Archive for the ‘Rio Pirapó’ tag
Noroeste do Paraná é habitado por europeus desde o século XVII
Área foi campo de batalha envolvendo portugueses, espanhóis, bandeirantes e índios
O Noroeste do Paraná começou a ser habitado por europeus no século XVII, época em que portugueses e espanhóis deram início a um desbravamento que consistiu na tortuosa abertura de picadões. Os primeiros desentendimentos entre os ibéricos aconteceram anos depois porque nenhum dos envolvidos tinha interesse em dividir as terras.
Na época do maior conflito entre espanhóis e portugueses, o Paraná pertencia ao Paraguai, a Republica del Guayrá (La Piñeria). Em 1592, o governante paraguaio Hernando Arias de Saavedra, mais conhecido como Hernandarias, o primeiro latino-americano a governar nas Américas, colocou em prática um plano para conquistar a área que se tornaria o Sul do Brasil. Entretanto, Saavedra, que em 1596 assumiu como governante do Rio de La Plata, que ia do Rio Paraná ao Rio Uruguai, encontrou forte resistência na Província de Guaíra.
Foi aí que o persuasivo Hernandarias decidiu mudar de estratégia. Fez um acordo com o Rei da Espanha, Filipe III, para a evangelização dos nativos indígenas em vez de suplantar o inimigo pela força. Então a apropriação das terras começou a ser feita de forma pacífica, a partir das missões jesuíticas espanholas.
Em 1610, os missionários italianos José Cataldino e Simón Mascetta iniciaram a catequização nas proximidades do Rio Pirapó. À época, foram criadas 13 missões. A de maior destaque foi a redução Nossa Senhora de Loreto por ser a mais bem estruturada e também reunir maior número de nativos. Inclusive na época ficou conhecida como a capital das 13 reduções. Inconformados com o êxito dos espanhóis e paraguaios, os portugueses contrataram muitos bandeirantes paulistas que se encarregaram de retomar as terras.
Antônio Raposo Tavares e Manuel Preto foram os responsáveis pela conquista definitiva da área que se tornaria a atual região Noroeste do Paraná. No entanto, é importante frisar que as conquistas dos bandeirantes paulistas eram sempre carregadas de violência e crueldade, até mesmo práticas de roubo e estupros. Provas disso são as cartas que o jesuíta peruano Antonio Ruiz de Montoya, que viveu onde é hoje o Extremo Noroeste do Paraná, escreveu em 1638.
Fragmentos da redução de Nossa Senhora de Loreto ainda são encontrados na propriedade do agricultor Lino Clemente Silva, às margens do Rio Paranapanema, em Itaguajé. Lá, no sítio de 40 alqueires, há toneladas de materiais do período colonial. A maior parte só pode ser recuperada por meio de escavações.
“É uma pena que o local ainda não tenha sido transformado em patrimônio histórico. Em função disso, muita gente já passou por ali, pegaram quilos e mais quilos de peças que estavam na superfície e não fizeram nada, a não ser comprometer a nossa própria história”, desabafa um historiador que prefere não se identificar. A área pertencia a redução Nossa Senhora de Loreto, onde viviam centenas de milhares de indígenas Caiuás. Historiadores estimam que até 100 mil índios foram capturados na região, sob comando de Raposo Tavares e Manuel Preto.
Patrimônio Histórico
Segundo moradores de Itaguajé e Jardim Olinda, a Coordenadoria do Patrimônio Cultural, da Secretaria de Estado da Cultura, do Paraná, já esteve nas ruínas da redução de Nossa Senhora de Loreto, no entanto não fez nada, além de extrair peças de cerâmica do local.
Pequena, mas próspera
A tranquilidade e as belezas naturais de Jardim Olinda chamam a atenção do Noroeste do Paraná
Apesar de ter uma população de apenas 1,4 mil habitantes, Jardim Olinda tem se destacado no Noroeste do Paraná. O pequeno município conta com um bom número de empreendimentos, justificados pelo privilégio de ser uma cidade tranquila situada às margens de dois dos rios mais importantes do Paraná.
Jardim Olinda ganhou vida sob a poesia da natureza, onde o Rio Pirapó namora o Rio Paranapanema. Juntos, formam um grandioso véu de água doce que parece proteger os cardumes que sob os auspícios do Sol cintilam como ouro. Não é à toa que os poucos pescadores da cidade afirmam que os dois rios e o que sai deles são as grandes riquezas de Jardim Olinda.
O patrimônio natural justifica porque mais de 370 lotes situados próximo ao Rio Paranapanema foram comprados por turistas, inclusive estão ocupados por casas de veraneio. O desenvolvimento é atribuído a centenas de pessoas, principalmente de Maringá que representa 60% do turismo local.
As belezas do Rio Paranapanema e a calmaria de uma cidade com índice praticamente nulo de violência e criminalidade são mais do que convidativos. Reflexo disso são alguns turistas que foram para Jardim Olinda passar o final de semana e decidiram fixar residência.
Quem não conhece a cidade se surpreende com alguns hábitos dos moradores, como deixar a porta do carro destrancada e dormir com a porta da casa aberta. “Aqui é assim mesmo, todo mundo se respeita”, assegura o pedreiro Elinês Ferreira de Oliveira, um dos beneficiados com a geração de trabalho na área da construção civil.
Oliveira já trabalhou em muitas obras de investidores de Maringá, Colorado e Astorga, e se orgulha de há muito tempo ter se livrado do desemprego. “O turismo é muito bom pra gente. Não sei o que é ficar sem serviço”, destaca Elinês Ferreira com expressão de cansaço, mas satisfeito por ter condições de sustentar a família. Questionado sobre a possibilidade de mais cedo ou mais tarde as construções pararem, o pedreiro é enfático. “Aqui sempre tem trabalho, a gente não para.”
A geração de empregos na construção civil também agrada quem atuava no campo. “Trabalhei dez anos em uma fazenda, sai de lá e vim direto pra cá. Até hoje não fiquei nem um mês parado”, conta o pedreiro Dirceu Cosmo da Silva enquanto enxuga o suor que escorre pela testa.
Em Jardim Olinda, algumas obras geram emprego para até 40 trabalhadores. O progresso também chegou ao setor comercial. Há alguns anos, os moradores tinham de se contentar com pequenos armazéns ou então fazer compras em outras cidades. Porém, hoje em dia contam com um atrativo supermercado que comercializa até materiais de construção.
O impasse das residências clandestinas
No início da década de 1980, alguns turistas, mesmo sem título de propriedade, construíram ilegalmente casas de veraneio próximas às margens do Rio Paranapanema, em uma área que pertence a Jardim Olinda. Alguns anos depois, as residências tiveram de ser derrubadas por determinação judicial.
O argumento foi que os proprietários não respeitaram a área de segurança para se evitar enchentes e também de preservação ambiental permanente, que estabelece o limite mínimo de distância da margem do rio entre 200 a 400 metros.
Já na década de 1990, Jardim Olinda perdeu mil hectares em função de uma rigorosa fiscalização do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) que fez valer a lei que determina a obrigatoriedade da área de segurança. Contudo, todos os proprietários foram indenizados após desocuparem as áreas, inclusive os ribeirinhos que sobreviviam do cultivo de arroz irrigado.