de 707 processos do Superior Tribunal Militar. E a partir daí, dom Paulo Evaristo, o reverendo Wright e mais 30 pesquisadores mostram a dimensão da repressão política no Brasil dos tempos da ditadura militar.

No livro, é apresentado como funcionavam as agências de investigação, quem eram os principais perseguidos, como eram feitas as prisões e expõe as técnicas de tortura contra presos políticos. Há dados reveladores sobre violência física e psicológica aplicada contra crianças e gestantes. “Brasil: Nunca Mais” foi a primeira obra a denunciar essas práticas.

Entre os principais colaboradores do projeto estavam os advogados Eny Raimundo Moreira, Luiz Eduardo Greenhalgh, Luís Carlos Sigmaringa Seixas e Mário Simas, os jornalistas Paulo Vannuchi e Ricardo Kotscho, além de Frei Betto, a socióloga Vânya Santana e a historiadora Ana Maria de Almeida Camargo. Durante o processo de produção do livro, a equipe teve de mudar de local várias vezes por medidas de segurança. A obra informa que a tortura no Brasil durante o período da ditadura militar foi colocada em prática por 444 torturadores.

No prefácio do livro, dom Paulo Evaristo diz que a tortura é o meio mais inadequado para levar-nos a descobrir a verdade e chegar à paz: “É com penitências, pois, que encaramos este livro. Ele não pretende ser meramente uma acusação, mas sim um convite para que todos nós reconheçamos nossa verdadeira identidade através das faces desfiguradas dos torturados e dos torturadores.”